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29 de janeiro de 2014

Aparentes Paradoxos da Teoria Quantitativa de Dinheiro

Aqui há dias, participando numa aula de uma «universidade senior» para que tinha sido convidado como palestrante (estou sempre disponível para tertúlias e afins para que me queiram convidar), um dos presentes colocou uma questão extremamente relevante (e actual...).
Só o adiantado da hora – o espaço utilizado tinha mesmo que fechar - impediu muitas e mais detalhadas explicações.
A questão levantada tinha a ver com os possíveis (ou eventuais) efeitos inflacionários de toda a massa monetária que tem sido criada para «incentivar a economia», assim como os montantes «astronómicos» parqueados no sistema mundial «offshore» e saltitando de refúgio fiscal em refúgio fiscal sempre em fuga a eventuais inspecções (os banqueiros chamam-lhes mesmo «contas saltitantes»). E alguns dos «seniores» presentes manifestaram uma legítima preocupação sobre o que poderia acontecer se (ou quando) toda essa massa monetária entrar em circulação (ou algo assim...).
A convencional «teoria quantitativa da moeda» diz-nos que o nível geral de preços é determinado (é função de...) pela quantidade de dinheiro (a multiplicar pela velocidade de circulação da moeda) dividida pela quantidade de bens e serviços disponíveis para venda no mercado.
Este modelo explicativo, ainda que básico (ou rudimentar, dirão os mais sofisticados) tem alguma pertinência explicativa para a compreensão do que está a acontecer.
Todos aqueles mais curiosos destas coisas da economia e da História sabem o que foi a «inflação galopante» dos tempos da Alemanha a seguir ao fim da primeira guerra mundial. Mais recentemente foi notícia a hiper-inflação no Zimbabué. Tudo isso «porque havia dinheiro a mais em circulação».
Perante estes cenários parece perfeitamente normal que cada um se interrogue sobre o que pode acontecer (a todo o instante?...) à «nossa» inflação. Acontece que na tal equação acima referida, temos no numerador a «quantidade de dinheiro» e «velocidade de circulação» e, por outro lado, temos no denominador a «quantidade de bens e serviços disponíveis para venda».
Na situação actual temos que grande parte daquela (alarmante?...) massa monetária acima referida está parqueda (ênfase no «parqueada»... Por outras palavras, grande parte (impossível saber quanto...) não circula (a não ser em circuito fechado no sistema «offshore»...); está parada. E quando circula não é para «ir às compras a qualquer centro comercial».
Por outro lado, no que respeita ao denominador da tal fracção, a quantidade de bens e serviços disponíveis é grande. Muito grande mesmo (vejam-se as promoções e saldos tornados corriqueiros ao longo de todo o ano...). Também em consequência da «crise de sobreprodução» em que estamos mergulhados de há uns anos a esta parte, parece que não haverá grandes razões para temer um hiper inflação a curto ou médio prazo.
Os indíces de inflação em cada país são calculados com base num determinado «capaz de compras», e são afectados pelo «poder de compra» (a «procura efectiva») da esmagadora maioria da população. Parece que os «ferraris» e «lamborghinis» não entram naqueles cálculos. 
O poder de compra da esmagadora maioria da poplução está a sofrer cortes de há uns anos a esta parte (na Alemanha, por exemplo, há uns vinte anos a esta parte que os trabalhadores não sabem o que são aumentos reais dos seus salários). Temos portanto uma quantidade de dinheiro razoavelmente estabilizada em procura efectiva de bens e serviços. Do «outro lado» temos uma quantidade de bens e serviços que até aumenta. É por isso que um dos grandes medos dos empresários é o risco oposto: o de uma deflação!
Entretanto, e para ajudar à complexidade disto tudo, e na medida em que a inflação é uma desvalorização efectiva do «valor» do dinheiro, a inflação joga sempre a favor dos devedores e contra os credores... Também por essa razão, os «nossos» credores não estão muito interessados em vir a despoletar uma hiperinflação. O melhor mesmo (para eles, claro...) é deixar estar todo aquele dinheiro «parqueado» no sistema «offshore». Assim, lá onde está, funciona como uma espada de Damocles que eles não querem que caia no pescoço dos devedores, mas que «nunca se sabe».
É uma forma de chantagem.
A questão fundamental que aqui então se coloca seria então a de saber quando haverá coragem política para «call off the bluff». 
Ou seja, riscar o montante da dívida, pelo menos na parte que diz respeito a pura ficção financeira.

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