A política dita de “incentivos” às empresas a ser posta em prática resulta da conhecida doutrina neoliberal – monetarista do “supply side economics”, ou seja, a economia pelo lado da oferta. Até então as crises iam sendo melhor ou pior ultrapassadas pelo lado da procura melhorando as condições dos consumidores e pelo investimento público (dinamizando a chamada procura agregada) a que se seguia uma retoma da produção e do investimento. No essencial, isto representava, mais salários, mais garantias laborais e sociais, intervenção do Estado na esfera produtiva, dando confiança aos agentes económicos. Eram as medidas contraciclícas. Medidas que em termos de outras técnicas se podiam considerar correctivas e paliativas, mas não preventivas, o que implicaria mudar de sistema económico.
Quando os neoliberais se apossaram do poder - em consequência precisamente da ausência das tais medidas preventivas e do oportunismo de certa esquerda ou considerada como tal – os dados foram invertidos. Agora, a solução consistia em melhorar a oferta, o que na prática se traduziu principalmente em: redução de salários e direitos (reduzir os chamados “custos do trabalho”) e dádivas ao capital, os tais incentivos, sob a forma de redução de impostos, subsídios, outras facilidades, etc. de que apenas aproveitam as grandes empresas enquanto as MPME fecham cerca de 100 por dia (40 000 em 2011). Eis o resultado da política de “incentivos”. Para quem? – é legítimo perguntar.
O lema era e ainda é: “que os ricos sejam mais ricos para os pobres serem menos pobres”. John Keneth Galbraith traduziu isto muito bem, dizendo que nesta política: “os ricos nunca são demasiado ricos para investir mais, os pobres nunca são demasiado pobres para trabalhar mais.”
Ouro sobre azul para o grande capital que paga menos, tem mais lucros, e ainda por cima recebe dinheiro dos contribuintes, isto é, dos trabalhadores que entretanto ganham menos.
A inutilidade, o absurdo, o prejudicial destas “medidas” está mais que provado na prática. Michael Hudson referia que “O governo norte-americano gastou 13 biliões de dólares em resgates financeiros desde a falência da Lehman Brothers em Setembro de 2008. No entanto o sr. Obama alerta-nos para o facto de que, daqui a 30 anos, o défice da Segurança Social pode chegar a 1000 milhões de dólares, e é para prevenir esse mesmo défice que ele procura cortar nos pagamentos hoje.” (www.reistir.info 29.julho.2011)
Em 2009 “o governo dos (EUA) gastou US$ 3 milhões de milhões para uma pequena recuperação avaliada em 3% do PIB, cerca de 400 mil milhões de dólares em crescimento económico. Pois bem, gastar 3 milhões de milhões de dólares para obter 400 mil milhões é um péssimo negócio…” (www.reistir.info – Atílio Boron - 29.julho.2011
Ou seja, como refere Atílo Borón 16 milhões de milhões de 2007 a 2009.
Valeu a pena? Para esta gente tudo vale a pena quando a ganância não é pequena…
“Nicholas Kristof, del New York Times, recuerda que "Los directivos de las mayores empresas norteamericanas ganaban una media de 42 veces más que el trabajador promedio en 1980, y 531 veces más en 2001. Quizás la estadística más asombrosa es esta: entre 1980 y 2005, más de cuatro quintos del aumento total de las rentas estadounidenses fueron a parar al 1% más rico." (www.rebelion org - 15-01-2011 Cuando el sueño americano se transforma en pesadilla - Aram Aharonian Alainet).
Nos EUA como na UE, lá como cá todos estes “incentivos” tiveram como resultado mais desemprego, mais pobreza, estagnação ou recessão económica.
Porquê? Por que de acordo com as leis do capitalismo o capital não se movimenta no sentido das necessidades sociais, mas do maior lucro e isto requer, como é evidente, uma procura solvente. Daí refugiar-se na especulação e na usura.
Em Portugal não têm faltado medidas de “incentivo” – nas quais se incluem as alterações às leis laborais – por parte dos últimos governos. Qual o resultado? A situação em que o país se encontra.
Este governo agrava a mesma via de desastre, submetendo-se à Inquisição de Bruxelas e ao papado de Berlim.
O priorado desta teologia está diariamente na TV a ensinar as pessoas a serem pobres e estarem satisfeitas. A promover o “pensamento positivo” e a “criatividade”, enquanto o B de P anunciava no final de 2011 que o consumo privado recuaria 6% (9,6 em 2 anos) e o público 2,9% (6,1% em 2 anos). Previsões que já se confirma serem piores.
Ganância e /ou estupidez? Eis a questão.
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