Linha de separação


5 de janeiro de 2022

Mais um erro geopolítico e pode ser o último

Os EUA declararam-se vencedores da chamada Guerra Fria. Detinham a mais bem equipada força armada do mundo, 750 bases militares em 80 países diferentes, a sua moeda equivalia ao ouro como reserva monetária do mundo. Acharam que desde então podiam definir as regras que geriam todos os países, controla-los e sancioná-los, agredi-los ou mesmo invadi-los se as violassem.

Nos EUA criaram-se duas suposições que se mostraram fatalmente erradas: que o monopólio dos EUA sobre o uso da força duraria para sempre e que os EUA poderiam continuar a impor uma ordem mundial "baseada em regras", as suas, que continuariam a fazerEstas ilusões terminaram com a intervenção da Rússia na Síria. Os EUA entraram numa nova era em que não podem mais mudar os regimes pela força das armas ou sanções. A inutilidade da força é agora evidente, depois dos danos causados neste século pelos conflitos ordenados, criados e apoiados pelos EUA no Afeganistão, Iraque, Síria, Iémen, Líbia, etc. (1)

O ressurgimento da Rússia não estava nos planos imperialistas. A Rússia foi buscar ao seu passado soviético na cultura, ciência, avanços militares, a força para se libertar do estatuto de colónia que lhe queriam impor e ser desmembrada. Simplesmente o estatuto a que os EUA se promoveram, não comporta nem admite potências como a Rússia e a China. Na Europa, os EUA estão agora empenhados em criar um conflito na Ucrânia. Mas outro erro estratégico dos Estados Unidos pode bem ser o último, bem como da Europa da NATO.

A política externa dos EUA é refém de uma claque venal, avarenta e, acima de tudo, imprudente das suas elites que na verdade, os neoconservadores de Washington têm um apurado instinto de sobrevivência. Desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, parecem ter aperfeiçoado a arte de fracassar. O governo dos EUA doou 2,4 mil milhões de dólares à Ucrânia desde 2014 “em assistência à segurança”, que inclui 450 milhões em 2021. Pode-se perguntar, qual o objetivo dos EUA para este investimento maciço? (2) Note-se que os "comentadores" dos media prolixos em referir tropas russas nas suas fronteiras, nada dizem sobre este acelerado investimento militar.

A política externa americana está em uma espiral de morte reacionária. Nunca um novo paradigma de política de “segurança nacional” foi nos EUA tão desesperadamente necessário, mas não há nem mesmo um vislumbre de salvação no horizonte - onde quer que se olhe, só se encontram políticas que oferecem pouca esperança de um futuro global viável. Urgentemente necessário é um novo paradigma de política externa de internacionalismo cooperativo centrado no combate às mudanças climáticas, controle da população, controle de doenças infeciosas, investimento para lidar efetivamente com a pobreza e a migração global, desmilitarização dramática e renúncia de armas, bem como tráfico de pessoas. (2)

Os Estados Unidos deveriam contribuir para a ressurreição e no fortalecimento das Nações Unidas, melhor capacitá-las a cumprir a missão de promover a segurança global, o antirracismo e os direitos humanos universais. Em vez de abordarem o poder soviético de forma realista, os Estados Unidos declararam e travaram uma guerra santa ideológica, que produziu pesadelos militarizados em todo o mundo, como na Indochina (ou na Coreia). Depois de alardear infantilmente "vitória" na Guerra Fria em 1991, os Estados Unidos fizeram a única coisa que os especialistas sobre a Rússia, nomeadamente George F. Kennan, advertiram: expansão da NATO, como uma aliança militar hostil anti-Rússia, em países da Europa Oriental e em ex-repúblicas soviéticas. (3)

Vladimir Putin comunicou aos EUA/NATO os limites das suas linhas vermelhas, esperando uma resposta concreta em meados deste mês. após o que, disse, tomara contra medidas "e depois será demasiado tarde para lhes perguntarem porquê." A China já declarou que apoia os interesses centrais da Rússia, ao mesmo tempo que se desenvolve aceleradamente novos armamentos e potencial nuclear. 

Em vez de ter o realismo para reconhecer os interesses nacionais russos ao longo de sua fronteira ocidental - e buscar um terreno comum de colaboração sobre os problemas mundiais e não intervenção nas políticas internas de cada um, os EUA estão a escolher o confronto, sob o risco de um conflito militar crescente.

1 - America's 'Suez moment': Another strategic mistake would be its last  -  Opinion: - (informationclearinghouse.info)

2 - James Carden Neocons bent on starting another disaster in Ukraine   -  Opinion: - (informationclearinghouse.info)

Sem comentários: