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30 de janeiro de 2014

A Propósito da Crise de Sobreprodução

Eu sei – ou imagino – que nesta fase da evolução das sociedades capitalistas deve ser dada primazia à intervenção directa. Mas cada coisa tem o seu tempo e o seu lugar e, em todo o caso, um bocadinho de teoria nunca fez mal a ninguém.
Já tem sido assinalado repetidas vezes que estamos, desde há uns anos a esta parte, a viver em plena «crise de sobreprodução». Se me é permitido algum sarcasmo, mas considerando que estas coisas da economia devem sempre ser estudadas a partir da totalidade sistemica – o capitalismo como um todo e à escala planetária – poderíamos também chamar a atenção para o facto que, de um ponto de vista das funções sistémicas dos diversos tipos de actores económicos, ao longo dos últimos anos o sistema produziu também um excesso de trabalhadores.
Será uma perspectiva «invertida» (o outro lado da moeda) do nível de desemprego a que se assiste em todo o mundo: «há trabalhadores a mais»... Mas também «consumidores a menos»
No passado histórico – de há uns séculos a esta parte – as saídas para as crises de sobreprodução têm sido sistematicamente as guerras e/ou a expansão geográfia e/ou demográfica (a dimensão dos mercados!...). Estas saídas têm estado sempre entreligadas. Mas (repito...) de um ponto de vista sistémico e considerando as funções que cada parte compnente desempenha no funcionamennto do sistema como um todo, aquilo que todas estas saídas têm em comum, é a destruição de valor excedente entretanto produzido.
E digo «valor excedente» referindo-me a todo o valor «acumulado» e não absorvido pelo sistema no seu funcionamento regular ou normal, ou ainda segundo a sua própria lógica de incentivo à acumulação, mais do que ao consumo1.
Essa destruição de valor excedente assume (e tem assumido) várias formas, desde a destruição de «bens de produção» até à destruição de «bens de consumo». Exemplos concretos dessa necessidade de destruição de «valor excedente» (para resolver qualquer crise de sobreproduçao, tivemos a queima de sacos de café no Brasil dos anos Trinta do século passado, até às guerras de destruição de maquinaria e estruturas físicas acumuladas e, de certa maneira, passando também pelos «saldos» e «promoções» por esse mundo fora. De um ponto de vista do sistema orgânico que é a sociedade capitalista, tudo isso funciona como uma «purga» que se tornou necessária para «libertar» o sistema de tudo aquilo que é suposto «estar a mais» e «pôr a funcionar de novo» os diversos circuitos do sistema.
Entretanto, no caso da destruição de «máquinas» e do ponto de vista de cada capitalista, o que é mesmo bom é destruir as «máquinas» dos outros. É também por isso que temos tido a pressão capitalista para as guerras de «conquista», mas sobretudo de «destruição», por parte dos «capitalistas nacionais». Tal pressão era mais notória (ou mais descarada), enquanto as manifestações do sistema capitalista estavam ainda algo confinadas ao controle de distintos Estados nacionais soberanos.

Para continuar, (se...) pois receio que «isto» esteja exposto de maneira demasidamente abstracta...Mas, como é natural, deixo isso à avaliação e critério crítico de eventuais leitores. )
Seja como for, «isto» ainda vai dar para uns parágrafos de um livro em gestação muito lenta...

1Como é do conhecimento comum, o incentivo ao consumo surge depois do incentivo primário de acumulação. É como que uma resultante de «segunda ordem»... Vem depois. O incentivo à acumulação surge primeiro como imposição categórica e inelutável e por causa da «livre concorrência» nos mercados não regulados.

29 de janeiro de 2014

Aparentes Paradoxos da Teoria Quantitativa de Dinheiro

Aqui há dias, participando numa aula de uma «universidade senior» para que tinha sido convidado como palestrante (estou sempre disponível para tertúlias e afins para que me queiram convidar), um dos presentes colocou uma questão extremamente relevante (e actual...).
Só o adiantado da hora – o espaço utilizado tinha mesmo que fechar - impediu muitas e mais detalhadas explicações.
A questão levantada tinha a ver com os possíveis (ou eventuais) efeitos inflacionários de toda a massa monetária que tem sido criada para «incentivar a economia», assim como os montantes «astronómicos» parqueados no sistema mundial «offshore» e saltitando de refúgio fiscal em refúgio fiscal sempre em fuga a eventuais inspecções (os banqueiros chamam-lhes mesmo «contas saltitantes»). E alguns dos «seniores» presentes manifestaram uma legítima preocupação sobre o que poderia acontecer se (ou quando) toda essa massa monetária entrar em circulação (ou algo assim...).
A convencional «teoria quantitativa da moeda» diz-nos que o nível geral de preços é determinado (é função de...) pela quantidade de dinheiro (a multiplicar pela velocidade de circulação da moeda) dividida pela quantidade de bens e serviços disponíveis para venda no mercado.
Este modelo explicativo, ainda que básico (ou rudimentar, dirão os mais sofisticados) tem alguma pertinência explicativa para a compreensão do que está a acontecer.
Todos aqueles mais curiosos destas coisas da economia e da História sabem o que foi a «inflação galopante» dos tempos da Alemanha a seguir ao fim da primeira guerra mundial. Mais recentemente foi notícia a hiper-inflação no Zimbabué. Tudo isso «porque havia dinheiro a mais em circulação».
Perante estes cenários parece perfeitamente normal que cada um se interrogue sobre o que pode acontecer (a todo o instante?...) à «nossa» inflação. Acontece que na tal equação acima referida, temos no numerador a «quantidade de dinheiro» e «velocidade de circulação» e, por outro lado, temos no denominador a «quantidade de bens e serviços disponíveis para venda».
Na situação actual temos que grande parte daquela (alarmante?...) massa monetária acima referida está parqueda (ênfase no «parqueada»... Por outras palavras, grande parte (impossível saber quanto...) não circula (a não ser em circuito fechado no sistema «offshore»...); está parada. E quando circula não é para «ir às compras a qualquer centro comercial».
Por outro lado, no que respeita ao denominador da tal fracção, a quantidade de bens e serviços disponíveis é grande. Muito grande mesmo (vejam-se as promoções e saldos tornados corriqueiros ao longo de todo o ano...). Também em consequência da «crise de sobreprodução» em que estamos mergulhados de há uns anos a esta parte, parece que não haverá grandes razões para temer um hiper inflação a curto ou médio prazo.
Os indíces de inflação em cada país são calculados com base num determinado «capaz de compras», e são afectados pelo «poder de compra» (a «procura efectiva») da esmagadora maioria da população. Parece que os «ferraris» e «lamborghinis» não entram naqueles cálculos. 
O poder de compra da esmagadora maioria da poplução está a sofrer cortes de há uns anos a esta parte (na Alemanha, por exemplo, há uns vinte anos a esta parte que os trabalhadores não sabem o que são aumentos reais dos seus salários). Temos portanto uma quantidade de dinheiro razoavelmente estabilizada em procura efectiva de bens e serviços. Do «outro lado» temos uma quantidade de bens e serviços que até aumenta. É por isso que um dos grandes medos dos empresários é o risco oposto: o de uma deflação!
Entretanto, e para ajudar à complexidade disto tudo, e na medida em que a inflação é uma desvalorização efectiva do «valor» do dinheiro, a inflação joga sempre a favor dos devedores e contra os credores... Também por essa razão, os «nossos» credores não estão muito interessados em vir a despoletar uma hiperinflação. O melhor mesmo (para eles, claro...) é deixar estar todo aquele dinheiro «parqueado» no sistema «offshore». Assim, lá onde está, funciona como uma espada de Damocles que eles não querem que caia no pescoço dos devedores, mas que «nunca se sabe».
É uma forma de chantagem.
A questão fundamental que aqui então se coloca seria então a de saber quando haverá coragem política para «call off the bluff». 
Ou seja, riscar o montante da dívida, pelo menos na parte que diz respeito a pura ficção financeira.

27 de janeiro de 2014

O Deutsch Bank da Merkel

As Vigarices da Banca .... En prologue de l’examen des bilans bancaires de la BCE, l’agence Bloomberg vient de jeter un énorme pavé dans la mare. Selon les résultats de son enquête, Deutsche Bank aurait dissimulé 395,5 milliards d’euros de prêts en ne les faisant pas figurer au bilan, ce qui représenterait 19 % de la valeur des actifs qui y sont inscrits. Le mécanisme de cet escamotage reposerait sur l’utilisation de techniques complexes de compensation à large échelle et aurait pour effet de minorer les risques encourus par la banque à l’occasion de ses activité de prêt. On apprend ainsi que c’est notamment le cas d’un prêt à la banque italienne Monte dei Paschi di Siena, en pleine déconfiture. La minoration de la taille du bilan aurait également comme effet de fausser le calcul du ratio de levier réglementaire et de diminuer les besoins de renforcement des fonds propres en conséquence. La Deutsche a déjà procédé à une augmentation de capital et à l’émission de dettes subordonnées afin d’anticiper l’application de la réglementation du Comité de Bâle, en présentant des comptes qui seraient susceptibles d’avoir induit en erreur les investisseurs. Pour sa défense et se couvrir, la banque s’abrite derrière l’application d’une norme comptable de l’IFRS qui ne rend pas compte du contexte. Ni le BaFin – le régulateur allemand – ni la Bundesbank n’ont selon Bloomberg souhaité s’exprimer sur le sujet. Mais la question est dorénavant posée : d’autres grandes banques européennes utiliseraient-elles les mêmes techniques avec les mêmes effets ?L.C. Blog de P.J. (a traduzir)

25 de janeiro de 2014

Grande Feito !


Nota sobre a execução orçamental de 2013

Os dados da execução orçamental de 2013 hoje divulgados pela Direcção Geral do Orçamento e na óptica da Contabilidade Pública dizem-nos que o défice provisório das Administrações Públicas relevante para efeitos de aferição do cumprimento do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) terá sido de 7 151,5 milhões de euros, valor que é inferior ao limite de 8 900 milhões definidos no PAEF em 1 748,5 milhões de euros. Com este saldo o défice na óptica da Contabilidade Pública terá sido em 2013 de 4,3%, mas atenção o apuramento do défice oficial será agora feito na óptica das Contas Nacionais por parte do INE e só será conhecido no final de Março.
A execução orçamental em 2013 foi fortemente influenciado pelos seguintes factos:
1.     Um enorme aumento do IRS cobrado a trabalhadores e pensionistas, com um aumento de 35,5%, mais 3 222,2 milhões de euros cobrados. Confirmou-se desta forme o enorme aumento de imposto de que falava o anterior ministro das finanças, em especial do IRS; 
2.     Um enorme aumento das Contribuições para a CGA e ADSE por parte dos aposentados e trabalhadores da Administração Pública, mais 34,5% e mais 1 305,5 milhões de euros de receita para o Estado.
3.     Um saldo global da segurança social superior em cerca de 400 milhões de euros em relação ao previsto no Orçamento de Estado rectificativo, que resultou de uma despesa inferior em pagamentos de subsídio de desemprego e apoios sociais ao que estava orçamentado. De notar que a menor despesa com subsídio de desemprego em relação ao orçamentado não resultou da descida do desemprego como diz o Governo, já que mais de 60% dos desempregados não têm acesso ao subsídio de desemprego, mas resultou do menor montante do subsídio de desemprego a que têm direito os desempregados e das crescentes dificuldades em aceder a ele.
4.     De um escandaloso perdão fiscal aprovado pelo Governo para os últimos 3 meses do ano que lhe permitiu arrecadar mais 1 277 milhões de euros de receita fiscal. Dizemos escandaloso porque enquanto os trabalhadores por conta de outrem e os reformados e pensionistas ao receberem o seu salário ou pensão veêm já descontado o IRS na fonte, outros pelo contrário fogem aos seus deveres fiscais e ainda podem vir a beneficiar deste tal perdão fiscal. O Governo com esta medida apoia e incentiva a evasão fiscal, não podemos ignorar anteriores perdões fiscais a capitais ilegalmente transferidos para o estrangeiro e que em anos anteriores com este Governo também beneficiaram de perdão fiscal, em detrimento do cumprimento dos deveres fiscais por parte de todos os portugueses e não apenas dos trabalhadores por conta de outrem e dos pensionistas. Este perdão fiscal que representa por si só 0,8% do PIB de 2013, distribui-se por IRC e IRS 733 milhões de euros, IVA e Imposto de Selo 217 milhões de euros, ISP,ISV,IT,IABA e IUC 41 milhões, IMI mais IMT 54 milhões e regularização de dívidas à Segurança Social 232 milhões de euros. Seria importante saber-se exactamente qual foi o perdão fiscal concedido em sede de IRC e em sede de IRS e como se distribui este mesmo perdão fiscal por rendimentos do trabalho por conta de outrem, dividendos, mais-valias e rendimentos prediais.
5.     De mais uma queda abrupta da despesa do Estado com investimento, menos 38,2% no último ano e menos 933 milhões de euros de investimento público em relação a 2012.
Vale a pena relembrar, como digo no início desta nota, que apesar de todo o foguetório do governo em torno do alcançar do pretenso objectivo do défice orçamental para 2013 e que era de 5,5% do PIB (- 9 083,9 milhões de euros), ainda é cedo para chegar a essa conclusão, pois os resultados hoje conhecidos referem-se ao défice público na óptica da Contabilidade Pública e competirá agora ao INE fazer a respectiva conversão para a óptica da Contabilidade Nacional. O resultado dessa conversão só será conhecido no final do próximo mês de Março e já agora no ano passado a passagem do défice na optica da Contabilidade Pública para a Contabilidade Nacional levou ao seu agravamento em mais 3 788,9 milhões de euros (mais 2,3 pontos percentuais).
Em síntese pode dizer-se que a execução orçamental de 2013 fica marcada por um enorme aumento da carga fiscal sobre os trabalhadores e os reformados, por um enorme aumento das Contribuições para a CGA e ADSE por parte dos aposentados e trabalhadores da Administração Pública, por uma poupança extraordinária na despesa da Segurança Social em relação ao orçamentado como resultado de cortes no subsídio de desemprego e apoios sociais e, por uma receita fiscal extraordinária que representa quase 0,8% do PIB, proveniente de um escandaloso perdão fiscal. Se o resultado do défice é inferior aos 5,5% do PIB definidos no OE para 2013 saberemos lá mais adiante. 
23 de Janeiro de 2014
José Alberto Lourenço (CAE)     

24 de janeiro de 2014

Grande Feito


Nota sobre a execução orçamental de 2013

Os dados da execução orçamental de 2013 hoje divulgados pela Direcção Geral do Orçamento e na óptica da Contabilidade Pública dizem-nos que o défice provisório das Administrações Públicas relevante para efeitos de aferição do cumprimento do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) terá sido de 7 151,5 milhões de euros, valor que é inferior ao limite de 8 900 milhões definidos no PAEF em 1 748,5 milhões de euros. Com este saldo o défice na óptica da Contabilidade Pública terá sido em 2013 de 4,3%, mas atenção o apuramento do défice oficial será agora feito na óptica das Contas Nacionais por parte do INE e só será conhecido no final de Março.
A execução orçamental em 2013 foi fortemente influenciado pelos seguintes factos:
1.     Um enorme aumento do IRS cobrado a trabalhadores e pensionistas, com um aumento de 35,5%, mais 3 222,2 milhões de euros cobrados. Confirmou-se desta forme o enorme aumento de imposto de que falava o anterior ministro das finanças, em especial do IRS; 
2.     Um enorme aumento das Contribuições para a CGA e ADSE por parte dos aposentados e trabalhadores da Administração Pública, mais 34,5% e mais 1 305,5 milhões de euros de receita para o Estado.
3.     Um saldo global da segurança social superior em cerca de 400 milhões de euros em relação ao previsto no Orçamento de Estado rectificativo, que resultou de uma despesa inferior em pagamentos de subsídio de desemprego e apoios sociais ao que estava orçamentado. De notar que a menor despesa com subsídio de desemprego em relação ao orçamentado não resultou da descida do desemprego como diz o Governo, já que mais de 60% dos desempregados não têm acesso ao subsídio de desemprego, mas resultou do menor montante do subsídio de desemprego a que têm direito os desempregados e das crescentes dificuldades em aceder a ele.
4.     De um escandaloso perdão fiscal aprovado pelo Governo para os últimos 3 meses do ano que lhe permitiu arrecadar mais 1 277 milhões de euros de receita fiscal. Dizemos escandaloso porque enquanto os trabalhadores por conta de outrem e os reformados e pensionistas ao receberem o seu salário ou pensão veêm já descontado o IRS na fonte, outros pelo contrário fogem aos seus deveres fiscais e ainda podem vir a beneficiar deste tal perdão fiscal. O Governo com esta medida apoia e incentiva a evasão fiscal, não podemos ignorar anteriores perdões fiscais a capitais ilegalmente transferidos para o estrangeiro e que em anos anteriores com este Governo também beneficiaram de perdão fiscal, em detrimento do cumprimento dos deveres fiscais por parte de todos os portugueses e não apenas dos trabalhadores por conta de outrem e dos pensionistas. Este perdão fiscal que representa por si só 0,8% do PIB de 2013, distribui-se por IRC e IRS 733 milhões de euros, IVA e Imposto de Selo 217 milhões de euros, ISP,ISV,IT,IABA e IUC 41 milhões, IMI mais IMT 54 milhões e regularização de dívidas à Segurança Social 232 milhões de euros. Seria importante saber-se exactamente qual foi o perdão fiscal concedido em sede de IRC e em sede de IRS e como se distribui este mesmo perdão fiscal por rendimentos do trabalho por conta de outrem, dividendos, mais-valias e rendimentos prediais.
5.     De mais uma queda abrupta da despesa do Estado com investimento, menos 38,2% no último ano e menos 933 milhões de euros de investimento público em relação a 2012.
Vale a pena relembrar, como digo no início desta nota, que apesar de todo o foguetório do governo em torno do alcançar do pretenso objectivo do défice orçamental para 2013 e que era de 5,5% do PIB (- 9 083,9 milhões de euros), ainda é cedo para chegar a essa conclusão, pois os resultados hoje conhecidos referem-se ao défice público na óptica da Contabilidade Pública e competirá agora ao INE fazer a respectiva conversão para a óptica da Contabilidade Nacional. O resultado dessa conversão só será conhecido no final do próximo mês de Março e já agora no ano passado a passagem do défice na optica da Contabilidade Pública para a Contabilidade Nacional levou ao seu agravamento em mais 3 788,9 milhões de euros (mais 2,3 pontos percentuais).
Em síntese pode dizer-se que a execução orçamental de 2013 fica marcada por um enorme aumento da carga fiscal sobre os trabalhadores e os reformados, por um enorme aumento das Contribuições para a CGA e ADSE por parte dos aposentados e trabalhadores da Administração Pública, por uma poupança extraordinária na despesa da Segurança Social em relação ao orçamentado como resultado de cortes no subsídio de desemprego e apoios sociais e, por uma receita fiscal extraordinária que representa quase 0,8% do PIB, proveniente de um escandaloso perdão fiscal. Se o resultado do défice é inferior aos 5,5% do PIB definidos no OE para 2013 saberemos lá mais adiante. 
23 de Janeiro de 2014
José Alberto Lourenço (CAE)     

12 de janeiro de 2014

Delegação do Parlamento Europeu faz o papel de “pide bom”

A delegação do PE visitou Portugal, para avaliar o desempenho do programa da troika. Criticou o seu “desenho” e os resultados obtidos, dizendo que de futuro (?) teriam de ser revistas metas e critérios de austeridade.
Os partidos da troika interna (PS, PSD, CDS) apressaram-se a soltar o habitual foguetório europeísta, excedendo-se até no que é a sua “normal” hipocrisia política.
Os da maioria apoiaram as críticas, os mesmos que só viam virtudes no programa, que disseram que era o seu programa de governo, que iriam e foram até mais além. O PS que negociou o programa inicial e nem sequer votou contra o primeiro orçamento inconstitucional deste governo, veio pôr-se em bicos dos pés e reivindicar louros pelas críticas. É o seu habitual contorcionismo político.
Alguma coisa mudou? Nada. O governo usou estes argumentos para negociar com a troika? Não. Procurou alterar as metas do défice e reduzir a austeridade? Não. À troika nem sequer se exige uma margem de 0,2 pontos percentuais do défice para evitar a agressão aos rendimentos e direitos de cidadãos, que afinal nada valem ao pé dos interesses dos “mercados”.
As cenas seriam picarescas se não representassem a destruição do país, cessaram rápido e duas semanas depois, já a ministra das finanças, publicamente elogiava a troika, para lembrar aos seus deputados que estão ali e são o que são, ao serviço da troika.
A visita da delegação do PE, que se insere na campanha eleitoral deste ano, veio fazer o papel do “médico da pide” e do “pide bom”.
O médico vinha ver se podiam prosseguir os “interrogatórios”. Não era do interesse da pide que os detidos lhes morressem nas mãos. Também o PE não quer que o euro fragilize tanto os países que a pressão para a saída ou a própria sobrevivência do euro seja posta em causa. De resto, procederam como o “pide bom”, que criticava os outros, tentando manipular a vontade do resistente.
Lá ia dizendo: “pois é, ele há aí agentes muito brutos, também não estou de acordo, mas que se há de fazer. São assim. Mas olhe, colabore, que vejo o que posso fazer por si. Não é preciso muito, basta dizer uns nomes. Afinal, você é boa pessoa, deixe lá aqueles gajos com quem andou metido e vá descansado à sua vida, afinal até tem uma boa posição, Francamente, não compreendo por se meteu nisto.”
Eis a resposta que um amigo deu então:
- Pois, de facto se você percebesse não estava aí onde está. Estava onde eu estou.
Voltando ao PE e á troika. A delegação foi-se, a troika fica, prossegue a agressão com a cumplicidade dos seus agentes internos, o governo mais os consensos do PS.
Nada de novo, pauperização, endividamento, atraso económico e social, tentativas de supressão da atividade política independente.
Chama-se a isto “europeísmo” e “defender a moeda única”.

5 de janeiro de 2014

RAQUEL VARELA E O ESTALINISMO

O comentário de Gustavo Statter levou-me a ver o texto de Raquel Varela no http://blog.5dias.net/. Tenho toda a simpatia pelo trabalho que desenvolve quanto à reposição da verdade sobre as questões da segurança social e desmontar as mistificações dos partidos da troika interna (PSD, CDS, PS), porém o texto em causa repete um conjunto de frases feitas da intoxicação populista.
Só podemos atribuí-las a desinformação, já que não a julgo capaz de má-fé. Assim seria bom consultar e analisar os documentos e os posicionamentos de partidos como o PCP e o BE, que refere, antes de com apressada arrogância se pronunciar sobre os mesmos. Na minha opinião acho que é redutora e portanto injusta e para ambos.
Quanto ao “criminoso pacto germano-soviético”, trata-se de uma completa deformação histórica. A URSS necessitava de paz como do ar que respirava. Desde 1936, pelo menos, que insistia em pactos e acordos de paz com as nações europeias. Tentou-o com a Checoslováquia, com a Polónia, com a França e a Grã-Bretanha até ao limite. A política dos governos destes países era de conluio com o nazi-fascismo, que admiravam. Conluio evidente na guerra de Espanha, em Munique, etc. O seu objetivo mesmo em 39 era lançar e apoiar a Alemanha contra a URSS reeditando os tempos da guerra civil. A URSS sabia que ia ser atacada, procurava ganhar tempo essencial para a sua defesa.
Porém o que mais me intrigou no texto foi o seguinte: “(a palavra) Revolução – retirá-la da bagagem de quem construiu o horror estalinista, devolver-lhe o sentido de utopia de solidariedade.” Fiquei espantado, escrevi recentemente (1) que o país“precisa não apenas de uma maioria parlamentar, mas de um processo revolucionário de ampla participação popular para repor a soberania e a dignidade nacionais (…)”. Será que tenho na minha bagagem (?) o “horror estalinista”.
Será que alguém se lembra de dizer que os elementos do PS, do PSD, do CDS trazem na“bagagem” os crimes cometidos pelo colonialismo e o neocolonialismo francês, inglês, belga, pelo imperialismo na Indonésia, no Congo-Kinshasa de Mobuto, ou pelos crimes de Mubarak, do ditador da Tunísia, ou pelos massacres no México e na Venezuela de Bettencourt, por gente da Internacional Socialista, todos considerados democratas do “mundo livre”. Ou pelo conluio com todas as ditaduras que assolaram a América Latina? Ou com as mais recentes conspirações e agressões dos EUA e NATO?
É de facto difícil falar de “estalinismo”, quando na realidade não sei a que propósito é referido e o que representa hoje. É a forma de atacar pessoas sem de nada de concreto serem acusadas. É como na fábula “se não foste tu foi o teu pai” e ficam como criminosos potenciais, gente a marginalizar, desculpabilizando a arbitrariedade para com os qualificados de “estalinistas”. Seria mais sério apontar discordâncias teóricas ou práticas. Mas não, usa-se o termo“estalinismo” como um anátema para bloquear raciocínios. É como se o acusado ao defender-se estivesse a assumir o crime de que é acusado. Encheu-se a palavra de preconceitos e faz-se o que se quiser. Serve também como um “abre-te sésamo”para ser aceite como democrata pela direita, pela social-democracia e por (ditos) socialistas.
Na URSS, no rescaldo da guerra civil, dos atos de sabotagem e terrorismo que se lhe seguiram, ou do colaboracionismo com os nazis, houve vitimas inocentes e violações da legalidade socialista, ninguém honestamente o aceita ou desculpa. Os arquivos do KGB foram porém investigados por assumidos antissoviéticos, o resultado desmascarou as mentiras em voga. Foi escamoteado e a calúnia prossegue com a aceitação de ingénuos, mal informados ou preconceituosos. (2)
O “estalinismo” tem sido o alibi para justificar as cedências às oligarquias e ao imperialismo. O “estalinismo” é afinal a forma de sem argumentos tentar ofuscar as teses fundamentais do marxismo-leninismo.
2 - Os números obtidos e outros dados estão no livro de Domenico Losurdo “Um outro olhar sobre Estaline”. Consulte-se também http://resistir.info/russia/benediktov.html