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20 de julho de 2014

A eleição de Junkers, o BES e os “consensos”

“Assim como uma mão lava a outra e ambas lavam o cu, temos de nos apoiar uma ao outro”. Assim dizia o administrador para o velho em “O velho que lia romances de amor” de Luís Sepúlveda.
Eis o que nos veio à memória perante o cenário da eleição de J-C Junkers, apoiado pela direita e pela social-democracia/socialismo reformista, pelo “radical” (!) Syriza e pelo Marinho Pinto. Mas a frase aplica-se também ao caso BES exemplo mais recente de como o sistema financeiro se tornou uma verdadeira cloaca de corrupção, fraude, arrogância gangsterística protegido pelos governos neoliberais e pelas instituições financeiras internacionais representadas entre nós pela troika.
A pseudo regulação existente a nível nacional e internacional tem o exclusivo objetivo de garantir a especulação, a agiotagem, a fuga pra paraísos fiscais do que é extorquido à força de trabalho. Se assim não fosse, outros teriam sido os relatórios do FMI, da troika, os avaliações da solidez financeira dos bancos, a “regulação do B de P.
Garantem que não há problemas, que está tudo bem, e periodicamente há escândalos e os Estados são chamados a intervir para proteger a fortuna de gente que procede como reles vigaristas, mas em dimensão incomensuravelmente maior. São instituições geridas por gente com ordenados milionários e arrogância de sobra no que diz respeito à austeridade, aos salários e aos direitos laborais. Põem e depõem governos, escolhem governantes, decidem políticas.
Sim, uma mão lava a outra: bastou J-C Junkers dizer umas baboseiras sobre “crescimento e emprego”, periodicamente repetidas e que contradizem tudo o que sempre defendeu para direita e social-democracia/socialismo reformista se prostrar a seus pés e os profissionais da deturpação na comunicação social aplaudirem.
O papel de toda esta gente ao serviço do neoliberalismo é “limpar o cu” à finança. Ouvir o PS a interpelar o governador do B de P sobre o GES/BES é “mutatis mutandis” ouvir o PSD a interpelar Vítor Constâncio acerca do BPN. Que credibilidade merece o sr. Seguro com as suas declarações após a conversa com o governador do B de P. Portou-se como um idiota chapado ou quiz fazer dos outros idiotas.
Depois temos “fora de portas e à porta fechada”, como consta de um fado, os acordos sobre o euro, o tratado orçamental, o tratado de comércio livre EUA-UE – o prego que falta, segundo eles, para liquidar o estado democrático e tornar o país uma colónia gerida pelas transnacionais, e sobre o qual da parte do PS só temos ouvido eleogios.
Depois das eleições, finda a ridícula querela no PS, PS e PSD, preparam novos “consensos” e coligações mais o CDS. E eis como a frase de Luís Sepúlveda tem toda a aplicação nos tempos que correm.
Para os fazer recuar só a luta popular e que se traduza em votos expressos..

1 comentário:

Anónimo disse...

Com a devida vénia:

Está tudo bem com o BES»
Publicado por Ivo Rafael Silva em 31 Julho 2014

Tal como Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva e Carlos Costa nos tinham diligentemente “informado” há poucos dias, parece que está mesmo “tudo bem” com o BES. Finalmente, alguma estabilidade. Finalmente, os mercados, livres que estão da agitação e perigo de “eleições” e “crise política”, podem estar tranquilos e banhar-se na solidez, correcção, licitude e transparência das contas de um dos maiores bancos nacionais.

Não há ‘mesmo’ razões para alarme. Os problemas são ‘mesmo’ no GES que, aliás, não tem nada a ver com o BES e nada do que se passou no BES foi senão um mero ‘lapso’ sem grande importância. Ao estilo cherne em declarações pós-almoço, “que se calem” aqueles que dizem que isto pode ser um novo BPN. Nada disso. Até porque no BPN, apesar do esforço dos seus valorosos gestores, nunca houve competência suficiente para chegar à “pipa de massa” de mais de 3500 milhões de prejuízo num único semestre. Afinal de contas, por comparação com os gestores do BES, os do BPN não passam de uns tristes amadores.

Mas eu diria que há, ainda assim, um ténue ponto de contacto, uma ligaçãozinha de nada, uma conexão sem importância entre o BPN e o BES. Quer num, quer noutro – procurará garantir o governo – hão-de pagar os do costume. E quanto vai custar isso ao bolso dos portugueses? Quantos mais cortes? Quantos mais serviços públicos vão fechar? Quantos mais desempregados? Quantos mais emigrados? Quantos mais precários? Quantos mais pobres serão necessários, parafraseando Garrett, para se garantir a criação de mais um rico?

Olhando para a montanha de números do prejuízo do BES, sabendo da exponencial e insultuosa acumulação de riqueza dos seus donos, sabendo da total cobertura, protecção e das relações de promiscuidade de governos e, por arrasto, instituições do Estado para com esta imensa gatunagem, não há como não perguntar: quem foi, afinal, que andou a viver “acima das suas possibilidades”? E com o “dinheiro” de quem?