Linha de separação


29 de fevereiro de 2016

O que eles dizem


O fardo da Helena Garrido

Há uns anos Helena Garrido, nas páginas do Negócios, atirou-se à banca. Deve ter percebido que tal posição no Negócios não rendia e nunca mais se atreveu
Hoje é directora!
 Há uns dias mostrou-se compungida com as críticas que eram feitas à banca.
 A banca, coitadinha, é a sua nova dama!
Recentemente escreveu sobre o «Novo Banco» e sobre uma eventual nacionalização, cruzes canhoto. Ficou assombrada por o seu colega de quadrante ideológico defender que se pondere a nacionalização do Novo Banco e, como não tem argumentos, joga com o preconceito anti-comunista: Vítor Bento e PCP defendem o mesmo. Helena Garrido dixit.

O tacho
O Governador do Banco de Portugal, com o maior dos descaramentos, veio dizer que «seria curioso» demitir-se «por um pequeno incidente». O governador faz humor sem o saber.
Acrescentou, depois, que o incidente estava sanado porque o primeiro-ministro disse que a independência do Banco de Portugal não estava em causa.
O Banco de Portugal é, formal e estatutariamente, independente. O primeiro-ministro não podia dizer outra coisa. Mas o primeiro-ministro não disse que o Governador do Banco de Portugal era independente. E de facto não é. Foi um cúmplice útil do anterior governo e tem a mentalidade e o comportamento de um alto quadro do BCE, a quem julga dever obediência e não a Portugal, como se viu no caso BANIF.
Fazia um grande favor ao país se se demitisse, mas continua agarrado ao tacho que nem uma lapa.

A pirâmide dos ricos: política de austeridade!
Passos Coelho afirmou recentemente que a «austeridade não é de esquerda nem de direita. É o que sobra quando acaba o dinheiro». 
Um jornalista do Expresso colocou-o nos "altos#. Gostou da afirmação!
 A dita «austeridade» continua a servir de biombo para lançar a confusão.
Repetimos mais uma vez que o que houve foi política de concentração de riqueza ,política de concentração e centralização de capitais e de privatização de tudo o que, sendo público, pudesse ser lucrativo.
Mas se se chamasse à política seguida por Passos, política de concentração de riqueza, o que de facto foi, como mostram os indicadores, nenhum jornalista perguntaria pela alternativa à política de concentração de riqueza, nem nenhum jornalista aceitaria a aldrabice de que a política de concentração de riqueza não é de esquerda nem de direita.

A insuportável verdade dos factos para Sousa Tavares
Sousa Tavares esquece o BES, diz que é uma questão de família!
Ao autêntico roubo feito às carteiras dos contribuintes pelo BES, Sousa Tavares remete-se ao silêncio.
Fala da banca e do Novo Banco, que teve prejuízos(embora tenha tido lucros operacionais ), mas nada nos diz das responsabilidades  do BES e do seu compadre.
Procura meter tudo no mesmo saco para, no fundo, atingir duas finalidades: desculpabilizar o BES e defender a banca privada.
O seu argumento é o exemplo da Caixa Geral de Depósitos há vários anos a dar prejuízo , e sem ter ainda devolvido ao Estado o dinheiro que lhe foi adiantado.
É certo que não basta à banca ser pública , quando o poder está ao serviço dos grandes interesses privados.
Foi a Caixa que financiou boa parte dos candidatos nacionais às privatizações , designadamente no inicio em que estes não dispunham de capital..
Foi a Caixa que teve nos lugares cimeiros , os Varas , Celestes Cardonas... e que ainda com o último governo dividiu os lugares pelo PSD e CDS.
Mas quanto à qualidade técnica a banca privada não teve um desempenho muito diferente , como o mostra o BES, o Banif , o BPN, o BPP...
Mas mesmo assim a Caixa foi a instituição bancária que ao longo destes anos mais impostos pagou  , a ùnica em que os lucros foram para o Estado e ao contrário das outras o seu património mantém-se de pé , é nacional e público. 
Uma pequena diferença dirá Sousa Tavares . Uma grande diferença para quem defende o País e a sua soberania . 

28 de fevereiro de 2016

Domingos Abrantes ao DN

No passado dia 20 de fevereiro o DN publicou uma notável entrevista dada por Domingos Abrantes, a propósito da sua nomeação como Conselheiro de Estado. Vale a pena ler na íntegra. Este destacado militante apesar dos seus 80 anos mostra uma lucidez e coerência a todos os títulos digna de registo. As respostas as perguntas algo provocatórias acerca de Adriano Moreira e Álvaro Barreto são de antologia. Ei-las: 

Como se sente em relação ao facto de, como conselheiro de Estado, se sentar à mesma mesa que Adriano Moreira, ministro de Salazar que presidiu a um regime contra o qual combateu grande parte da sua vida? 

Já me cruzei com o professor Adriano Moreira noutro contexto. Fomos deputados na assembleia durante 10 anos. Cada um está no Conselho de Estado por direito próprio. É um facto que Adriano Moreira foi ministro de um governo fascista, responsável por decisões graves, como foi a reabertura do sinistro campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde foram assassinados 32 presos, ou, como ministro do Ultramar, responsável pela repressão dos povos coloniais. Também nunca morreu de amores pelos comunistas, a quem sempre atacou de forma violenta. Quanto a estarmos juntos no Conselho de Estado,
não posso deixar de fazer uma reflexão. No tempo do fascismo, durante o qual ele foi ministro, eu estava na cadeia. Hoje, no Portugal de abril, para o qual ele não contribuiu obviamente, ele pode ser conselheiro de Estado, deputado... Resta saber se Adriano Moreira tira alguma conclusão da diferença
 
Um colunista do DN, António Barreto, escreveu há semanas uma crónica muito crítica para os comunistas portugueses, dizendo que eram um sintoma do atraso do país, deixando implícito que para os combater tinha que ser pela força. Sente que é a opinião de muita gente?
 
A natureza por vezes é demasiado cruel para algumas pessoas quando chegam a certa idade. António Barreto é uma personagem pouco séria intelectualmente. Barreto já foi tudo na vida. Esquerdista, comunista, socialista, social-democrata. Ultrarrevolucionário quando estava longe da polícia política, na Suíça e contrarrevolucionário no Portugal de Abril. Ele faz parte de uma fauna que quando não sabe explica. Desliza a grande velocidade para posições fascizantes. Basta ver as suas posições sobre a revisão da Constituição e o que defende para a arquitetura do Estado. Nessa crónica expressa um argumento típico do fascismo, a defesa da violência contra os comunistas. Sofre da síndrome dos pigmeus. Acredita que bolsando lama sobre os grandes se torna gigante. É uma doença incurável. Precisávamos que o Eça ressuscitasse por algum tempo para se ocupar de certas abencerragens.

23 de fevereiro de 2016

Os dramas do PS

Os comentadores de serviço mostram-se agora muito preocupados com os impostos e as famílias depois de passarem 5 anos a justificarem e aplaudirem tudo o que o PSD-CDS fizeram. O problema era apenas de “comunicação”, isto é, apesar dos esforços deles próprios “comentadores” parece que a população não se deixava tosquiar sem protestos, mesmo com o colaboracionismo da direção da UGT.
O PS ‘independentemente de boas e louváveis intenções em certas áreas pretende no seu OE fazer uma política não neoliberal, com os instrumentos e medidas neoliberais, as únicas permitidas pela UE....É este um dos dramas do PS.
Citemos alguns vetores essenciais ao desenvolvimento não possíveis com as “regras europeias”: planeamento económico elaborado pelo Estado maximizando benefícios sociais, banco estatal dedicado ao apoio ao investimento produtivo em função do plano, controlo público do sistema financeiro posto ao serviço do desenvolvimento e não da especulação, além de várias outras medidas propostas por exemplo no programa eleitoral do PCP como as referentes à tributação do grande capital e controlo público dos sectores económicos estratégicos.
O ministro Augusto Santos Silva (ASS) evidenciou outro drama em que o PS se envolve. ASS fez na Comissão Parlamentar dos Assuntos Europeus uma intervenção no mínimo absurda sobre o chamado tratado de parceria transatlântica (TTIP). Disse então que a “UE conduz o processo em nome de todos nós”. Frase que não passa de uma mistificação. Não é a “UE” a conduzir o processo mas burocratas que dominam dossiers aos quais nem os deputados do PE têm livre acesso. É exigido segredo e não podem ter consigo algo que posa de alguma forma reproduzir a documentação que lhes seja proporcionada sem saberem se está completa ou se é a mais relevante.
ASS não se coibiu de encómios ao TTIP, para ele “é essencial concluir com êxito o esforço de ligação atlântica entre os EUA e a “Europa” como um requisito essencial para a saúde da economia global”, etc., etc.
O que é que este senhor aprende com a realidade? Nada. A crise global que persiste e se agrava de novo mostra o fracasso da globalização capitalista e eles nem sequer o entendem quando afirmam que desta vez é devido aos problemas económicos dos BRIC!
A UE tornou-se um fantoche da geopolítica imperialista dos EUA. A UE cuja prioridade externa seria paz e colaboração nas suas fronteiras para sair da crise em que mergulhou, não passa de um peão dos EUA colaborando nas suas agressões e ingerências, colocando-se ao lado dos neonazis de Kiev, assumindo as sanções impostas por Washington mesmo que isso tenha consequências desastrosas para as economias europeias .
ASS fala na transparência que deve existir no TTIP, que os parlamentos nacionais devem participar no processo, que não é aceitável a arbitragem privada. Piedosos votos que serão objeto da cosmética já experimentada nos tratados da UE, quando o objetivo é só um: colocar os Estados e os seus povos ao serviço das transnacionais podendo ser penalizados se isso não ocorrer. Fazer dos cidadãos súbditos das empresas e as funções sociais transferidas para os grandes interesses privados.

Espirros

As reformas estruturais
O chapéu das ditas «reformas estruturais» tem sido, e continua a ser utilizado para se evitar chamar os ditos pelos nomes.
Falam em reformas estruturais para evitar falar no que defendem de facto: reduzir os salários reais, as reformas e pensões, reduzir e privatizar o serviço nacional de saúde, o ensino público, a segurança social.

Renegociação da dívida
Alguns comentadores «bem pensantes» dizem que o PCP fala na renegociação da dívida sem se dar conta que, ao levantar a questão da renegociação, está a dar armas aos «mercados» e às empresas de rating para avaliarem negativamente a situação.
Não questionam a substância mas sim como podem reagir os «mercados. Para estes, o país e os partidos devem obediência aos mercados.
Não debatem a questão central: esta dívida é sustentável? Esta dívida não nos bloqueia o desenvolvimento e o investimento? E se sim, então não se deve tudo fazer para diminuir os custos da dívida e do seu montante?
Não gostam do termo «renegociação», então defenda-se a redução do «serviço da dívida» (juros e amortizações).
Ou será que os ditos comentadores não estão de acordo com a redução dos custos da dívida?

O mito da independência do Banco de Portugal
O governador do Banco de Portugal diz-se independente e pelos estatutos do Banco é o formalmente . Mas  ao longo do seu mandato, as suas mais importantes decisões têm sido as   de um mero funcionário zeloso do Banco Central Europeu ou de cúmplice do anterior governo, designadamente no encobrimento das  responsabilidades deste em vários casos
Não é também verdade que adiou a venda do BANIF porque  a ministra das Finanças da altura se opôs, deixando arrastar a situação para servir os interesses eleitorais do PSD e do CDS?
Não é verdade que vendeu o BANIF «limpo» ao Santander por imposição do BCE e da Direcção Geral da Concorrência, comportando-se, de facto, como uma correia de transmissão destes?
Não é verdade que o governador do Banco de Portugal fez o frete ao governo e à sua ministra das Finanças na «Resolução do BES», mantendo-se em silêncio quando o governo vendia a ficção de que nada teve a ver com o BES, e que tudo foi feito pelo Banco de Portugal, deixando pairar a ideia que o governo só teve praticamente conhecimento a posteriori.
Não. O governador do Banco de Portugal nunca foi, nem nunca se comportou como independente.
Não foi independente em relação aos banqueiros, que devia supervisionar. Recorde-se o folhetim do BES e da idoneidade de Ricardo Espírito Santo.
Não foi independente em relação ao governo, e teve como prémio a sua recondução.
Não foi, nem é, independente em relação ao BCE. 
Não é, nem foi, independente na prática , como  os factos o demonstram, mas serve-se da independência formal para se manter no lugar. Entende que deve continuar a servir o capital financeiro, os grandes interesses e o sacrossanto Banco Central Europeu. Não tem a dignidade de se demitir. Era um serviço que fazia ao país.
A independência dos bancos centrais sempre foi um mito e repousa na ficção da separação e autonomia da política monetária em relação às outras políticas.
A neutralidade da política monetária também é outro mito e a ela voltaremos mais tarde.

Orçamento
A direita e os seus prestimosos comentadores continuam a insistir na carga fiscal, no nível de «austeridade». Dizem que afinal o nível de austeridade se mantém, o que há é uma outra distribuição! Pois é!
Como as políticas anteriores foram de concentração de riqueza, políticas que levaram a uma enorme concentração e centralização de capitais, a que, eufemisticamente e ideologicamente se chamou de políticas de austeridade, do que se trata é de reverter estas políticas. Reverter a política de concentração de riqueza.
Alguns impostos até poderiam e deveriam ser criados, como por exemplo um imposto sobre as transacções financeiras, ou sobre a grande distribuição...
O termo «austeridade» dá muito jeito para esconder as políticas favoráveis às classes dominantes.

Os gestores da Banca

Crédito sem garantias

Os dados publicados pelo Banco de Portugal no boletim estatístico de Fevereiro indicam que 46,7% do total de 23.874 milhões de euros de crédito ao consumo e outros fins concedido pelo sistema financeiro português existente no final de 2015 não estava abrangido por nenhuma garantia que previna a entrada em situação de incumprimento dos seus titulares. Esta percentagem corresponde a um total de 11.149 milhões de euros. Qual o problema? Simples: os balan
ços das instituições financeiras estão presos por arames.(D.N.)
Adivinhem quem vai pagar a factura ....

20 de fevereiro de 2016

Espectro da crise


O espectro do aprofundamento da crise

As deflagrações bolsistas que se verificaram desde o início deste ano vieram mostrar que a recuperação da crise dita de 2007/2008 tinha pés de barro, e que as políticas utilizadas parar a ultrapassar criaram novos factores explosivos, podendo tornar uma nova «crise» muito mais violenta e de controlo muito mais difícil.
Razão parece ter o Royal Bank of Scotland quando, em 15 de Janeiro deste ano, anunciou que 2016 será «um ano de cataclismo».
A inquietação e as dúvidas estão instaladas, e agora, como alguns preveem, só basta aparecerem os famosos «cisnes pretos» – acontecimentos imprevisíveis que desencadeiam movimentos de pânico de grande envergadura para se verificarem afundamentos globais com repetição certa e de difícil controlo.
As dúvidas e inquietações repousam sobre a evolução e os efeitos da continuação dos baixos preços do petróleo, da real situação de muitos bancos, alguns considerados «sistémicos», como o Deutsch Bank, e da «shadow bank», banca paralela; do crescimento mundial, da saúde das economias americana, chinesa, japonesa, da União Europeia, e das repercussões da situação dos países ditos emergentes.
Alguns vão mesmo ao ponto de apontarem similitudes com o que se verificou em 2007, com a falência de dois fundos especulativos e do banco americano, Bear Stearns, e o pânico que levou numerosos detentores de títulos a procurarem, ao mesmo tempo, desfazerem-se deles, designadamente dos assentes em hipotecas imobiliárias, desencadeando um forte movimento de desconfiança, atingindo as bolsas mundiais, o rastilho da grande crise.
Do outro lado do Atlântico, em Dezembro de 2015, os fundos especulativos, como o New York Third Avenue, ou ainda o Stone Lion, faliram, incapazes de fazer face à retirada massiva de fundos, o que, conjuntamente com as já verificadas fortes tensões nas bolsas, designadamente na China, criaram de novo o receio geral, tanto mais que os acontecimentos de 2007/2008 estão ainda bem presentes.
Outros chamam a atenção para o paralelo entre 2001/2006 com o que se verificou entre 2012/2015 – explosão da valorização de certas empresas start ups, novas «bolhas», e o acentuado crescimento de «derivados de base duvidosa» e, designadamente, a estagnação dos salários, e mesmo a sua diminuição em termos reais verificada em vários países durante estes últimos anos.
Citamos estas referências ao paralelismo só para chamar a atenção para o clima de receio e de intranquilidade que está instalado nos investidores/especuladores.
Por que é que esta crise poderá ser mais violenta que a de 2007/2008, e com características e acontecimentos diferentes?
Porque, para acudir ao sistema financeiro, todos os bancos centrais, sendo o BCE o último, lançaram-se, na política designada de «quantitativ easing» (QE), injecções de liquidez, com o objectivo de, através da política monetária, isto é, da abundância de dinheiro e barato, impulsionarem a actividade económica e a capitalização e desendividamento da banca.
Se, no quadro do sistema e em termos de classe (valorização do património), estas políticas têm racionalidade, o seu prolongamento cria e criou novas contradições.
Como não houve um QE – quantitativ easing para os povos – «helicopter money» para os trabalhadores, a estagnação salarial e o baixo investimento público por parte dos Estados a braços com elevadas dívidas públicas, não houve impulso significativo da procura.
Perante a abundância de liquidez a banca não a canalizou para a chamada economia real por não encontrar aí rentabilidade mas, sobretudo, para a especulação, com novos títulos, criando «novo lixo tóxico» especulativo, capital fictício e, portanto, novas «bolhas». Teoricamente o excesso de moeda deveria aumentar a inflação. Tal não se verifica porque ela não chega às massas.
A liquidez dada pelos Bancos Centrais constitui hoje o material explosivo pronto a deflagrar, e o fazer cessar ou reverter as injecções de liquidez é muito difícil pois todo o sistema está ligado à máquina do quantitativ easing, como a economia americana o está a demonstrar.
Na Zona Euro, o BCE, ao contrário dos outros Bancos Centrais, não concedeu nem concede empréstimos directamente aos Estados, alimentando, assim, mais que os outros, as «bolhas especulativas» fabricadas pela banca.
Mesmo a fraca retoma da Zona Euro está ameaçada e a operação «Bail in» engendrada para tentar calar a opinião pública indignada com os auxílios à banca recairem sobre os contribuintes, tem alimentado ainda mais a desconfiança.
Com a «resolução» «Bail in» em caso de falência de um banco, os accionistas serão chamados a pagar o resgate (em parte), bem como os detentores de certas obrigações (cocos) e os grandes depositantes.
Mas, neste quadro de inquietação  e pânico, o que aconteceu, por exemplo, aos quatro bancos italianos que faliram e em que numerosos pequenos accionistas tudo perderam, criou ainda mais receios na a opinião pública . Em caso de falência de um banco, não há certeza nenhuma do que acontecerá às  poupanças de numerosos depositantes! 
Não estamos como em 2000 (bolha das novas tecnologias), nem como em 2007 (imobiliário), com um único material explosivo, mas no conjunto o cocktail está formado; derivados, crédito mal parado, dívida privada (famílias, empresas) elevadíssima, pressão deflacionária e, na Zona Euro, a crise dos refugiados, a possibilidade de um «Brexit», a incerteza política em Espanha, o agravamento da situação na Grécia e a difícil situação de vários bancos.
 Os grandes bancos ditos sistémicos estão hoje mais vigiados, embora tenham contornado ou evitado grande parte da regulamentação,  mas o que é certo é que a banca sombra ainda está menos vigiada e regulamentada do que estava o sistema financeiro em 2007.
Segundo o Finantial Stability Board a «shadow bank» detinha, no fim deste ano, mais de 50% dos activos financeiros, cerca de 120% do PIB mundial (201.580.000 milhares de milhão de dólares, contra 50.000 milhares de milhão em 2007).
Como se vê, material explosivo não falta.
Três anos após a falência da Lehman Brothers e da difusão da teoria do «too big to fail», o G20 reconheceu a existência de 28 bancos ditos sistémicos. Estes 28 bancos, como afirma o economista francês François Morin, constituem um oligopólio «que é tudo salvo o interesse público». A sua posição dominante confere-lhe poderes análogos às grandes instituições públicas, designadamente a capacidade de fixar o preço do dinheiro, e têm um poder que domina o poder político.
Segundo Morin, a «bolha» actual das dívidas públicas foi alimentada directamente pelos efeitos da crise financeira.
A capitalização e o desendividamento da banca foram feitos, no essencial, à custa das dívidas públicas, que cresceram exponencialmente. Como já alguém disse: ou a questão da dívida pública se resolve a frio ou ela rebentará a quente» pela falência de um Estado ou de um banco do «oligopólio».
A globalização dos mercados financeiros, permitida pela grande conquista do capitalque foi a livre circulação de capitais verificou-se sobretudo a meio dos anos 90 e, com ela , acentuou-se a financeirização da economia e a repetição, com prazos relativamente curtos, das chamadas crises sistémicas financeiras. Cada uma das crises teve a respectiva montanha de «produtos financeiros derivados» que são, no essencial, apostas. Estes produtos praticamente não existiam antes de 1970. Desenvolveram-se sobretudo nos anos 90, atingindo hoje um valor (real) várias vezes superior ao Produto mundial. A montanha do capital fictício é gigantesca. Está constituída uma autêntica pirâmide D. Branca, ou de Ponzi!
Os mesmos que em 2007 disseram que a crise era passageira e que a banca estava regulada são os mesmos que agora dizem que estas explosões bolsistas não atingem os grandes bancos mas apenas pequenos fundos e pequenos especuladores, e que, por isso, não se corre o perigo de 2007!
Na nossa opinião será muito difícil evitar novas explosões, embora com contornos diferentes:
a) A explosão pode verificar-se em várias áreas e não só numa (imobiliário), como em 2007, embora a especulação com títulos de divida pública seja já preocupante.
b) O volume de capitais que se desloca é incomensuravelmente maior, portanto muito mais devastador e de difícil controlo, podendo gerar em períodos curtos crises bolsistas significativas que acabarão por reflectir-se na chamada economia real.
c) A saída de capitais dos países emergentes, a especulação em relação à bolsa e a moeda chinesa, em relação à moeda japonesa, franco suíço, mostram também que os factores de instabilidade são muito mais numerosos, e que a chamada guerra das moedas atinge novas amplitudes.
d) Os Bancos Centrais, que têm desempenhado sempre o papel de último recurso, estão a ficar sem munições para responder a uma próxima crise. As armas de liquidez e das taxas de juro têm limites. Liquidez há em excesso, e a utilização de taxa de juro aos níveis em que se encontra já pouco efeito terá. Haverá a tentação da política das taxas de juro negativas por parte da FED. E não é certo que não voltem ao QE.
e) Acresce que continua a haver sobre-acumulação, capacidade produtiva instalada não utilizada, que o progresso tecnológico liberta muitos mais empregos do que os que cria e  em em vez da redução das jornadas de trabalho ainda as prolongam  , que o poder aquisitivo das massas não aumenta e a concentração de riqueza, que continua a acentuar-se, ainda agrava mais a insuficiência do consumo  global.
f) Por outro lado, as economias não só não arrancam como abrandam, e a pressão deflacionista mantém-se.
g) Com a crise e a tentativa de aumentar o consumo, não pelos salários mas pelo crédito,  faz aumentar o crédito mal parado, em muitos bancos, que é uma ameaça real.
Esta congregação de factores não promete grande futuro. Iremos certamente assistir a grandes movimentos pendulares, com crises bolsistas mais frequentes e, sem querermos ser Cassandra, não excluímos , pelo contrário, uma nova , mas mais devastadora recessão global.( ver poster aqui ontem publicado por G. Fonseca)

19 de fevereiro de 2016

Indícios Objectivos da Crise do Sistema Capitalista

Ainda haverá muito boa gente que não acredita numa «crise global»... Acrescento eu que se trata de uma crise «sistémica», na medida em que é o sistema como um todo que está em crise, não havendo mais para «onde exportar o desemprego» (como aconteceu no passado, até finais do século XIX. Por outro lado e recorrendo a «estatísticas» (ou indicadores) de curto prazo, haverá também aqueles que acreditam que o pior já passou...
Para não estar a «inventar a roda», passo a transcrever a parte mais significativa do conteúdo de uma artigo de Michael Snyder, publicado em 16 de Fevereiro de 2016.

«Após uma série de quedas acentuadas ao longo do mês de Janeiro e na primeira quinzena de Fevereiro, os mercados financeiros globais parecem ter encontrado alguma estabilidade, pelo menos por agora.
Mas isso não significa que a crise acabou. Antes pelo contrário. Todos os dados económicos de todo o mundo indicam que a economia mundial está a entrar em colapso. Isso é especialmente verdadeiro quando se olha para os números do comércio mundial. 
As quantidades de mercadorias que são compradas, vendidas e transportadas em redor do planeta caem vertiginosamente. Portanto, não se deixem enganar se as acções subirem num dia e baixarem noutro. A verdade é que estamos na fase inicial de um novo colapso da economia global e todos os sinais indicam que a situação continuará a piorar nos próximos meses.
Vejamos 21 dados que mostram como a economia mundial está, literalmente, a implodir:
1 - As exportações da China (em dólares) caíram pelo sétimo mês consecutivo, numa redução de 11,2% em Janeiro em relação ao mesmo período do ano passado.
2 - Ainda pior no que respeita às importações chinesas. No mês de Janeiro a situação piorou pois que caíram em 18,8%.
3 - Pode ser difícil de acreditar, mas as importações chinesas estão em queda desde há 15 meses.
4 - Na Índia, as exportações caíram 13,6% em Janeiro em relação ao ano anterior.
5 - No Japão, as exportações caíram 8% em Dezembro em uma base anual, enquanto as importações caíram 18%.
6 - Pela sexta vez em seis anos, o PIB do Japão registou um crescimento negativo.
7 – Nos Estados Unidos, as exportações caíram 7% em dezembro em relação ao ano anterior.
8 - As encomendas à indústria dos EUA estão em queda desde há 14 meses.
9 - Nos EUA, o índice de desempenho da restauração caiu para seu nível mais baixo desde 2008.
10 - Neste mês e, pela primeira vez, o «Baltic Dry Índex» (indicador compósito que reflecte a actividade de transportes de carga de longo curso de múltiplas matérias primas) desceu abaixo dos 300 pontos. E, em consequência,
11 - Tornou-se agora mais barato alugar um navio mercante de 330 metros de comprimento, do que alugar um Ferrari.
12 - Em Janeiro, as encomendas de camiões de classe 8 (grandes camiões TIR) caíram 48% em relação ao ano anterior.
13 - Por causa da queda na procura de camiões, a Daimler vai eliminar 1.250 postos de trabalho na América do Norte.
14 – Apesar de a Arábia Saudita e a Rússia terem concordado em congelar a produção de petróleo nos níveis atuais, o preço do petróleo norte-americana caiu ainda assim abaixo dos US $30 o barril.
15 – Há notícia de que 35% de todas as empresas de petróleo e gás em todo o mundo podem ir à falência.
16 - De acordo com a CNN, em 2015, 67 empresas de petróleo e gás nos EUA faliram A falência de empresas de petróleo nos EUA subiu 379%.
17 – De acordo com a Challenger, Gray & Christmas, a eliminação de empregos nos EUA subiu 218% durante o mês de Janeiro
18 - Nos Estados Unidos, as lojas de retalho estão a fechar a um ritmo alarmante.
- Wal-Mart fechou 269 «lojas» das quais 154 nos EUA.
- Nos próximos meses a K.Mart vai fechar mais de 20 «lojas»
- JC Penny 47 depois de ter fechado 40 em 2015
- Macy's decidiu fechar 36 «lojas» e despedir cerca de 2.500 empregados
- Aeropostale está em vias de fechar 84 «lojas» por toda a América
- Finish Line acaba de anunciar que vão fechar 150 «lojas» nos próximos anos
- Sears fechou cerca de 600 «lojas» desde há um ano, mas as vendas nas suas outras «lojas» continuam em queda vertiginosa.
19 - O preço do ouro teve o seu melhor desempenho trimestral em 30 anos.
20 - Os mercados financeiros globais estão oficialmente de volta a um ciclo negativo o que significa que quase um quinto de toda a «riqueza global» já desapareceu.
21 - Infelizmente os bancos centrais de todo o mundo estão agora quase sem «meios de intervenção». Desde Março de 2008, que os bancos centrais desceram 637 vezes a taxa de juros e compraram 12.300 biliões de dólares de «activos». Não há muito mais que possam fazer, e está iminente a próxima grande crise. Salvo um grande milagre, a economia mundial e o sistema financeiro mundial continuarão a degradar-se rapidamente.
Entretanto, se acontecer um grande evento tipo «cisne negro», poderá haver um colapso a qualquer momento. Em particular a possibilidade de que uma terceira guerra mundial poder ser desencadeada no Médio Oriente Médio.»

18 de fevereiro de 2016

O algodão não engana , o Euro também não

L’Euro contre l’Europe
PAR JACQUES SAPIR · 16 FÉVRIER 2016

Les méfaits de l’Euro ne se limitent pas à notre pays. Ils se font sentir au sein de l’Union européenne. Pourtant, cette dernière est loin d’être convertie dans son ensemble à l’Euro. Plusieurs pays, et non des moindres, tels la Grande-Bretagne, la Hongrie, la Pologne ou la Suède, ont refusé – et refusent toujours – de rejoindre la zone Euro. Force est de constater qu’ils ne s’en portent pas plus mal, loin de là. Et pourtant, l’Euro mine l’Union. La crise de l’Euro a paralysée l’UE depuis 2010, et l’a entraînée dans toujours plus d’austérité, suscitant alors une vigoureuse remise en cause de la part des électeurs. Les succès électoraux des partis eurosceptiques, que l’on qualifie de « populistes », en témoignent.
Il convient ici de rappeler que l’Union européenne se prévaut des plus hautes valeurs. De par la voix de ses dirigeants comme de ceux de ses pays membres elle affirme représenter la démocratie, la liberté et la paix. Pourtant, elle en donne concrètement une image bien différente. La démonstration en a été faite au premier semestre 2015 dans le conflit qui a opposé le gouvernement grec aux instances européennes. Non seulement, à cette occasion, a-t-elle violé ses propres valeurs à de multiples reprises, mais elle a développé une idéologie et un discours qui se trouvent à l’opposé des valeurs qu’elle prétend incarner. L’Union européenne prétend instaurer des règles communes et des solidarités entre les pays membres, et même au-delà ; les faits démentent tragiquement, et ceci de plus en plus, les idées de solidarité même en son sein. Le budget communautaire, pourtant réduit à moins de 1,25% du PIB, est appelé à se réduire encore. Dans ces conditions, comment s’étonner qu’elle soit entraînée dans la chute par un Euro dont l’influence récessive et destructrice se fait sentir depuis maintenant plus de quinze ans.

L’Euro et l’économie européenne
L’Euro existe depuis 1999 pour ce qui concerne l’Euro bancaire (ou Euro scriptural) et depuis 2002 pour la monnaie courante, ce que l’on appelle l’Euro fiduciaire. De fait, il a provoqué un fort ralentissement de la croissance sur les pays qui l’ont utilisé. On peut comparer les taux de croissance annuel entre une sélection des 9 pays les plus importants de la zone Euro et le reste des pays développés. On n’a pas fait figurer dans cette comparaison les pays d’Asie (Chine, Japon, Corée) pour ne pas accentuer le déséquilibre de la comparaison.
L’écart du taux de croissance moyen du PIB est, par an, d’environ 1% entre les pays de la zone Euro et les autres pays. Pourtant, ces pays ont connue eux aussi leur lot de problèmes, qu’il s’agisse des Etats-Unis ou du Royaume-Uni. L’écart est encore plus spectaculaire comparé aux résultats de la Suède, pays européen qui a justement refusé d’adhérer à ‘Euro, ou au Canada. C’est donc un montant en fait considérable sur une période aussi longue. On mesure ainsi le freinage de la croissance exercé par l’Euro.
Graphique 1

Cette situation s’est en réalité aggravée avec la crise de la zone Euro, et l’on voit que dans la période 2007-2015, le taux de croissance annuel de la zone Euro est bien plus faible que celui des Etats-Unis, de la Suède et de la Norvège. L’effet de freinage sur la croissance dû à l’existence de l’Euro est ici encore indéniable. Encore faut-il savoir que la zone Euro est elle-même très hétérogène. On constate que l’Euro a freiné de manière considérable la sortie de crise voire a aggravé cette dernière dans de nombreux pays. En fait, la crise de 2007-2010 a été plus facilement surmontée dans les pays qui n’avaient pas l’Euro que dans ceux qui l’avaient. L’Euro n’a donc nullement « protégé » les pays de la zone. Il a, au contraire, retardé leur sortie de crise.

12 de fevereiro de 2016

A brigada mediática ao ataque!

O partido dos contribuintes está de volta. Os mesmos que justificaram todas as medidas de austeridade do governo PSD – CDS e exigiam mais – eram “as reformas estruturais” - confrangem-se com os impostos do atual OE. Chama-se a isto fazer o mal e a caramunha!
Exultam com as pressões da UE, agitam a vigilância dos” mercados” e das agências de rating. O brutal aumento de impostos, o corte em serviços públicos e prestações sociais do PSD-CDS eram “as inevitabilidades”, os sacrifícios necessários, o caminho certo, para o país que "vivia acima das suas possibilidades."
E até exigiam mais: acabar com os “subsídio dependentes” – pensionistas, reformados, pessoas apoiadas pelas prestações sociais. Que a pobreza aumentasse, a precariedade, o desemprego, a juventude qualificada fugisse do país, não importava, tratava-se de “fazer o que era necessário”.
De um momento para o outro tornaram-se todos muito amigos das famílias e preocupados com o esforço fiscal sobre os cidadãos – que afinal…diminuiu em particular para as famílias. (ver texto de Eugénio Rosa, por ex. em resistir.info)
Depois de aplaudirem e incentivarem as privatizações, os que faziam por ignorar o que se passava no BANIF, se preparavam para entregar o sector das águas,  justificaram a entrega da TAP, agora aparecem preocupados com “decisões estratégicas” da empresa.
A questão é que estes tartufos agem com base na mentira, no apagamento do passado PSD-CDS, apelam ao individualismo antissocial, ou seja, ao egoísmo. Procuram desacreditar de todas as formas um governo PS apoiado à sua esquerda. Um governo que sem ter uma política efetivamente de esquerda, procura emendar malfeitorias da política de e da direita.
Este discurso é duplamente perigoso, abre a caminho às políticas de extrema-direita, atualmente protagonizada pelo PSD e CDS, procura bloquear a participação dos cidadãos na vida política e social. É que não há política de esquerda sem ativa participação popular. As elevadas taxas de abstenção, as críticas e o descrédito aos “políticos”, são a consequência imediata daquela propaganda.
Eles são perigosos, não são zombies nem aliens, mas como se dizia num filme: Eles estão entre nós.

9 de fevereiro de 2016

Títulos que dizem muito

1)No suplemento do Expresso -Economia- desta semana pode ler-se : Pedro Queiroz Pereira trava investimentos em Portugal . 
E o senhor Queiroz Pereira que ficou com a Portucel graças à Caixa e aos favores políticos diz lá do alto do seu cadeirão : " Enquanto não houver uma definição é um bocadinho arriscado avançar com investimentos ".  Quer  diz mais à frente " que se  criem as condições necessárias em termos de conforto para os investidores " Quer "conforto ".
 Um governo a ´serio dava-lhe o conforto que precisava...
O que se ganhou com a privatização da Portucel ? 
Percebem agora por que se dizia que as empresas básicas r estratégicas deviam ficar nas mãos do Estado ?

2) No mesmo suplemento pode ler-se em grande título : "Dívida Pública salva lucros da Banca "
Ganharam com as operações financeiras da Dívida Publica a pequena quantia de1,4 mil milhões de euros em 2015 !
À custa de quem ? 
Dos contribuintes, à exepção  dos ganhos da Caixa .
Percebem mais uma vez por que se diz que a banca deve ser nacionalizada ?

8 de fevereiro de 2016

Delícias


Ouvir ou ler um Rodrigues dos Santos , um Miguel Sousa Tavares e tantos outros sobre o Défice Estrutural , de que não fazem a mínima ideia de como se calcula , do que significa , nem do seu valor para avaliar a justeza de uma política é uma delícia.
São categóricos . A ignorância é sempre atrevida e ainda mais quando estamos perante comentadores sobranceiros com desmesurado  ego  e arraigados preconceitos de classe .
Durante muito tempo estivemos sozinhos a afirmar que  os critérios de Mastricht   , não tinham  qualquer valor científico  , até ao dia em que um Comissário europeu afirmou claramente que os critérios de Mastricht eram "estúpidos.".. Hoje sabemos melhor como foram calculados e impostos pela a Alemanha que não era a da Srª Merkel
Pode ser que ainda se venha a verificar com o dito  défice estrutural o que sucedeu com os critérios de Mastricht e então teremos os mesmos comentadores a fazerem coro com os que sempre afirmaram que tal défice é de calculo difícil , subjetivo  logo conferindo poderes discricionários a quem o avalia em Bruxelas e podendo ser objetivamente um travão ao crescimento económico.
E nem nos estamos a referir ao défice virtuoso de Miguel Cadilhe ...
Outras delícias são as que se referem à classe média e à austeridade.
Com a mesma ligeireza dizem uns que afinal a carga fiscal do novo Orçamento sobrecarrega a classe média . A abstração " classe média " mete no mesmo saco  sujeitos com rendimentos muito diferentes
Mais acertado seria falar em camadas médias e é uma evidência que este Orçamento embora de forma imperfeita desagrava fiscalmente a maioria das camadas médias.
O mesmo diremos daqueles que afirmam que a austeridade se mantém .
As políticas do anterior governo não foram políticas de austeridade , mas sim políticas de concentração de riqueza , como sempre  afirmámos e os dados sobre a distribuição do Rendimento Nacional o confirmam .
No Expresso , o jornalista Santos Guerreiro que não confundo com outros do mesmo Jornal cujo ego e atrevimento  também estão na razão direta da santa ignorância , afirmou este fim de semana : "Os Orçamentos do PSD/CDS quase não tinham medidas desfavoráveis às empresas , este quase não tem medidas favoráveis , a austeridade recaia sobre o Estado, agora transfere o peso para os privados o outro resignava-se ao empobrecimento este revolta-se mas ilogicamente "
Não Pedro Santos Guerreiro . Deixe-se de abstrações e vá ao concreto.
A dita austeridade não recaia sobre o Estado mas sobre os contribuintes , sobre os reformados sobre os utentes do Serviço Nacional de Saúde , sobre a Escola Publica , alunos e professores , sobre os trabalhadores sobre o património público , edifícios pontes escolas hospitais que viram investimentos de conservação adiados e que agora se pagam com língua de palmo. Agora a dita austeridade no essencial também não recai sobre os privados mas  sobre alguns privados , os que mais têm lucrado com a crise e com as medidas ditas de austeridade mas na realidade de concentração de riqueza .
Também não é verdade que o anterior governo se resignava ao empobrecimento. Não . O anterior governo promoveu-a porque esteve ao serviço dos grandes interesses e como a manta era curta ... Quem tem estado a pagar  o desendividamento e a capitalizacão da banca e a dívida contraida para esse fim ?. Esta de que o anterior governo se resignou , coitado, ao empobrecimento não lembra ao .. Já se esqueceram da carta de demissão de Gaspar...
Seria este o Orçamento desejável .? Não . Este é um Orçamento  contraditório  e que fica aquém do que era possível mesmo na lógica da U.E. Na correção da distribuição do Rendimento Nacional com impulso no aumento da produção e da produtividade sem atingir o défice podia -se e devia-se ter ido mais longe. Um exemplo : podia-se aumentar 50 % , 60 % as ajudas aos pequenos agricultores cortando um pouco , repito um pouco nos fartos subsídios dados aos grandes , podia-se fazer pagar de forma indireta às gasolineiras mais de metade da subida e estabelecer preços especiais para a indústria e para os transportadores em fretes de exportação sem burocracias...
No entanto é para nós uma evidência que com este Tratado Orçamental , com esta dívida , com o Euro e com esta correlação de forças a nível da UE  a colonização do país vai continuar .
A esta conclusão irão chegar cada vez mais portugueses e agentes políticos designadamente dentro do PS e não só . Quantos mais e mais rapidamente melhor para o povo e o país






4 de fevereiro de 2016

A CE, o orçamento e os comentadores

A CE age como o papado medieval que dispunha de poder para aplicar a “interdição” e a excomunhão sobre os povos caso não seguissem a sua dogmática ou não se submetessem às suas bulas.
Ao aplicar a interdição o poder régio ficava seriamente limitado nas suas funções, considerava-se que o país tinha profanado leis divinas, proibindo-se a administração de ofícios religiosos (por ex. casamentos, batizados, enterros religiosos, etc.). A excomunhão, ainda mais grave, separava o país do resto da cristandade.
Atualmente à UE foi dado o mesmo poder. Que acontece a um país que desafie a teologia neoliberal da UE? A chantagem de separar o país da “Europa” é equivalente à excomunhão; o corte de financiamento em euros é equivalente ao “interdito” papal.
O que se passou com a Grécia, as pressões sobre o OE português, com exigências atrás de exigências, mostra como os mandatários querem os povos humilhados a seus pés. A humilhação do Syriza perante a UE corporizou uma atual “ida a Canossa”.
Em 1077, Henrique IV do Sacro Império Romano Germânico, foi ao castelo de Canossa postar-se descalço (três dias e três noites) em pleno inverno para que o papa levantasse a excomunhão. Em causa estava o poder real frente ao poder papal sobre a condução dos povos.
Hoje está em causa o poder democrático frente ao poder das burocracias da UE ou do FMI. Os dogmas são outros, no tempo medieval eram a formulação de leis pretensamente divinas, a interpretação dos textos sagrados. Hoje as da teologia neoliberal, a interpretação unilateral e dogmática dos tratados da UE. O essencial mantem-se: o poder supranacional contra o poder nacional; uma burocracia ao serviço da oligarquia monopolista e financeira contra a expressão popular da democracia.
A direita exulta com as pressões da CE sobre o governo português apoiado à sua esquerda. Nos média proliferam os seus “comentadores”. A designação é consequente. De facto, na escolástica medieval não havia investigadores, apenas “comentadores” dos textos dos mestres, assimilados como dogmas. E ai daqueles que os contestassem…
Hoje “comentadores” passam horas a falar de coisa nenhuma. O que sai fora do “nihil obstat” neoliberal é dado como blasfemo e herético. As suas lucubrações desenrolam-se à volta das “regras da UE". As causas que originam e agravam as crises não são averiguadas, tudo se desenrola em gongorismos sobre a conformidade e a submissão às inquestionadas regras e às dogmáticas do modelo neoliberal.
Os tratados da UE tiveram tanto de democrático como a decisão sobre a liberdade religiosa noutros tempos: a religião dos súbditos era a religião do seu soberano. Alguém os consultava então? Não, nem agora, porém eram obrigados a sofrer as papais e inquisitórias determinações-
Os “comentadores” de serviço ao sistema, são a clerezia do neoliberalismo e suas instituições, FMI, BCE, CE, a troika dos interesses oligárquicos.