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28 de janeiro de 2022

Outro contexto: o do "não há alternativa" - 2

 

Resumimos mais algumas "falsas evidências" do Manifesto dos economistas aterrorizados em que se baseia a política de direita, sempre apresentadas como solução dos problemas económicos e sociais. São efetivamente as suas causas mais diretas.
4ª - A Subida das Dívidas Públicas é o Resultado de um Excesso de Despesas - O Estado endivida-se como um alcoólico que bebe acima das suas posses: é esta a visão que os "comentadores" propagam. Porém, o aumento da dívida pública deve-se aos planos de salvamento do sector financeiro e, sobretudo, à recessão provocada pela crise bancária e financeira.
Medida n.º 9: Efetuar uma auditoria pública das dívidas soberanas, de modo a determinar a sua origem e a conhecer a identidade dos principais detentores de títulos de dívida e os respetivos montantes que possuem.
5ª - 
É Preciso Reduzir as Despesas para Diminuir a Dívida Pública - A dinâmica da dívida pública não tem muito que ver com a de uma casa: a macroeconomia não é redutível à economia doméstica. Ora, se o crescimento da economia for mais débil do que a taxa de juro, a dívida cresce devido ao "efeito de bola de neve": o montante dos juros dispara, o mesmo sucedendo com o défice total (que inclui os juros da dívida). A própria taxa de crescimento da economia não é independente da despesa pública: no curto prazo, a existência de despesas públicas estáveis limita a magnitude das recessões ("estabilizadores automáticos"); no longo prazo, os investimentos e as despesas públicas (educação, saúde, investigação, infraestruturas…) estimulam o crescimento. A redução dos défices compromete a atividade económica, a dívida aumentará ainda mais. Os comentadores liberais sublinham que ajustes brutais nas suas contas públicas nos anos noventa e conheceram, de imediato, um forte salto no crescimento. Mas isso só é possível se o ajustamento se aplicar a um país isolado, que adquire competitividade face aos seus concorrentes.
Medida n.º 10: Manter os níveis de proteção social e, inclusivamente, reforçá-los (subsídio de desemprego, habitação…);
medida n.º 11: Aumentar o esforço orçamental em matéria de educação, de investigação e de investimento tendo em vista estabelecer as condições de um crescimento sustentável, capaz de permitir uma forte descida do desemprego.
6ª - 
A Dívida Pública Transfere o Custo dos Nossos Excessos para os Nossos Netos - Outra afirmação falaciosa, que confunde economia doméstica com macroeconomia. A dívida pública é um mecanismo de transferência de riqueza, mas tem sido sobretudo dos contribuintes comuns para os rentistas. As políticas fiscais anti-redistributivas agravaram, as desigualdades sociais e os défices públicos, obrigando as administrações públicas a endividar-se através dos mercados financeiros, de modo a financiar os défices gerados. Com o dinheiro poupado nos seus impostos, os mais ricos puderam adquirir títulos (portadores de juros) da dívida pública, emitida para financiar os défices públicos provocados pelas reduções de impostos… Estabeleceu-se um mecanismo de redistribuição invertido, das classes populares para as classes mais favorecidas através da dívida pública.
Medida n.º 12: Atribuir de novo um carácter fortemente redistributivo à fiscalidade direta sobre os rendimentos
Medida n.º 13 : Acabar com as isenções de que beneficiam as empresas que não tenham um efeito relevante sobre o emprego.
7ª - 
É Preciso Assegurar a Estabilidade dos Mercados Financeiros para Poder Financiar a Dívida Pública - Com a liberalização da circulação de capitais, o sector financeiro aumentou consideravelmente a sua influência sobre a economia. As famílias veem uma parte cada vez maior das suas poupanças ser drenada para o mercado financeiro através dos diversos produtos de investimento e do crédito à habitação. Na UE a financeirização da dívida pública encontra-se inscrita nos tratados. Os Bancos Centrais ficaram proibidos de financiar diretamente os Estados, que devem encontrar quem lhes conceda empréstimos nos mercados financeiros. Esta "repressão monetária" acompanha a "liberalização financeira". Trata-se de submeter os Estados, que se supõe serem por natureza despesistas, à disciplina dos mercados financeiros, que se supõe serem por natureza eficientes e omniscientes. Devido á crise o BCE teve em determinados momentos de comprar, obrigações de Estado à taxa de juro do mercado, de modo a reduzir os problemas tensões nos mercados de obrigações.
Medida n.º 14 : Autorizar o BCE a financiar diretamente os Estados (ou a impor aos bancos comerciais a subscrição de obrigações públicas emitidas), a um juro reduzido, aliviando desse modo o cerco que lhes é imposto pelos mercados financeiros;
Medida n.º 15: Reestruturar a dívida pública, limitando o seu peso a determinado valor percentual do PIB e estabelecendo uma discriminação entre os credores segundo o volume de títulos que possuam: os grande rentistas (particulares ou instituições) deverão aceitar uma extensão da maturidade da dívida, incluindo anulações parciais ou totais. É igualmente necessário voltar a negociar as exorbitantes taxas de juro dos títulos emitidos pelos países que entraram em dificuldades na sequência da crise.
8ª - 
A União Europeia Defende o Modelo Social Europeu - A visão dominante em Bruxelas é a de uma Europa liberal, cujo objetivo está centrado em adaptar as sociedades europeias às exigências da globalização. A "construção europeia" constitui nestes termos a oportunidade de colocar em causa o modelo social europeu e de desregular a economia. A prevalência do direito da concorrência sobre as regulamentações nacionais e sobre os direitos sociais no Mercado Único permitiu introduzir mais concorrência nos mercados de bens e de serviços, diminuir a importância dos serviços públicos e apostar na concorrência entre trabalhadores. A concorrência social e fiscal permitiu por sua vez reduzir os impostos, sobretudo os que incidem sobre os rendimentos do capital e das empresas e exercer pressão sobre as despesas sociais. Uma forma de impor aos povos as reformas neoliberais. A organização da política macroeconómica (independência do BCE face às estruturas de decisão política, Pacto de Estabilidade) encontra-se marcada pela desconfiança relativamente aos governos democraticamente eleitos. Pretende privar completamente os países da sua autonomia tanto em matéria de política monetária, como de política orçamental. O equilíbrio orçamental deve ser forçosamente atingido, banindo-se qualquer política deliberada de relançamento económico, pelo que apenas se pode participar no jogo da "estabilização automática". Os objetivos fixados para as finanças públicas não contemplam a especificidade da situação económica de cada país membro. A Europa Social continua a ser um conceito vazio de conteúdo, apenas se afirmando vigorosamente a Europa da Concorrência e a Europa da Finança.
Medida n.º 16 : Pôr em causa a livre circulação de capitais e de mercadorias entre a UE e o resto do mundo, renegociando se necessário os acordos multilaterais ou bilaterais atualmente em vigor;
Medida n.º 17 : Substituir a política da concorrência pela "harmonização e prosperidade", estabelecendo objetivos comuns vinculativos tanto em matéria de progresso social como em matéria de políticas macroeconómicas (através de grandes orientações de política social).
9ª - 
O Euro é um Escudo de Protecção Contra a Crise - A zona euro revelou um crescimento económico medíocre e um aumento das divergências entre os seus Estados membros em termos de crescimento, inflação, desemprego e desequilíbrios externos. A rigidez monetária e orçamental, reforçada pelo euro, concentrou todo o peso do ajustamento nos salários, promovendo a precariedade e a austeridade, reduzindo a componente dos salários no rendimento total e aumentando as desigualdades.
Alemanha conseguiu gerar importantes excedentes comerciais à custa dos seus vizinhos. Os excedentes comerciais alemães limitaram o crescimento de outros países. Os défices orçamentais e comerciais de uns são a contrapartida dos excedentes de outros. Os Estados membros não foram capazes de definir uma estratégia coordenada. A UE continua a exigir políticas salariais restritivas e a regressão sistemática dos sistemas públicos de reforma e de saúde, com o risco evidente de mergulhar os países na depressão e de suscitar tensões entre os diferentes países.
Medida n.º 18 : Assegurar uma verdadeira coordenação das políticas macroeconómicas e uma redução concertada dos desequilíbrios comerciais entre os países europeus;
Medida n.º 19 : Compensar os desequilíbrios da balança de pagamentos na UE através de um banco de pagamentos (que organize empréstimos entre países da UE);
Medida n.º 20 : Se a crise do euro conduzir à sua desintegração, instituir um regime monetário intraeuropeu capaz de reorganizar a absorção dos desequilíbrios entre as balanças comerciais.
10ª - 
A Crise Grega Permitiu Governo Económico e Verdadeira Solidariedade - As crises oferecem às elites financeiras e aos tecnocratas a tentação de pôr em prática a "estratégia do choque", tirando proveito da crise para radicalizar a agenda neoliberal. Mas esta política não tem sucesso: a diminuição das despesas públicas compromete o esforço necessário para assegurar despesas futuras (investigação, educação, prestações familiares), apoiar a a indústria. Os governos e as instâncias europeias recusam-se a estruturar a harmonização fiscal, que permitiria um necessário aumento de impostos sobre o sector financeiro, sobre o património e sobre os altos rendimentos;
Medida n.º 21 : Desenvolver uma fiscalidade europeia, designadamente de imposto sobre os lucros e um verdadeiro orçamento da UE, favorecendo a convergência das economias para uma maior equidade nas condições de acesso aos serviços públicos e serviços sociais nos diferentes Estados membros.
 Medida n.º 22 : Lançar europeu, tendo em vista encetar a reconversão ecológica

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