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17 de janeiro de 2022

Uma euforia idiota e o que se seguiu

 Em 30 de setembro de 1938, o primeiro-ministro francês Daladier regressa a Paris, vindo de Munique, após ter celebrado o acordo que entregava aos nazis uma parte da Checoslováquia. Ao sair do avião uma multidão espera-o festejando o acordo: "a paz tinha sido salva". Daladier olha-os espantado, esperava ser vaiado, e murmura: "Idiotas…se eles soubessem."

Esta cena faz evocar a histérica euforia que percorreu as hostes anti-marxistas desde a extrema-direita a uma dita extrema-esquerda (do anarquismo ao trotsquismo) juntando-os num triunfalismo inconsequente com o derrube do muro de Berlim em 9-10 de novembro de 1989. Em dezembro de 1991 a URSS deixava de existir.

As cliques de Gorbatchov e Ieltsin tinham vendido os povos da URSS e os países socialistas da Europa ao imperialismo. Mas não só. Outros países socialistas foram abandonados, como Cuba, Coreia do Norte, Vietname, Afeganistão (que encetava uma via de transformações socialistas). As dificuldades geradas em termos de relações económicas e apoios políticos, militares, etc., que estes países passaram depois, mostra a dimensão destes traidores e o baixo nível do seu humanismo. Claro que Gorbatchov foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz (Obama também...) Gorbatchov é popular no Ocidente pelas mesmas razões que é criticado ou mesmo odiado por muitos no seu país.

Na realidade, tal como em Munique se preparou a entrega aos nazis do domínio sobre a Europa, o derrube do Muro de Berlim preparou a entrega aos EUA do domínio mundial, como líder do grande capital transnacional.

O mundo está hoje no fio da navalha de uma guerra global, de dimensões e consequências inusitadas, e aqueles idiotas que festejavam o derrube do muro, devem hoje sentirem-se felizes pelo que conseguiram: ameaças de guerra, crises económicas e sociais, aumento das desigualdades e da pobreza.

O imperialismo na sua cegueira acreditou que afastado o "espectro do comunismo" que os afligia, as massas populares pertenciam-lhe política e socialmente. Era o "fim da História" e a "paz social" através da subordinação do proletariado, a "colaboração" de classes.

Contudo, o derrube do Muro de Berlim e o fim da URSS vieram exaustivamente confirmar as teses marxistas-leninistas: no capitalismo o humanismo só aparece quando tem de ceder perante a luta dos povos. Os avanços sociais e civilizacionais conquistados foram obtidos à custa de duras lutas e sacrifícios contra o capitalismo.

O que se passou a seguir demonstra, por um lado a incapacidade da social-democracia, presa nos seus preconceitos, ser incapaz de avaliar as consequências das suas orientações para os povos, os Estados, a própria democracia. Mostra como a sua degradação ideológica levou a cedências quase inimagináveis e compromissos com a exploração desenfreada, a corrupção, a agressão imperialista, os nazifascistas da Ucrânia.

Nos países ex-socialistas toda uma série de oportunistas, ONG ao serviço do imperialismo, indivíduos preparados pelos EUA, apossarem-se desses países, tal como o crime organizado. A devastação em termos humanos foi e é silenciada O comum das pessoas ignora-o, vai sendo iludida com diatribes russofóbicas e distraída com os subprodutos da "cultura" transmitida pelo imperialismo.

As crises que se desencadearam depois de 1989 levam-nos a lembrar esses acontecimentos e o êxito que a desinformação teve. Propagado pelos media, mesmo filmes e séries, somos levados a crer que milhares de pessoas teriam sido mortas na fronteira de Berlim. Na realidade foram mortas 74 pessoas, cidadãos aliciados nas redes organizadas pelos serviços secretos ocidentais para fugirem, por razões políticas ou por delitos comuns. Honecker lamentou-o até ao fim.

Porém quantos trabalhadores, estudantes, etc, foram mortos pelas polícias em manifestações na Europa Ocidental? Nos EUA entre 2015 e 2018 a polícia matou 3 309 pessoas. Em 2019, 1099. Quantos foram e são mortos ao tentar passar a fronteira entre os EUA e o México? Isto, sem contar com os milhões de vítimas do colonialismo, das guerras de agressão, ditaduras, para impor o capitalismo, do trabalho escravo e semiescravo.

Com o fim da RDA, Erich Honecker foi preso e julgado. Esperavam encontrar um homem diminuído e arrependido, porém desmontou todas as teses contra a RDA, tornando-se um libelo contra o capitalismo e defesa do socialismo, de tal forma que para não serem divulgadas, foi anulado devido ao "estado de saúde do réu", algo conhecido antes do julgamento se ter iniciado. Faleceu em 1994 no Chile (pátria do seu genro) na companhia deste, da mulher e da filha.

"A queda da RDA atingiu-me duramente, mas, tal como muitos outros companheiros de luta, não perdi a convicção de que o socialismo é a única alternativa para uma sociedade mais humana e mais justa. Desde a existência do capitalismo que os comunistas pertencem aos perseguidos neste mundo, mas não pertencem aos sem futuro. Hoje é considerado moderno etiquetar comunistas íntegros de estalinistas." Erich Honecker, (1)

Erich Honecker (1912-1993) operário e filho de operários, membro da Juventude Comunista alemã em 1926. Estudou em Moscovo no Colégio Internacional Lenine, em 1930 e 1931, regressando à Alemanha em 1931. Foi preso pelos nazis em 1935 sendo libertado no fim da guerra em 1945. Eleito Secretário-geral do Partido Socialista Unificado da Alemanha (PSUA) em 1971; Presidente do Conselho de Estado em 1979. Textos completos em: Notas da prisão (I)  (II)  (III)  (IV)  Honecker acusa

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