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4 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –31.2 – Produtividade I I

A produtividade é um factor decisivo do desenvolvimento económico. A produtividade representa a produção em unidades físicas por trabalhador (produtividade aparente) ou por hora de trabalho (trabalho presente). Falar em “produtividade do capital” é uma deformação sem consistência teórica, do que se está a falar é de taxa de lucro ou de renda.
A produtividade é contudo uma grandeza que cuja variação se processa de forma lenta: razão para ser objecto de continuados e persistentes esforços para a sua melhoria.
Em lugar de promover políticas consistentes de aumento da produtividade, Os sucessivos governos, alinhando com os dogmas neoliberais, pretendem alcançar mais competitividade prosseguido na via da deflação salarial (leis laborais, salário real) em função da sujeição aos “mercados”. Quando se fala em mercados, entenda-se que se trata dos interesses oligopolistas e transnacionais. A vida mostra que é o caminho da recessão e do desastre económico, mas nada mais encaixa naquelas cabeças.
A produtividade, duma empresa depende de um complexo de factores interligados, externos e internos à empresa.
No que diz respeito aos primeiros, salientamos a necessidade de planeamento económico a nível nacional e de apoios financeiros, tecnológicos e de gestão por parte do Estado às empresas que contribuam para o aumento da produção e cumprimento dos objectivos de um plano económico democrático, muito particularmente as PME. A criação de um ambiente propício ao aumento da produtividade implica a expansão do mercado interno, pelo aumento do nível de vida dos trabalhadores bem como políticas visando a produção de produtos importados, o que também permite o aumento quantitativo e qualitativo das exportações.
São, factores externos de improdutividade o não aproveitamento total das capacidades produtivas por redução da procura, o clima de estagnação ou recessão, seja geral seja sectorial, a redução do investimento – em particular o público alavancando o desenvolvimento económico, a falta de planeamento e coordenação económica, as dificuldades no crédito. Os preços de monopólio das grandes empresas do sector energético, telecomunicações, etc., não estando directamente ligadas à produtividade, condicionam a competitividade, a capacidade de investimento e desenvolvimento das demais. Tal como os juros, constituiem uma extracção da mais valia gerada nas MPME e de todos os demais trabalhadores enquanto consumidores.
Outro aspecto que deve ser salientado é a burocracia de um aparelho de Estado alheado do incremento e defesa da produção nacional, muitas vezes mais voltado para a subordinação acrítica às regras da UE, com o complexo subserviente e acéfalo do “bom aluno”. Serviu-lhes de muito…
Quanto aos factores internos, consideremos que o tempo de trabalho se pode decompor-se em tempo básico e tempo improdutivo. O tempo básico é o tempo dispendido se o trabalho se realizasse de forma perfeita a um ritmo normal de actividade, incluindo tempos de descanso necessários à recuperação da fadiga e tempos de preparação do trabalho sem erros. É o limite que deve procurar atingir-se considerando determinados meios de trabalho. Pode portanto reduzir-se melhorando o nível tecnológico dos equipamentos disponíveis e os processos produtivos utilizados.
O tempo improdutivo é o tempo dispendido para além do conteúdo básico do trabalho e pode resultar de excesso de trabalho ou de tempos de paragem. Do ponto de vista material o tempo improdutivo tem origem em deficiências dos materiais ou em deficiências do processo de trabalho. De um ponto de vista digamos imaterial pode ser imputável à gestão ou imputável ao trabalhador.
A produtividade significa tecnologia e inovação, mas também organização e motivação, sem o que os primeiros não se concretizam de todo ou apenas de forma deficiente.
Embora as situações possam variar grandemente de sector para sector e empresa para empresa, apresentamos aqui uma abordagem geral do tema.
As deficiências nos materiais provocam atrasos, devoluções, trabalho repetido, incerteza e aleatoriedade quanto aos produtos finais não permitindo uma qualidade elevada e uniforme – questão extremamente importante na produção. Têm origem em especificações erradas ou incompletas, deficiente avaliação e selecção de fornecedores, inspecções e ensaios insuficientes ou inadequados, Em resumo: falhas do projecto ou falhas na gestão dos fornecimentos.
O processo de trabalho é expresso em procedimentos e instruções (ditas de trabalho ou operacionais) e resulta da fase de projecto ou engenharia (de base e de detalhe). A improdutividade causada por deficiências do processo, resulta nomeadamente de inadequada concepção, de elementos de projecto errados ou incompletos, de preparação do trabalho insuficiente, falta de normalização, utilização de ferramentas ou equipamentos inadequados ou obsoletos, em resumo métodos de trabalho e práticas incorrectas, originando correcções e emendas devido a erros, falhas, etc., e consequentemente excesso de trabalho ou paragens, logo baixa produtividade.
Se os diversos níveis de gestão e os executantes não estiverem devidamente informados e mobilizados para estas questões ocorrem tempos improdutivos por mau planeamento; falta de coordenação e preparação do trabalho, falhas no fornecimento de material, deficiente manutenção dos equipamentos e ferramentas, enfim, ritmo mais lento que o estipulado devido à falta de preparação e controlo do trabalho, falta de segurança, ausência de objectivos quantificados e documentados. Todos estes aspectos são em última análise de responsabilidade da gestão da empresa que deve ter em conta o conjunto de variáveis e condicionantes que influem sobre a organização e a melhoria da produtividade.
Compete também á gestão proporcionar adequada formação e motivação dos trabalhadores, elementos fundamentais (condição sine qua non), do aumento de produtividade.
Numa empresa motivada para o aumento da produtividade desenvolvem-se valores comuns, estimula-se a progressão nas carreiras, estabelecem-se formas de recompensa, partilham-se os resultados obtidos. Há amizades pessoais, objectivos e projectos comuns. O pessoal a todos os níveis tem adequada formação, está informado e motivado moral e materialmente, para os objectivos a alcançar.
No pólo oposto encontramos os factores que tornam uma empresa improdutiva. Encontramos pessoal indeciso e frustrado, vivendo na insegurança quanto ao futuro. A motivação é negativa pelo receio do despedimento, há falta de interacção entre objectivos pessoais e os da empresa, as responsabilidades são dissipadas no ambiente de crise e instabilidade. A gestão longe de desenvolver e aproveitar a capacidade criadora dos trabalhadores e os escutar considera-os meros executantes e seres descartáveis.
Os actuais estrategas governamentais e seus próceres consideram no entanto que os despedimentos arbitrários são um factor decisivo – daí a pretendida lei – no aumento da produtividade. Ora, mostra e experiência que a parte imputável ao trabalhador nas situações de improdutividade não ultrapassa os 10 a 15% do total. Veremos como e porquê.

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