O sr. Mário Crespo faz o
habitual: quando a direita está em desvantagem, intervém a seu favor e de facto
o programa deixa de ser de ser “frente a frente” (pouco mais de 10’ para
responder a distorções estatísticas e propaladas mentiras). O sr. Mário Crespo,
assume lamentavelmente o papel pouco
sério de comprometido com a direita, subvertendo a imparcialidade do momento, fazendo-se
eco de deformações populistas – talvez por influência dos seus recorrentes
convidados - tentando argumentar com exceções – o que é sempre intelectualmente
desonesto.
O sr. Crespo tentando arranjar
justificação para a redução dos apoios sociais – o que não lhe compete – aponta
eventuais fraudes, ou seja, como referiu Carvalho da Silva, considerar os pobres
tendencialmente desonestos.
A consciência social do
governo é a versão “pós-moderna” do lema do fascismo para os “pobres”: “os que
podem aos que precisam”. Consiste em dar umas migalhas à miséria, à custa dos
pobres, ds menos pobres e da classe média, deixando os “intocáveis” livres para
a fraude, perdões fiscais, fuga de lucros para paraísos fiscais. Nestes não se
toca, enquanto se derramam lágrimas de crocodilo quanto aos "sacrifícios para
todos" e à “compreensão pelas medidas duras a que a situação obriga”, etc, etc.
A culpa vai para o PS, omitindo todo o apoio do PSD ao que aqui nos conduziu.
Não admira que o número de multimilionários em Portugal não só cresceu em número para 870
indivíduos (mais 10,8%) como aumentou o valor global das suas fortunas, de 90
para 100 mil milhões de dólares (mais 11,1%), cerca de 45% do PIB!
É esta a “consciência social do governo”:
cortes nos salários de 675 € brutos, menos de 600€ líquidos, e faz alarde das
despesas em cantinas sociais (“a sopa dos pobres” do antigamente) obedecendo
afinal ao que o neoliberalismo consente.
É o que nos refere o
historiador Valério Arcady (1): “ O Banco Mundial elaborou propostas de medidas
sociais de emergência, rendimento mínimo de sobrevivência, distribuição de bolsas
alimentares e outros programas focados (não universais) semelhantes. O seu
objetivo foi manter sob contenção o mal-estar dos sectores populares mais
vulneráveis.”
Refere ainda que neste
sentido foram feitas experiências na Colômbia e no Brasil “para verificar o
grau de controlo que a distribuição de uma cesta básica ou dinheiro podem
conseguir, inibindo ou impedindo a livre auto-organização das pessoas na defesa
dos seus direitos.
“São cientistas sociais
convocados a pensar como manter o domínio político de massas populares
pauperizadas.”
Consciência social, não,
apenas hipocrisia social. Eis o que o neoliberalismo tem para oferecer.
1
– A segurança social é sustentável, coord. Raquel Varela, Ed. Bertrand, 2013, p. 367
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