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29 de outubro de 2021

Orçamento(s) duas questões

 Vilfredo Pareto (1848-1923) foi um teórico do liberalismo e defensor do fascismo. Não há aqui contradição: o fascismo não pôs em prática o liberalismo, mas adotou dos seus princípios uma maior opressão sobre os trabalhadores em nome do individualismo antisindical e um aumento do poder dos capitalistas. Pareto definiu como ótimo económico a situação em que o aumento de satisfação de um agente económico se realizaria não havendo perda para outra parte.

Lógico? Claro, como disse António Aleixo, as grandes mentiras têm de ter algum cunho de verdade. Vejamos. Será possível anular as alterações às leis laborais impostas pelo troika? Não, pois iriam diminuir as vantagens capitalistas. Claro que o contrário, o feito pela troika, já se enquadra no “ótimo” liberal dado que a ação das “forças de bloqueio” sindicais impedem a livre concorrência do mercado, incluindo o de trabalho, e que a “livre empresa” (isto é capitalismo monopolista!) crie mais emprego (sem direitos) e mais riqueza (para o grande capital levar para paraísos fiscais).

Resolver as insuficiências do SNS. Não, isso não pode ser feito, pois iria prejudicar o negócio (dito empreendedorismo) da saúde. Alterar a fiscalidade, impedindo que os lucros e rendimentos criados no país saiam livremente para paraísos fiscais. Não, isso não é possível pois iria contra os sagrados mandamentos liberais quanto à liberdade de circulação de capitais e da concorrência neste caso fiscal. Portanto, o Estado e os trabalhadores não podem ser beneficiados se a outra parte é prejudicada.

E se refletíssemos sobre o aumento do salário mínimo, da habitação como um pleno direito social que incumbe ao Estado zelar, etc., iríamos encontrar a mesma ineficiência, o tal “não ótimo”.

Mas então a direita e a política de direita não é capaz de prometer melhorias e aumento do nível de vida para todos? Prometer é, realizar é outra questão. Tivemos a troika, mas temos exemplos noutros países e no mais importante os EUA, ao que conduz o liberalismo, a dita democracia liberal, seja mascarado de social-democrata, democrata, republicano, liberal, “socialista”, etc.

Claro que algumas “vantagens para as famílias” podem ser prometidas. Com isso o capital, que é em última análise quem dá o beneplácito ao governo, não tem grande problema, desde que não afete o seu “ótimo”. Note-se que se assim não for, a CIP faz birra e vai queixar-se ao PR, não abdicando do seu poder de veto, não “de jure” mas de facto.

Na realidade, não se pode esperar que convictos e obedientes “europeístas” vão além da vulgata neoliberal imposta nos tratados que os eleitores não foram chamados a votar, embora a UE considere ter autoridade para ensinar democracia - e aplicar sanções - aos “regimes iliberais”.

Com a economia privatizada e o Estado ao serviço do grande capital (dito "as empresas") qualquer aumento do poder de compra é, como se tem visto, logo absorvido por aumentos de preços que de forma mais evidente os oligopólios da grande distribuição efetuam. Como disse Engels, em capitalismo a insegurança dos trabalhadores tende sempre a aumentar, e só pelas suas lutas pode recuar.

Portanto as “vantagens para as famílias” que a direita e o PS irão apregoar serão sempre limitadas, instáveis e avulsas dado não estarem integradas ou enquadradas numa estratégia geral de desenvolvimento do sistema produtivo e melhoria dos direitos e rendimentos dos trabalhadores. Esta a outra questão acerca do(s) orçamento(s).

Atente-se então no que nos diz Michel Hudson na parte final de um seu texto em que compara as economias da China e dos EUA:

Do modo como o neoliberalismo funciona, ele divide a economia em partes e faz com que cada parte tente obter um ganho e, se fizer isso, não terá nenhuma infraestrutura que baixe o custo das outras partes. Você tem cada parte a combater por si mesma. Você não olha em termos de um sistema, que é o modo como a China o vê. Esta é a grande vantagem do marxismo, olhar para o sistema, não apenas para as partes.”

Pois é…

26 de outubro de 2021

Dissidentes e dissidentes -2

Prossegue Alexander Zinoviev, na entrevista dada em 1999, depois de ter visto como o totalitarismo da democracia capitalista era muito mais perverso que o totalitarismo soviético:

Quando se escuta as elites ocidentais, tudo é puro, generoso, respeitoso com a pessoa humana. Ao fazer isso, eles aplicam uma regra clássica da propaganda: mascarar a realidade com o discurso. Porque basta ligar a televisão, ir ao cinema, abrir os livros mais vendidos, ouvir as músicas mais populares, para perceber que o que se propaga na realidade é o culto ao sexo, à violência e ao dinheiro. O discurso nobre e generoso pretende, portanto, mascarar estes três pilares - e existem outros - da democracia totalitária.”

Globalização, por outras palavras: dominação mundial. A sociedade ocidental domina o mundo e organiza-se verticalmente, como poder supranacional no topo da pirâmide. O governo mundial é chefiado pelos governadores das estruturas comerciais, financeiras e políticas supranacionais conhecidas por todos. Segundo os meus cálculos, cerca de cinquenta milhões de pessoas fazem parte dessa super sociedade que governa o mundo. Os Estados Unidos são sua metrópole.”

O atual poder dominante esmaga a soberania dos Estados. A integração da Europa, está também a provocar o desaparecimento do pluralismo neste novo conglomerado, a favor de um poder supranacional.” “A UE é um instrumento de destruição das soberanias nacionais. É um dos projetos desenvolvidos por organizações supranacionais. Os seus líderes autodenominam-se "comissários", como os bolcheviques. Pertencem a uma "Comissão", como os bolcheviques. O último presidente foi "eleito" sendo o único candidato.”

A União Soviética é de fato um exemplo clássico de conglomerado multinacional com uma estrutura de governo supranacional. Há vinte anos, fiquei impressionado como quanto as chamadas falhas do sistema soviético foram ampliadas no Ocidente. A economia ocidental é infinitamente mais planeada do que a economia soviética jamais foi. Burocracia ! Na União Soviética, 10% a 12% da população trabalhadora trabalhava na liderança e administração do país. Nos Estados Unidos, estão entre 16% e 20%. No entanto, foi a URSS que foi criticada por sua economia planeada e pelo peso de seu aparato burocrático!”

O Comité Central do PCUS empregava duas mil pessoas. (NT - Na Comissão Europeia trabalham 32 000 pessoas) Todo o aparelho do Partido Comunista Soviético consistia em 150 000 funcionários. No Ocidente, encontram-se dezenas, senão centenas de empresas que empregam muito mais pessoas. O aparelho burocrático do Soviético era lamentável se comparado ao das grandes multinacionais. A URSS era, na realidade, um país sub-administrado. Deveria ter duas a três vezes o número de funcionários públicos na administração.#

Seria um absurdo ser liberal hoje. A sociedade liberal não existe mais. Sua doutrina está totalmente desatualizada em uma época de concentrações capitalistas sem paralelo na história. Os movimentos de grandes massas financeiras não levam em conta os interesses dos Estados ou dos povos, povos constituídos por indivíduos. Não importa quem dirige eles são e seguirão a mesma política.”

(com o liberalismo) “A expectativa de vida dos russos caiu dez anos nos últimos dez anos. A mortalidade excede a taxa de natalidade de forma catastrófica. Dois milhões de crianças não dormem em casa. Cinco milhões de crianças em idade escolar estão fora da escola. Existem doze milhões de toxicodependentes identificados. O alcoolismo espalhou-se; 70% dos jovens são inaptos para o serviço militar devido à sua condição física. São consequências diretas da ocidentalização. O totalitarismo democrático ultrapassará todos os que vieram antes dele.”

O Ocidente acaba de inventar a "guerra pacífica". O Iraque e a Iugoslávia são dois exemplos de resposta desproporcional e punição coletiva, que a propaganda a disfarçar como "causa justa" ou "guerra humanitária". A contrarrevolução russa de 1985 é um exemplo. Mas, ao travar uma guerra contra a Jugoslávia, os países da Europa Ocidental também a travaram contra si próprios. Existem forças dentro da Europa capazes de forçá-la a agir contra si mesma. A Sérvia foi escolhida porque resistiu ao rolo compressor globalista. A Rússia pode ser a próxima na lista. Antes da China.”

As pessoas já votam pouco e votarão cada vez menos. Quanto à opinião pública ocidental, está tão condicionada que reage apenas na direção pretendida pelo aparelho de propaganda (dos media).

O totalitarismo soviético havia criado uma verdadeira sociedade multinacional e multiétnica. Foram as democracias ocidentais que fizeram esforços de propaganda sobre-humanos durante a era da Guerra Fria para despertar os nacionalismos. Porque viram no desmembramento da URSS a melhor forma de destruí-la. O mesmo mecanismo funcionou na Jugoslávia. O sistema ocidental consiste em se dividir para melhor impor sua lei a todas as partes ao mesmo tempo e para se estabelecer como juiz supremo."

O Ocidente desconfiava menos do poder militar soviético do que de seu potencial intelectual, artístico e desportivo. Porque denotava uma vitalidade extraordinária. Esta é a primeira coisa a destruir em um inimigo. Eles preferem ter cientistas russos a trabalhar nos EUA. O cinema soviético também foi destruído e substituído pelo cinema americano. Na literatura é a mesma coisa. A dominação mundial é expressa, acima de tudo, por ditames intelectuais ou culturais. É por isso que os americanos vêm se esforçando há décadas para diminuir o nível cultural e intelectual do mundo: eles querem trazê-lo de volta para o deles para que possam exercer esse ditame.”

http://www.toupie.org/Textes/Zinoviev_2.htm

Informação com humor

 

A  culpa do aumento do Gás

23 de outubro de 2021

Dissidentes e dissidentes -1

Já lá vai o tempo em que dissidentes dos países socialistas eram recebidos como heróis. Milan Kundera foi um deles, entre tantos outros do rock à pintura dita moderna, etc. Kundera quando o seu humor e sentido crítico se aplicou aos países ocidentais passou a ser considerado “superficial” e a sua “sátira forçada”. Caiu no esquecimento tal como à generalidade dos demais. Soljenítsin, escapa este destino, pios foi adversário da descolonização e admirador de Pinochet, bem acompanhado pela sra. Thatcher, o Papa de então e claro os EUA.

Alexander Zinoviev, filósofo e escritor, dissidente soviético foi um dos acarinhados no ocidente, onde viveu desde 1978. Em junho de 1999, dava uma entrevista de que salientamos alguns passos. (1) As suas palavras merecem ser recordadas pela atualidade.

Deixei uma potência respeitada, forte, até temida, e encontrei um país derrotado, em ruínas. O que eu disse aconteceu: a queda do comunismo transformou-se na queda da Rússia. A Rússia e o comunismo eram a mesma coisa.”

A catástrofe russa foi intencionada e planeada no Ocidente. Digo isto porque já fui um iniciado. Li documentos, participei de estudos que, a pretexto de lutar contra uma ideologia, preparavam a morte da Rússia. E tornou-se-me insuportável, a ponto de não poder mais viver no campo daqueles que estão a destruinr o meu país e o meu povo.”

Não se trata de patriotismo. Recebi uma educação internacionalista e continuo fiel a ela. Os infortúnios atuais do meu povo são tais que não posso continuar a contemplá-los de longe. A brutalidade da globalização destaca coisas inaceitáveis.”

Ao contrário da crença popular, o comunismo soviético não entrou em colapso por razões internas. Sua queda é a maior vitória da história ocidental! Uma vitória colossal que, repito, permite o estabelecimento do poder planetário. Mas o fim do comunismo também marcou o fim da democracia. O nosso tempo não é apenas pós-comunista, é também pós-democrático. Hoje testemunhamos o estabelecimento do totalitarismo democrático ou, se preferir, da democracia totalitária.”

O Ocidente também estava sob a influência da URSS, principalmente por meio de seus próprios partidos comunistas. Hoje vivemos num mundo dominado por uma única força, por uma única ideologia, por um único partido globalista. Os países ocidentais são, dominantes, mas também dominados, à medida que vão perdendo gradualmente a sua soberania a favor do que chamo de uma supra sociedade planetária, composta de empresas e organizações não empresariais, cujas áreas de influência se estendem para além das nações. Os países ocidentais estão sujeitos, como os outros, ao controlo dessas estruturas supranacionais.”

Os países ocidentais experimentaram uma verdadeira democracia durante a era da Guerra Fria. Os partidos políticos tinham diferenças ideológicas reais e programas políticos diferentes. As organizações jornalísticas também tinham diferenças marcantes. Tudo isso influenciou a vida das pessoas, contribuiu para o seu bem-estar. Está tudo acabado. A existência de partidos políticos é puramente formal. Suas diferenças estão ficando mais confusas a cada dia. A guerra dos Balcãs foi tudo menos democrática. No entanto, foi liderada por socialistas.

O totalitarismo financeiro subjugou os poderes políticos. O totalitarismo financeiro é frio. Ele não conhece piedade nem sentimentos. O totalitarismo democrático e a ditadura financeira combinam a brutalidade militar omnipotente e o estrangulamento financeiro planetário. Todas as revoluções receberam apoio do exterior. Isso agora é impossível, devido à ausência de países soberanos. Além disso, a classe trabalhadora foi substituída na base da escala social pela classe dos desempregados. O que os desempregados querem? Um trabalho. Eles estão, portanto, ao contrário da classe trabalhadora do passado, numa posição fraca.”

No campo ideológico, a ideia importa menos do que os mecanismos de sua difusão. No entanto, o poder dos media ocidentais é, por exemplo, incomparavelmente maior do que o enorme poder do Vaticano no seu auge. E não é tudo: o cinema, a literatura, a filosofia, todos os meios de influência e difusão da cultura em sentido amplo vão todos na mesma direção.”

Embora os políticos e generais da NATO devam ser julgados por violar todas as leis existentes, a esmagadora maioria dos cidadãos ocidentais acredita que a guerra contra a Sérvia foi justa e boa. A ideologia ocidental combina e converge ideias de acordo com as necessidades. Um deles é que os valores e modo de vida ocidentais são superiores aos outros. Enquanto para a maioria das pessoas no planeta esses valores são mortais.”

Tente convencer os americanos de que a Rússia está morrendo disso. Eles continuarão a afirmar que os valores ocidentais são universais, aplicando assim um dos princípios fundamentais do dogmatismo ideológico. Um cientista que quisesse estudar os mecanismos do totalitarismo democrático enfrentaria as maiores dificuldades. Fariam dele um pária. Por outro lado, aqueles cujo trabalho atende à ideologia dominante estão submersos em dotações, os editores e os media competem por eles. Eu o observei como pesquisador e professor em universidades.” (continua)

1 – Texto completo em: http://www.toupie.org/Textes/Zinoviev_2.htm 

21 de outubro de 2021

Navalny, o prémio Sakarov e a UE

A UE não encontrou agora nada melhor que atribuir o prémio Sakarov a Navalny, “ “em nome da liberdade de expressão.” Já aqui falámos de Navalny, um ativista de extrema-direita, racista e xenófobo, ex-destacado elemento do neoliberal Yabloco, partido apoiante de Yeltsin, que nas últimas eleições não conseguiu eleger ninguém para o Parlamento. No seu currículo consta um curso na universidade de Yale.

A UE considera-o “líder da oposição a Putin” e perseguido por combater a corrupção. A realidade é bem diferente: apenas 2% o apoiariam se agora concorresse à presidência. Quanto à corrupção ele próprio foi condenado por corrupção e está preso por violação da liberdade condicional. Nunca no Ocidente foi contestada com argumentos a legalidade da detenção.

Também já aqui falámos do resultado das eleições na Rússia, tema totalmente escamoteado pelos média, bastando-lhes ter considerado – antes de se realizarem – que seriam fraudulentas. Seja na Venezuela, na Rússia, Bielorrússia ou em qualquer outra parte do mundo quando não ganham candidatos apoiados pelos EUA… são fraudulentas. Como se sabe, o líder da oposição a Putin é o Partido Comunista da Federação Russa. Aliás oposição parcial, dado que nem a UE nem a NATO nada podem contar por esse lado. Obviamente.

Os objetivos da UE e NATO são encontrar novos Yeltsin ou Gorbatchov (também servia) para destruir a Rússia como foi tentado. O objetivo já tinha sido definido por Goebbels: “A R… deve ser dividida nos seus componentes. Não se pode tolerar a existência a Leste de um Estado tão vasto.” (Diário, 24 maio de 1941).

O que é degradante é estes presumidos defensores da democracia e da liberdade de expressão ignorarem totalmente Julian Assange, as suas condições de detenção que configuram assassínio premeditado. Nem mesmo o facto de 24 organizações de defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos pedirem o fim das acusações contra Assange. Nem mesmo o facto de  uma testemunha chave contra  Assange se encontrar detido na Islândia, por, designadamente, atos de pedofilia. Numa entrevista declarou que tinha sido recrutado pelas autoridades dos EUA e recebido imunidade por parte do FBI para montar um dossier contra Assange, fazendo crer que era um dos seus colaboradores próximos.

Será que algum dos grandes media referiu isto? Será que na UE os bonzos ao serviço da oligarquia não tiveram pejo em se sujar com um desacreditado instrumento de intoxicação de consciências como Navalny, ignorando um homem vitima do seu humanismo e consciência, que denunciou crimes cometidos pela NATO? Lamentavelmente, o seu caso sendo mais gritante não é único.

A UE a braços com uma crise económica e social, com países em confronto com Bruxelas, em estagnação económica há 20 anos, instabilidade política na generalidade dos países, não encontra nada melhor para fazer que hostilizar a Rússia. A UE está transformada em mera sucursal dos belicistas de Washington. No PE uma maioria assumiu a agressividade em propostas – que secundam a NATO – para aumentar a agressividade contra a Rússia e também contra a China.

Em vez de, mesmo do ponto de vista capitalista - procurar relações estáveis e mutuamente vantajosas, em primeiro lugar com os países mais próximos, lançou para o caos países como a Líbia e o Iraque, apoia a agressão à Síria, aplica sanções ao Irão, à Rússia, à Bielorrússia, alia-se aos nazifascistas da Ucrânia. No Norte de África hostiliza a Argélia, por exemplo. Pretende bloquear – um desiderato de Washington – o funcionamento em pleno do novo gasoduto Nord Stream 2. Como se a UE não vivesse já uma crise energética não tendo a mínima ideia como resolver.

Ainda não se aperceberam que a Europa se está a tornar a Península Ocidental da Grande Eurásia comandada pela Rússia e pela China (Europe as the Western Peninsula of Greater Eurasia: Geoeconomic Regions in a Multipolar World). (1) Os burocratas de Bruxelas, escravos do atlantismo são incapazes de compreender o potencial da Grande Eurásia. Na cegueira que ocorre nos grandes declínios os media ajudam a esta tão imbecil como infame orquestração, ignorando as vítimas destas políticas.

1 - A Eurásia toma forma: Como a SCO acaba de inverter a ordem mundial (resistir.info)

15 de outubro de 2021

Assim vai o mundo...para além do orçamento

 Esperemos que haja mais vida para além do orçamento, mas esta mesma vida encontra-se constantemente ameaçada pelas ações imperialistas. O caso de Taiwan torna-se de momento um grave perigo para a paz.

Taiwan faz parte da China desde 1683, sendo antes refúgio de piratas e depois de “descoberta” pelos portugueses – a Formosa – também entreposto de holandeses e espanhóis.

Pelo "Comunicado de Xangai" de 28 de fevereiro de 1972, os EUA assinaram com a China um acordo em que: "reconhecem que todos os chineses de ambos os lados do Estreito de Taiwan sustentam que há apenas uma China e que Taiwan é parte da China. O governo dos Estados Unidos não contesta essa posição, reafirmando o seu interesse numa solução pacífica da questão de Taiwan pelos próprios chineses.”

Os belicistas de Washington querem ignorar o acordo, considerando “ter perdido Taiwan” e fomentam a sua formalização como país independente. Por seu lado a China continua a fortalecer a sua preparação militar para obter uma influência decisiva e resolver a questão de Taiwan.

A China está determinada a defender a soberania nacional e a realizar a reunificação, disposto a “lutar até a morte contra qualquer um que nos desafie e nos obstrua.” “Não se trata de uma escolha em que realizaremos a reunificação quando for fácil e desistiremos quando for difícil.

A questão de Taiwan tornou-se o centro do confronto entre os EUA e a China. A posição do governo da China é que os EUA pretendem criar maiores obstáculos à ascensão da China, jogando a "carta de Taiwan", mas esta não é uma questão de morte que os EUA defenderão independentemente dos custos e das vidas. Washington nunca lutará até a morte com o continente chinês pela secessão da ilha. Para além da retórica, os EUA não têm força para assumir compromissos "sólidos como uma rocha" – como dizem - com Taiwan.

O Estreito de Taiwan e a área próxima estão dentro do alcance de ataque do Exército Popular da China. O envio de forças navais e aéreas dos EUA para defender Taiwan seria um golpe mortal para os soldados norte-americanos. Além disso, a China é uma potência nuclear com mísseis balísticos intercontinentais DF-41 e JL-3. Esta realidade limita os EUA quanto ao uso de armas nucleares. Em suma, considera a China, os EUA não são mais o país que pode exercer chantagem militar contra a China. Tudo o que pode e está a fazer são jogos geopolíticos.

Por outras palavras, temos de volta a tese do imperialismo “como um tigre de papel”, só que os argumentos agora são muito mais fortes! “Os EUA e a ilha de Taiwan deveriam parar de tentar assustar o continente chinês de que a reunificação pela força gerará sérias consequências políticas e económicas. Nos últimos anos, os Estados Unidos já mostraram quais serão essas consequências com sua contenção total contra a China. Todos os chineses já os viram e o efeito dissuasor será zero.”

Os independentistas da ilha pensam obstinadamente que os EUA nunca os abandonarão e lutarão com a ilha para deter o continente. Isso nada mais é do que uma ilusão. Assim que o continente tomar a decisão política de resolver a questão de Taiwan pela força, as pessoas verão uma versão moderna da libertação de Nanjing durante a Guerra de Libertação da China (1946-49). Nesse ponto, abandonar Taiwan será a escolha inevitável dos EUA.

Recentemente, o comandante do exército de Taiwan visitou os Estados Unidos. Há informações de que os EUA pretendem colocar unidades militares em Taiwan. A China num editorial do Global Times declarou que nesse caso enviará unidades suas para a ilha. A situação através do Estreito está portanto a ser empurrada para um confronto final.

A China não desistirá de uma solução pacífica para a questão de Taiwan, mas a reunificação deve ser o fim dessa solução pacífica, ao invés de "duas Chinas" ou "uma China e um Taiwan".

Neste contexto o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que Moscovo continuou a apoiar firmemente a posição de Pequim sobre Taiwan como parte integrante da China. Também sublinhou que Moscovo apoiaria Pequim nos seus esforços legítimos para reunir a província separatista com o resto do país. Muitos observadores concluíram que a declaração de Lavrov foi um sinal claro para todas as partes da crise: a Rússia provavelmente apoiaria até mesmo a tomada militar da ilha por Pequim.

Entretanto a China e a Rússia realizaram exercícios navais conjuntos no Mar do Japão, exibindo o "maior nível de confiança e capacidade". 

Assim vai o mundo… para além do orçamento.

Ver: China’s iron will stronger than US’ ‘rock solid’ commitment to Taiwan: Global Times editorial - Global Times