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24 de junho de 2017


"A duplicidade moral norte-americana é tão descarada quanto infinita, essência de sua “democracia profundamente fracassada”, nas palavras de John Kiriakou, ex-agente da CIA detido por dois anos por ter deixado a agência, e denunciado as torturas secretas na prisão de Guantánamo. “Os Estados Unidos mudam de presidente, mas não mudam sua política”, disse o presidente russo Vladimir Putin mais recentemente, falsamente demonizado pela mídia ocidental."
O presidente norte-americano Donald Trump traçou novas (velhas) medidas políticas em relação a Cuba nesta sexta-feira (16), ao mesmo tempo que qualificou a normalização das relações com a ilha caribenha empreendida por seu antecessor na Casa Branca, Barack Obama, de “terríveis e equivocadas”.
“De maneira eficaz e imediata, cancelo o acordo totalmente unilateral da administração anterior com Cuba”, disse Trump em um discurso ao pior estilo Guerra Fria, para uma plateia entusiasmada em Miami repleta de membros da comunidade cubano-norte-americana, que se opuseram à política de Obama em relação ao governo cubano de Raúl Castro.

Em uma diretiva presidencial assinada no final do discurso, Trump ordenou aos departamentos de Tesouro e Comércio que elaborem novas regras para substituir os pontos das mudanças de política de Obama.
Com mais esta política regressiva de Trump, os estadunidenses não têm mais a liberdade proporcionada pela administração de Obama para realizar viagens particulares à ilha caribenha, e até estudantes deverão comprovar que não são turistas. As empresas dos Estados Unidos não poderão mais realizar negócios com empresas controladas por militares ou serviços de inteligência cubanos, o que dificulta o acesso de empresas norte-americanas a setores estratégicos da economia de Cuba, incluindo o turismo.
Tudo isso, segundo Trump, para preservar o povo cubano e defender a liberdade e a democracia na ilha caribenha: para a Casa Branca, tais medidas devem forçar o governo de Cuba a ceder às pressões de Washington para que estabeleça o livre-mercado no país, além do que os Estados Unidos acusam de políticas repressivas em território cubano. “Não nos manteremos em silêncio diante da opressão comunista”, afirmou o mandatário norte-americano.
A Câmara de Comércio dos Estados Unidos, por sua vez, disse que as modificações do presidente estadunidense “limitarão a possibilidade de mudanças positivas na ilha”. Funcionários da Casa Branca afirmam que as medidas presidenciais em relação à Cuba tardarão alguns meses para serem implantadas.
“Aqueles dias acabaram: agora, nós damos as cartas”, afirmou o presidente dos Estados Unidos, mantendo a típica postura arrogante e imperialista de seu governo, e da própria política externa histórica de seu país. E não apenas isso: segue a política de contradições de sua administração e dos governos norte-americanos anteriores, sem exceção: em seu giro no mês passado pelo Oriente Médio, Trump reforçou relações comerciais com a Arábia Saudita, um dos países mais crueis do planeta.
“Não devemos buscar perfeição, mas parcerias”, afirmou desavergonhadamente Donald Trump na capital saudita de Riad, na mais absoluta contraposição à caça comunista contra Cuba ao estilo McCarthy, sem o menor constrangimento diante de excessiva hipocrisia enquanto, entre outras parcerias com a Casa de Saud, estabelecia comércio de armas na casa dos 100 bilhões de dólares, provavelmente o maior acordo bélico da história com um governo saudita que, além de exageradamente repressivo, comprovadamente fornece armas ao Estado Islamita e à Al-Qaeda, não apenas à sua filial na Síria, a Al-Nusra, como historicamente à organização terrorista do falecido Osama bin Laden desde tempos de combates no Afeganistão.
E no final de sua visita à região mais efervescente do planeta, em Israel e na Palestina Trump tampouco ofereceu propostas para acordos de paz,a pós tanto discurso que, sempre ficou claro, eram inócuos.
Isso tudo, além do fato que as históricas “políticas” exteriores norte-americanas semelhantes a esta de Trump em Cuba não apenas não têm surtido o efeito que Washington diz pretender gerar, como faz com que aumente ainda mais a rejeição internacional aos Estados Unidos, ou seja, gera efeito reverso seja no combate ao que a Casa Branca qualifica de regimes repressivos, Guerra ao Terror, às Drogas etc, sempre encontrando e arrefecendo inimigos em toda a parte, o que acaba justificando a disseminação de bases militares de Tio Sam em todo o planeta.
A dupla-moral norte-americana é tão descarada quanto infinita, essência de sua “democracia profundamente fracassada”, nas palavras de John Kiriakou, ex-agente da CIA detido por dois anos por ter deixado a agência, e denunciado as torturas secretas na prisão de Guantánamo. “Os Estados Unidos mudam de presidente, mas não mudam sua política”, disse o presidente russo Vladimir Putin mais recentemente, falsamente demonizado pela mídia ocidental.
Edu Montesanti

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