Nota sobre a execução orçamental de 2013
Os dados da execução orçamental de 2013
hoje divulgados pela Direcção Geral do Orçamento e na óptica da Contabilidade
Pública dizem-nos que o défice provisório das Administrações Públicas relevante
para efeitos de aferição do cumprimento do Programa de Ajustamento Económico e
Financeiro (PAEF) terá sido de 7 151,5 milhões de euros, valor que é inferior
ao limite de 8 900 milhões definidos no PAEF em 1 748,5 milhões de euros. Com
este saldo o défice na óptica da Contabilidade Pública terá sido em 2013 de
4,3%, mas atenção o apuramento do défice oficial será agora feito na óptica das
Contas Nacionais por parte do INE e só será conhecido no final de Março.
A execução
orçamental em 2013 foi fortemente influenciado pelos seguintes factos:
1.
Um enorme aumento do IRS cobrado a trabalhadores
e pensionistas, com um aumento de 35,5%, mais 3 222,2 milhões de euros cobrados.
Confirmou-se desta forme o enorme aumento de imposto de que falava o anterior
ministro das finanças, em especial do IRS;
2.
Um enorme aumento das Contribuições para a CGA e
ADSE por parte dos aposentados e trabalhadores da Administração Pública, mais
34,5% e mais 1 305,5 milhões de euros de receita para o Estado.
3.
Um saldo global da segurança social superior em
cerca de 400 milhões de euros em relação ao previsto no Orçamento de Estado
rectificativo, que resultou de uma despesa inferior em pagamentos de subsídio
de desemprego e apoios sociais ao que estava orçamentado. De notar que a menor despesa
com subsídio de desemprego em relação ao orçamentado não resultou da descida do
desemprego como diz o Governo, já que mais de 60% dos desempregados não têm
acesso ao subsídio de desemprego, mas resultou do menor montante do subsídio de
desemprego a que têm direito os desempregados e das crescentes dificuldades em
aceder a ele.
4.
De um escandaloso perdão fiscal aprovado pelo
Governo para os últimos 3 meses do ano que lhe permitiu arrecadar mais 1 277
milhões de euros de receita fiscal. Dizemos escandaloso porque enquanto os
trabalhadores por conta de outrem e os reformados e pensionistas ao receberem o
seu salário ou pensão veêm já descontado o IRS na fonte, outros pelo contrário
fogem aos seus deveres fiscais e ainda podem vir a beneficiar deste tal perdão
fiscal. O Governo com esta medida apoia e incentiva a evasão fiscal, não
podemos ignorar anteriores perdões fiscais a capitais ilegalmente transferidos
para o estrangeiro e que em anos anteriores com este Governo também
beneficiaram de perdão fiscal, em detrimento do cumprimento dos deveres fiscais
por parte de todos os portugueses e não apenas dos trabalhadores por conta de
outrem e dos pensionistas. Este perdão fiscal que representa por si só 0,8% do
PIB de 2013, distribui-se por IRC e IRS 733 milhões de euros, IVA e Imposto de
Selo 217 milhões de euros, ISP,ISV,IT,IABA e IUC 41 milhões, IMI mais IMT 54
milhões e regularização de dívidas à Segurança Social 232 milhões de euros.
Seria importante saber-se exactamente qual foi o perdão fiscal concedido em
sede de IRC e em sede de IRS e como se distribui este mesmo perdão fiscal por
rendimentos do trabalho por conta de outrem, dividendos, mais-valias e
rendimentos prediais.
5.
De mais uma queda abrupta da despesa do Estado
com investimento, menos 38,2% no último ano e menos 933 milhões de euros de
investimento público em relação a 2012.
Vale a pena relembrar,
como digo no início desta nota, que apesar de todo o foguetório do governo em
torno do alcançar do pretenso objectivo do défice orçamental para 2013 e que
era de 5,5% do PIB (- 9 083,9 milhões de euros), ainda é cedo para chegar a
essa conclusão, pois os resultados hoje conhecidos referem-se ao défice público
na óptica da Contabilidade Pública e competirá agora ao INE fazer a respectiva
conversão para a óptica da Contabilidade Nacional. O resultado dessa conversão
só será conhecido no final do próximo mês de Março e já agora no ano passado a
passagem do défice na optica da Contabilidade Pública para a Contabilidade Nacional
levou ao seu agravamento em mais 3 788,9 milhões de euros (mais 2,3 pontos
percentuais).
Em
síntese pode dizer-se que a execução orçamental de 2013 fica marcada por um
enorme aumento da carga fiscal sobre os trabalhadores e os reformados, por um
enorme aumento das Contribuições para a CGA e ADSE por parte dos aposentados e
trabalhadores da Administração Pública, por uma poupança extraordinária na
despesa da Segurança Social em relação ao orçamentado como resultado de cortes
no subsídio de desemprego e apoios sociais e, por uma receita fiscal
extraordinária que representa quase 0,8% do PIB, proveniente de um escandaloso
perdão fiscal. Se o resultado do défice é inferior aos 5,5% do PIB definidos no
OE para 2013 saberemos lá mais adiante.
23 de Janeiro de
2014
José Alberto
Lourenço (CAE)
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