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23 de fevereiro de 2016

Espirros

As reformas estruturais
O chapéu das ditas «reformas estruturais» tem sido, e continua a ser utilizado para se evitar chamar os ditos pelos nomes.
Falam em reformas estruturais para evitar falar no que defendem de facto: reduzir os salários reais, as reformas e pensões, reduzir e privatizar o serviço nacional de saúde, o ensino público, a segurança social.

Renegociação da dívida
Alguns comentadores «bem pensantes» dizem que o PCP fala na renegociação da dívida sem se dar conta que, ao levantar a questão da renegociação, está a dar armas aos «mercados» e às empresas de rating para avaliarem negativamente a situação.
Não questionam a substância mas sim como podem reagir os «mercados. Para estes, o país e os partidos devem obediência aos mercados.
Não debatem a questão central: esta dívida é sustentável? Esta dívida não nos bloqueia o desenvolvimento e o investimento? E se sim, então não se deve tudo fazer para diminuir os custos da dívida e do seu montante?
Não gostam do termo «renegociação», então defenda-se a redução do «serviço da dívida» (juros e amortizações).
Ou será que os ditos comentadores não estão de acordo com a redução dos custos da dívida?

O mito da independência do Banco de Portugal
O governador do Banco de Portugal diz-se independente e pelos estatutos do Banco é o formalmente . Mas  ao longo do seu mandato, as suas mais importantes decisões têm sido as   de um mero funcionário zeloso do Banco Central Europeu ou de cúmplice do anterior governo, designadamente no encobrimento das  responsabilidades deste em vários casos
Não é também verdade que adiou a venda do BANIF porque  a ministra das Finanças da altura se opôs, deixando arrastar a situação para servir os interesses eleitorais do PSD e do CDS?
Não é verdade que vendeu o BANIF «limpo» ao Santander por imposição do BCE e da Direcção Geral da Concorrência, comportando-se, de facto, como uma correia de transmissão destes?
Não é verdade que o governador do Banco de Portugal fez o frete ao governo e à sua ministra das Finanças na «Resolução do BES», mantendo-se em silêncio quando o governo vendia a ficção de que nada teve a ver com o BES, e que tudo foi feito pelo Banco de Portugal, deixando pairar a ideia que o governo só teve praticamente conhecimento a posteriori.
Não. O governador do Banco de Portugal nunca foi, nem nunca se comportou como independente.
Não foi independente em relação aos banqueiros, que devia supervisionar. Recorde-se o folhetim do BES e da idoneidade de Ricardo Espírito Santo.
Não foi independente em relação ao governo, e teve como prémio a sua recondução.
Não foi, nem é, independente em relação ao BCE. 
Não é, nem foi, independente na prática , como  os factos o demonstram, mas serve-se da independência formal para se manter no lugar. Entende que deve continuar a servir o capital financeiro, os grandes interesses e o sacrossanto Banco Central Europeu. Não tem a dignidade de se demitir. Era um serviço que fazia ao país.
A independência dos bancos centrais sempre foi um mito e repousa na ficção da separação e autonomia da política monetária em relação às outras políticas.
A neutralidade da política monetária também é outro mito e a ela voltaremos mais tarde.

Orçamento
A direita e os seus prestimosos comentadores continuam a insistir na carga fiscal, no nível de «austeridade». Dizem que afinal o nível de austeridade se mantém, o que há é uma outra distribuição! Pois é!
Como as políticas anteriores foram de concentração de riqueza, políticas que levaram a uma enorme concentração e centralização de capitais, a que, eufemisticamente e ideologicamente se chamou de políticas de austeridade, do que se trata é de reverter estas políticas. Reverter a política de concentração de riqueza.
Alguns impostos até poderiam e deveriam ser criados, como por exemplo um imposto sobre as transacções financeiras, ou sobre a grande distribuição...
O termo «austeridade» dá muito jeito para esconder as políticas favoráveis às classes dominantes.

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