20 de novembro de 2025

O Hamas e os terroristas

 Está determinado oficialmente que o Hamas é uma organização terrorista, não merecendo qualquer espécie de reconhecimento internacional como entidade legitima. Dos seus "crimes" consta não reconhecer o Estado de Israel, como se Israel, violando decisões do CS da ONU admitisse a existência de um Estado Palestino! O "terrorista" Hamas, é o responsável pela fome em Gaza, como assegurou o coronel da SIC-Not, certamente após visitar o local ou então participar na ecolália sionista, desviando os alimentos para os seus elementos e servir-se disto para manter o domínio sobre a população.

Após o 7 de outubro de 2023, comentadores como o sr. Pinto (do PS) indignaram-se pelos crimes dos "animais humanos" do Hamas sobre crianças israelitas, etc. Posteriormente, Israel não confirmou aos EUA casos de decapitação de crianças pelo Hamas. Claro que nenhum comentador sentiu necessidade de rever as suas posições ou indignar-se com o que veio depois a ser mais que verificado e testemunhado: o "direito de defesa de Israel" permite-lhe ter o estatuto de Estado "007- Ordem para matar".

Na realidade o Hamas é uma organização política com uma força armada para apoiar a gestão e defesa do território onde ganhou eleições. É esta circunstância que lhe permitiu resistir em Gaza aos desmandos praticados pelos colonos israelitas na Cisjordânia. O atual conflito permitiu verificar que o governo do Hamas, administrava um território com infraestruturas energéticas e de saneamento, 9 importantes hospitais, 4 universidades, 54 escolas patrocinadas pela UNRWA, 66 escolas públicas e 15 escolas privadas.

Em 2006, o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, obtendo maioria no Conselho Legislativo Palestino, posteriormente assumindo o controlo da Faixa de Gaza. Apesar da animosidade entre a Autoridade palestina (colaboracionista do governo israelita, repressiva e corrupta), e o Hamas, este desfruta de crescente popularidade entre os palestinos.

Não é verdade que o Hamas não reconheça Israel. O Hamas, em 2017, no seu Documento Geral de Princípios e Políticas, declara apoiar um Estado Palestino transitório dentro das fronteiras de 1967, mas sem formalmente reconhecer Israel. As repetidas ofertas de trégua do Hamas, indicam que estaria de acordo com a ideia de uma solução de dois Estados. A acusação do Hamas ser antissemita, também é falsa: o Documento Geral de 2017, afirma que a luta do Hamas era contra os sionistas, não contra os judeus. (Notas de Hamas – Wikipédia)

A situação dos palestinos é desde há muito (1948) semelhante à dos hilotas. Os hilotas eram os servos submetidos a Esparta, duramente explorados a vida inteira em trabalhos que não podiam abandonar. Levavam uma vida muito dura, sujeita a humilhações constantes, mantidos num clima de terror, designadamente por expedições de extermínio organizadas anualmente. Os hilotas realizaram várias revoltas duramente reprimidas.

A vida dos palestinianos é uma história trágica de miséria e violência: as elevadas taxas de pobreza, desnutrição e desemprego assolam Gaza. A leste de Gaza, a Cisjordânia é ocupada por forças israelitas, que têm um controlo praticamente total sobre a vida dos palestinos, privados de condições de vida e liberdades fundamentais.

O massacre de Sabra e Chatila em 1982, devia ser recordado e comemorado como símbolo, marcando o fim de uma pretensa superioridade moral do ocidente imperialista perante o resto do mundo.

Não são só as violações de Israel ao direito internacional que são são branqueadas: apoiar a Palestina e os palestinos tornou-se crime em vários países do ocidente. Manifestações a favor da Palestina e dos palestinos têm sido objeto de repressão, por vezes violenta, da parte das autoridades no RU, Alemanha, França, EUA, entre outros países. Em 2023, a ministra do Interior do Reino Unido, Suella Braverman, considerava que "agitar a bandeira palestina ou cantar músicas pedindo liberdade para os árabes na região pode ser um crime" (The Guardian). Em Berlim, as Autoridades de Imigração ordenaram a saída de três europeus e um americano acusados de antissemitismo e apoio ao terrorismo por protestaram contra os ataques de Israel a Gaza. Nos EUA todos os "antissemitas" estrangeiros, incluindo estudantes, que participaram em manifestações palestinas ficam sujeitos à deportação.

O Hamas é uma "organização terrorista", mas usar a fome de civis como método de guerra, privando populações de bens indispensáveis à sua sobrevivência e impedir o fornecimento de ajuda humanitária é, conforme as Convenções de Genebra, crime de guerra praticado por Israel.

Israel destruiu quase tudo em Gaza: hospitais, mesquitas, igrejas, universidades, escolas e todas as fundações civis do território. Médicos foram detidos "em massa" disse o fundador da organização Gaza Medic Voices, Omar Abdel-Mannan. Segundo relatos da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina) têm sido atacados pontos de distribuição de alimentos. A organização ficou à beira do colapso, já que mais de 134 funcionários da UNRWA foram mortos em Gaza desde 7 de outubro. O que para o ocidente parece ser plenamente justificável... o Hamas é uma organização terrorista.

Relatos como o da dra. Amjad Loubani ginecologista do Hospital Al-Shifa de Gaza, descreveram a terrível situação humanitária em Gaza, muitas crianças órfãs e sofrendo ferimentos graves. Algumas sofreram a perda dos olhos devido a queimaduras graves, outras perderam os membros superiores ou inferiores, ou acabaram totalmente sem membros. Muitas crianças estão desnutridas e apresentam sinais de fome. A falta dos medicamentos necessários resultou na propagação de vírus e infeções nos campos de refugiados. Os transtornos mentais entre menores também aumentaram.

Mas o Hamas é uma organização terrorista...


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