Vale a pena recordar o final de um livro de Sartre, “Le
Sourcis” quando Daladier, primeiro-ministro da França, regressa de Munique,
após a assinatura do respetivo Tratado com Hitler, Mussolini e Chamberlain. Daladier
é recebido com uma manifestação de regozijo: “a paz foi salva”. Pára na escada
do avião e comenta: “Les cons!” – Os idiotas!
Pois bem, foi isto que aconteceu em 1989. Os “idiotas úteis”
necessários à política de direita que festejavam o fim da RDA, mal sabiam para
o que estavam guardados: desemprego, empobrecimento, aumento das desigualdades,
trabalho cada vez mais precário, jovens qualificados com salários de miséria,
despedimentos massivos de trabalhadores experientes. Hoje na UE, é voz
corrente, a começar pelo sr. Draghi, que o “modelo social europeu” está
esgotado, não pode ser mantido. “Comentadores” repetem-no com ar compenetrado,
como se falassem de alguma praga a que urge pôr fim.
A exploração dos países mais pobres aumentou mais 35% de
1990 para 2012. (PNUD). Segundo a OIT as diferenças entre o aumento da
produtividade e dos salários são cada vez mais importantes.
Em 2013, 0,7% da população mundial, os multimilionários,
detinham 41% da riqueza mundial e não cessa de aumentar a proporção. Para isso a pobreza aumenta
na UE, nos EUA, nos países dominados. Nos EUA há 30 anos 1% da população
detinha 12% do rendimento, atualmente quase de 35%. Em dia e meio, 0,1% dos mais
ricos ganha mais que 90% da população num ano inteiro. É fácil ver os que tinham
e têm razões para festejar.
Egon Krenz foi o último primeiro-ministro da RDA, foi preso
pelo revanchismo alemão, os mesmos que lhe prestavam honras de Estado meses
antes. Vive hoje retirado, isolado, não está ao abrigo das provocações e
insultos da direita. Mas, é estimado pelos operários que o reconhecem. Krenz reconhece
erros na condução da RDA e que ele próprio falhou, mas sente
vergonha quando o comparam a Gorbatchov. Fiel aos seus ideais afirma : A
ideia socialista, os valores socialistas, vivem e viverão. Continuo convencido
de que o futuro será o socialismo ou a barbárie. (ver entrevista em http://www.legrandsoir.info/la-chute-du-mur-de-berlin-la-version-d-egon-krenz.html).
Será obrigatório ler em http://www.hist-socialismo.net/ as “Notas
da prisão” e “Honecker
acusa”, relato do seu testemunho perante
o tribunal após o fim da RDA. Pensavam encontrar um homem debilitado, vergado ao peso da derrota,
subjugado pelo capitalismo triunfante. Da prisão onde já tinha estado no
tempos do nazismo, Honecker transforma-se em acusador, não renegando os seus
ideais desde a adolescência. Os acusadores preferiram silencia-lo e anulam o julgamento, alegando motivos de
doença do réu, como se tal não fosse evidente desde o início. Honecker morreu
no Chile na companhia da esposa, da filha e do genro, um chileno.
Entretanto, lembremos as vítimas dos muros do ghetto de Gaza,
dos EUA-México em que perecem por ano mais vítimas que em quase três décadas em
Berlim. Ou ainda os muros da UE perante os povos levados à miséria pelo
imperialismo e neocolonialismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário