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27 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –34.1 - PARADIGMAS I

Paradigma, isto é, modelo, padrão, tipo de conjugação ou declinação gramatical. Aplica-se também à investigação e mais recentemente à economia.
“Temos de mudar de paradigma”, este o mote das cantigas a várias vozes que ouvimos aos srs. comentadores. É bom que nos entendamos sobre o significado das palavras, senão caímos no jargão do economês - político, uma espécie de linguagem estropiada, uma espécie de latinório para levar o comum das pessoas, à superstição em vez do conhecimento.
Se temos de mudar de paradigma económico então vejamos primeiro qual é o padrão ou o modelo seguido. Temos uma economia de carácter monopolista, livre comércio internacional, predomínio da finança usurária e especuladora, livre transferência de capitais, fiscalidade escamoteada pelos paraísos fiscais. Associado a isto tudo, temos elevados níveis de endividamento, estagnação económica global e elevadas taxas de desemprego, com todas as consequências sociais que isto acarreta.
Portanto, não há dúvida que temos de mudar de paradigma! Serão monopólios e oligopólios bons para a economia. Não. Vejamos o que diz o laureado Paul Samuelsen, absoluto defensor da “economia de mercado” (Uma introdução á Economia V.II – Ed. Gulbenkian): “No monopólio constatamos a divergência entre o preço que as coisas valem para a sociedade e o custo marginal para as produzir significa que os recursos sociais não se repartem do modo mais eficiente. (p.178). “É a divergência entre o preço e o custo marginal que constitui o verdadeiro fardo adicional do monopólio (p.180). Diz o mesmo prof., acerca da decantada eficiência e rendibilidade empresarial obtida pelos grande capital monopolista: “a sociedade estaria mais rica se a totalidade das vantagens da eficiência (das empresas monopolistas) chegasse aos consumidores ou se canalizasse para a investigação e investimento teórico e não para o lucro ou se menos dólares se gastassem em campanhas fúteis e mais em investigação científica básica em detrimento de engenhocas patenteadas (p.189). Quanto aos oligopólios Samuelsen não os põe sob menor suspeita: os oligopolistas estabelecem acordos sobre os preços mesmo que não exista evidente conluio, e refere um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça dos EUA (p. 184).
Portanto, parece que para os economistas liberais os monopólios eram uma coisa má e que os seus efeitos só poderiam ser reduzidos pela autoridade (do Estado, obviamente) (p.198) ou declarando-os de utilidade pública (p.178). Contra as tendências monopolistas geradas pelo “laissez-faire”, diz ainda, “deve uma nação lutar e manter perpetuamente uma vigilância incessante” (p.196). Isto, sublinhe-se, trata-se um convicto liberal defensor do mercado! Muitas outras citações com a mesma perspectiva poderíamos incluir da parte de defensores da “economia de mercado”.
Quer dizer, mudar de paradigma no nosso país seria acabar com tudo o que representasse monopólios e oligopólios privados. Será isto que os srs. comentadores e srs. professores referem. Não, nada ouvimos neste sentido.
A livre transferência de capitais parece ser também um problema para o nosso país, aliás muito ligado ao anterior. Nos primeiros 8 meses deste ano as SGPS dos grandes grupos económicos colocaram no estrangeiro 8 mil milhões de euros; 19 das 20 empresas do PSI 20 têm as suas sedes fiscais em paraísos fiscais, Estimativas moderadas apontam para 75 mil milhões de euros parqueados nestes ditos paraísos fiscais (cerca de. 50% do PIB).
Parece portanto que desta maneira os portugueses trabalham, mas a riqueza produzida sai do país e a economia estagna. Tem pois de se mudar de paradigma! Será disto que os srs. professores e comentadores falam. Não, nada…
Nos últimos 15 anos, Portugal transferiu para o exterior, em dividendos, juros e outros rendimentos, 51 mil milhões de euros. Esta situação tem tendência a gravar-se devido à venda de empresas ao estrangeiro, designadamente privatizações, e às regras da UE.. A parcela de riqueza nacional que saiu do país em 2010 foi de 3,3% do PIB e no primeiro semestre de 2011, 5,2%. Isto em tempo de crise e troika Este tema é sistematicamente escamoteado pelos comentadores de serviço. Dá a ideia que não se pode criticar nada que ponha em causa as “liberdades” do grande capital.
Mudar de paradigma seria acabar com os paraísos fiscais. Será isto que pretendem? Não, os paraísos fiscais legalizam o roubo à riqueza dos países produzida por quem trabalha e consagra a ligação entre o crime organizado (máfias) e o capital financeiro. O crime organizado dá lucro e “nesta sociedade qualquer coisa que dê lucro torna-se respeitável” (Graham Greene).
Parece também que a fiscalidade funciona de modo inverso ao que há muito e por muitos liberais e reformistas consideravam desejável: como redistribuição de riqueza. Em 2010, o pais afundou-se na crise, no desemprego, na recessão, porém os “25 magníficos” – os mais ricos – aumentaram a sua riqueza em quase 18%. Temos então de alterar o paradigma. Não, não é de disto que ouvimos falar. A economia estagna, a população perde nível de vida, mas a oligarquia prospera. Estranho? Não…Questão de paradigma.
Parece também não haver dúvidas que não é saudável nem sustentável elevados défices públicos de forma prolongada. Como apareceram então estes défices depois de anos de estagnação ou quase? Bem, então podemos ver não sem espanto face ao que nos dizem, que 88% do aumento do défice de 2009 para 2010 se deveu às garantias dadas pelo Estado à banca. Vemos também que o BCE financiava a banca a 1% e esta emprestava ao Estado a 5, 6, 7, 8 e mais por cento! Eram os abençoados mercados! Parece que este paradigma também não está correcto.
Deve então mudar tudo isto? Não, os srs. comentadores e professores nada dizem sobre isto. Deve-se então mudar o quê, do tal paradigma? Bem, deve terminar a instabilidade financeira e a instabilidade cambial. A deflação cambial é má para todos, dizem-nos. Porém, como? Com ar muito sério, diz-se esperar que o G7, o G8 ou o G20 tome medidas. Ah! Agora percebemos, façamos umas preces a um qualquer dos G, para se lembrar de nós pecadores, mas com fé, muita fé, porque até agora as orações, promessas, sacrifícios, não têm resultado.
Quanto aos monopólios, só são maus de forem do domínio público. Encomendem-se então uns sermões “bem escorchados” – como no dizer de Aquilino Ribeiro – e os monopolistas tornar-se-ão éticos (ver Ética). Afinal o capitalismo actual tornou-se simplesmente superstição…
Mas há ou não há soluções no “novo paradigma”. Claro que há e finalmente deparamos com uma proposta concreta: o mal está todo no Estado Social vigente, ou o que resta dele. Diariamente na TV, rádio, jornais defendem-se as austeridades, dize-se que não é possível manter o Estado Social, tenta-se convencer o povo português a ser cada vez mais pobre e desprotegido A deflação monetária é má, mas a deflação salarial é boa, e espante-se, pelas mesmas razões que a outra é má!
Afinal não há nenhum novo paradigma, Há que levar o actual às últimas consequências: a economia do desemprego, da desigualdade, da ineficiência monopolista, da estagnação económica e regressão social, para garantir que os superlucros dos monopólios e da especulação continuem em alta.

22 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –33.2 - A ENGRENAGEM II (e a sua compreensão)

Continuamos este tema que tem como base e referência declarações de John Perkins, ex-dirigente da empresa CGAST. Main Inc. e autor do livro “Confessions of an economic hitman”, feitas num vídeo apresentado no site www.legrandsoir.info.
As guerras, recurso a que a oligarquia imperialista deita mão após falharem as tentativas de corrupção, conspiração, assassinato de dirigentes progressistas, não deixa de lhes ser vantajosa quer pela produção de material bélico quer por “constituir um negócio muito lucrativo para reconstruir o que tínhamos destruído”, (J. Perkins é norte-americano). Sabemos quem tem tudo a perder e quem paga as custas, o povo tanto no país agredido como no agressor.
“A maioria da população dos EUA não tem nenhuma ideia que nós vivemos em função de um império clandestino. Que hoje há mais escravatura no mundo como nunca antes”.
Se há um império, quem é o imperador? A situação assemelha-se à da republica romana em que um senado oligárquico dirigia o império designando periodicamente o respectivo líder (os cônsules).
Actualmente, existe uma oligarquia (corporatocracy) que dirige as grandes empresas deste império controlam os media directa ou indirectamente pela publicidade e controlam a maior parte dos políticos porque financiam as suas campanhas.
No topo destas grandes empresas estão pessoas que tanto trabalham para o governo como para as empresas, pois o movimento de vai e vem é constante. Assim, “as estratégias do governo são forjados pela oligarquia e apresentadas ao governo tornando-se planos governamentais. Todos trabalham para o mesmo princípio de maximizar os lucros independentemente dos custos sociais e ambientais”. “Esta operação de manipulação pela oligarquia através de dívidas, corrupção, derrube de governos é chamada de Globalização”. “Tal como o FED mantém o povo dos EUA numa situação de servidão através da dívida, o FMI e o BM executam esta tarefa à escala mundial”.
Vimos, na 1ª parte, como o esquema é na realidade simples, colocar o povo em dívida, para o que a propaganda à sociedade de consumo, a facilitação das dívidas, o apelo à euforia com apagamento da memória histórica e a sua falsificação, criam as ilusões que desmobilizam as camadas populares e as levam a aderir a políticas contrárias aos seus interesses. O exemplo mais simples desta “engrenagem” está descrito na história infantil de Pinóquio. As crianças eram seduzidas com ofertas de doces e festas para abandonarem a escola e os pais e seguirem falsos guias que depois as escravizavam transformando-os em animais de trabalho e de circo. Esta história, note-se, contém os ingredientes das ilusões da modernidade e pós-modernidade, da publicidade ao trabalho precário nos anos 90 como uma “libertação da burocracia sindical” e a difusão de teses em que o indivíduo recusando ideologias seria “livre”. Os resultados desta "liberdade" - a "sociedade aberta", também! - estão hoje os jovens e todos os trabalhadores a sentir: desemprego massivo,  precariedade, perda dos direitos laborais duramente conquistados pelos seus pais e avós.
O que ocorre depois sabe-se, e é tão simples que é necessário que políticos e comentadores do sistema persistam constantemente na deturpação das causas e na ameaça das “inevitabilidades”: “Colocar o povo em dívida, dividir o povo em conflitos ou corromper os líderes, impor “condicionamentos” e “políticas de ajuste estrutural” tornando os recursos do país disponíveis para os países predadores, grandes cortes nos programas sociais, privatização de empresas públicas, colocando na mão de empresas estrangeiras – ou monopólios nacionais, no entanto interligados com o capital estrangeiro – infraestruturas fundamentais com vista ao lucro”.
A liberalização do comércio externo e a livre circulação de capitais são também uma arma deste arsenal predatório. A liberalização do comércio externo “permite uma quantidade de realizações económicas abusivas tal como a introdução em massa de produtos das empresas transnacionais, arruinando a economia local”.
Estas situações não estão a ser aplicadas apenas aos povos dos outros continentes, são em absoluto evidentes e similares ao que ocorre no nosso país e em muitos outros da UE.
Não espanta, pois, vermos o quase total descontrolo de personalidades do sistema ao serem confrontadas com as realidades, quando, normalmente sem contraditório, se assumem como distintos gentleman e sapientes oráculos.
Em Portugal este processo, conduzido pelos sucessivos governos, levou à liquidação de muito da nossa produção agrícola, pescas, indústria, colocadas em situação de não concorrer com as transnacionais, levou à venda de empresas emblemáticas ao estrangeiro e à ausência de planeamento económico. Tudo isto é feito com uma intensa campanha mediática, na base de falsidades e dogmáticas que passam por ciência provada, mil vezes repetidas de formas diversas conforme as audiências, para garantir o conformismo, a passividade da população perante a agressão aos seus direitos e interesses fundamentais, escondendo a sempre crescente riqueza da oligarquia e da sua clientela - no sentido romano do termo.
Eis, portanto, alguns elementos para a compreensão da actual engrenagem de submissão e exploração dos povos.

19 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –33.1 - A ENGRENAGEM (e a sua compreensão)

“Esta operação de manipulação pela oligarquia através de dívidas, corrupção, derrube de governos é chamada de Globalização”. “Tal como o FED mantém o povo dos EUA numa situação de servidão através da dívida, o FMI e o BM executam esta tarefa à escala mundial”. John Perkins
Utilizamos expressamente o título de um livro do sempre recordado Soeiro Pereira Gomes, exemplo dos que lutaram e morreram pelos mais belos e elevados ideais da humanidade.
A Engrenagem é também título de um livro de Jean Paul Sartre em que este evidencia as suas perplexidades nunca resolvidas perante as contradições da vida, pois faltava-lhe a consistência dialéctica que Soeiro ou Bertholt Brecht souberam dar às suas obras.
Neste tema tomamos como base e referência declarações de John Perkins, ex-dirigente da empresa CGAST. Main Inc. e autor do livro “Confessions of an economic hitman”, feitas num vídeo apresentado no site www.legrandsoir.info.
A seguinte frase serve de apresentação à exposição de J.Perkins: “Há duas maneiras de submeter e escravizar uma nação, uma é pela espada a outra é pela dívida (John Adams – 1735-1826), esclarecendo-nos que “a dívida é uma arma contra os povos, os juros são as munições”.
Vale de facto a pena refletir neste tema já que as crises que ocorrem nas sociedades não são obra do acaso, de más escolhas das pessoas como nos querem convencer, de má gestão e maus comportamentos…éticos. (ver Ética – Setembro.2011). Um exército de comentadores e escribas ao serviço das oligarquias mantém assim a maioria na ignorância e na desinformação.
J. Perkins, classifica-se como um economic hitman, que traduzimos por mercenário económico. A forma como são utilizados estes mercenários para criar um império global é descrita em detalhe:
1- Identificar o país de cujos recursos se pretende apoderar, controlar ou reagir a que saiam fora do controlo imperialista.
2 – Prepara-se um importante empréstimo para esse país, em muitos casos pelo Banco Mundial ou organizações correlacionadas.
O país poderá ser seduzido ou pressionado. No caso português deparamos com governos cuja filosofia confessada era de submissão ao imperialismo, “os países amigos”. O povo foi seduzido e entorpecido com promessas de dinheiro barato. Um ministro do actual PR chegou a dizer que o equilíbrio da BC era um conceito ultrapassado, apenas importavam os fluxos financeiros. Um prof. de economia com púlpito na comunicação social afirma (esbracejando perante os incréus e relapsos) que não importa a taxa de câmbio. Este é o caldo de cultura i germina o desastre nacional.
O dinheiro não entra realmente para o país, sendo usado pelas nossas (J. Perkins refere-se aos EUA) grandes empresas para construir projectos de infraestruturas nesse país, beneficiando as pessoas mais ricas além das nossas grandes empresas.
Podemos verificar que basicamente foi isto que ocorreu em Portugal: um processo de desindustrialização, penetração estrangeira, abandono da protecção ao tecido produtivo nacional.
“Em qualquer dos casos o conjunto do povo desse país é deixado com uma dívida enorme. Dívida que não pode pagar, mas isto faz parte do plano.
Segue-se a descrição do processo de domínio do país.
3 - “Nós “mercenários económicos” regressamos e dizemos: Escutem, vocês devem imenso não podem pagar vendam o petróleo mais barato às nossas companhias, permitam-nos construir uma base militar, privatizem as vossas companhias de electricidade, água, etc. para serem vendidas às nossas multinacionais.
Isto aplica-se aos recursos naturais do país, principais empresas, mesmo que seja para posteriormente as destruir impedindo – ah! em nome do mercado, srs. professores e comentadores! – que se desenvolvam e tornem concorrentes, veja-se o caso da Sorefame e outras empresas da metalomecânica, da indústria naval, etc.
Aceites as condições, a divida é refinanciada para fazer pagar mais juros, com exigências chamadas “condicionalismos” e critérios de “boa governança” que significa privatizar e vender os seus recursos e serviços sociais ao estrangeiro"  - ou a monopólios nacionais, no entanto ligados aqueles interesses, pelo capital, pela abertura de fronteiras e pela ausência de políticas de desenvolvimento económico.
Como conseguir isto. J. Perkins descreve as práticas nas quais participou.
Passo 1 – Tentar corromper os governantes.
Passo 2 - Se o anterior não for possível, como no caso de governos progressistas ou que simplesmente se assumem como nacionalistas, mesmo sem definidas orientações de esquerda, entram em cena os “chacais” que se encarregam de preparar o derrube dos governos, distribuindo dinheiro a organizações politicamente enfeudadas ao imperialismo e que vão ter ampla cobertura mediática para fazer crer à opinião pública que se trata de todo o povo. Se mesmo assim não o conseguem organizam-se atentados para assassinar o líder popular e os dirigentes políticos mais influentes.
Passo 3 – Se não o conseguem o objectivo anterior, são enviados militares. O que pode ter a configuração de instrutores e de mercenários – classificados desde logo por “combatentes da liberdade” – que como terroristas, preparam atentados, sabotagens, conflitos separatistas. Porém, caso isto ainda não resulte, prepara-se a invasão do país, normalmente precedido de ampla difusão de hipotéticas ameaças aos países ocidentais. Estas acusações são simplesmente ridículas avaliando o potencial e efectivos militares desses países. Porém o tema é dramatizado, desenvolvido e fantasiado até à exaustão na comunicação social, fabricadas calúnias sobre apoio ao terrorismo, armas de destruição maciça, violação de direitos humanos, genocídio. Relatos posteriores provam ser completamente falsos.
Este processo tem-se desenrolado nos mais variados locais da América Latina, África, Ásia, Europa. O resultado é a destruição económica e social de países que passam a ser flagelados pela fome, pela, pobreza, pela dívida, pela repressão.
Apontamos apenas alguns casos paradigmáticos cujas consequências trágicas vêm até hoje: Irão, destituição de Mossadeg em 1953. Nicarágua assassínio de Jacob Arbenz em 1956 e contras anti-sandinistas na década de 80 do século passado. S. Salvador e Colômbia terrorismo de Estado de governos de direita. Terror fascista neoliberal no Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai, entre vários outros países da América Latina. Assassínio de O. Torrijos no Panamá. Assassínio de Jaime Roldon no Equador. Assassínio e golpe contra Patrice Lumunba no Zaire, além das conspirações e golpes contra praticamente todos os líderes nacionalistas africanos, alinhados com o movimento terceiro mundista e antiimperialista. Invasão do Afeganistão, contra o governo progressista, não pelas tropas soviéticas que combatiam a agressão externa, mas pelos mercenários apoiados pelos EUA, Arábia Saudita e Paquistão. A lista dos é quase infindável: desde o final da II Guerra Mundial, não incluindo ameaças nucleares ou outras, contam-se 56 intervenções militares directas ou o com comando das operações.

14 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –32 –“REDUÇÃO DE CUSTOS” E ”CORTE NAS DESPESAS”

Parecendo ter o mesmo objectivo são conceitos e sobretudo práticas muito diferentes. Vimos como no passado para este efeito - e sem receio de criar gordura no Estado - se nomearam comissões sobre comissões, se recorreu a equipas de consultores, sempre recheadas de gente muito credenciada – dentro da sua área ideológica – falando como lhes é uso de cátedra, criticando tudo e todos e produzindo montanhas de…coisa nenhuma, além de, parafraseando Brecht, propor que “se demitisse o povo”. Que tem sido aliás a única coisa que este governo PSD-CDS mostra querer fazer.
A diferença entre “redução de custos” e ”corte nas despesas” é básica e essencial, a primeira não foi posta em prática na Administração Pública, quanto à segunda, vários governos, o actual não é exceção, querendo fazer o papel de gente determinada e com autoridade, usam-na de forma inconsequente , de acordo com as ordens que recebem “dos países amigos” e “dos que nos emprestam dinheiro”, termo comiserador para a cumplicidade e submissão aos usurários especuladores.
A redução de custos exige metodologias próprias e processos de avaliação rigorosos de todos os factores do desempenho. Qualquer gestor competente sabe que demora tempo, exige investimento em horas de trabalho de equipas conhecedoras em profundidade quer dos processos em análise quer dos métodos aplicáveis, não tem nada que ver com arbitrárias decisões do topo, não excluindo, é óbvio, a definição de fundamentados objectivos a serem alcançados.
Terá de ser feito com recurso a consultores externos? Talvez, dependendo das competências internas na matéria. Os consultores podem fazer formação, dar pistas, assegurar o acompanhamento e orientação às equipas. É também necessário como dissemos que os consultores tenham, com relativo detalhe e profundidade, conhecimentos sobre o sector a que se dirigem, nas suas diversas vertentes técnicas e humanas, caso contrário limitar-se-ão a debitar, como tantas vezes se vê, uma série de generalidades e banalidades, de irrealidades, aprendidas com os gurus da moda neoliberal.
Para além do acompanhamento e orientação por especialistas, a redução de custos é essencialmente um trabalho que tem de ser feito por equipas pluridisciplinares da própria empresa ou serviço, com a devida formação e motivação
Neste trabalho de equipa - como em qualquer outro, aliás - conta a competência técnica, o rigor de procedimentos, o espírito de equipa. E ao falarmos em “procedimentos” diga-se que a sua definição e conformidade com as reais condições de trabalho e sua melhoria são um factor decisivo. A ausência de adequados procedimentos é um dos principais factores de ineficiência.
A redução de custos tem metodologias próprias há muito estudadas, como a Análise de Valor, a Análise de Funções pelo método QFD ou equivalentes, e muitos outros métodos e ferramentas da Gestão da Qualidade, nomeadamente os processos de análise e selecção de problemas, de escolha de prioridades e de tomadas de decisão, com vista ao estabelecimento de programas devidamente estruturados e participados com objectivos quantificados. Demora tempo, tem o custo das horas de trabalho dispendidas, mas a experiência mostra que é eficaz, mais: que é talvez o mais importante factor para a melhoria da eficiência, dinamizando a inovação, o aumento da produtividade e da qualidade. Isto seria o que o que um governo progressista e patriótico procuraria concretizar.
Os “cortes na despesa” não são nada disto. Não resultam de estudos prévios ligados ao funcionamento dos organismos, são decisões arbitrárias impostas do exterior, por gente com cérebros formatados na ideologia que os comanda, de rigidez dogmática equivalente à de inquisidores e cujos objectivos se limitam à defesa dos credores, indiferentes às consequências sociais  e humanas das suas acções. A destruição dos equilíbrios sociais levada a cabo por estes burocratas, está patente em muitos países da África, da Ásia, da América Latina. (ver Dividas – maio.2011)
Na Europa estes processos visam simplesmente destruir as bases do Estado Social e Democrático, entregando as alavancas económicas aos monopólios e á finança especuladora. Em todos os países europeus em que o sistema foi posto em prática, caso da Grécia, Irlanda, Portugal é este o visível resultado.
As iniciativas neoliberais “da terceira via” (socialista!) do incrível sr. Tony Blair, mostram como modelares serviços públicos na saúde, na educação, nos transportes, entregues a privados foram degradados, com o objectivo de maior eficiência e cortes na despesa do Estado. E tudo isto para quê? O Reino Unido afinal apresentava um défice público de 10,4 % do PIB em 2010, superior ao português e idêntico ao da Grécia. (Eurostat pocketbook – 4 -2010 – p.77).
Sem estudos, sem adequados processos a serem postos em prática, sem motivação dos trabalhadores, o resultado é o desastre em termos pessoais e colectivos. A pressão sobre as pessoas, que trabalham nos organismos sujeitos a estes cortes, sejam quadros técnicos sejam trabalhadores menos qualificados, é dramática. A motivação é sobretudo negativa, pelo medo, pela insegurança quanto ao futuro. É com isto que contam. A pressão psicológica (stress) a todos os níveis torna o trabalho verdadeiramente penoso, destruindo o espírito de equipa e o bom relacionamento interno, traduz-se na degradação da qualidade e da produtividade dos serviços, cada qual mais preocupado com a demonstração burocrática do que nos resultados reais. O risco de lançar serviços no caos ou na completa inoperacionalidade é evidente.
O governo PSD-CDS na sequência dos “êxitos” do PS nesta via, vai ainda mais fundo. Após a mentira eleitoral recorre agora à chantagem e a “publicidade enganosa”, escamoteando a riqueza que oligopolistas e especuladores retiram do país para paraísos fiscais.
Os gestores incompetentes, é o caso dos governantes actuais, tal como os anteriores…- substituiem procedimentos, pelo voluntarismo de afirmações e decisões inconsequentes, como se as suas declarações alterassem o que quer que fosse da realidade.
Por voluntarismo entende-se a tendência para impor decisões sem as justificar. Isto é, sem correspondência com a realidade.
Nada mais resta aos títeres ao serviço das oligarquias criar cenários apocalípticos, da mesma forma que se justificam as guerras. O voluntarismo das declarações dos governantes e apoiados pelos seus comentadores avençados, tem equivalente nas dos chefes militares na derrota.
Os “cortes na despesa” não passam, pois, de demonstração de incompetência e tácita confissão de derrota face aos reais problemas do país e do povo.

13 de outubro de 2011

A Sagrada Escritura.

O acordo com Troika era uma escritura sagrada. «Temos que cumprir o que acordámos, senão não seremos financiados» diziam eles.
Afinal a escitura sagrada também se revê, sem qualquer problema ou alarido quando é do interesse deles!
Hoje ficamos a saber que já não haverá redução da TSU, medida emblemática da Troika e do governo, tal como já tinham deixado cair a extinção de municípios.
A sagrada escitura afinal pode ser revista. Só não pode quando se trata de legislação laboral e do corte de salários e pensões...
Grandes vigaristas!

Sua Excelência o Sr. Cavaco

O jornal "Público", com a sombra do impagável José Manel Fernandes, traça hoje grandes elogios à intervenção europeia de Cavaco Silva.
Cavaco atacou Merkel e Sarkozy! Até falou no Directório. Cavaco a falar em Directório!!! E a ser apluadido pelo "Público"! Coitados dos comunistas que andam há anos a denunciar o Directório das grandes potências na União Europeia e sempre foram apelidados pelo jornal Público de «antieuropeistas», de «cegueira europeia». Fantástico!  Já em relação ao euro, Cavaco diz que este não é o culpado da situação. Pudera, ou não fosse ele o responsável pela adesão do escudo ao euro com as consequências que se conhece.
Tece também elogios ao BCE que como se sabe fez a política monetária do interesse da Alemanha e que ,com a valorizaçã do euro, bem prejudicou Portugal.Mas as contradições não são para  aqui chamadas...
Por isso viva o Público, Cavaco e todos os Belmiros deste país. Amén.

12 de outubro de 2011

Uma Vergonha!

Aqueles senhores sérios, grandes empresários, que fogem da actividade produtiva como o diabo da cruz, que fizeram fortunas na actividade especulativa e parasitária, que financiam Fundações, que emitem opiniões éticas sobre a economia portuguesa, são os mesmos que têm o domicílio fiscal das suas holdings  - SGP's - na Alemanha, Luxemburgo, Irlanda, para fugirem "legalmente" aos impostos!
Quem os ouve até parece que estamos perante grandes patriotas, mas quando se trata dos seus dividendos há que pô-los a resguardo do fisco português!
Estamos a falar dos Belmiros, dos Amorins, dos Mexias, dos Franciscos Manuel dos Santos...
Esta semana, o presidente da Fundação de um destes patriotas veio apresentar uma publicação patrocinada por esta Fundação (produção ideológica), com ar de pensador preocupado com este país e disse numa entrevista, a propósito do Serviço Nacional de Saúde, que não se pode dar tudo a todos! Este conhecido sociologo devia olhar para o que faz o financiador da Fundação a que preside e ter mais tento na língua.
Nos primeiros 8 meses deste ano as SGP's dos grandes grupos económicos colocaram no estrangeiro - Holanda, Irlanda, Luxemburgo, 8 mil milhões de euros. 8 mil milhões de euros que vão deixar de estar sujeitos ao fisco português, 8 mil milhões de euros, por curiosidade e conincidência, é grosso modo o Orçamento da Saúde!!!
Ah! Grandes patriotas!
Dir-me-ão que estes senhores fazem isto porque Portugal não é fiscalmente competitivo! É uma evidência que Portugal não tem os recursos da Holanda, e que mesmo que baixasse os impostos estes "artistas" encontrariam sempre um lugar, um offshore, ou um paraíso fiscal para fugirem à tributação portuguesa.
Dir-me-ão também que o que estão a fazer é legal! É legal mas não é legítimo. Que autoridade moral têm estes senhores para afirmarem que a austeridade é para todos, que temos que ter moderação salarial, etc., etc.!!!
E o Conselheiro Acácio do Presidente da República, não os devia chamar a Belém e publicamente confrontá-los com a situação portuguesa? Mas nos grandes não se toca, tudo salamaleques!!!
Com que moral se exige o cumprimento fiscal, ou facturas a pequenos e médios empresários quando os grandes dão este exemplo! É claro que tudo se encaixa na filosofia de Bush "se queres ajudar os pobres dá dinheiro aos ricos!".

7 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –31.3 – Produtividade I I I
Dizia Miguel Ângelo que fazer uma estátua era simples, bastava tirar à pedra o que estava a mais…O aumento de produtividade é tão simples quanto isto: basta eliminar os factores de improdutividade.
Mesmo em condições tecnológicas idênticas as produtividades podem ser muito diferentes de empresa para empresa, de país para país. Os aspectos organizativos e de gestão são fundamentais.
Vimos na Parte II que estes factores podem ser externos ou internos e que os internos se devem quer a excesso de trabalho quer a tempos de paragem, sendo no fundamental da responsabilidade da gestão ou da responsabilidade do executante, o trabalhador.
A responsabilidade do trabalhador na improdutividade pode dever-se a falta de competência ou a indisciplina. Em última análise no entanto, a responsabilidade será sempre da gestão. No primeiro caso, cabe à gestão, proceder à formação e qualificação dos trabalhadores para os trabalhos em causa, à respectiva avaliação de conhecimentos e selecção dos trabalhadores para as diversas tarefas. No segundo caso, indisciplina, a existência de um bom ambiente de trabalho e de motivação permite na generalidade dos casos serem os próprios colegas a censurar e a procurar corrigir o trabalhador. Diga-se que este aspecto nunca esteve em causa na legislação pós-25 de Abril. Um gestor ou um quadro técnico que argumente desta forma apenas demonstra incompetência e inaptidão para o lugar (1). Trata-se de uma questão de liderança: autoridade pela competência e pelo exemplo; exigência e rigor de procedimentos explicitados, mas tudo isto com benevolência e compreensão humana.
Quando distintos intermediários, oligopolistas ou gente que nunca passou uma hora como gestor numa empresa da economia real vem para a comunicação social perorar sobre as implicações negativas da legislação laboral na produtividade, tal só pode ser classificado como ignorância ou má fé. O Relatório da AIP sobre a Competitividade (2010) em dez medidas de Políticas Públicas (pág.8) refere apenas em 6º lugar ”melhorar a flexibilidade laboral”. Por sua vez o Relatório da CIP de 2010 sobre a Indústria Portuguesa em 10 recomendações para a competitividade (pág. 92 e 93) não menciona sequer a legislação laboral – e com razão. Vários gestores estrangeiros com larga experiência profissional têm classificado designadamente os operários portugueses como dos melhores que têm conhecido pelo mundo fora: “o vosso problema é a gestão” – é afirmado. (1).
Efectivamente, como já dissemos, a experiência mostra que não mais que 10 a 15%, do tempo improdutivo, como estimativa, podem ser directamente atribuídos a falhas do trabalhador, inevitáveis para qualquer ser humano, em qualquer país. Os tempos improdutivos podem sempre ser reduzidos por adequadas medidas e acções da gestão.
Os custos da improdutividade e da não qualidade podem representar em média 20% do valor da facturação. A gestão da qualidade (Normas ISO 9000) e a gestão do desenvolvimento e inovação (NP 4457) são instrumentos que podem potenciar o aumento da produtividade se devidamente entendidos e postos em prática com este objectivo.
Cada empresa deve avaliar a sua competitividade, conciliando o saber mais actualizado, com a capacidade de aprender com a experiência, questionando as suas vantagens e desvantagens competitivas. O passo seguinte será tomar medidas para reforçar umas e reduzir ou eliminar outras, o que passa pela escolha de estratégias adequadas, baseadas em estudos de mercado (isto é, relativamente a Clientes, Fornecedores, Concorrentes e Evolução Tecnológica) e políticas da Qualidade, correctamente definidas e implementadas. Áreas de trabalho e objectivos prioritários de melhoria podem então ser apontados. Note-se que qualquer empresa só domina o seu processo produtivo, se tiver sob controlo todos os custos e se tiver capacidade para conceber e projectar os produtos, melhorar a concepção e métodos de trabalho, aumentando o valor produzido. O mito do investimento estrangeiro como panaceia e sem controlo nacional tem sido o oposto deste objectivo, corresponde a formas mais ou menos subtis de troca desigual.
Nos diversos níveis de gestão, são necessárias pessoas que compreendam todas as dimensões técnicas, económicas, pessoais e sociais da empresa, com formação humanista. A cultura globalmente entendida – como a entendia o grande matemático e democrata progressista Bento Jesus Caraça - é um factor decisivo na capacidade de evoluir e melhorar, necessária para organizar a participação de todos, ouvindo as pessoas, dando oportunidades, aproveitando os conhecimentos do pessoal para criar novas ideias.
A compreensão dos aspectos que influem no comportamento individual é fundamental para poder entender o funcionamento organizativo. A eficácia depende, em grande parte, da convergência que exista entre as necessidades e os objectivos individuais e as necessidades e objectivos da organização, para que quanto maior for esta convergência, maior seja a motivação de cada trabalhador.
Numa empresa – ou num país - sem capacidade para melhorar a produtividade culpam-se os trabalhadores, há um ambiente de suspeita, insatisfação, recalcamentos e insegurança.
Falámos em planos de melhorias, mas para isto é preciso haver mercado. O abaixamento do preço da força de trabalho, a redução do nível de vida e do PIB não oferece suficiente estímulo para introduzir novos elementos de progresso e inovação na produção. Corresponde a uma das contradições do capitalismo: o aumento da exploração opõe-se ao desenvolvimento económico. A desindustrialização e o desemprego são um exemplo desta situação com o objectivo de manter elevadas taxas de lucro. Na realidade, o capitalista só investe se previamente houver a perspectiva da existência de mercado para a produção resultante.
Há duas formas de aumentar a competitividade: reduzindo os “custos salariais” ou aumentando a produtividade, isto é, em ambos os casos reduzindo o valor (valor-trabalho) do que é produzido.
A primeira hipótese corresponde á deflação salarial, às medidas de austeridade e flexibilidade laboral. É a via da recessão e do desastre económico. Procura-se a competitividade no abaixamento dos custos salariais reduzindo impostos para o capital aumentando impostos para o consumo.
Para o reformista social Robert Owen (1771- 1858) a causa da depressão económica residia na desvalorização do trabalho humano. O sistema capitalista não conseguiu ultrapassar esta questão nem tem forma de o fazer - senão na medida em que deixar de o ser.
1 – As afirmações produzidas nestes casos são retiradas da experiência pessoal do autor, muitos anos como gestor inclusive de centenas de trabalhadores, quadros técnicos e operários.

4 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –31.2 – Produtividade I I

A produtividade é um factor decisivo do desenvolvimento económico. A produtividade representa a produção em unidades físicas por trabalhador (produtividade aparente) ou por hora de trabalho (trabalho presente). Falar em “produtividade do capital” é uma deformação sem consistência teórica, do que se está a falar é de taxa de lucro ou de renda.
A produtividade é contudo uma grandeza que cuja variação se processa de forma lenta: razão para ser objecto de continuados e persistentes esforços para a sua melhoria.
Em lugar de promover políticas consistentes de aumento da produtividade, Os sucessivos governos, alinhando com os dogmas neoliberais, pretendem alcançar mais competitividade prosseguido na via da deflação salarial (leis laborais, salário real) em função da sujeição aos “mercados”. Quando se fala em mercados, entenda-se que se trata dos interesses oligopolistas e transnacionais. A vida mostra que é o caminho da recessão e do desastre económico, mas nada mais encaixa naquelas cabeças.
A produtividade, duma empresa depende de um complexo de factores interligados, externos e internos à empresa.
No que diz respeito aos primeiros, salientamos a necessidade de planeamento económico a nível nacional e de apoios financeiros, tecnológicos e de gestão por parte do Estado às empresas que contribuam para o aumento da produção e cumprimento dos objectivos de um plano económico democrático, muito particularmente as PME. A criação de um ambiente propício ao aumento da produtividade implica a expansão do mercado interno, pelo aumento do nível de vida dos trabalhadores bem como políticas visando a produção de produtos importados, o que também permite o aumento quantitativo e qualitativo das exportações.
São, factores externos de improdutividade o não aproveitamento total das capacidades produtivas por redução da procura, o clima de estagnação ou recessão, seja geral seja sectorial, a redução do investimento – em particular o público alavancando o desenvolvimento económico, a falta de planeamento e coordenação económica, as dificuldades no crédito. Os preços de monopólio das grandes empresas do sector energético, telecomunicações, etc., não estando directamente ligadas à produtividade, condicionam a competitividade, a capacidade de investimento e desenvolvimento das demais. Tal como os juros, constituiem uma extracção da mais valia gerada nas MPME e de todos os demais trabalhadores enquanto consumidores.
Outro aspecto que deve ser salientado é a burocracia de um aparelho de Estado alheado do incremento e defesa da produção nacional, muitas vezes mais voltado para a subordinação acrítica às regras da UE, com o complexo subserviente e acéfalo do “bom aluno”. Serviu-lhes de muito…
Quanto aos factores internos, consideremos que o tempo de trabalho se pode decompor-se em tempo básico e tempo improdutivo. O tempo básico é o tempo dispendido se o trabalho se realizasse de forma perfeita a um ritmo normal de actividade, incluindo tempos de descanso necessários à recuperação da fadiga e tempos de preparação do trabalho sem erros. É o limite que deve procurar atingir-se considerando determinados meios de trabalho. Pode portanto reduzir-se melhorando o nível tecnológico dos equipamentos disponíveis e os processos produtivos utilizados.
O tempo improdutivo é o tempo dispendido para além do conteúdo básico do trabalho e pode resultar de excesso de trabalho ou de tempos de paragem. Do ponto de vista material o tempo improdutivo tem origem em deficiências dos materiais ou em deficiências do processo de trabalho. De um ponto de vista digamos imaterial pode ser imputável à gestão ou imputável ao trabalhador.
A produtividade significa tecnologia e inovação, mas também organização e motivação, sem o que os primeiros não se concretizam de todo ou apenas de forma deficiente.
Embora as situações possam variar grandemente de sector para sector e empresa para empresa, apresentamos aqui uma abordagem geral do tema.
As deficiências nos materiais provocam atrasos, devoluções, trabalho repetido, incerteza e aleatoriedade quanto aos produtos finais não permitindo uma qualidade elevada e uniforme – questão extremamente importante na produção. Têm origem em especificações erradas ou incompletas, deficiente avaliação e selecção de fornecedores, inspecções e ensaios insuficientes ou inadequados, Em resumo: falhas do projecto ou falhas na gestão dos fornecimentos.
O processo de trabalho é expresso em procedimentos e instruções (ditas de trabalho ou operacionais) e resulta da fase de projecto ou engenharia (de base e de detalhe). A improdutividade causada por deficiências do processo, resulta nomeadamente de inadequada concepção, de elementos de projecto errados ou incompletos, de preparação do trabalho insuficiente, falta de normalização, utilização de ferramentas ou equipamentos inadequados ou obsoletos, em resumo métodos de trabalho e práticas incorrectas, originando correcções e emendas devido a erros, falhas, etc., e consequentemente excesso de trabalho ou paragens, logo baixa produtividade.
Se os diversos níveis de gestão e os executantes não estiverem devidamente informados e mobilizados para estas questões ocorrem tempos improdutivos por mau planeamento; falta de coordenação e preparação do trabalho, falhas no fornecimento de material, deficiente manutenção dos equipamentos e ferramentas, enfim, ritmo mais lento que o estipulado devido à falta de preparação e controlo do trabalho, falta de segurança, ausência de objectivos quantificados e documentados. Todos estes aspectos são em última análise de responsabilidade da gestão da empresa que deve ter em conta o conjunto de variáveis e condicionantes que influem sobre a organização e a melhoria da produtividade.
Compete também á gestão proporcionar adequada formação e motivação dos trabalhadores, elementos fundamentais (condição sine qua non), do aumento de produtividade.
Numa empresa motivada para o aumento da produtividade desenvolvem-se valores comuns, estimula-se a progressão nas carreiras, estabelecem-se formas de recompensa, partilham-se os resultados obtidos. Há amizades pessoais, objectivos e projectos comuns. O pessoal a todos os níveis tem adequada formação, está informado e motivado moral e materialmente, para os objectivos a alcançar.
No pólo oposto encontramos os factores que tornam uma empresa improdutiva. Encontramos pessoal indeciso e frustrado, vivendo na insegurança quanto ao futuro. A motivação é negativa pelo receio do despedimento, há falta de interacção entre objectivos pessoais e os da empresa, as responsabilidades são dissipadas no ambiente de crise e instabilidade. A gestão longe de desenvolver e aproveitar a capacidade criadora dos trabalhadores e os escutar considera-os meros executantes e seres descartáveis.
Os actuais estrategas governamentais e seus próceres consideram no entanto que os despedimentos arbitrários são um factor decisivo – daí a pretendida lei – no aumento da produtividade. Ora, mostra e experiência que a parte imputável ao trabalhador nas situações de improdutividade não ultrapassa os 10 a 15% do total. Veremos como e porquê.