Linha de separação


1 de abril de 2015

As eleições em França e a decadência da Europa

A França é um país central para a política da UE, de todo o continente e não só. Por razões históricas e culturais é muito importante para Portugal. Por isso as eleições francesas merecem uma reflecção.
Com quase 50% de abstenção, um reciclado Sarkozy que a comunicação controlada foi recuperar aos alfobres do descrédito teve 27,5% dos votos, o PSF caiu para 21,5%, a FN teve 25,2% a Frente de Esquerda (com o PCF) 9,4%. Os dados referem-se à primeira volta, já que na segunda há a deslocação do “voto útil”,  por exemplo o PM do PSF (Manuel Valls) a fazer descarada propaganda por Sarkozy em nome do “republicanismo”. Não admira, são ambos neoliberais e sem reservas em relação aos “neocons” dos EUA.
O PCF em tempos o segundo maior partido de França entre os 25 e 30% dos votos, quando a abstenção era mínima, recolhe os frutos do seu “europeísmo, com 48% de abstenção numa classe operária dizimada pelo neoliberalismo e a desindustrialização.
Em maio de 2012, o PSF tinha uma maioria de deputados, a maioria dos departamentos, milhares de municípios, incluindo Paris. O governo estava nas suas mãos. Para quê? Para prosseguir a política de Sarkozy. Que se preparara para o substituir e prosseguir as mesmas políticas.
Hollande apoia os neonazis de Kiev e preparava-se para intervir militarmente na Síria. Sarkozy com Berlusconi fez o jeito aos EUA para destruir a Líbia, massacrando dezenas de milhar de inocentes em raides aéreos.
“A Europa está numa ditadura de facto. Na Europa está a desmantelar-se a democracia e é lógico que isto esteja a ocorrer. É a única maneira que as autoridades têm de garantir que se possam continuar a aplicar políticas cujo fracasso é indisfarçável e assim beneficiar uma minoria muito poderosa que vive de um modelo social desigual e injusto.” (Juan Torres López http://resistir.info/europa/lopez_28fev13.html )
Estas eleições são um claro exemplo da tragédia económica, social, cultural da UE sob a hegemonia alemã e a tutela imperialista dos EUA. A pobreza aumenta, os direitos dos trabalhadores são eliminados, políticas repressivas são popstas em prática. A economia, como um corpo debilitado, não reage, apesar dos milhares de milhões despejados pelo BCE todos os meses.
E a FN de Marine Le Pen ?
Numa entrevista antes das eleições um entrevistador acusou-a de ter o programa do PCF dos anos 70, de ser de extrema-esquerda e querer “o socialismo num só país”. Ela responde que cita De Gaulle. Sarkozy acusou-a de ter um programa de “extrema-esquerda”. Isto só mostra a degradação do debate político na UE.
Todos os fascismos se reclamaram de sociais e nacionais tal como a FN. Mas há diferenças no discurso de MLP que mostram a sua orientação para um gaullismo, apoiando a Rússia e Bacshar-al-Assad, criticando às políticas dos EUA.
A FN tem nas suas hostes gente declaradamente neonazi e fascista. Alguns foram demitidos ou suspensos por declarações públicas nesse sentido. Mas De Gaulle também teve colaboradores próximos da extrema-direita (G. Bidault, J. Soustelle, por ex.) e foi levado ao poder com o apoio da colonial-fascista OAS – que mais tarde o quis matar.
Enfim, a ascensão da FN – como a de todos os fascismos no passado – não é senão um sintoma da decadência da UE, liderada por gente enfeudada aos interesses do grande capital. Gente sem princípios ideológicos, intelectualmente medíocre, politicamente degradada: os políticos da “construção europeia”, que está a destruir os países e a sacrificar os seus povos.

Sem comentários: