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18 de março de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO – 3

3 - É MAIS BARATO IMPORTAR DO QUE PRODUZIR? –I (*)
Consideremos uma produção importada que custa 100, e que uma produção nacional equivalente tem o preço de mercado, de 120. Portanto mais 20%.
Consideremos que a produção nacional pode decompor-se assim:

C (capital fixo) – 60, dos quais:

C importado
30
C produção nacional
30
V (salários)
30
M (mais-valia)
30
TOTAL
120


Vejamos as coisas tendo em consideração, o lado macroeconómico e social da economia.
ANÁLISE DO PONTO DE VISTA DOS CUSTOS
Considerando que existe uma divida externa que é paga com 7% de juros, as importações terão de ser valorizadas com um factor de 1,07.
Portanto o custo macroeconómico e social das importações será:
30X1,07 = 32,1.
- Ora a componente de produção nacional tem também uma parte importada que vou considerar na mesma proporção (0,25%) do preço total. Assim a componente importada na parte C da produção nacional corresponde a:
30X0,25X1,07 = 8,03
- Os restantes 30X0,75 repartem-se na sociedade por salários e mais-valia.
Havendo desemprego, estagnação económica, baixo nível de poupança e investimento, o acréscimo de produção permite reduzir o desemprego, o Estado deixa de pagar subsídios (como deveria pagar…), passa a receber mais impostos, além de outros factores estratégicos, mais adiante discriminados, mas que não fazemos intervir aqui. Assim o valor social atribuído ao rendimento distribuído pela produção nacional será – vou admitir – 0,5 do seu custo empresarial. Por outras palavras, valorizo em 50% o benefício social e macroeconómico do rendimento distribuído. Assim, em termos de custo social devo contabilizar:
30X0,75X0,5=11,25
Logo, do ponto de vista social o valor de C será
C = 32,1 + 8,03 + 11,25 = 51,38
Salários
Pelas razões apontadas quanto à redução do desemprego, melhoria da distribuição do rendimento, etc., o seu custo/benefício social é de 0,5.
S = 30 X 0,5 = 15
Mais valia
M incorpora o lucro empresarial, os impostos e os juros necessários ao financiamento da produção. Note-se ainda que no nosso país estamos actualmente numa situação de subaproveitamento das capacidades produtivas e desemprego, pelo que regra geral não seriam necessários novos investimentos de raiz.
Se tal for necessário o cálculo passaria a ter como análise prévia a avaliação da eficiência social dos investimentos, que é no fundamental uma escolha entre várias opções de aplicação dos fundos disponíveis
Assim, vou considerar que o custo social de M, terá um coeficiente de 0,5. O que nas condições de justa tributação e correctas políticas de crédito, adequada defesa da produção nacional, controlo da transferência de capitais para o exterior, será adequado e sobretudo válido no caso de PME’s.
M = 30 X 0,5 = 15
O custo social total da minha produção nacional será portanto:
32,1 + 8,03 + 11,25 + 15 + 15 = 81,38
Ou seja, a produção nacional era mais cara 20%, porém na realidade do ponto de vista social, macroeconómico, será de 107 / 81,38 = 1,31, ou seja, 31 % mais cara.
Outros factores de natureza social podiam ter sido introduzidos, melhorando a avaliação a favor da produção nacional, aspectos que na teoria das “vantagens comparadas” não existem, como:
- Redução dos desequilíbrios regionais
- Redução das desigualdades sociais (redistribuição do rendimento)
- Melhoria da estrutura produtiva
- Aproveitamento de recursos nacionais
- Desenvolvimento tecnológico
- Potencial de aumento das exportações
- Redução das dependências
São factores de natureza estratégica que devem ser considerados muito especialmente nas decisão de investimento público ou nos apoios a conceder ao investimento privado.

(*) – O problema da dívida radica em algo muito mais simples e evidente: nos défices da Balança Comercial. Não dizemos que seja a única causa, mas é a fundamental: a tal condição “sine qua non").
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A seguir: 4 - É mais barato importar do que produzir? –II

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