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29 de novembro de 2013

O sistema tem um nome !

O papa Francisco acusou o sistema das maleitas deste mundo . Certo. Mas esse sistema tem um nome : chama-se sistema capitalista....
A partir de agora vamos assistir à condenação , não do capitalismo , mas do capitalismo mau, do capitalismo selvagem como dizia na SIC uma deputada do CDS, ou do capitalismo sem freio como dizia uma deputada do Bloco na Antena 1...
Estas excelências não nos podiam indicar um capitalismo bom , com freio , civilizado...
Ficamos à espera

Quem Quer ganhar um milhão de euros?

Público 29-11

Seis banqueiros portugueses receberam pelo menos um milhão de euros de remuneração em 2012, segundo a informação nesta sexta-feira divulgada pela Autoridade Bancária Europeia (EBA em inglês).
A EBA divulgou um relatório que indica quantos trabalhadores dos bancos europeus auferiram em 2012 pelo menos um milhão de euros, incluindo salários, bónus, prémios e contribuição para a pensão, a partir dos dados recolhidos em cada país pelas autoridades nacionais.
Segundo a EBA, em 2012, seis banqueiros portugueses tiveram rendimentos de pelo menos um milhão de euros: três da banca de retalho e três de outros ramos da actividade bancária.
Os primeiros receberam, no total, 1,438 milhões de euros em remuneração fixa, dois milhões em remuneração variável e 695 mil euros em remuneração variável diferida, a que se somam ainda 995 mil euros de benefícios para pensão.
Assim, em média, cada um destes banqueiros recebeu 1,147 milhões de euros em 2012.
A remuneração foi ainda mais alta nos banqueiros de outras áreas do sector bancário: 1,577 milhões de euros cada um, em média.
A maior fatia dos rendimentos destes banqueiros veio da remuneração fixa, de 3,563 milhões de euros. Em remuneração variável o valor ascendeu a 2,336 milhões de euros, dos quais 1,168 milhões de euros em diferida.
Entre os países com maior número de trabalhadores de bancos que receberam mais de um milhão de euros em 2012 estão Reino Unido, com 2714, Alemanha (212), França (177) e Espanha (100).
No final de Setembro deste ano, o Banco de Portugal enviou uma instrução aos bancos para saber quantos funcionários das oito principais instituições – à Caixa Geral de Depósitos (CGD), ao BPI, ao BES, ao BCP, ao Santander Totta, ao Crédito Agrícola, ao Montepio Geral e ao Banif - ganham mais de um milhão de euros por ano.
Cnclusão : se queres ganhar um milhão de euros torna-te banqueiro... e viva acrise!!!!

28 de novembro de 2013

Os Bancos nalguma Tradição Medieval

Anda por aí na literatura, em algumas «redes sociais» e em alguma imprensa a ideia de um possível retrocesso histórico a uma espécie de «Uma Nova Idade Média»...
Pois bem , num livro de um senhor Stephen Zalegna (do «American Institute of Money», 2002) intitulado
 «The Lost Science of Money - The Mythology of Money, the Story of Power» 
 vem a certa altura esta coisa deliciosa:

«These banks were private enterprises and ran into typical banking troubles, as seen from the banking laws enacted (na  Catalunha) in 1300-1301:
"No money lender shall keep a bank in any place in Catalonia unless he shall fisrt given assurance (a bond...)...
"No moneychanger who may fail, and none who has recently failed or in times past has failed, shall again keep a bank or hold any office under the Crown" and "Until he shall have satisfied all demands, he shall be detained on a diet of bread and water."
An appendix was added in 1321:
"If no such settlement is made, they shall be proclaimed bankrupt and disgraced by the public crier in the places in which they failed and throughout Catalonia. They shall be behead and their property shall be sold for the satisfaction of their creditors by the Court... Neither we nor the most high heir apparent, nor our successors may pardon any money changers who have failed or may henforth failed". And "In 1360 Fracesh Castello was beheaded in front of his bank"».

Em tradução algo liberal mas o mais fiel possível será assim: 
«Estes bancos eram empresas privadas e incorreram nos típicos problemas bancários, como se pode ver pelas leis bancárias decretadas (na Catalunha ) em 1300-1301:
"Nenhum prestamista poderá manter um banco em qualquer lugar na Catalunha, a menos que antes disso dê certeza de garantias (bens susceptíveis de confisco...)
"Nenhum cambista que possa falir, e nenhum que tenha falido, recentemente ou no passado, poderá abrir novamente um banco ou ocupar qualquer cargo (público) sob a Coroa" e “Até que tenha satisfeito todas as exigências, deve ser detido numa dieta de pão e água."
Em 1331 foi acrescentado um apêndice:
"Se não for feita tal liquidação (de dívidas), (esses prestamistas) devem ser proclamados falidos e desgraçados (denunciados) pelo pregoeiro público nos lugares em que eles tenham falido e em toda a Catalunha . Serão decapitados e as suas propriedades serão vendidas para a satisfação dos seus credores pelo Tribunal. .. Nem nós (o soberano...), nem o (nosso...) mais alto herdeiro, nem nossos sucessores poderão perdoar quaisquer cambistas que tenham falido ou possam vir a falir”.
E "em 1360 Fracesh Castello foi decapitado na frente de seu banco" ».
 
Esta estória da decapitação do banqueiro Fracesh Castello vem também referida no livro 

Meltdown: Money, Debt and the Wealth of Nations, Volume 4, página 231.

Colectância de ensaios e artigos editada por William Krehm
Journal of the Committee on Monetary and Economic Reform, January 2004 to June 2005

Olha se alguém leva a sério esta estória de um eventual retrocesso a uma «Nova Idade Média»...
Chiça, ainda bem que não sou banqueiro nem estamos na Catalunha...


   

 

26 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA SOCIAL OU HIPOCRISIA SOCIAL?

“Frente  a Frente” na SIC – Notícias, segunda –feira 25/11. M. Carvalho da Silva confronta o sr. Marco António Costa com dados divulgados no Relatório do Observatório das Políticas da Família que mostram o generalizado aumento da pobreza e a drástica redução de apoios sociais por parte deste governo. O sr. M. Costa responde com “as preocupações sociais deste governo” referindo os aumentos das pensões mais baixas, nos 200 ou 300 €: 4,1% em 3 anos. Carvalho da Silva responde que descontando a inflação em termos reais são apenas alguns cêntimos por dia.
O sr. Mário Crespo faz o habitual: quando a direita está em desvantagem, intervém a seu favor e de facto o programa deixa de ser de ser “frente a frente” (pouco mais de 10’ para responder a distorções estatísticas e propaladas mentiras). O sr. Mário Crespo,  assume lamentavelmente o papel pouco sério de comprometido com a direita, subvertendo a imparcialidade do momento, fazendo-se eco de deformações populistas – talvez por influência dos seus recorrentes convidados - tentando argumentar com exceções – o que é sempre intelectualmente desonesto.
O sr. Crespo tentando arranjar justificação para a redução dos apoios sociais – o que não lhe compete – aponta eventuais fraudes, ou seja, como referiu Carvalho da Silva, considerar os pobres tendencialmente desonestos.
A consciência social do governo é a versão “pós-moderna” do lema do fascismo para os “pobres”: “os que podem aos que precisam”. Consiste em dar umas migalhas à miséria, à custa dos pobres, ds menos pobres e da classe média, deixando os “intocáveis” livres para a fraude, perdões fiscais, fuga de lucros para paraísos fiscais. Nestes não se toca, enquanto se derramam lágrimas de crocodilo quanto aos "sacrifícios para todos" e à “compreensão pelas medidas duras a que a situação obriga”, etc, etc. A culpa vai para o PS, omitindo todo o apoio do PSD ao que aqui nos conduziu.
Não admira que o número de multimilionários em Portugal não só cresceu em número para 870 indivíduos (mais 10,8%) como aumentou o valor global das suas fortunas, de 90 para 100 mil milhões de dólares (mais 11,1%), cerca de 45% do PIB!
É esta a “consciência social do governo”: cortes nos salários de 675 € brutos, menos de 600€ líquidos, e faz alarde das despesas em cantinas sociais (“a sopa dos pobres” do antigamente) obedecendo afinal ao que o neoliberalismo consente.
É o que nos refere o historiador Valério Arcady (1): “ O Banco Mundial elaborou propostas de medidas sociais de emergência, rendimento mínimo de sobrevivência, distribuição de bolsas alimentares e outros programas focados (não universais) semelhantes. O seu objetivo foi manter sob contenção o mal-estar dos sectores populares mais vulneráveis.”
Refere ainda que neste sentido foram feitas experiências na Colômbia e no Brasil “para verificar o grau de controlo que a distribuição de uma cesta básica ou dinheiro podem conseguir, inibindo ou impedindo a livre auto-organização das pessoas na defesa dos seus direitos.
“São cientistas sociais convocados a pensar como manter o domínio político de massas populares pauperizadas.”
Consciência social, não, apenas hipocrisia social. Eis o que o neoliberalismo tem para oferecer.
1 – A segurança social é sustentável, coord. Raquel Varela,  Ed. Bertrand, 2013, p. 367

22 de novembro de 2013

Da importância dos fundamentos teóricos

Anda pelas «redes sociais» uma polémica ou debate sobre rendimentos do trabalho, sobre «Rendimento Básico Incondicional» e também sobre o «Rendimento Social de Inserção» ou um «Rendimento Universal Garantido», tudo sob ideia geral de discutir as capacidades produtivas de cada um (tranbalhador/a individual), da noção de trabalho e emprego e das necessidades a satisfazer a cada um/a.
Pelo que me foi dado observar pela leitura de algumas intervenções de diversos partticipantes (alguns com créditos firmados no mundo académico) a discussão enferna de um problema de fundo: um desconhecimento, por vezes confusão sobre confusão, de alguns dos princípios básicos da análise marxista original (a de Marx e de Engels...).
Muito em particular a Teoria Laboral do Valor e a daí resultante Lei do Valor.
Transcrevo para aqui o brevíssimo apontamento que tive ocasião de deixar num dos blogues (5 Dias):
«Pois eu diria (metendo aqui a colherada) que uma grande parte da discussão ou polémica – sobre a igualdade ou desigualdade dos «rendimentos do trabalho, assim como sobre as justificações para a existência (ou não) de RBI, seria minimizada se algumas das pessoas participantes tivessem uma noção razoável do que significa «lei do valor» e um conhecimento e compreensão da «famigerada» Teoria Laboral do Valor.
Assim como qualquer cidadão minimamente culto sabe pelo menos «recitar» (ou algo assim…) a cantilena que antigamente se aprendia no ensino secundário («matéria atrai matéria na razão directa das massas e na razão inversa do quadrado da distância», Newton dixit…) ou então aquela da «energia é igual à masa vezes a velocidade da luz ao quadrado» (Einstein…), seria bom – para estas discussões importantíssimas para aplicação prática em «engenharia social» – que todos soubessemos (ou compreendessemos) a tal e famigerada «Teoria Laboral do Valor»…
Ou de como se explica que é razoável que um neurocirurgião ganhe bastante mais do que um auxiliar de enfermagem…»
É por estas (e por outras) que «passo a vida» a tentar sublinhar a importância do combate pela denúncia da «religião laica» em que se transformou a teoria económica convencional e a tentar contribuir para uma melhor compreensão da lógica intrínseca do funcionamneto dos mecanismos da economia capitalista.  

21 de novembro de 2013

O natal dos Banqueiros


A DESCIDA DO IRC



Como é que o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais justifica a medida ?
 Diz: sem se rir : «... pode haver um ganho na ordem dos 30% no investimento estrangeiro num prazo de três a cinco anos. Estima-se que em resultado da reforma do IRC, o PIB possa crescer entre 2% e 3%, em termos acumulados...».
Isto não se vai verificar. E  o que acontece ao Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais!  Leva umas pauladas?

Nem o FMI acredita.
Como é que foi feita tal estimativa e quem a fez ? O governo ? O Lobo Xavier do Belmiro ?
 Quem paga a descida do IRC?  
Os do costume : trabalhadores e reformados

Quanto custa a descida do IRC?

O Governo estima em 70 milhões de euros o custo para 2014 de tal medida. Muito mais custará em 2015. Sairão mais 70 milhões, pelo menos, para os accionistas das grandes empresas, as que mais lucros têm.



COITADINHOS dos Banqueiros !

"Os banqueiros vão passar um Natal complicado" disse  Ricardo Salgado, Presidente do BES.

Ninguém os prende?

20 de novembro de 2013

OS EXEMPLOS DA IRLANDA

As longas e árduas negociações a Irlanda recusou o “programa cautelar” que a “solidariedade” da “Europa connosco” lhe propunha, isto é, procurava impor. Pelos vistos, ao governo da Irlanda ainda restam uns resquícios de sentimento nacional, algo que o governo de cá desconhece, comportando-se como meros delegados da troika.
Para a Irlanda no entanto é “saltar da frigideira para cair no lume”: continua na mão dos “mercados”, que para outra coisa não serve esta “UE".
Vejamos então alguns dados comparativos da Irlanda, Grácia, Portugal, da base de dados da CE (AMECO) Para comparar os “êxitos” da Irlanda, vemos donde partiram e onde estão os países dos “ajustamentos”.
PIB

2008

2013

RNB

2008

2013

Salários

2008

2013

IR

176,5

167,8

IR

153

134,7

IR

75,6

64

GR

210

161,8

GR

203.6

161,4

GR

64,2

44

POR

160,2

148,8

POR

154.5

143,4

POR

66,5

60,6
PIB – mil milhões de euros, preços constantes 2005 (quadro 6.1.4)
RNB - mil milhões de euros, preços constantes 2005 (quadro 5.1.2)
Salários – (gross wages and salaries) mil milhões de euros (quadro 15.1.2)
A Irlanda tem uma redução global de 15,3%; a Grécia de 31,5%; Portugal 9,1%. Percebe-se assim o relatório do FMI quanto á “necessidade” dos salários serem ainda mais reduzidos.
Desemprego

2008

2013

Emprego

2008

2013

FBCF

2008

2013

IR

6,4

13,3

IR

2 129,3

1860,5

IR

42,2

23,2

GR

7,7

27

GR

4865,8

3 933,6

GR

50,7

23,1

POR

8,5

17,4 *

POR

5 197,8,

4 497,8

POR

36,8

23
Desemprego – percentagem população ativa (quadro 1.3.2). A Eurostat em setembro 2013 indicava para Portugal 16,3; Irlanda 13,6; Grécia 27,6%
Emprego – milhares; total economia (quadro 1.4.1). O emprego reduz-se entre 2008 e 2013 na Irlanda 268,8 mil pessoas, na Grécia 932,3, em Portugal 700 mil pessoas
FBCF - mil milhões de euros, preços constantes 2005 (quadro 3.11.2). Para pagar juros há dinheiro para investir não há, é o atraso estrutural em toda a linha. Eis o espelho da “plena integração europeia”.
Saldo B e S

2008

2013

Neces. Finan.

2008

2013

Juros

2008

2013

IR

+22,1

+45,5

IR

-7,2

-7,4

IR

2,4

7,6

GR

-29,6

-1,5

GR

-13,6

- 9,9

GR

11,7

7,5

POR

- 15

+1,3

POR

-3,7

-5,9

POR

5,2

7,2
Saldo B e S – Saldo da balança de bens e serviços; preços constantes 2005; mil milhões de euros (quadros 9.1.2 e 9.2.2)
Necessidades de Financiamento - Em percentagem do PIB; (Net lending quadro 16.3.1)
Juros - mil milhões de euros; Interest including flows on Swaps and FRAs (Forward Rate Agreements) (quadro 16.4.1)
Estes países cada um de sua forma estão onde os “mercados” os querem: entrepostos das multinacionais e submetidos ao garrote dos juros. Note-se que a divida pública (gross public debbt) aumentou entre 2008 e 2013 (quadro 18.1.1) na Irlanda 160%: na Grécia 22%, (é porém a mais elevada em termos de PIB); em Portugal 71%.
Não a Irlanda não é nenhuma solução. Mas que se há de fazer, este governo a única coisa que faz bem é semear ilusões e mentir.
Nota – Alguns dados podem apresentar discrepâncias com dados nacionais mais recentes porém interessa sobretudo a comparação internacional e a evolução.