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15 de março de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 2

2 – O SOCIALISMO DO SÉCULO XXI
No final do século passado, consciências atormentadas angustiavam-se na procura do “socialismo do século XXI”. Foi uma época em que certa intelectualidade brilhava tanto mais (como ainda hoje…) quanto mais vazio fosse o seu discurso, pia e respeitosamente escutados nos seus generosos tempos de antena.
Foi o tempo dos “novos paradigmas (quais?) da “modernidade” e como tal não chegava para espíritos de tão largos horizontes refugiavam-se na “pós-modernidade”. O lacinho nesta embalagem vazia: foi então uma certa ”3ª Via”.
Para colorir a o cinzentismo das perspectivas acusavam-se os que mostravam como o “rei ia nu” de dinossauros, de ortodoxos, etc.
Hoje já sabemos em que consiste o socialismo do século XXI: um mau “remake” do filme “Back to the future”. De facto, o futuro nos actos dos seus epígonos é deitar fora tudo o que os povos conseguiram de direitos e desenvolvimento humano e voltar ao liberalismo puro e duro do século XIX.
O sr. Tony Blair foi um precursor. A sua “3ª Via” consistiu apenas ir mais longe nos trilhos da sra. Tatcher: decretou que as diferenças entre esquerda e direita eram obsoletas e assumiu a teoria e a prática da sua anterior adversária política. Lá como cá, o socialismo do século XXI teve e tem por objectivo privatizar tudo o que dê lucro – quem trabalha que pague os défices públicos, e não se queixe. Modernizar a administração, é reduzir salários e despedir trabalhadores da função pública – por ex. forçando-os à reforma ou não lhes renovando contratos – e entregar contratos milionários a consultores privados.
Enquanto o desemprego aumenta e os direitos sociais são reduzidos drasticamente o ornamento retórico desta a farsa política, é “eficácia económica e justiça social” e quando isto deixa de convencer quem quer que seja temos “politica de responsabilidade” e “compromissos internacionais”. Então é caso para dizer: que raio de responsabilidades e compromissos é que vocês assumem!
Porém nem tudo é mau neste “paradigma”: os lucros das maiores empresas e a parcela de rendimento da camada privilegiada (os intocáveis) sobem constantemente.
O argumento mais utilizado pelos epígonos do “socialismo do século XXI” é acusar de irrealistas as medidas que não podem ser contestadas por serem eminentemente justas. Justificam-se então com “a política do possível” e com o “socialismo realista”.
John Keneth Galbraith, responde-lhes: “ Quando se diz que alguma coisa é importante e sensata, mas politicamente impraticável, deve compreender-se que esta é a forma mais comum de proteger um interesse socialmente adverso”.
E já agora lembremos o que Antero Quental dizia à comissão eleitoral do PS em 1880:
“Haverá entre os partidos burgueses, ainda entre os que se reputam de mais radicais um só que subscreva tal programa? Não há, porque ele implica a destruição da sociedade de que eles são os naturais representantes. Radicais abstractos, os jacobinos recuam diante desta tremenda realidade com tanto horror como os conservadores. Um jacobino é um conservador incoerente com frases de demagogo. (…) Burgueses radicais a vossa república não é mais que a república do capital assim como a monarquia dos conservadores não é mais que a monarquia do capital”
Mas de que programa falava Antero?
Falava de “alteração radical da ordem económica” ,“o fim do reinado da usura, a soberania do trabalho organizado, a igualdade económica, a organização do crédito como função colectiva”.
Não podia ser mais actual, embora venha do século XIX…
Sim, talvez isto pudesse constituir uma base séria para um “socialismo do século XXI”.
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A seguir: É mais barato importar que produzir?

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