Um dia dois cavalheiros procuram-no para realizar trabalhos nos
interiores de uns barcos. Percebeu logo de quem se tratava, mafiosos, e o que pretendiam:
espaços suficientemente bem escondidos e disfarçados nos fundos e na estrutura
para esconder droga sem ser detetada.
Recusou, desculpando-se como pode: muito trabalho, sozinho,
só com um ajudante, ainda por cima com muitas encomendas de modelos que tinha
de fazer à noite. Os “bons rapazes” puseram-no à vontade. Não fosse esse o
problema, sabiam como era competente, pessoa de confiança, e poderiam ajuda-lo
a arranjar mais funcionários e crédito para expandir o negócio. Desculpou-se
ainda com a saúde da mulher, etc., etc.
A coisa ficou por aqui. Se tivesse aceitado, contou-me,
ficaria nas mãos deles e ou acabaria por fazer tudo o que queriam ou…
Pois é. Há gente com quem não se pode transigir e depois,
nem que seja a fingir, querer voltar atrás. Quem se lembra do Sócrates dos PEC?
Das privatizações? Da revisão da lei laboral, piorando o que já vinha do anterior
PSD-CDS e da precariedade? De ter praticamente liquidado, com Teixeira dos
Santos, uma importante fonte de financiamento do Estado, os certificados de
aforro, para as poupanças serem capturadas pela banca privada e postas nos
circuitos especulativos? Da “nacionalização” dos prejuízos do BPN deixando de
fora os ativos? Dos benefícios fiscais à banca e às SGPS? Dos escândalos e
sorvedouro de dinheiro das PPP?
Mais envolvido e comprometido com a máfia financeira só o
atual governo de direita /extrema-direita. O que os “wise guys” lhe vieram agora
dizer foi: és uma carta fora do baralho, não queiras evidenciar-te na TV contra
a direita. E fica também o recado: consensos no PS é só com o PSD-CDS e a
austeridade é para manter, como obedientemente este governo assegura.
Pois é, quando se porprociona a convergência fascista entre grande
capital e governo, é isto que acontece.
Quanto à questão da moral é assim: falamos de estórias
que vamos ouvindo até nas ruas ou falamos de História? O tempo, grande mestre,
o dirá.