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1 de março de 2019

A melhoria da distribuição do Rendimento Nacional sustenta crescimento

INE confirma, procura interna sustentou crescimento em 2018
Os dados divulgados pelo INE, sobre a evolução da nossa economia em 2018, confirmam um crescimento económico no último ano de 2,1% e nos três anos da actual legislatura um crescimento médio anual de 2,3%, depois de na legislatura anterior a nossa economia ter caído em média 0,6% ao ano.
Para a melhoria registada na nossa situação económica contribuiu positivamente a procura interna, com um crescimento médio nos últimos 3 anos de 2,6%, enquanto a procura externa líquida (crescimento das exportações menos o crescimento das importações) caiu em média neste período 0,4%.
Estes dados confirmam também que dentro da procura interna foi determinante a evolução do consumo das famílias, que representando cerca de 63% do PIB cresceu nos últimos 3 anos em média 2,5% ao ano, bem como a evolução positiva que se vem registando no investimento, a qual por sua vez não é alheia à melhoria registada no rendimento das famílias.
Depois de um longo período de congelamento do salário mínimo nacional, de congelamento de pensões de reforma, de congelamento e cortes nos salários na administração pública, de cortes no valor hora do trabalho extraordinário e suplementar, de cortes no subsídio de desemprego e em outros apoios sociais, de aumento da carga fiscal sobre o trabalho (IRS), as várias medidas que foram sendo tomadas na actual legislatura de reposição de muitos dos direitos dos trabalhadores, permitiram aumentar o rendimento disponível das famílias e desta forma induzir um crescimento da procura interna, dinamizando-se a actividade económica, por via do crescimento do emprego, do investimento e do consumo.

Depois da adesão ao euro 1999, a nossa economia conheceu um período de baixo crescimento e estagnação económica até 2008. A partir deste ano com os impactos da crise económica e financeira internacional e com os resultados desastrosos das políticas económicas, prosseguidas pelos governos do PS até 2011 e aprofundadas com a chegada da troika ao nosso país e o governo PSD/CDS, Portugal entrou num longo período de recessão e estagnação de que só na actual legislatura se começou a libertar.
Dez anos após o início da última crise económica e financeira, só agora o nosso Produto Interno Bruto em termos reais ultrapassou o valor registado em 2008, o que é bem elucidativo do impacto extremamente negativo que esta última crise teve sobre o nosso tecido económico e social. Uma leitura um pouco mais atenta e desagregada das várias variáveis macroeconómicas mostra-nos que o comportamento do consumo das famílias, do consumo do Estado, do investimento público e privado, das exportações e das importações, foi ao longo destes últimos dez anos bem díspar.
Enquanto o consumo das famílias têm hoje um nível idêntico ao de há dez anos atrás, o consumo do Estado está ainda cerca de 5% abaixo, o investimento é cerca de 20% inferior, as exportações têm hoje um nível cerca de 50% superior e as importações estão 25% acima. O nosso país demorou dez anos para em termos reais conseguir atingir um nível de produção idêntico ao de 2008, mas o PIB que temos hoje tem uma estrutura bem diferente e em minha opinião bem pior.
O nosso país tem hoje uma estrutura económica bem mais depende do exterior do que tínhamos antes, se o consumo das famílias tem um nível idêntico, já o nível de consumo público é inferior e o investimento (público e privado) está hoje a um nível bem mais baixo (cerca de 20%), enquanto as exportações cresceram neste período 50% e as importações cerca de 25%.
Os dados macroeconómicos agora divulgados mostram-nos que foi possível nos últimos três anos com as alterações de política económica implementadas, por a nossa economia a crescer a um ritmo relativamente sustentável e ligeiramente acima de 2%, mas a comparação a mais longo prazo mostra-nos que são enormes as debilidades desse crescimento económico. Os níveis de investimento público e privado (17,6% do PIB) são hoje muito inferiores aos que tínhamos quando aderimos ao euro (29%) e quando se iniciou a crise de 2008 (23,6%) e se é verdade que as exportações representam hoje 43,6% do PIB, o valor mais elevado de sempre, também é verdade que o nível de importações atingiu um patamar nunca antes alcançado 43,5%, o que faz com que o nosso país mais do que nunca esteja dependente do exterior para satisfazer todas as suas necessidades económicas e sociais.
A crescente debilidade do nosso aparelho produtivo verificada ao longo das últimas décadas, em especial após a adesão à CEE e acentuada com a adesão ao euro, fez aumentar os nossos níveis de dependência dos mercados externos de bens e serviços. Portugal é hoje um país fortemente dependente do comportamento da procura e da oferta nos nossos principais parceiros comerciais, sejam eles a Espanha, a Alemanha, a França, o Reino Unido, a Holanda, a Bélgica ou outros mercados fora do espaço comunitário, o que não pode deixar de ser motivo de grande preocupação para o país.
Mais do que nunca é importante que o nosso país se possa libertar das amarras do défice e da dívida que nos são impostas pela União Europeia, para que o país disponha dos recursos financeiros de que tanto necessita para que aposta apostar na renovação e ampliação do nosso aparelho produtivo, no aumento do poder de compra das classes trabalhadores, na melhoria das nossas infraestruturas produtivas, no aumento da produção nacional, na substituição de importações por produção nacional e no aumento das nossas exportações e em especial, nas exportações de elevado valor acrescentado.
Só assim o nosso país poderá crescer de forma equilibrada e sustentada a médio e longo prazo.
CAE, 1 de Março de 2019
José Alberto Lourenço      

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