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24 de novembro de 2011

O Lixo dos bancos

Os povos estão a pagar a especulação feita pelos bancos
 Cecile C.

Mais uma etapa para o afundamento
Os bancos europeus vão mal, não é segredo para ninguém. Mas porquè? Porque têm no cofre activos que só valem amendoins. Nesta altura fala-se muito de obrigações soberanas – as instituições bancárias são efectivamente grandes compradoras de dívidas soberanas – se bem que quase se esquece que não são os únicos activos tóxicos que possuem.

Os bancos europeus continuam com efeito carregados de pedaços de "A" "tóxicos" e de produtos derivados, estes os mesmos que engendraram a crise de 2008. Na verdade, agora isso parecia bem longe, mas os bancos nunca conseguiram apagar da sua contabilidade essas perdas latentes.
A acumulação dessas más compras é fatal para os bancos europeus. A cada nova degradação de um Estado, os bancos que detêm essas obrigações perdem valor  e sancionados pelos mercados.
O coração do problema: o financiamento
O principal problema para os bancos é hoje refinanciarem-se. Porque os bancos mais não fazem que emprestar, eles pedem emprestado também (para emprestar de novo...). Ora desde há vários meses, os empréstimos inter-bancários estão em ponto morto. Como repetimos várias vezes, quem melhor que um banco para conhecer a saúde de um outro banco. Os banqueiros não são (completamente) descerebrados: têm plena consciência que emprestar aos seus colegas não é boa ideia.

Os bancos europeus têm pois de encontrar outras fontes de financiamento. Até ao presente, podiam contar com o apoio de fundos americanos. Mas desde há alguns dias, estes fogem.
O exemplo do UniCredit
O caso do banco italiano UniCredit é revelador. Ele detém mais de 1.200 biliões de euros de activos (os créditos que possui, etc.). Mas apenas possui 74 biliões de fundos próprios (isto é, a sua reserva). O que nos dá um ratio de 24/1. Ora, segundo as regras fixadas por Basileia II, os fundos próprios de um banco devem normalmente atingir 8% dos activos. UniCredit está bem abaixo das regras com 4,1% de fundos próprios.

Uma perda de 4% do valor dos seus activos significa pois a falência do UniCredit. Uma baixa de 10% dos seus activos – o que é fortemente provável dado que a Itália é o terceiro maior emissor de dívida soberana no mundo e que os bancos italianos são os principais detentores desta dívida – implicaria perdas potenciais de mais de 100 biliões de euros.
Mas o problema não pára aqui. De todos os grandes bancos europeus, UniCredit é o que mais terá de refinanciar-se em 2012. Terá que encontrar 51 biliões de euros. Junto de quem obterá esse dinheiro? Não do Estado italiano que já está sob o fogo cruzado dos mercados e da União Europeia por causa do seu endividamento. UniCredit deve pois emitir obrigações... e encontrar compradores, que se fazem desejar. Actualmente, ele obtém emprestado a uma taxa bem superior à sua A2 (qualidade média superior) oficial de acordada pela Moody's. Na prática, ele obtém emprestado como se tivesse a nota B1 (muito especulativo).
Com um tal custo de empréstimo, UniCredit não pode verdadeiramente esperar fazer lucros. Aliás, a banca italiana já registou perdas de 14,3 biliões de euros no último trimestre.
Itália, Europa, o mesmo combate
O exemplo do UniCredit é característico mão não é único. Entre os bancos a quem hoje se aponta do dedo como perigosos pelos analistas e agências de notação, encontram-se vários grandes bancos franceses como a Société Générale, Crédit Agricole ainda BNP Paribas.

Como para o UniCredit, a questão do seu financiamento é crucial. Les Echos nos revelam que os bancos franceses tiveram que fazer apelo à ajuda do BCE em Outubro: "Segundo as últimas estatísticas do Banco de França, [os bancos franceses] tiveram de pedir emprestado 100 biliões ao Banco central em Outubro, ou seja mais de três vezes mais do que há dois meses ou que há um ano (36 biliões em Agosto, e 33 biliões em Outubro 2010). O recurso à liquiditêz da BCE ultrapassou mesmo o dos bancos espanhóis". Ora conhecemos o estado de saúde catastrófico dos bancos espanhóis...
O contágio ao sistema mundial
Ao nível mundial, é tudo igualmente inquietante. Os bancos europeus detêm 55.000 biliões de euros de activos. É tanto quanto o total da dívida americana (do Estado, dos particulares e das empresas reunidas). O sistema bancário europeu é quatro vezes maior que o seu equivalente americano.

Os Estados Unidos estão largamente expostos ao risco bancário europeu. Em Setembro, 37% dos 1.500 biliões de dólares detidos pelos fundos monetários americanos estavam investidos em obrigações bancárias europeias e nos CDS (os seguros contra o risco de falência) destes bancos.
Pensam que os Estados Unidos se podem permitir perder estes 500 biliões de dólares investidos na Europa ?...






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