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26 de maio de 2017

Que Grande Rebuliço



QUE GRANDE REBULIÇO
Agostinho Lopes
Que grande rebuliço para aí vai a propósito dos n.ºs do INE e das contas públicas! Que enorme desarrumação vai nos economistas/comentadores de serviço e vice-versa. As coisas já não estavam a correr bem nos últimos meses, mas isto foi demais, um verdadeiro despautério. E agora a saída do PDE! Deita abaixo qualquer alma bem intencionada. E, extraordinário, até a Comissão Europeia é cúmplice destas encenações da «esquerda»… a dita «(…) está a prestar um péssimo serviço a Portugal (…)», Camilo Lourenço dixit.
Presos na armadilha a que se armadilharam – meia dúzia de índices dependentes de demasiadas variáveis – profetas  confiantes nas suas profecias, sábios demasiado sabedores de estranhas sabedorias, é um ver se te avias, a saltar fora da carroça. Mas lançando penas de maus augúrios… a desgraça ainda não veio mas vai chegar em triplicado… «Não abram já o champanhe»… o BCE vai acertar-vos o passo um dia destes «”o desmame” do BCE está à porta»,  «A economia europeia acelerou, mas não se sabe quanto tempo isso vai durar», «Afinal a despesa não está controlada», diz o mesmo Camilo… Para João Salgueiro: 2,8% não é «bom desempenho» (reparem, é notável!) «porque esse devia ser o mínimo do nosso crescimento nos últimos 10 anos e não foi»! Por onde andavas tu Salgueiro que nenhum governo te enxergou! Mas «Não é um bom começo?», desespera o jornalista. Taxativo, o Salgueiro: «Não. Porque não se fez nada para isso. Aconteceu este trimestre». Senhor, que grande é a azia!     
Explicações, muitas… mas a mais frequente é erigir em axiomas as suas próprias convicções, atribuindo-as a outros… E depois são os outros em estado de negação… «Durante o período de ajustamento, a esquerda andou a dizer aos portugueses que o rigor orçamental e o crescimento da economia eram incompatíveis», (Luís Marques)! Ora, agora, prova-se que tal é falso. Que esquerda? Que rigor orçamental? O do corte de salários? O de uma «enorme carga fiscal» sobre o trabalho e o consumo? O do encerramento de serviços públicos?
E há os que descarrilaram completamente. O sótão das teorias entrou em aquecimento e fundiu. Quem é o pai dos 2,8%? Foi o da «reforma” laboral», «base da saúde que a economia respira agora», ainda e sempre Camilo Lourenço está presente, e idem, José Gomes Ferreira! Não se zanguem crianças, e façam «Uma vénia à dupla Passos-Costa», diz Manuel Carvalho!
Depois há os muito sofisticados, muito elaborados, como prova a peça «A Ameba e a Lebre», uma revisitação da velha história «a Lebre e o Sapo Concho» que João Vieira Pereira já não conheceu. Mas para o caso tanto faz.
No princípio, isto é, há um ano, era a ameba. Só o título metia medo: «O Naufrágio» (Expresso, 13FEV16). «2016. O ano começa a ter semelhanças terríveis com os tempos que nos levaram a um resgaste cruel. Já não é possível encontrar hoje quem queira comprar dívida portuguesa a preços aceitáveis. Excluindo o BCE, os investidores estão outra vez a fugir do risco Portugal»! Ui! Ui! O que aí vem… «Em dois meses, António Costa destruiu os sacrifícios feitos pelos portugueses durante cinco anos. A economia não vai crescer como escrevia a fábula do Largo do Rato, o emprego não vai subir milagrosamente. E as pequenas vitórias políticas, que não passam de acções de marketing, já não escondem que a estratégia morreu. Já nada sobra da política que Centeno queria implementar. Resultado: já não há plano. A política económica naufragou e está hoje à deriva numa frágil jangada feita de retalhos.» No fundo… o porta-aviões da dita cuja!
Agora chegou o tempo da lebre (Expresso Diário, 24MAI17). «Por várias vezes escrevi que estávamos a reviver tempos passados e que o fazíamos numa consciente apatia. Era generalizado o estado de anestesia (não admira, tratando-se de uma ameba!) em que tínhamos mergulhado. A perpetuação virtuosa de um governo considerado morto antes de nascer, a concretização da recuperação económica já há muito prevista (ai sim?! Quando? em Junho de 2016?) e a capacidade de uma política de austeridade ser vendida como expansionista (aí Costa, aí Centeno, enganasteis os gajos dos mercados e da UE!) criavam a sensação de que tínhamos virado uma página negra da economia portuguesa.» Embora a recuperação já estivesse prevista há aqui milagre de certeza!  
«Éramos uma espécie de ser unicelular que vive em águas paradas. Mas eis que (em vez de se afogar como foi previsto!) a ameba se transformou em lebre. Crescimento de 2,8%, desemprego nos 10,1%...».
Mas os perigos estão ao virar da esquina! «Este estado de euforia universal tem dois problemas muito piores do que aquela apatia (amebiana) aportava», digamos que o naufrágio eminente… No curto prazo «a capacidade de negociação com a extrema esquerda» das suas «estapafúrdias medidas». No médio e longo prazo, «A ilusão deste estado de graça é a desculpa perfeita para não fazermos reformas prioritárias.» Oh, oh… lá chegamos à Madeira outra vez!

«Assim vai a lebre disparada e feliz até à próxima armadilha. E, em economia cair na armadilha, é uma questão de tempo.»
Mas antes a lebre que a ameba, oh João… Pelo menos faz-se uma boa feijoada… com estes economistas todos! Ressabiado que nem uma ameba, que é uma espécie de rã perneta…  
Por falar em rã perneta, não nos esqueçamos do Dr. Honoris Causa do Salgado: «Quanto ao consumo amuou… Os portugueses não consomem nem aforram, pois as taxas de poupança continuam miseráveis (…), e até menores do que há um ano» (João Duque). Queres ver que esta gente está a deitar o dinheiro à rua… ou a dá-lo aos pobrezinhos de S. Vicente de Paula…? Para onde é que eles estarão a mandar a «nota», a «massaroca», o «pilim»??? Mistério!
E a inefável Teodora, sim a do Conselho Nacional de Finanças, não podia ficar para trás, e lá descobriu que não só o filho mas também o pai, e já o avô era o que se sabia, pecaram… a fazer papéis com números para enganar o holandês, cara de fuinha de água benta… E como eles se deixam enganar! Deixe lá Teodora, umas vezes enganámo-los nós, outras, a maioria e há muito tempo, enganam eles a gente. Como quando nos disseram que éramos todos muito solidários, muito convergentes, verdadeiros irmãos, uns para os outros… e tanto valia um pesar cem como pesar vinte… todos tratados por igual…
Mas não seria de esta gente toda, mais o Passos e Cristas e companhia fazerem um Congresso, convidarem o Schauble e o dito holandês e acertarem o fio do discurso?… porque assim é feio! Não acertam a bota com a perdigota, e ainda por cima arriscam-se a serem acusados de fazer o mal e a caramunha… Tudo ditados populares… mas não populistas.
Ou então confessam, como um dos bonzos do seu guia espiritual, o FMI: «Não que eu perceba, ou que alguém perceba porquê e como, mas a verdade é que os resultados são bons», (Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI, Público, 20MAI17).
Ora tomai, que é para aprenderes… com uma insuspeita figura que, em 2006, defendeu um «enorme» corte dos salários nominais em toda a economia… mas hoje já não defende!
Escusado será dizer que muito diferente é a leitura que fazemos da situação, mas distante também da que faz o governo PS e respectiva maioria. Questão para outro texto.

Agostinho Lopes

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