1) De Emídio Ribeiro.
Como verifico tanto argumento falso, seja por
desconhecimento ou por manifesta má fé na análise dos resultados
eleitorais da CDU vou voltar pela última vez a este assunto. Coloquei na
postagem anterior um mapa com os resultados eleitorais na cidade de
Lisboa, onde na minha opinião é fácil verificar que a derrota da A.
Leitão nada teve a ver com a CDU e que a treta "voto útil" só serviu
para por 12 votos(!!!) a CDU perder um vereador para o Chega. Aos que a
cegueira não permite fazer contas, eu resumo-as acrescentando um outro
dado, assim: Coligação Moedas teve mais 17.185 votos que nas anteriores,
Coligação A. Leitão teve menos 12.460 votos, João Ferreira/CDU teve
mais 1.249 votos, estas votações foram para a Câmara. Para a Ass.
Municipal a CDU teve 30.087 votos, ou seja, mais 3.318 votos que para a
Câmara(!!) só por má fé se pode dizer que não houve voto útil e que a
A.Leitão perdeu por causa do João Ferreira.
. A
talhe de foice para aqueles que dizem foi uma hecatombe o resultado da
CDU, lembro-lhes que as eleições Legislativas foram há 5 meses. A CDU
sempre teve resultados ligeiramente melhores nas autárquicas, mas tal
como o que se passa com os outros partidos, em geral os resultados das
legislativas e autárquicas, salvo raras excepções, são relativamente
semelhantes. Nas recentes Legislativas a CDU, como todos se lembram, e
nos lembram, teve um péssimo resultado 183,741 votos (2,91%), agora teve
344.248 votos (6,24%). Perdeu 7 Câmaras. É verdade. Foi Mau, mesmo
tendo dobrado a votação em relação há 5 meses. Foi uma hecatombe dizem! E
o que dizer do Chega que de cerca de 1.400.000 votos ficou com 700.000,
e da IL que ficou com 1/3 dos votos, e do PAN, BE, Livre que ficaram
com resultados residuais. Chamar hecatombe a isto não seria mais
correcto?. Se não fosse acusado de transformar derrotas em vitórias, até
diria que face a este panorama até não foi tão mau como isso.
Mais uma vez é bom lembrar que as tv´s e C.ia são pagas para desinformar. Não há almoços de borla.
2 De Hugo Ferreira .
Não
é que tenha sido inventado por Daniel Oliveira, nem é propriamente um
fenómeno recente. A análise, séria e rigorosa, dos resultados conta
pouco, aliás, cada vez menos. O que importa verdadeiramente é conseguir
que a narrativa sobre os resultados que nos é mais conveniente se torne
hegemónica e se converta num senso comum replicado pela maioria. Este
artigo de Daniel Oliveira é um exemplo esforçado desse modus operandi
(ou será modus vivendi?).
As
perdas eleitorais da CDU eram previsíveis, como, aliás, os resultados
globais de todos os partidos o eram. Regra geral, as tendências
confirmaram-se, mas, no caso da CDU, pese embora os resultados sejam
globalmente negativos, não atingiram as proporções apocalípticas
sugeridas, por exemplo, pelo Expresso, que não colocava de parte a
possibilidade de a CDU perder todas presidências de câmara.
Há,
no entanto, um elemento que fere de morte a estrutura argumentativa de
Daniel Oliveira: os resultados no concelho de Lisboa. Em boa verdade,
percebemos que, fossem quais fossem os resultados em Lisboa, este artigo
seria exactamente o mesmo. Os epítetos seriam os habituais (e já
gastos), as citações, pensadas há muito, já estavam anotadas e as
comparações incomparáveis com 1989 seriam mobilizadas com a mesma
selectividade factual de sempre.
Mas
os resultados, mais do que as narrativas que sobre eles incidem,
contam. E este artigo escamoteia deliberadamente um facto fundamental
sobre os resultados: em 2025, num contexto de redução da abstenção, a
coligação liderada pelo PS teve menos votos do que a soma dos votos da
coligação PS-L, do BE e do PAN, em 2021. Mais: em 2025, a coligação
liderada pelo PS foi a única a perder votos de entre as principais
candidaturas à Câmara Municipal de Lisboa.
E que conclusão podemos extrair destes factos?
A
coligação liderada pelo PS mobilizou apenas as respetivas bolhas
partidárias, do comentariado e do jet set, não conseguindo entusiasmar
as bases eleitorais dos partidos que a compunham, nem alargar-se a
independentes.
E porquê?
Porque,
em política, há somas que subtraem. Porque uma coligação mobilizadora
se faz em torno de um projecto político e não apenas de um projecto de
poder. Porque uma avaliação crítica sobre a gestão camarária do PS vale
mais do que uma oferta de um lugar na Vice-Presidência da Câmara.
Não
tem, pois, qualquer suporte factual a tese segundo a qual a reeleição
de Carlos Moedas se ficou a dever à ausência da CDU da coligação
liderada pelo PS. Está por demonstrar que essa grande coligação, a
existir, tivesse os mesmos ou mais votos do que tiveram separadas.
Aliás, os dados da coligação PS, Livre, BE e PAN apontam em sentido
contrário.
A culpa é da geringonça?
Certamente,
a romantização que Daniel Oliveira e outros correligionários fazem da
geringonça é um problema. Porquê? Porque está dissociada da realidade.
Não gera o entusiasmo popular, nem o saudosismo que os seus defensores
indefetíveis gostavam que gerasse. Não chegou sequer a ser “um sonho
lindo que já passou”. Foi importante em muito do que era circunstancial e
acessório, mas falhou em tudo que era essencial e estrutural. E, também
por isso, as classes populares se foram virando, gradualmente, para o
outro lado em busca das respostas que não encontraram à esquerda.
Claro
que a responsabilidade não é todos, muito menos em igual proporção. Mas
a geringonça ensina-nos que uma solução de governo não é,
necessariamente, um projecto político mobilizador e transformador
(reformador, se preferirem). Pelo contrário.
O que tem isto que ver com as eleições autárquicas em Lisboa? Tudo.
3 ) De Zé Neves.
Hesito
em continuar a discussão sobre os resultados eleitorais de Lisboa. A
agressividade entre quem votou na candidatura do PS e quem votou na
candidatura da CDU recomendaria que o não fizesse. Mas a discussão é
importante para o futuro. E também eu vou tentar manter um tom cordato.
Começo pela questão da aritmética. Obedecendo a esta, há quem conclua
que uma coligação entre o PS e o PCP teria derrotado Moedas, uma vez que
a soma dos votos em Leitão e em Ferreira a tal conduziria. Isto é tudo
menos certo. Todos nós somos mais do que as partes de uma soma e a
dinâmica política não é uma experiência laboratorial. O desenvolvimento
da própria dinâmica afeta e modifica os componentes e dados de partida.
Deixo
dois grãos de areia na engrenagem aritmética. Primeiro, uma aliança
entre PCP e PS teria provavelmente implicado uma aliança entre o Chega e
o PSD. Teria certamente significado que o voto útil à direita seria
ainda maior (veja-se a diferença de votos do Chega para a presidência da
câmara e para a assembleia municipal). Segundo, a votação que a CDU
obteve deve-se menos à disciplina partidária dos seus eleitores do que
ao facto de a sua campanha se ter orientado pelo apelo a uma alternativa
estrutural ao estado da cidade, alternativa essa que implicou criticar
Moedas, mas também criticar a Lisboa de Costa-Medina-Salgado. Uma
candidatura liderada pelo PS, por mais que o quisesse (e não quis), não o
teria podido fazer (não o fez). Seria porventura diferente uma
candidatura de esquerda liderada por um independente de esquerda, e até
havia um ou outro nome interessante no horizonte, mas o PS e o seu
aparelho jamais admitiriam tal hipótese.
O
que é que tudo isto interessa para o futuro? É que a única esquerda que
cresceu eleitoralmente em Lisboa foi a que teve o discurso mais crítico
e ousado sobre o estado da cidade. É verdade que foi um discurso a um
tempo crítico e propositivo, ousado e informado, mas certamente crítico e
ousado. Qualquer discussão sobre frentes de esquerda que prescinda do
sentido crítico e da ousadia que João Ferreira soube exemplarmente
exprimir está provavelmente condenada a não resultar e, diria eu, não
vale a pena sequer o esforço cívico ou militante de a tentarmos
construir. Se é simplesmente para ganharem "os nossos", chamem-se
Lourosa ou Associação Recreativa da Esquerda Unida, vamos mas é todos ao
futebol.
Não quer isto
dizer, é claro, que o sentido crítico seja suficiente, mas vale a pena
ver o que ele conseguiu nesta campanha: num cenário de retração
generalizada do voto comunista, que não é de hoje e que não vai ser
revertido tão cedo, soube criar pontes entre a esquerda e outro
eleitorado (e eu diria que de várias proveniências político-partidárias)
e isso é uma boa notícia para os comunistas, mas também para a esquerda
e para a democracia.
Permitam-me,
finalmente, uma palavra mais acintosa, a contrariar o tom cordato.
Tenho lido ataques à candidatura da CDU que são estúpidos, nomeadamente
dirigidos ao João Ferreira, que teria imposto o seu brilhantismo
individual ao interesse geral da esquerda. Tenho um comentário a fazer a
isto: o João Ferreira terá certamente o seu brio, mas, se a esquerda é
uma feira de vaidades, não é certamente devido ao João Ferreira, a quem
agradeço a entrega e o voluntarismo que - é uma lapalissada comunista
mas vale ouro - foi o de todo um coletivo.
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