Carlos Coutinho
Leio e oiço nos noticiários que o secretário, ou ministro, da Defesa dos EUA, um tal Pete Hegseth, transformado em agente de vendas de Trump, apelou ontem aos aliados da NATO a que aumentassem as suas aquisições de armamento norte-americano para, de seguida, o doarem de borla à Ucrânia, o país em guerra governado por um ator polivalente que, já há mais de um ano, instalou a respetiva família num apartamento de luxo nos Estados Unidos.
Hegseth invocou a Lista de
Requisitos Priorizados para a Ucrânia (PURL, em inglês), antes de
entrar para uma reunião de cariz expansionista com os seus colegas
ministros da Defesa, em Bruxelas.
Arengou o governante norte-americano:
“Obtém-se a paz quando somos fortes, não quando se usa palavras fortes
ou se abana os dedos. Obtém-se quando se tem capacidades fortes e reais
que os adversários respeitam.”
Com os seus
homólogos a fazerem que sim com a cabeça, caninamente, o governante de
Washington fez questão de, com todos a ouvir, avisar Moscovo, sem
adiantar mais detalhes, de que os seus aliados natistas “imporão custos à
Rússia pela sua agressão contínua”, se a guerra na Ucrânia não acabar
em breve.
É mais que óbvio que o Kremlin também
dispõe neste jogo, de trunfos que nós nem imaginamos e que não
hesitará em jogá-los, se a ameaça passar a facto. Assim como também é
mais que obvio que Portugal, cada vez mais obediente aos desígnios de
Bruxelas, vai contribuir com mais 50 milhões de euros para o negócio
trumpista, o que, de resto, não é mais do que aprofundar a prática
marcelista, costista, montenegrista, coelhista e almirantista, como um
galo ficou sem crista, num pais à beira-mar plantado, onde os poucos que
têm muito, mesmo muito, são poucos e os muitos, mesmo muitos, que têm
pouco, cada vez menos, são cada vez mais, em casa, na saúde, na
educação, na qualidade de vida, nos rendimentos e até nos
constitucionais direitos, liberdades e garantias.
De registar, com a maior perplexidade, que, um mês antes, na base
militar de Quantico, na Virgínia, o governante achou natural que Trump
rebatizasse o Departamento da Defesa como Departamento da Guerra.
Falava para centenas de generais, almirantes e outros oficiais,
instando-os a retomarem a plenitude da identidade “guerreira” de
outrora.
E frisou:
“Vocês matam pessoas e partem coisas para ganhar a vida. Não são
politicamente corretos e não pertencem sempre, necessariamente, a uma
sociedade educada.”
Terminou chamando-lhes “os
melhores da América” e instou-os a afastarem-se do “lixo tóxico” e a
executarem ordens superiores, sem medo de errar, que tanto ele como o
Presidente Trump vão estar lá, para lhes proteger as costas”.
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