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26 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA SOCIAL OU HIPOCRISIA SOCIAL?

“Frente  a Frente” na SIC – Notícias, segunda –feira 25/11. M. Carvalho da Silva confronta o sr. Marco António Costa com dados divulgados no Relatório do Observatório das Políticas da Família que mostram o generalizado aumento da pobreza e a drástica redução de apoios sociais por parte deste governo. O sr. M. Costa responde com “as preocupações sociais deste governo” referindo os aumentos das pensões mais baixas, nos 200 ou 300 €: 4,1% em 3 anos. Carvalho da Silva responde que descontando a inflação em termos reais são apenas alguns cêntimos por dia.
O sr. Mário Crespo faz o habitual: quando a direita está em desvantagem, intervém a seu favor e de facto o programa deixa de ser de ser “frente a frente” (pouco mais de 10’ para responder a distorções estatísticas e propaladas mentiras). O sr. Mário Crespo,  assume lamentavelmente o papel pouco sério de comprometido com a direita, subvertendo a imparcialidade do momento, fazendo-se eco de deformações populistas – talvez por influência dos seus recorrentes convidados - tentando argumentar com exceções – o que é sempre intelectualmente desonesto.
O sr. Crespo tentando arranjar justificação para a redução dos apoios sociais – o que não lhe compete – aponta eventuais fraudes, ou seja, como referiu Carvalho da Silva, considerar os pobres tendencialmente desonestos.
A consciência social do governo é a versão “pós-moderna” do lema do fascismo para os “pobres”: “os que podem aos que precisam”. Consiste em dar umas migalhas à miséria, à custa dos pobres, ds menos pobres e da classe média, deixando os “intocáveis” livres para a fraude, perdões fiscais, fuga de lucros para paraísos fiscais. Nestes não se toca, enquanto se derramam lágrimas de crocodilo quanto aos "sacrifícios para todos" e à “compreensão pelas medidas duras a que a situação obriga”, etc, etc. A culpa vai para o PS, omitindo todo o apoio do PSD ao que aqui nos conduziu.
Não admira que o número de multimilionários em Portugal não só cresceu em número para 870 indivíduos (mais 10,8%) como aumentou o valor global das suas fortunas, de 90 para 100 mil milhões de dólares (mais 11,1%), cerca de 45% do PIB!
É esta a “consciência social do governo”: cortes nos salários de 675 € brutos, menos de 600€ líquidos, e faz alarde das despesas em cantinas sociais (“a sopa dos pobres” do antigamente) obedecendo afinal ao que o neoliberalismo consente.
É o que nos refere o historiador Valério Arcady (1): “ O Banco Mundial elaborou propostas de medidas sociais de emergência, rendimento mínimo de sobrevivência, distribuição de bolsas alimentares e outros programas focados (não universais) semelhantes. O seu objetivo foi manter sob contenção o mal-estar dos sectores populares mais vulneráveis.”
Refere ainda que neste sentido foram feitas experiências na Colômbia e no Brasil “para verificar o grau de controlo que a distribuição de uma cesta básica ou dinheiro podem conseguir, inibindo ou impedindo a livre auto-organização das pessoas na defesa dos seus direitos.
“São cientistas sociais convocados a pensar como manter o domínio político de massas populares pauperizadas.”
Consciência social, não, apenas hipocrisia social. Eis o que o neoliberalismo tem para oferecer.
1 – A segurança social é sustentável, coord. Raquel Varela,  Ed. Bertrand, 2013, p. 367

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