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30 de janeiro de 2022

A Europa entrincheirada contra um inimigo inventado

 O Departamento de Estado, “como medida de precaução contra uma possível invasão russa da Ucrânia”, ordenou a evacuação de familiares e parte do pessoal da Embaixada dos EUA em Kiev, que com 900 funcionários é uma das maiores da Europa e elevou ao nível 4, risco máximo, a advertência aos cidadãos estadunidenses para não irem à Ucrânia ao nível 4. Imediatamente depois, o Foreign Office anunciou, com a mesma motivação, a retirada de funcionários da Embaixada Britânica em Kiev. Essas operações de guerra psicológica, destinadas a criar alarme sobre uma iminente invasão russa da Ucrânia e das três repúblicas bálticas, preparam uma escalada EUA-Otan ainda mais perigosa contra a Rússia.

A Casa Branca anunciou que o presidente Biden está considerando “deslocar milhares de soldados, navios de guerra e aviões dos EUA para países da Otan no Báltico e na Europa Oriental”. Inicialmente, espera-se a chegada de 5.500 soldados norte-americanos que, juntando-se aos 4.000 já na Polônia e seguidos por outros milhares, estenderão sua instalação permanente ao Báltico, conforme solicitado pela Letônia. Trens especiais já estão transportando tanques americanos da Polônia para a Ucrânia, cujas forças armadas são treinadas há anos, e de fato comandadas, por centenas de conselheiros e instrutores militares dos EUA, ladeados por outros da Otan. Washington, que no ano passado forneceu a Kiev armas no valor oficial de 650 milhões de dólares, autorizou a Estônia, a Letônia e a Lituânia a transferir as armas dos EUA em sua posse para a Ucrânia, em particular os mísseis Javelin. Outros armamentos são fornecidos pela Grã-Bretanha e pela República Tcheca.

A Otan informa que os países europeus da Aliança estão colocando suas forças armadas em estado de prontidão operacional e enviando outros navios de guerra e aviões de combate para serem instalados na Europa Oriental. A Itália, com os caças-bombardeiros Eurofighter, assumiu o comando da missão da Otan de “polícia aérea reforçada” na Romênia. A França está pronta para enviar tropas à Roménia sob o comando da Otan. A Espanha está enviando navios de guerra das forças navais da Otan e caças-bombardeiros para a Bulgária. A Holanda está se preparando para enviar caças F-35 para a Bulgária. A Dinamarca envia caças F-16 para a Lituânia. Ontem (24) começou o grande exercício naval Nato Neptune Strike ’22 no Mediterrâneo sob o comando do vice-almirante Eugene Black, comandante da Sexta Frota com quartel general em Nápoles Capodichino e base em Gaeta. O porta-aviões nuclear norte-americano Harry Truman participa do exercício, que dura 12 dias, com seu grupo de combate, incluindo cinco lançadores de mísseis prontos para um ataque nuclear para “tranquilizar os aliados europeus, especialmente na frente oriental ameaçada pela Rússia”.

Imediatamente após o Nato Neptune Strike ’22, o exercício da missão Clemenceau 22 ocorrerá em fevereiro, que verá engajados, em uma “operação de três porta-aviões”, o francês Charles de Gaulle, movido a energia nuclear, e seu grupo de combate, incluindo um submarino de ataque nuclear, que entrará no Adriático; o Harry Truman com seu grupo de combate e o porta-aviões italiano Cavour com os F-35 a bordo. Este exercício, é claro, também é dirigido contra a Rússia.

Enquanto a Otan ordena que a Rússia “reduza a escalada”, alertando que “qualquer agressão adicional acarretará um alto custo para Moscou”, os ministros das Relações Exteriores da União Europeia – reunidos em Bruxelas e conectados por teleconferência com o secretário de Estado dos EUA Blinken – decidiam outras medidas contra a Rússia. A União Europeia dos 27, dos quais 21 pertencem à Otan sob o comando dos EUA, ecoa a advertência  da Otan à Rússia, declarando que “qualquer agressão militar adicional contra a Ucrânia teria consequências muito sérias para a Rússia”. Desta forma, a UE participa da estratégia de tensão, através da qual os EUA criam fraturas na Europa para mantê-la sob sua influência.

Manlio Dinucci

 


Armas para a Ucrania

 

Desde hace semanas, EE.UU. y varios de sus aliados venden armamento a Ucrania, supuestamente para que se defienda de una "inminente invasión de Rusia". Sin embargo, analizando las armas entregadas, los motivos detrás parecen ser muy distintos...



29 de janeiro de 2022

A histeria sobre a invasão da Ucrânia tem um nome

 A histeria sobre a invasão da Ucrânia tem um nome :fornecimento de gás à Europa pelos EUA


 Estados Unidos y la Unión Europea se han comprometido este viernes a intensificar su cooperación energética para poder garantizar el suministro en Europa, una iniciativa que llega motivada por el latente conflicto ruso-ucraniano

Así lo han acordado la presidenta de la Comisión Europea, Ursula von der Leyen, y el presidente de Estados Unidos, Joe Biden. En una declaración común han asegurado que trabajarán "juntos para que los ciudadanos y las empresas de la UE y sus vecinos dispongan de unos suministros energéticos fiables y asequibles". 

O  novo gasoduto russo-alemão Nord Stream 2  que está pronto ainda não funciona por pressão dos americanos e dizem eles , não terá autorização para funcionar em caso de uma "escalada" na Ucrânia, segundo declarações feitas na noite deste domingo (12/12) pela ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock.

Devido à tensa situação no leste europeu, "acordou-se entre os americanos e o anterior governo alemão" de Angela Merkel "que, em caso de uma nova escalada, este gasoduto não poderia operar", declarou Baerbock à emissora de TV alemã ZDF,

28 de janeiro de 2022

Outro contexto: o do "não há alternativa" - 2

 

Resumimos mais algumas "falsas evidências" do Manifesto dos economistas aterrorizados em que se baseia a política de direita, sempre apresentadas como solução dos problemas económicos e sociais. São efetivamente as suas causas mais diretas.
4ª - A Subida das Dívidas Públicas é o Resultado de um Excesso de Despesas - O Estado endivida-se como um alcoólico que bebe acima das suas posses: é esta a visão que os "comentadores" propagam. Porém, o aumento da dívida pública deve-se aos planos de salvamento do sector financeiro e, sobretudo, à recessão provocada pela crise bancária e financeira.
Medida n.º 9: Efetuar uma auditoria pública das dívidas soberanas, de modo a determinar a sua origem e a conhecer a identidade dos principais detentores de títulos de dívida e os respetivos montantes que possuem.
5ª - 
É Preciso Reduzir as Despesas para Diminuir a Dívida Pública - A dinâmica da dívida pública não tem muito que ver com a de uma casa: a macroeconomia não é redutível à economia doméstica. Ora, se o crescimento da economia for mais débil do que a taxa de juro, a dívida cresce devido ao "efeito de bola de neve": o montante dos juros dispara, o mesmo sucedendo com o défice total (que inclui os juros da dívida). A própria taxa de crescimento da economia não é independente da despesa pública: no curto prazo, a existência de despesas públicas estáveis limita a magnitude das recessões ("estabilizadores automáticos"); no longo prazo, os investimentos e as despesas públicas (educação, saúde, investigação, infraestruturas…) estimulam o crescimento. A redução dos défices compromete a atividade económica, a dívida aumentará ainda mais. Os comentadores liberais sublinham que ajustes brutais nas suas contas públicas nos anos noventa e conheceram, de imediato, um forte salto no crescimento. Mas isso só é possível se o ajustamento se aplicar a um país isolado, que adquire competitividade face aos seus concorrentes.
Medida n.º 10: Manter os níveis de proteção social e, inclusivamente, reforçá-los (subsídio de desemprego, habitação…);
medida n.º 11: Aumentar o esforço orçamental em matéria de educação, de investigação e de investimento tendo em vista estabelecer as condições de um crescimento sustentável, capaz de permitir uma forte descida do desemprego.
6ª - 
A Dívida Pública Transfere o Custo dos Nossos Excessos para os Nossos Netos - Outra afirmação falaciosa, que confunde economia doméstica com macroeconomia. A dívida pública é um mecanismo de transferência de riqueza, mas tem sido sobretudo dos contribuintes comuns para os rentistas. As políticas fiscais anti-redistributivas agravaram, as desigualdades sociais e os défices públicos, obrigando as administrações públicas a endividar-se através dos mercados financeiros, de modo a financiar os défices gerados. Com o dinheiro poupado nos seus impostos, os mais ricos puderam adquirir títulos (portadores de juros) da dívida pública, emitida para financiar os défices públicos provocados pelas reduções de impostos… Estabeleceu-se um mecanismo de redistribuição invertido, das classes populares para as classes mais favorecidas através da dívida pública.
Medida n.º 12: Atribuir de novo um carácter fortemente redistributivo à fiscalidade direta sobre os rendimentos
Medida n.º 13 : Acabar com as isenções de que beneficiam as empresas que não tenham um efeito relevante sobre o emprego.
7ª - 
É Preciso Assegurar a Estabilidade dos Mercados Financeiros para Poder Financiar a Dívida Pública - Com a liberalização da circulação de capitais, o sector financeiro aumentou consideravelmente a sua influência sobre a economia. As famílias veem uma parte cada vez maior das suas poupanças ser drenada para o mercado financeiro através dos diversos produtos de investimento e do crédito à habitação. Na UE a financeirização da dívida pública encontra-se inscrita nos tratados. Os Bancos Centrais ficaram proibidos de financiar diretamente os Estados, que devem encontrar quem lhes conceda empréstimos nos mercados financeiros. Esta "repressão monetária" acompanha a "liberalização financeira". Trata-se de submeter os Estados, que se supõe serem por natureza despesistas, à disciplina dos mercados financeiros, que se supõe serem por natureza eficientes e omniscientes. Devido á crise o BCE teve em determinados momentos de comprar, obrigações de Estado à taxa de juro do mercado, de modo a reduzir os problemas tensões nos mercados de obrigações.
Medida n.º 14 : Autorizar o BCE a financiar diretamente os Estados (ou a impor aos bancos comerciais a subscrição de obrigações públicas emitidas), a um juro reduzido, aliviando desse modo o cerco que lhes é imposto pelos mercados financeiros;
Medida n.º 15: Reestruturar a dívida pública, limitando o seu peso a determinado valor percentual do PIB e estabelecendo uma discriminação entre os credores segundo o volume de títulos que possuam: os grande rentistas (particulares ou instituições) deverão aceitar uma extensão da maturidade da dívida, incluindo anulações parciais ou totais. É igualmente necessário voltar a negociar as exorbitantes taxas de juro dos títulos emitidos pelos países que entraram em dificuldades na sequência da crise.
8ª - 
A União Europeia Defende o Modelo Social Europeu - A visão dominante em Bruxelas é a de uma Europa liberal, cujo objetivo está centrado em adaptar as sociedades europeias às exigências da globalização. A "construção europeia" constitui nestes termos a oportunidade de colocar em causa o modelo social europeu e de desregular a economia. A prevalência do direito da concorrência sobre as regulamentações nacionais e sobre os direitos sociais no Mercado Único permitiu introduzir mais concorrência nos mercados de bens e de serviços, diminuir a importância dos serviços públicos e apostar na concorrência entre trabalhadores. A concorrência social e fiscal permitiu por sua vez reduzir os impostos, sobretudo os que incidem sobre os rendimentos do capital e das empresas e exercer pressão sobre as despesas sociais. Uma forma de impor aos povos as reformas neoliberais. A organização da política macroeconómica (independência do BCE face às estruturas de decisão política, Pacto de Estabilidade) encontra-se marcada pela desconfiança relativamente aos governos democraticamente eleitos. Pretende privar completamente os países da sua autonomia tanto em matéria de política monetária, como de política orçamental. O equilíbrio orçamental deve ser forçosamente atingido, banindo-se qualquer política deliberada de relançamento económico, pelo que apenas se pode participar no jogo da "estabilização automática". Os objetivos fixados para as finanças públicas não contemplam a especificidade da situação económica de cada país membro. A Europa Social continua a ser um conceito vazio de conteúdo, apenas se afirmando vigorosamente a Europa da Concorrência e a Europa da Finança.
Medida n.º 16 : Pôr em causa a livre circulação de capitais e de mercadorias entre a UE e o resto do mundo, renegociando se necessário os acordos multilaterais ou bilaterais atualmente em vigor;
Medida n.º 17 : Substituir a política da concorrência pela "harmonização e prosperidade", estabelecendo objetivos comuns vinculativos tanto em matéria de progresso social como em matéria de políticas macroeconómicas (através de grandes orientações de política social).
9ª - 
O Euro é um Escudo de Protecção Contra a Crise - A zona euro revelou um crescimento económico medíocre e um aumento das divergências entre os seus Estados membros em termos de crescimento, inflação, desemprego e desequilíbrios externos. A rigidez monetária e orçamental, reforçada pelo euro, concentrou todo o peso do ajustamento nos salários, promovendo a precariedade e a austeridade, reduzindo a componente dos salários no rendimento total e aumentando as desigualdades.
Alemanha conseguiu gerar importantes excedentes comerciais à custa dos seus vizinhos. Os excedentes comerciais alemães limitaram o crescimento de outros países. Os défices orçamentais e comerciais de uns são a contrapartida dos excedentes de outros. Os Estados membros não foram capazes de definir uma estratégia coordenada. A UE continua a exigir políticas salariais restritivas e a regressão sistemática dos sistemas públicos de reforma e de saúde, com o risco evidente de mergulhar os países na depressão e de suscitar tensões entre os diferentes países.
Medida n.º 18 : Assegurar uma verdadeira coordenação das políticas macroeconómicas e uma redução concertada dos desequilíbrios comerciais entre os países europeus;
Medida n.º 19 : Compensar os desequilíbrios da balança de pagamentos na UE através de um banco de pagamentos (que organize empréstimos entre países da UE);
Medida n.º 20 : Se a crise do euro conduzir à sua desintegração, instituir um regime monetário intraeuropeu capaz de reorganizar a absorção dos desequilíbrios entre as balanças comerciais.
10ª - 
A Crise Grega Permitiu Governo Económico e Verdadeira Solidariedade - As crises oferecem às elites financeiras e aos tecnocratas a tentação de pôr em prática a "estratégia do choque", tirando proveito da crise para radicalizar a agenda neoliberal. Mas esta política não tem sucesso: a diminuição das despesas públicas compromete o esforço necessário para assegurar despesas futuras (investigação, educação, prestações familiares), apoiar a a indústria. Os governos e as instâncias europeias recusam-se a estruturar a harmonização fiscal, que permitiria um necessário aumento de impostos sobre o sector financeiro, sobre o património e sobre os altos rendimentos;
Medida n.º 21 : Desenvolver uma fiscalidade europeia, designadamente de imposto sobre os lucros e um verdadeiro orçamento da UE, favorecendo a convergência das economias para uma maior equidade nas condições de acesso aos serviços públicos e serviços sociais nos diferentes Estados membros.
 Medida n.º 22 : Lançar europeu, tendo em vista encetar a reconversão ecológica

27 de janeiro de 2022

Outro contexto: o do "não há alternativa" - 1

Para a política de direita "não há alternativa"... senão iludir quem vive do seu trabalho. Não, não é o "sonho que comanda a vida" como dizia Gedeão, mas a finança.

Este processo conduziu ao aumento das disfuncionalidades e crises quer do ponto de vista económico e financeiro, quer social. Foram promovidos a democratas "personagens totalmente inescrupulosas que surgem como uma espécie de mafiosos entre primitivos e pós-modernos, encabeçando politicamente grupos de negócios cuja principal norma é, na medida do possível, não respeitar nenhuma norma."  Eis o retrato da direita.

Vale a pena face à alquimia económica que a direita espalha como uma receita milagrosa, recordar alguns dos conceitos do Manifesto dos economistas aterrorizados

Pelas regras da UE os Estados são obrigados a endividar-se nas instituições financeiras privadas que obtêm injeções de liquidez, a baixo custo do BCE. A finança tem portanto em seu poder a chave do financiamento dos Estados. Neste contexto, é incentivada a especulação, protegida pelas agências de notação financeira. 

Os Estados estão assim muito mais ameaçados pela fragilidade do modelo económico e financeiro que pela sua dívida pública. São opções ditadas pela ideologia, mas a submissão a esta ditadura não é aceitável, uma vez que já demonstrou a sua ineficácia económica e o seu potencial destrutivo no plano político e social.

A maior parte dos economistas que intervém nos media, fazem-no para justificar a submissão das políticas às exigências dos mercados financeiros. A lógica neoliberal é sempre a única que se reconhece como legítima, apesar dos seus evidentes fracassos. Fundada na hipótese da eficiência dos mercados financeiros, preconiza a redução da despesa pública, a privatização dos serviços públicos, a flexibilização do mercado de trabalho, a liberalização do comércio, dos serviços financeiros e dos mercados de capital, por forma a aumentar a concorrência em todos os domínios e em toda a parte… É este o centro da política de direita fundado em mentiras (as "falsas evidências").

- Os Mercados Financeiros São Eficientes -  Apesar de tudo o que aconteceu, persiste a ideia de que os mercados financeiros constituem o melhor mecanismo de afetação do capital. A crise é interpretada não como o resultado inevitável da lógica dos mercados desregulados, mas sim como um efeito da desonestidade e irresponsabilidade de certos atores financeiros, mal vigiados pelos poderes públicos. A ideia central é que a concorrência financeira estabelece preços justos, que constituem sinais fiáveis para os investidores, orientando eficazmente o crescimento económico. A vida veio justamente por em causa este dogma. A concorrência financeira não estabelece, necessariamente, preços justos. Pior: a concorrência financeira é, frequentemente, desestabilizadora e conduz a preços excessivos e irracionais, as chamadas bolhas financeiras. 

O principal erro da teoria da eficiência dos mercados financeiros consiste em transpor para os produtos financeiros, a teoria usualmente aplicada aos mercados de bens correntes. No caso dos mercados financeiros a situação é muito diferente. Quando o preço aumenta é frequente constatar não uma descida mas sim um aumento da procura! O lugar preponderante que os mercados financeiros ocupam não pode, portanto, conduzir a eficácia alguma. Mais do que isso, é uma fonte permanente de instabilidade, como demonstram de forma clara a série ininterrupta de bolhas desde há trinta anos:

Medida n.º 1: Limitar, de forma muito estrita, os mercados financeiros e as atividades dos atores financeiros, proibindo os bancos de especular por conta própria, evitando assim a propagação das bolhas e dos colapsos;
Medida n.º 2: Reduzir a liquidez e a especulação desestabilizadora através do controle dos movimentos de capitais e através de taxas sobre as transações financeiras;
Medida n.º 3: Limitar as transações financeiras às necessidades da economia real
Medida n.º 4: Estabelecer tetos para as remunerações dos operadores de transações financeiras.

2ª - Os Mercados Financeiros Favorecem O Crescimento Económico - A norma que dá à finança poder absoluto de liquidez sobre as empresas e os assalariados, permite aos capitais não satisfeitos, a qualquer momento, ir procurar rendimentos noutro lugar. Esta situação desequilibrada conduz a exigências de lucros irrazoáveis, na medida em que reprimem o crescimento económico e conduzem a um aumento contínuo das desigualdades salariais. Por um lado, as exigências de lucro inibem fortemente o investimento: quanto mais elevada for a rentabilidade exigida, mais difícil se torna encontrar projetos com uma performance suficientemente eficiente para a satisfazer. As taxas de investimento fixam-se assim em níveis historicamente débeis, na UE e nos Estados Unidos. Por outro lado, estas exigências provocam uma constante pressão para a redução dos salários e do poder de compra, o que não favorece a procura. 

Medida n.º 5: Reforçar significativamente os contrapoderes nas empresas, de modo a obrigar os dirigentes a ter em conta os interesses do conjunto das partes envolvidas. 
Medida n.º 6: Aumentar fortemente os impostos sobre os salários muito elevados, de modo a dissuadir a corrida a rendimentos insustentáveis; 
Medida n.º 7: Reduzir a dependência das empresas em relação aos mercados financeiros, incrementando uma política pública de crédito (com taxas preferenciais para as atividades prioritárias no plano social e ambiental.

3ª - Os Mercados São Bons Juízes do Grau de Solvência dos Estados - Um profundo erro quando compreendemos a natureza das avaliações feitas pelos mercados financeiros. Como não é eficiente, o mais provável é que apresente preços completamente desconectados dos fundamentos económicos. Um título financeiro é um direito sobre rendimentos futuros: para o avaliar é necessário prever o que será o futuro. Nada assegura que a avaliação dos mercados (isto é, os detentores do dinheiro guiados pelo máximo lucro) tenham alguma espécie de superioridade sobre as outras formas de avaliação. As agências de notação financeira atribuem classificações com grande subjetividade, alimentando a instabilidade, e lucros especulativos.

Medida n.º 8: As agências de notação financeira não devem estar autorizadas a influenciar, de forma arbitrária as taxas de juro dos mercados de dívida pública, baixando a notação de um Estado: a sua atividade deve ser regulamentada, exigindo-se que essa classificação resulte de um cálculo económico transparente;
Medida n.º 8 (b): Libertar os Estados da ameaça dos mercados financeiros, garantindo a compra de títulos da dívida pública pelo BCE.


 

Fuck The UE

 Não esquecer os acontecimentos recentes na Ucrânia.

 https://consortiumnews.com/2021/12/24/how-not-to-explain-the-ukraine-crisis/

 "Foda-se a UE" .

A subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland, que liderou o golpe de 2014 que derrubou o governo democraticamente eleito da Ucrânia e desencadeou a crise atual, foi convidada pela PBS NewsHour  para explicar o impasse na Ucrânia.

Como é habitual para os media ocidentais, a narrativa começou com o envolvimento da Rússia no leste da Ucrânia e a anexação da Crimeia, que ocorreu em março de 2014. A crise de fato começou uma semana antes com a derrubada violenta do presidente democraticamente eleito Viktor Yanukovych em fevereiro 22, 2014. Enquanto voavam acusações denunciando a agressão, invasão e anexação russas, não houve uma única palavra sobre o golpe de estado fomentado pelos Estados Unidos ou sobre o papel que Nuland desempenhou nele.

O Sr. Yanukovych tornou-se o alvo dos Estados Unidos que queriam uma mudança de regime. Culpa dele ? Ele recusou um programa de ajuda ocidental com medidas de austeridade e, em vez disso, aceitou um programa russo sem medidas de austeridade. O papel do subsecretário Nuland no golpe é uma parte essencial da história. (sua preparação teria realmente começado já em 2011, NdT

Enquanto os senadores John McCain e Chris Murphy apareciam publicamente em Kiev com o líder da oposição de extrema-direita Oleh Tyahnybok em apoio ao golpe, Nuland e o embaixador Geoffrey Pyatt distribuíam biscoitos a manifestantes antigoverno na praça Maidan. Isso equivale a parlamentares e diplomatas russos vindo a Washington para encorajar os manifestantes a derrubar o governo dos EUA.

Nos bastidores, durante um telefonema interceptado com Pyatt, Victoria Nuland pode ser ouvida planeando a composição de um governo para suceder o de Yanukovych. "Yats é o homem", diz ela, referindo-se a Arseniy Yatsenyuk, o líder favorito dos americanos para o povo ucraniano.

Em relação aos outros dois líderes da oposição, Vitali Klitschko e Oleh Tyahnybok, seu plano era mantê-los de fora, dizendo: "Eu não acho que Klitsch deveria entrar no governo" e "O que ele [Yatsenyuk] precisa é de Klitsch e Tyahnybok no lado de fora". Quanto aos interesses divergentes da Europa no resultado desta história, ela disse infame: " Foda-se a UE "

Em 13 de dezembro de 2013, Nuland disse à Fundação Americano-Ucraniana que Washington gastou US$ 5 bilhões em uma década para apoiar as "aspirações europeias" da Ucrânia, em outras palavras, mantê-la longe da Rússia.

Para Nick Schifrin, o dedicado repórter da PBS que o entrevistou, esse episódio foi irrelevante ou uma intromissão grosseira em seu estimado convidado. Ou então ele estava terrivelmente mal informado.

Enquanto os Estados Unidos davam severas advertências de contenção a Yanukovych, insurgentes neonazistas na vanguarda do movimento empilhavam bastões, armas e coquetéis molotov na Praça Maidan. Diante da rápida escalada da violência, um acordo foi negociado entre o governo e a oposição em 21 de fevereiro de 2014. Yanukovych aceitou uma divisão imediata do poder e eleições antecipadas. Em troca, a oposição concordou em acalmar a situação nas ruas.

A oposição não se desarmou como havia sido combinado. Atraídos pelo cheiro de sangue, voltaram à ofensiva no dia seguinte. Eles sobrecarregaram as forças de segurança e saquearam prédios do governo. Atiradores de elite em prédios ocupados pela oposição atiraram contra policiais e manifestantes. No final, mais de 100 pessoas morreram, incluindo mais de uma dúzia de policiais. Yanukovych e muitos de seus aliados do Partido das Regiões fugiram para salvar suas vidas. O governo democraticamente eleito da Ucrânia caiu em 22 de fevereiro.

26 de janeiro de 2022

Ainda dizem que o liberalismo não funciona

 Que o digam todos os Cotrins deste mundo . A OXFAM confirma

https://www.oxfam.org/es/notas-prensa/la-riqueza-de-los-diez-hombres-mas-ricos-se-ha-duplicado-mientras-que-se-estima-que

Em cada 26 horas um novo bilionário surge no mundo, enquanto as desigualdades contribuem para a morte de pelo menos uma pessoa a cada quatro segundos. 

Os dez homens mais ricos do mundo mais que duplicaram a sua fortuna de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão (a uma taxa de US$ 15.000 por segundo, ou US$ 1,3 bilhão). renda de 99% da humanidade e empurrou mais de 160 milhões de pessoas para a pobreza. 

"Se esses dez homens perdessem 99,999% de sua riqueza amanhã, ainda seriam mais ricos do que 99% das pessoas do planeta", disse Gabriela Bucher, diretora executiva da Oxfam International. “Atualmente, eles acumulam seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões de pessoas mais pobres.”

No novo relatório da Oxfam  Desigualdades Matam , divulgado hoje por ocasião da " Agenda de Davos " do Fórum Económico Mundial , a organização afirma que as desigualdades contribuem para a morte de pelo menos 21.000 pessoas por dia, ou dito de outra forma, uma pessoa a cada quatro segundos. Estas são estimativas conservadoras baseadas no número de mortes causadas globalmente pela falta de acesso aos serviços de saúde, violência de gênero, fome e crise climática.

"Nunca foi tão importante acabar com as desigualdades violentas e obscenas, recuperar o poder e a riqueza extrema das elites, inclusive por meio de medidas fiscais, para reintegrar esse dinheiro na economia real e salvar vidas", acrescentou Gabriela Bucher.

Desde o início da pandemia, os bilionários aumentaram suas fortunas em US$ 5 trilhões, mais do que nos últimos 14 anos. Este é o maior aumento na riqueza dos bilionários desde o início dos registros. Um imposto excepcional de 99% sobre os rendimentos extraordinários que os dez homens mais ricos obtiveram durante a pandemia poderia servir, por exemplo, para: 

  • Produzir vacinas suficientes para o mundo.
  • Financiar serviços universais de saúde e proteção social, financiar medidas de adaptação ao clima e reduzir a violência de género em mais de 80 países. 

E mesmo assim, esses homens ainda teriam US$ 8 bilhões a mais do que antes da pandemia.

“Os bilionários tiveram uma pandemia de luxo. Os bancos centrais injetaram trilhões de dólares nos mercados financeiros para salvar a economia, mas grande parte acabou nos bolsos de bilionários, que se aproveitaram dos mercados de ações em alta. As vacinas pretendiam acabar com essa pandemia, mas os governos dos países ricos permitiram que bilionários e monopólios farmacêuticos cortassem o fornecimento a bilhões de pessoas. Isso pode se traduzir em um aumento em todas as formas imagináveis ​​de desigualdade. A previsibilidade dessa situação é escandalosa e suas consequências são mortais”, acrescenta Bucher.

As desigualdades extremas são uma forma de violência econômica em que decisões legislativas e políticas que perpetuam a riqueza e o poder de uma elite privilegiada prejudicam diretamente a grande maioria da população mundial e nosso planeta. 

“A resposta do mundo à pandemia desencadeou essa violência econômica, principalmente contra mulheres e meninas, e pessoas em situação de exclusão e pertencentes a grupos racializados. Cada onda de COVID-19 traz um aumento na violência de gênero, ao mesmo tempo em que aumenta o volume de trabalho não remunerado que recai sobre mulheres e meninas”, diz Bucher.

  • A pandemia atrasou o caminho para a paridade: agora levará 135 anos para fechar a lacuna de gênero, e não 99 anos como se estimava antes de seu surto. Em 2020, as mulheres perderam US$ 800 bilhões em renda e há 13 milhões a menos de mulheres trabalhando agora do que em 2019. Coletivamente, 252 homens possuem mais riqueza do que o bilhão de mulheres e meninas que vivem na África, América Latina e Caribe.
     
  • A pandemia está afetando especialmente grupos racializados. Na Inglaterra, as pessoas de origem de Bangladesh tiveram cinco vezes mais chances de morrer de COVID-19 do que a população branca britânica durante a segunda onda da pandemia. No Brasil, os negros têm 1,5 vezes mais chances de morrer de COVID-19 do que a população branca. Nos Estados Unidos, 3,4 milhões de negros estariam vivos hoje se tivessem a mesma expectativa de vida da população branca do país, o que está diretamente ligado ao legado histórico de racismo e colonialismo. 
     
  • Espera-se que as desigualdades entre os países cresçam pela primeira vez em uma geração. Os países em desenvolvimento, privados de acesso a vacinas suficientes devido à proteção dos governos ricos aos grandes monopólios farmacêuticos, tiveram que cortar gastos sociais à medida que seus níveis de dívida aumentaram e agora enfrentam a possibilidade de adotar medidas de austeridade. A proporção de pessoas com COVID-19 que morrem do vírus nos países em desenvolvimento é cerca de duas vezes maior que nos países ricos.

“A pandemia do COVID-19 expôs a ganância econômica e política e as oportunidades que transformaram essas desigualdades extremas em um instrumento de violência econômica”, explica Bucher. "Após anos de pesquisa e campanha, a Oxfam chegou a esta conclusão chocante e irrespondível."

Apesar do enorme custo econômico de responder à pandemia, nos últimos dois anos, os governos dos países ricos se recusaram a aumentar os impostos sobre a riqueza dos mais ricos e continuaram a privatizar bens públicos, como a tecnologia necessária para produzir vacinas. Fomentaram os monopólios das grandes empresas de tal forma que, apenas durante a pandemia, o aumento da concentração de mercados ameaça ser maior em um ano do que nos 15 anos entre 2000 e 2015. 

As desigualdades estão no centro da crise climática, com as emissões de carbono dos 1% mais ricos mais que o dobro da metade mais pobre da humanidade. Isso contribuiu para as mudanças climáticas ao longo de 2020 e 2021, causando incêndios florestais, inundações, tornados, quebra de safra e fome.

"As desigualdades estão aumentando nessa escala e a taxa não é resultado do acaso, mas da escolha", diz Bucher. “Os modelos econômicos atuais não apenas nos expuseram mais ao impacto dessa pandemia, mas estão permitindo ativamente que aqueles que já são extremamente ricos e poderosos explorem essa crise em seu próprio benefício”.

O relatório destaca a importância que as duas maiores economias do mundo (Estados Unidos e China) começaram a considerar políticas para reduzir as desigualdades, incluindo a aplicação de alíquotas mais altas aos ricos e medidas para acabar com os monopólios. "Isso nos dá alguma esperança de que um novo consenso econômico possa surgir", enfatizou Bucher.

A Oxfam recomenda que os governos tomem imediatamente as seguintes medidas:

  • Recupere os lucros que os bilionários acumularam aplicando impostos permanentes sobre capital e riqueza para tributar a enorme riqueza que acumularam desde o início da pandemia.
     
  • Investir os trilhões de dólares que poderiam ser arrecadados com esses impostos por meio de gastos progressivos em serviços universais de saúde e proteção social, adaptação às mudanças climáticas e prevenção e programação da violência baseada em gênero.
     
  • Aborde as leis racistas e sexistas que discriminam as mulheres e grupos raciais e crie uma nova legislação baseada na igualdade de gênero para acabar com todas as formas de violência e discriminação. Todos os setores da sociedade devem definir com urgência políticas que garantam que mulheres, pessoas de cor e outros grupos oprimidos estejam representados em todos os espaços de tomada de decisão.
     
  • Revogue as leis que minam os direitos dos trabalhadores de sindicalizar e fazer greve e aplique padrões legais mais fortes para garantir sua proteção.
     
  • Os governos ricos devem suspender imediatamente as regras de propriedade intelectual que regulam a produção de vacinas COVID-19 para que mais países possam produzir vacinas seguras e eficazes para acabar com a pandemia.

Bucher afirma: “Não falta dinheiro, isso ficou claro quando os governos mobilizaram 16 bilhões de dólares para a resposta à pandemia. O que falta é vontade e imaginação para nos libertarmos do espartilho sufocante e letal que constitui o neoliberalismo extremo. Os governos devem ouvir os movimentos (como as greves climáticas estudantis e os ativistas Black Lives Matter e #NiUnaMenos, ou agricultores na Índia), que pedem justiça e igualdade".
 

Notas:

Você pode baixar o  relatório Inequalities Kill , o resumo e a metodologia que explica como a Oxfam calculou as estatísticas no relatório.

Os cálculos da Oxfam são baseados nas fontes de informação mais atualizadas e abrangentes disponíveis. Os números sobre as pessoas mais ricas do mundo são retirados da lista Forbes 2021. Os números de riqueza são retirados do Global Wealth Databook 2021 do Credit Suisse Research Institute. Os números sobre a renda dos 99% da humanidade vêm do Banco Mundial. 

Segundo a Forbes, em 30 de novembro de 2021, a riqueza dos dez homens mais ricos do mundo aumentou US$ 821 bilhões desde março de 2020. De acordo com a lista, os dez homens mais ricos são: Elon Musk, Jeff Bezos, Bernard Arnault e sua família, Bill Gates, Larry Ellison, Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Steve Ballmer e Warren Buffett.

Todos os valores são expressos em dólares americanos.

De acordo com o  Relatório Global de Diferenças de Gênero de 2021  do Fórum Econômico Mundial  , a pandemia atrasou o progresso no fechamento da lacuna de gênero, agora levando 135 anos, acima dos 99 anos anteriores.

A crise do COVID-19 fez com que as mulheres perdessem US$ 800 bilhões em renda em 2020 , um número que excede o PIB combinado de 98 países.

67.000 mulheres perdem a vida a cada ano devido à mutilação genital feminina, ou mortas pelo parceiro ou ex-parceiro .  

De acordo com dados do  Office for National Statistics England , na Inglaterra, as pessoas de origem de Bangladesh tiveram cinco vezes mais chances de morrer de COVID-19 do que a população branca britânica durante a segunda onda da pandemia.

De acordo com  dados da OCDE , no Brasil os negros têm 1,5 vezes mais chances de morrer de COVID-19 do que a população branca. 

Nos Estados Unidos  , 3,4 milhões de negros estariam vivos hoje se tivessem a mesma expectativa de vida da população branca do país .

A proporção de pessoas com COVID-19 que morrem do vírus nos países em desenvolvimento é  cerca de duas vezes maior que nos países ricos .

Apesar das fortes recomendações  mesmo do FMI e da  OCDE , muito poucos países ricos declararam sua intenção de introduzir ou aumentar os impostos sobre a riqueza.   

E haverá ainda quem diga que o capitalismo neo liberal é verde

O 1 % más rico de la población mundial ha sido responsable de más del doble de las emisiones de carbono que los 3100 millones de personas que conforman la mitad más pobre de la humanidad  durante un período de 25 años en el que las emisiones han alcanzado niveles sem precedente. Você pode baixar o relatório da Oxfam  Fighting Carbon Emissions Inequality .

Em 2030, a pegada de carbono do 1% mais rico do planeta será 30 vezes maior do que a compatível com o objetivo estabelecido no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C . A metade mais pobre da população mundial continuará a produzir emissões bem abaixo dos níveis necessários para permanecer abaixo de 1,5°C. Você pode baixar o  estudo Carbon Inequality in 2030 , encomendado pela Oxfam com base em investigações realizadas pelo Institute for European Environmental Policy (IEEP) e pelo Stockholm Environment Institute (SEI).
 

25 de janeiro de 2022

Os cinco erros da direita sobre o crescimento económico em Portugal

 Ricardo Paes Mamede

 Os cinco erros da direita sobre o crescimento económico em Portugal 
 
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Os partidos de direita apresentam-se a estas eleições com um discurso simples sobre a economia portuguesa. Afirmam que Portugal apresenta um crescimento medíocre comparado com os países do Leste europeu, que eram pobres e hoje são mais ricos que nós. E que essa diferença se deve às políticas adoptadas: liberais naqueles países, “socialistas” aqui. Logo, segundo a direita, é preciso liberalizar, privatizar e desregulamentar para Portugal crescer. 
 
Este discurso é simples e eficaz. É também errado, por cinco razões.
 
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#1. O desempenho das economias de Leste é menos diferente do português do que parece
 
As economias não crescem sempre ao mesmo ritmo – há momentos em que aceleram, outros em que abrandam. Nas economias menos avançadas, as acelerações devem-se quase sempre a factores externos e nem sempre são virtuosas. 
 
Na UE, todos os novos Estados membros passaram por um período de rápido crescimento económico nos anos que se seguiram à integração. Tal deve-se a três motivos principais: a abundância de fundos de coesão, a liberalização dos movimentos financeiros internacionais e os fluxos de investimento estrangeiro (que exploram as novas oportunidades de investimento e de produção a baixos custos). 
 
Isto aconteceu também a Portugal na década e meia que se seguiu à entrada na então CEE, em 1986. A este nível, Portugal não compara nada mal com os oito países da Europa de Leste que aderiram à UE em 2004: destes, só a Polónia teve uma taxa anual de crescimento superior à portuguesa nos 15 anos posteriores à integração europeia (ver gráfico). 
 
O problema vem depois – e não é por acaso. À medida que os rendimentos médios aumentam, o montante de fundos europeus diminui e as vantagens competitivas associadas aos baixos custos também. Os fluxos de financiamento externo invertem-se, então: se no início o capital entra para emprestar a juros baixos e investir em diferentes actividades, na fase seguinte o capital sai sob a forma de lucros, juros e amortização dos empréstimos entretanto contraídos. 
 
Quem julga que os elevados ritmos de crescimento dos países de Leste se vão manter ad eaternum enquanto a economia portuguesa estagna não presta muita atenção à história do crescimento económico. 
 
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#2. Os países de Leste tinham condições para crescer que nada têm que ver com “medidas liberais”
 
A direita defende que o rápido crescimento dos países do Leste europeu se deve a políticas liberais, em particular impostos baixos e um Estado de dimensões reduzida. Qualquer explicação para o crescimento económico que se baseia num único factor é de desconfiar – se assim fosse, os economistas não andavam há 250 anos a tentar compreender o fenómeno. Neste caso concreto, a explicação apresentada esquece alguns dos elementos essenciais.
 
A ideia de que os países de Leste tinham menos condições do que Portugal para crescer é simplesmente errada. Se há coisa que se sabe sobre o crescimento económico é que este tende a beneficiar muito das qualificações das pessoas – e os países de Leste têm desde há muitas décadas os níveis mais elevados de educação entre as nações europeias. 
 
Outro facto bem conhecido dos processos de crescimento diz respeito à importância do perfil de especialização dos países. E, ao contrário do que muitos sugerem, as economias que mais têm crescido no Leste europeu não eram pouco desenvolvidas: uma década antes de aderirem à UE (ou seja, quando ainda estavam na transição para o capitalismo), países como a Estónia, a Eslovénia, a República Checa, a Eslováquia e a Polónia tinham já um perfil de exportação mais sofisticado do que o de Portugal (ver outro gráfico, sobre o índice da complexidade económica da Universidade de Harvard, roubado ao Guilherme Rodrigues).
 
Às vantagens na educação e ao perfil de especialização, alguns países do Leste somam a proximidade histórica e geográfica a economias muito mais avançadas, de cuja força tendem a beneficiar. Os casos mais óbvios são a República Checa (que se tornou uma extensão da indústria transformadora alemã) e a Estónia (que se tornou um prolongamento da economia finlandesa). 
 
Ignorar todos estes factores – o impacto da integração europeia, os níveis de educação e de sofisticação tecnológica de partida, ou a proximidade a economias mais avançadas – para insistir na tese da abordagem liberal como factor de sucesso económico, só pode ser resultado de ignorância ou má fé.
  
#3. A estagnação económica em Portugal nada tem a ver com a “falta de liberalismo”
 
Falar em falta de liberalismo em Portugal como estando na origem da estagnação económica é um contrassenso. A “agenda liberal” tem estado bem presente nas políticas seguidas por sucessivos governos ao longo das últimas décadas. Nos últimos 30 anos:
• privatizou-se quase tudo o que havia para privatizar em Portugal: empresas industriais, bancos, seguradoras, empresas de transportes e de energia, até o tratamento de resíduos; 
• liberalizou-se o sistema financeiro e a circulação de capitais; 
• desregulamentaram-se por três vezes as leis do trabalho, facilitando os despedimentos, os horários flexíveis e os contratos atípicos;
• abriram-se as portas aos privados na saúde e na educação; 
• abdicou-se de uma moeda própria, deixando o financiamento do Estado nas mãos de especuladores privados internacionais. 
 
Neste contexto, dizer que o mau desempenho da economia portuguesa nas últimas décadas se deve a falta de "liberdade económica" e ao excesso de intervenção do Estado, faz mesmo muito pouco sentido. 
 
Para além disso, ignora aspectos cruciais para perceber a estagnação da economia portuguesa, como sejam:
• o processo de endividamento privado, decorrente da liberalização financeira e dos erros de supervisão bancária;
• os choques competitivos associados à entrada da China na OMC e o ao alargamento a Leste;
• a forte apreciação do euro face ao dólar até 2008; ou
• a forma desastrosa como as lideranças europeias lidaram com a crise da zona euro entre 2010 e 2012.
 
Só por indigência ou desonestidade intelectual se podem ignorar todos estes factores quando se explica a evolução da economia portuguesa nas últimas décadas.
  
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#4. Baixar os impostos e esperar que chova não nos vai salvar
 
Dificilmente um mau diagnóstico dá origem a uma boa prescrição. Quem tem uma má explicação para a estagnação da economia portuguesa não terá boas soluções para a resolver.
 
Os partidos da direita acreditam tanto que o fraco crescimento relativo de Portugal se deve à “falta de liberdade económica” que a sua receita para o crescimento é pouco mais o que baixar os impostos, reduzir os custos de contexto e esperar que chova.
 
O pressuposto é de que o crescimento depende do investimento privado e que o investimento privado depende dos custos de fazer negócios – custos fiscais, laborais, administrativos e outros.
 
É óbvio que nenhuma economia atrai investimento se as condições de fazer negócios forem miseráveis. Mas essa não é a situação de Portugal. Em nenhum dos domínios referidos Portugal apresenta indicadores muito distintos da média europeia. O conhecimento existente não nos permite afirmar que a redução dos impostos traria mais crescimento. Quanto à redução dos salários ainda menos: o seu impacto na procura interna seria imediato, enquanto o seu efeito na competitividade da maioria dos sectores exportadores seria residual. 
 
É possível e necessário melhorar muitos aspectos que afectam a vida das empresas: os custos da energia, alguma burocracia excessiva, a lentidão da justiça, entre outros. Mas estes problemas estão identificados há muito tempo e têm vindo a melhorar. Exija-se que melhorem ainda mais, claro, mas não se espere que venha daqui um salto qualitativo da economia portuguesa. 
 
Os principais entraves ao crescimento económico em Portugal são, em primeiro lugar, o perfil de especialização produtiva (baseado em actividades de baixo valor acrescentado e que enfrentam fortes pressões da concorrência externa) e, em segundo lugar, o elevado endividamento externo (que leva a que uma parte importante dos rendimentos gerados todos os anos seja canalizado para o exterior). 
 
 
Em quaisquer circunstâncias, seria sempre difícil ultrapassar estes obstáculos. No contexto português actual, estas dificuldades são acrescidas pelo facto de o país não dispor de instrumentos de política económica que outros usaram no passado – como a política monetária e cambial ou a política de comércio externo – estando o uso de outros instrumentos muito limitado pelas regras da UE (como a política orçamental, as empresas públicas ou as compras públicas).
   
Mais uma vez, só por indigência ou desonestidade intelectual se pode afirmar que todas estas dificuldades se resolvem aumentando a “liberdade económica”.
 
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#5. Se a história nos ensina alguma coisa é que é preciso mais – e não menos – intervenção pública
 
A direita defende a redução da presença do Estado na economia, vendo-a como um problema e não como parte da solução. Também este discurso é simplista. Na verdade, o Estado está sempre presente – como produtor, regulador, comprador ou prestador de serviços – e é sempre indispensável. 
 
O que distingue a direita liberal é a noção de que o Estado deve manter uma distância higiénica das empresas privadas, limitando-se a regulá-las de forma a promover a concorrência (ou simulá-la, quando ela não pode existir). Mas a história do desenvolvimento económico mostra-nos que a mudança estrutural e o reforço das capacidades produtivas dos países exigiram sempre um Estado muito mais interventivo, contribuindo activamente para a acumulação de conhecimentos e competências, e apoiando de forma estratégica sectores que se revelavam em cada contexto mais promissores. Isto aconteceu em países com regimes políticos muito distintos, em circunstâncias históricas diversas. É esta a história da Inglaterra da dinastia Tudor, dos EUA desde a independência até hoje, da Alemanha, da Coreia do Sul, do Taiwan, da China e de tantos outros. 
 
O problema de Portugal hoje não é Estado a mais nem Estado a menos. O problema é ninguém parecer saber muito bem o que fazer com o Estado e como – e aqui o problema não é só da direita. Mas isso fica para outra ocasião.





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