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26 de julho de 2011

OS MINISTROS TÉCNICOS E A TÉCNICA DOS MINISTROS
Os elogios dados pelos comentadores do costume ao elenco do novo governo – de ideias velhas – pareceram mais ao estilo de adeptos do clube antes do jogo, do que analistas políticos, mas isto já não espanta. Hão-de mais tarde encontrar justificações para os desaires e novas promessas de forma a manter o apoio dos adeptos. O costume.
Muito se extasiaram perante os curricula técnicos dos diversos elementos e considerou-se uma qualidade relevante “não serem políticos”. Passemos por alto terem com isto demonstrado ou não fazer a ideia do que seja fazer política ou a habitual fórmula de distorção para tornar a realidade opaca (ver “Política e Políticos” - Março.2011), assim o que me ocorreu foram os textos do “Pequeno Dicionário” sobre burocracia e burocratas, neste blog (“Burocracia I e II” – Abril.2011).
“Os países deixaram de ser governados pelos seus eleitos. Uma clique de burocratas a mando dos “novos senhores do mundo” – na expressão de Jean Ziegler – dirige de facto os povos com a imposição de regras, directivas, resoluções que apenas servem o interesse de uma mais que restrita camada de bilionários. Quem são estes burocratas?
Foram óptimos alunos em escolas de prestígio, apreenderam incriticamente tudo o que lhes foi leccionado, preencheram os curricula com pós-graduações, seguiram ciclos de formação dados por enaltecidos gurus das mesmas escolas. Tudo na óptica da especialização e da eficiência amoral, antihumanista. Diga-se que isto custa largas dezenas de milhares de euros ou dólares, só acessível a uma restrita camada social. Claro que há o endividamento para quem não pode tanto – sabemos o resultado.
Tudo para quê? Para criar, na expressão de Stanley Shapiro, antigo reitor da Universidade de Vancouver, “idiotas de terceira geração” *, ou seja, especialistas licenciados, que se diplomam em MBA, seguem cursos de doutoramento dados por outros especialistas, que por sua vez tiveram percurso idêntico, nenhum deles tendo sequer experiência da economia real e muito menos da vida do cidadão trabalhador comum”.
Nas ilusões tecnocráticas de alguns destes ministros não é difícil encontrar o desígnio de “pôr ordem no país”. Um país que no fundo desprezam, que consideram infectado pelo “vírus” do 25 de Abril e para cuja cura será necessário que se submeta às suas técnicas de amputação neoliberais.
Sem mais comentários, que cada um de avalie por si como o desempenho de cada ministro se enquadra nesta configuração.
*- Citado da revista “L’ Éxpansion” dos anos 90, numa entrevista a Thomas Gerrity, prof. da Universidade da Pensilvânia.

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