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20 de janeiro de 2022

Verdades que a Direita não gosta de ouvir

 

Verdades que a Direita não Gosta de ouvir

Para os que andam por aí a falar nas ultrapassagens dos países de leste, esquecendo entre outros o efeito do euro e as políticas do bloco central das negociatas, lembramos que a República Checa, não está no euro e já nos tinha ultrapassado antes dos governos PS/Costa. Se se consultar o Eurostat, constatamos também que a Estónia nos ultrapassou em 2014, isto é, no governo de Passos Coelho. A Lituânia, por exemplo em 2011, governo de Passos, tinha uma diferença para Portugal de 2,9, em 2014 essa diferença já se tinha reduzido para 0,4. A República Checa em 2011 estava 1,6 acima de Portugal, em 2014 a diferença já tinha aumentado para 6,7 e em 2015 para 7,1, tudo isto nos governos do PSD.

Com o governo PS/Costa, o país cresceu mais do que a média europeia, graças no essencial a medidas que o PS foi arrastado a tomar, designadamente pelo PCP e, que agora se enfeita com o resultado. Mas à medida que o PS foi ganhando força na AR, não só aumentou a sua arrogância e intransigência como quis voltar às velhas políticas do PS sozinho, isto é, continuar no essencial ao serviço dos grandes interesses.

 Na verdade, há poucos meses o Eurostat, organismo estatístico da União Europeia, divulgou uma nota em que analisava o Consumo e o PIB per capita dos diferentes países da União Europeia entre 2017 e 2019.

Para tal utilizou uma moeda comum denominada - Poder de Compra Standard (PPS) – que iguala o poder de compra das diferentes moedas nacionais e permite comparações entre si.

Por exemplo, se o PIB e o Consumo Familiar per capita, expresso na moeda nacional de cada país da União Europeia, for dividido pela sua Paridade de Poder de Compra (PPC), os valores resultantes neutralizam o efeito das diferenças de preços e, por conseguinte, indicam o volume real do PIB ou o Consumo Individual Efectivo (CIE), a um nível de preços comum. De uma forma simples as PPC não são mais do que preços que mostram o rácio dos preços para o mesmo bem ou serviço em diferentes países. Na prática a PPC permite-nos estabelecer a relação entre a moeda dos diferentes país da União Europeia, a partir do custo de um mesmo cabaz de compras nesses mesmos países.

Esse exercício desenvolvido pelo Eurostat quer para o PIB per capita em PPC, quer para o Consumo Individual Efectivo per capita das famílias, permite-nos numa mesma base comum aferir o nível de desenvolvimento de cada país (PIB) e o nível de bem estar material das famílias (CIE).

Da análise dos resultados então apresentados conclui-se que Portugal no final de 2019 apresentava entre os 27 países da União Europeia um PIB per capita e um Consumo Individual Efectivo bem inferior ao valor médio da União Europeia.

Arbitrando para esse valor médio um índice igual a 100, Portugal em 2019 apresentava um índice de CIE de 86 e de PIB de 79. Isto é, o Consumo Individual Efectivo das famílias portuguesas situava-se 14% abaixo da média da União Europeia, enquanto o PIB per capita se situava 21% abaixo da média da União Europeia.

Comparativamente com os restantes 26 países da EU, em consumo individual efectivo per capita, o nosso país ocupa a 15ª posição entre 27, enquanto em PIB per capita ocupa a 19ª posição.

Os dados divulgados pelo Eurostat sobre a evolução do Consumo Individual Efectivo (CIE) e o PIB per capita em PPC desde a criação do euro, mostram aquilo que temos vindo a reafirmar ao longo dos anos, Portugal desde 1999 registou um ritmo médio de crescimento muito baixo, de tal forma que tendo por base os dados agora divulgados, enquanto em 1999 o Consumo Individual Efectivo se situava 8% abaixo da média da União Europeia a 27, vinte um anos depois, como vimos atrás esse nível de CIE situa-se 14% abaixo da média. O mesmo se verifica com o PIB per capita que há 21 anos se situava 15% abaixo da média da EU e hoje se situa 21% abaixo dessa média.

Com a divulgação destes dados houve logo comentadores de direita que aproveitaram para atribuir aos dois últimos governos do PS as responsabilidades pela situação em que nos encontramos, dizendo mesmo que não era o facto de fazermos parte da zona euro que era responsável pela situação de estagnação que vivemos, mas antes as políticas esquerdistas prosseguidas. E de tal forma assim é, dizem eles, que existem países de leste que integram já a zona euro e esses países continuam a crescer a bom ritmo. Será isto verdade? Vejamos o que estes dados nos mostram sobre a evolução do PIB e Consumo Individual Efectivo per capita em PPC.

Se olharmos para os onze ex-países de leste que actualmente integram a UE (Bulgária, Croácia, Estónia, Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia e República Checa e Roménia), verificamos que seis deles que não aderiram ainda à zona euro (Bulgária, Croácia, Hungria, Polónia, República Checa e Roménia), crescem desde 1999 a um ritmo médio anual superior ao dobro da média da zona euro e os restantes cinco (Estónia, Lituânia, Letónia, Eslovénia e Eslováquia) que aderiram em momentos diferentes ao longo dos últimos 15 anos, desde que aderiram baixaram consideravelmente o seu ritmo médio anual de crescimento, mas mesmo assim quase sempre superior ao da média da zona euro.

Há três grandes conclusões que neste quadro não podem deixar de ser tiradas.

A primeira, de que a não adesão ao euro tem permitido aos ex-países de leste que resistiram até agora a dar esse passo, crescerem a um ritmo médio anual 3 a 4 vezes superior ao da média da zona euro e assim aproximarem-se cada vez mais em PIB e CEI per capita dos valores médios já alcançados na União Europeia, enquanto todos aqueles ex-países de leste que deram já esse passo de aderirem ao euro, crescem hoje a um ritmo muito mais baixo e essa aproximação é cada vez mais lenta.

A segunda, de que estes dois indicadores PIB e CEI per capita em PPC vêm confirmar aquilo que a nossa realidade económica e social vem demonstrando nos últimos 21 anos, Portugal encontra-se hoje mais longe da média da União Europeia, do que se encontrava quando em 1999 por vontade do PS, do PSD e do CDS aderimos ao euro.

A terceira e que responde às vozes de direita, que constatando o baixo ritmo de crescimento de Portugal nos últimos vinte e um anos, concluem que Portugal já foi hoje ultrapassado por eles, lembrar-lhes que se a situação do nosso país é preocupante, ela já foi pior no período de 2011 a 2015 em que com a direita no poder e a troika no nosso país, o fosso com os ritmos de crescimento dos países de leste atingiu níveis nunca antes vistos.   

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