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7 de março de 2022

Começou, mas como terminará? – Contextos

 Dos contextos desta crise podemos salientamos três. A primeira reflexão é sobre a tese leninista de que capitalismo e guerra são inseparáveis. Um mundo de paz só é possível em socialismo. Os propagandistas do sistema capitalista argumentam que o comércio livre e a democracia são obstáculos às guerras. Bem, esquecem que a maioria das guerras do mundo moderno e mesmo antes tiveram origem precisamente em razões de expandir e dominar mercados. Quanto à democracia o raciocínio está certo quando por democracia se define o que os EUA definem como tal.

Com este argumento (ou outro) desde 2001 a 2018 as guerras EUA/NATO teriam morto pelo menos 2 milhões de pessoas. O uso de bombardeios aéreos e de artilharia pesada reduziu cidades como Fallujah, Ramadi, Sirte, Kobane, Mosul e Raqqa a escombros, estas nossas guerras mergulharam sociedades inteiras em violência e caos sem fim. Tudo pelas “boas causas” da NATO.

A segunda reflexão é a diabolização dos que são designados adversários. Assim acontece a todos que defendem a soberania, escolhem outro modelo de sistema político e/ou económico, pretendam controlar transnacionais ou movimentos financeiros no seu país. Como disse o antigo diplomata do RU Alaistair Crooke, a incapacidade de escutar o “outro”, de compreender as suas razões e interesses próprios, a negociação e a diplomacia ficam comprometidas com a diabolização dos interlocutores. É-se incapaz de distinguir entre o diferente e o diabólico. Então toma lugar a tese do sr. Clausewitz: a guerra é a política por outros meios. A liderança dos EUA havia perdido quase inteiramente a capacidade de empatia.

Recorde-se que no entanto Hitler e o nazismo nunca foram diabolizados pelas ditas democracias ocidentais antes da guerra se iniciar, quando agrediu a Espanha com Mussolini apoiando Franco, as democracias capitalistas (França, RU, EUA) nem uma palha mexeram. Mesmo depois de 1939, idem não tendo pejo em se prepararem para alinhar com a Alemanha contra a URSS no caso da Finlândia.

A terceira reflexão é o papel dos media. Para controlar as pessoas façam com que percam a memória ou ignorem os factos passados e imponha-se uma narrativa. Desde que a Rússia se começou a libertar do pesadelo instituído por Ieltsin e pretendia assumir um papel de igualdade na cena internacional.

Diz Caitlin Johnstone: Durante cinco anos antes disso começar fomos bombardeados com narrativas histéricas anti-russas. Os falsos escândalos da Rússia foram inventados pela inteligência dos EUA para começar a fabricar consentimento para um confronto com a Rússia, a fim de preservar a hegemonia unipolar dos EUA.

Mas há dois pesos e duas medidas conforme agressões são cometidas “por nós” (EUA/NATO) ou “eles”. Quando misseis Pariot caiam sobre uma indefesa Bagdade o que passou nos media não foi a revolta, nem sequer empatia pelo sofrimento e morte de civis inocentes, foi a contemplação admirativa pelo poder militar e tecnológico dos EUA. Quando a Sérvia foi bombardeada durante 78 dias, tal foi apoiado até por Guterres, o atual secretário-geral da ONU: tratava-se de defender os “direitos humanos” com “bombardeamentos humanitários”

Um texto do jornal Guardian, recordava e citava numerosas personalidades que desde os anos 1990 advertiam que expandir a NATO conduziria à guerra. Estas advertências foram ignoradas.

O projeto "Mobilidade Militar" obriga a Áustria, a Suécia e a Finlândia a fornecer capacidades de transporte para que a NATO possa transferir suas forças armadas. A União Europeia, apesar de todos os seus slogans sobre a necessidade de uma "autonomia estratégica da Europa", não se inspira de forma alguma neste tema e aceita perfeitamente ser um "apêndice" obediente da Aliança do Atlântico Norte.

Neste contexto, com a expansão da NATO, a Rússia ficou confinada nas suas fronteiras, Moscovo a minutos de ser atingida a partir de bases da NATO e as suas relações externas condicionadas por sanções desde que a época dos tutelados por Washingtos terminou com Putin e a Rússia renasceu do abismo para onde as camarilhas de Gorbatchov e Ieltsin a tinham levado. (ver textos de Dimitri Rogozin aqui e aqui).

Com novas expansões previstas na Ucrânia, Geórgia, falhada na Bielorrússia, estavam criadas as condições para “uma tempestade perfeita”.