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12 de setembro de 2011

ACTUALMENTE EM CENA: REPOSIÇÃO DE DUAS PEÇAS COM DIFERENTES ACTORES

Com evidente desagrado do público estão em cena duas peças já vistas mas que com outra encenação e diferentes actores pretendem passar por novas, trata-se de “O PS na oposição” e “Viagem do Primeiro Ministro à Alemanha”.
Quanto á primeira, podemos agora ver dirigentes do PS a criticarem, embora com comedida indignação e configurado espanto, as medidas tomadas pelo governo: “Estão para além do acordado com a troika” – declamam.
No teatro desta política de faz de conta não espanta e já nem choca: fazem o costume, não sabem representar de outra maneira. É apenas mudança de cena, com o mesmo cenário e novos protagonistas. O PS faz agora o papel que o PSD e o CDS faziam na oposição, muito preocupados com as famílias, a educação, a saúde, o futuro dos jovens.
Meus senhores, não se finjam indignados, sabemos que o vosso “jogo democrático” é teatro, em que a encenação e a produção está a cargo da oligarquia financeira e monopolista, vós maus actores não passais de fantoches em que os srs. professores e comentadores avençados na TV e jornais são corifeus.
O desempenho do PS faz lembrar uma cena da peça de J.P. Sartre, “Le diable e le bon Dieu”, passada no tempo das guerras religiosas na Alemanha, no século XVII. A cena passa-se entre Heinrich (um clérigo) e Nasty (um dirigente popular):
Nasty – Sois por nós ou contra nós?
Heinrich – Sou por vós quando sofreis, contra vós quando derramais sangue da Igreja.
Nasty – Sois por nós quando nos assassinam, contra nós quando ousamos defender-nos!
Transcrevendo para a actualidade teríamos:
Dirigente sindical – Sois por nós ou contra nós?
Dirigente PS – Somos por vós quando sofreis, somos contra vós quando quereis perturbar o jogo democrático.
Dirigente sindical – Ah! Sois por nós quando nos exploram e nos oprimem, mas contra nós quando queremos defender-nos e libertar-nos!

Quanto à “Viagem de Passos Coelho à Alemanha”, embora se queira fazer passar pela “Viagem de Siegefried ao Reno” com acompanhamento de trompas wagnerianas, antes faz lembrar a viagem do colaboracionista Laval a Berlim em Novembro de 1942. O conde Ciano, ministro – e genro – de Mussolini relata-nos a cena da recepção na Chancelaria. Laval em fato civil estilo domingueiro faz figura de pobre diabo no meio dos espampanantes uniformes constelados de condecorações da hierarquia militar e nazi. Procura falar num tom familiar, mas as suas palavras passam despercebidas e é tratado com fria cortesia que esconde desprezo. Nessa mesma noite os exércitos alemães punham fim à pseudo independência do regime colaboracionista de Vichy e invadiam o que restava da França. Laval fora chamado para se comprometer a apoiar a decisão tomada pelos nazis.
O desempenho de Passos Coelho na Alemanha a prestar vassalagem à chanceler Merkel – como o de outros ministros de outros governos – não passa de uma ridícula farsa, exibindo uma familiaridade deslocada, qual parente pobre apenas tolerado chegado de longe, de terras atrasadas. Enquanto Passos Coelho, procura captar a atenção de D. Merkel, como se tivesse algo a dizer, já foram tomadas todas as decisões de submeter o nosso país à burocracia de Bruxelas sob os ditames de Berlim, acolitada pelo BCE do grão mestre da vacuidade sr. Trichet, para acabar com o que resta de soberania nacional e transformar o nosso país num protetorado alemão.
O desprezo com que D. Merkel se refere aos povos europeus da chamada periferia não destoa da exibida pelos seus compatriotas nazis naquela outra noite em que Laval procurava captar sorrisos enquanto se preparavam novos sofrimentos para o povo francês.
Nesta peça, Passos Coelho limita-se a uma subserviente repetição das deixas da chanceler, procurando dar o seu melhor como ator, de forma a que pareçam ideias próprias. Para não lhe ficar atrás, o sr. Paulo Portas foi ao mesmo, tal como naquelas peças em que o desempenho dos protagonistas cabe em dias alternados a diferentes actores.
Esta peça está também a ser representada noutros países europeus e não só periféricos. Por exemplo, o sr. Sarkozy (uma produção apoiada pela CIA) (1) deve achar que afinal, Pierre Laval apenas terá nascido fora do tempo…

1 - www.voltairenet.org. 19 juillet 2008 - Opération Sarkozy : comment la CIA a placé un de ses agents à la présidence de la République française par Thierry Meyssan, intellectuel français, président-fondateur du Réseau Voltaire et de la conférence Axis for Peace. Il publie des analyses de politique étrangère dans la presse arabe, latino-américaine et russe.

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