Em 7 de outubro de 2023, o Hamas cometeu o "ato inqualificável" de penetrar no território de Israel e fazer reféns. Perante isto, os "bons espíritos" humanistas e democráticos europeus aceitaram como justificável que se considerasse que: "Aqueles que contribuem para a libertação dos reféns serão protegidos, o resto merece a morte" - ex-ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz na televisão.
Para o Presidente de Israel, Isaac Herzog, não havia civis inocentes em Gaza. Todos os cidadãos de Gaza são responsáveis pelo ataque perpetrado pelo Hamas em Israel. Não é verdade essa retórica de que os civis não estão envolvidos. Poderiam ter-se levantado. Eles poderiam ter lutado contra esse regime maligno que tomou Gaza num golpe de Estado." O que é falso! O ex-deputado Moshe Feiglin disse que toda criança em Gaza é inimiga. Pedindo o genocídio completo de Gaza, retratou toda a população, incluindo crianças, como alvos legítimos.
Não são afirmações à margem do poder: soldados das FDI receberam instruções para atirar em crianças afirmou o Tenente-Coronel Tony Aguilar. O "direito de defesa de Israel" contra crianças, está ao nível do critério do chefe da máfia local no filme "O padrinho II", que justificava querer matar Vito (Corleone) de 9 anos, porque mais tarde seria homem para se vingar.
A campanha de extermínio da população de Gaza foi propagada abertamente nos media por responsáveis e ex-responsáveis israelitas, perante o apoio ou silenciamento de políticos e comentadores. O governo Biden recusou criticar as ações militares israelitas, denunciando os pedidos de desescalada como apoio ao terrorismo. Macron, em 2023, deu mais um exemplo da distopia em que a UE vive propondo a criação de uma coligação internacional para combater o Hamas.
Como é habitual, nada se teria passado de condenável, por parte do lado amigo, antes do acontecimento que justifica as tomadas de posição posteriores. No tema de quem é o agressor e a vítima, as guerras prosseguem mascaradas com princípios éticos, é como querer saber o que apareceu primeiro: o ovo ou a galinha.
Israel bombardeou a Faixa de Gaza em 2008, 2012, 2014, 2021 e 2023, alegadamente em retaliação a mísseis lançados pelo Hamas. Já então se referia que esses ataques a Israel eram organizados pela Mossad através de seus infiltrados, para impedir a paz. Os ataques israelitas resultaram em milhares de mortos palestinos, sobretudo civis, e graves danos à infraestrutura local. Os mísseis ditos do Hamas causaram danos mínimos.
Em junho de 2006, as FDI lançaram a sua primeira grande operação militar contra Gaza, Operação Chuvas de Verão, visando resgatar o soldado Gilad Shalit, capturado numa ação de penetração em Israel. A captura levou a uma ação militar israelita com a morte de mais de cem palestinos a detenção de dirigentes do Hamas, entre eles ministros e deputados.
Em novembro, uma nova e ampla ação militar - Operação Nuvens de Outono - no norte de Gaza. Israel concordou em realizar um cessar-fogo com o Hamas, desde que este se comprometesse a não lançar foguetes contra Israel. O cenário descrito repetiu-se: os interessados em que não houvesse paz no território, lançaram foguetes sobre Israel, as FDI retomaram os ataques a Gaza e o Hamas proclamou o fim da trégua com Israel. Assim se chegou a 2023.
Recentemente, face à indignação pela matança em massa de crianças palestinas, o presidente de Israel, Isaac Herzog, recorreu a um truque clássico de propaganda: agitando uma cópia em árabe de Mein Kampf, alegou que foi encontrada na "sala de estar de uma criança" (!?) em Gaza - o que, pelos vistos, justifica a pena de morte para todos. Lógico?
A implicação é clara: desumanizar toda uma população, justificar a sua aniquilação e a impunidade das ações na verdade terroristas de colonos israelitas na Cisjordânia que estabelecem um ambiente de opressão, agressões e atos de vandalismo, como incendiar terras agrícolas e expulsar famílias de suas casas e terras. Tudo perante a indiferença dos "bons espíritos" e certos "comentadores".
O professor Ghassan Abu-Sitta, cirurgião britânico- palestino passou 43 dias em Gaza ajudando a tratar feridos, teve negada a sua entrada em França, apesar de estar programado para falar no Senado. Abu-Sitta também teve sua entrada negada em Berlim, para falar num evento do Congresso Palestino, sendo interrogado durante horas.
Relatos expõem as horrorosas condições das prisões israelitas, que se mantêm desde há muito perante a indiferença quase geral. O jornalista Dia al-Kahlut foi preso por soldados no norte de Gaza, mantido numa base militar e libertado 33 dias depois. Esteve todo o tempo de olhos vendados e com algemas de ferro, foi constantemente interrogado, alegando que era do Hamas. Na prisão, estavam também engenheiros, médicos, idosos, crianças.
Organizações humanitárias e mesmo denunciantes israelitas, detalharam abusos contra prisioneiros detidos por Israel, sem permissão para se moverem, obrigados a sentarem-se eretos, não estando autorizados a conversar nem a espiar por baixo da venda, sendo espancados rotineiramente pelos guardas. Israel mantém milhares de palestinos detidos sem julgamento.
Mas o Hamas é terrorista...
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