Nota
sobre a Execução Orçamental dos 1ºs cinco meses de 2014
1. Os dados da execução orçamental referentes
aos primeiros cinco meses de 2014 agora divulgados pela Direcção Geral do
Orçamento (DGO), permitem desde já afirmar que os resultados da execução orçamental
se vão degradando de mês para mês, apesar da enorme carga fiscal a que
trabalhadores e famílias continuam submetidos. Os quadros seguintes com a
evolução mensal dos principais impostos e com a sua variação homóloga e
homóloga acumulada são bem elucidativos.
Receita
Fiscal Mensal Consolidada da Administração Central e da Segurança Social
|
(em
milhões de euros)
|
|||||||
Impostos
Directos
|
Impostos
Indirectos
|
Receita
Fiscal
|
||||||
Total
|
IRS
|
IRC
|
Total
|
IVA
|
ISP
|
|||
2013
|
Jan
|
1127,9
|
991,3
|
135,7
|
1635,2
|
997,2
|
194,2
|
2.763,1
|
Fev
|
999,3
|
939,4
|
59,0
|
2229,3
|
1794,2
|
164,1
|
3.228,6
|
|
Mar
|
1239,8
|
1072,8
|
167,1
|
1158,4
|
720,3
|
148,8
|
2.398,2
|
|
Abr
|
1137,9
|
944,2
|
193,0
|
1348,4
|
821,0
|
163,3
|
2.486,3
|
|
Mai
|
1848,1
|
405,1
|
1421,2
|
1942,6
|
1353,1
|
175,5
|
3.793,3
|
|
Jan-Mai
|
6353,0
|
4352,8
|
1976,0
|
8313,9
|
5685,8
|
845,9
|
14.669,5
|
|
2014
|
Jan
|
1350,0
|
1231,2
|
118,5
|
1716,2
|
1038,7
|
177,0
|
3.066,2
|
Fev
|
1089,0
|
1041,5
|
46,6
|
2314,9
|
1853,7
|
164,3
|
3.403,9
|
|
Mar
|
1191,1
|
1025,7
|
165,2
|
1133,1
|
704,0
|
154,6
|
2.324,2
|
|
Abr
|
1251,2
|
1040,8
|
210,3
|
1403,6
|
838,8
|
171,7
|
2.654,8
|
|
Mai
|
1778,3
|
420,7
|
1307,0
|
2006,6
|
1413,0
|
170,5
|
3.784,9
|
|
Jan-Mai
|
6659,6
|
4759,9
|
1847,6
|
8574,4
|
5848,2
|
838,1
|
15.234,0
|
Receita Fiscal Consolidada da Adm
Central e da Segurança Social
|
(Variação homóloga em %)
|
|||||||
Impostos
Directos
|
Impostos
Indirectos
|
Receita
Fiscal
|
||||||
Total
|
IRS
|
IRC
|
Total
|
IVA
|
ISP
|
|||
2014
|
Jan
|
19,7
|
24,2
|
-12,7
|
5,0
|
4,2
|
-8,9
|
11,0
|
Fev
|
9,0
|
10,9
|
-21,0
|
3,8
|
3,3
|
0,1
|
5,4
|
|
Mar
|
-3,9
|
-4,4
|
-1,1
|
-2,2
|
-2,3
|
3,9
|
-3,1
|
|
Abr
|
10,0
|
10,2
|
9,0
|
4,1
|
2,2
|
5,1
|
6,8
|
|
Mai
|
-3,8
|
3,9
|
-8,0
|
3,3
|
4,4
|
-2,8
|
-0,2
|
|
Fonte: Sínteses Mensais da Execução
Orçamental da DGO
|
Receita Fiscal Consolidada da Adm
Central e da Segurança Social
|
(Var homólog acumulada %)
|
|||||||
Impostos
Directos
|
Impostos
Indirectos
|
Receita
Fiscal
|
||||||
Total
|
IRS
|
IRC
|
Total
|
IVA
|
ISP
|
|||
2014
|
Jan
|
19,7
|
24,2
|
-12,7
|
5,0
|
4,2
|
-8,9
|
11,0
|
Fev
|
14,7
|
17,7
|
-15,2
|
4,3
|
3,6
|
-4,7
|
8,0
|
|
Mar
|
7,8
|
9,8
|
-8,7
|
2,8
|
2,4
|
-2,2
|
4,8
|
|
Abr
|
8,4
|
9,9
|
-2,6
|
3,1
|
2,4
|
-0,4
|
5,3
|
|
Mai
|
4,8
|
9,4
|
-6,5
|
3,1
|
2,9
|
-0,9
|
3,8
|
|
Fonte: Sínteses Mensais da Execução
Orçamental da DGO
|
2. Como vimos afirmando desde o início
do ano a melhoria considerável registada na arrecadação da receita fiscal, não resultou
fundamentalmente da retoma da actividade económica mas de um mero efeito
estatístico base. A aprovação do enorme aumento do IRS (cerca de 30%) com o
orçamento para 2013, só teve efeito na retenção do IRS na fonte para a grande
maioria dos trabalhadores por conta de outrem no mês de Março de 2013. Assim
sendo, a subida considerável em termos homólogos da receita de IRS nos meses de
Janeiro e Fevereiro passados, resultou apenas desse mero efeito estatístico.
3. O quadro acima com a variação
homóloga mensal de cada um dos principais impostos e em especial do IRS,
confirmam que a partir do 1º mês comparável com o ano anterior, o mês de Março,
a receita de IRS ou cai ou abranda consideravelmente. Para além do IRS a queda do
IRC (-6,5% nos 1ºs cinco meses), a queda do ISP (-0,9% no mesmo período) e até
mesmo o comportamento do IVA, que cresceu apenas neste período 2,9%, permitem
concluir que a retoma da actividade económica a ter-se verificado foi muito
ténue e não é ainda claro que seja sustentada.
4. Repare-se que a receita fiscal depois
de ter caído em Março (-3,1%), voltou a caír em Maio (-0,1%), apesar de o
Governo estar a retardar parte dos reembolsos, nomeadamente do IRS - neste
período reembolsou menos 118 milhões de euros do que em igual período do ano
passado, dos quais 37 milhões de euros são reembolsos do IRS -. Caso o volume
de reembolsos tivessem sido em Maio idênticos ao do ano passado, a queda da
receita fiscal teria neste mês atingido os 3%.
5. Claro que ao longo do corrente ano
iremos ser confrontados com este desfasamento entre as variações homólogas
mensais e as variações acumuladas. Este efeito resultante de dois meses em que
as variações homólogas mensais foram anómalas vai perdurar ao longo do ano
afectando a leitura das variações homólogas acumuladas. O Governo e a direita
que o sustenta (PSD e CDS) vão cavalgar este efeito durante todo o ano e nós
naturalmente teremos que continuar a desmontar esta estratégia.
6. A execução orçamental dos primeiros cinco
meses do ano, foi ainda marcada por outros resultados que permitem questionar a
tão propalada retoma económica e os bons resultados da execução orçamental, de
que o Governo não se cansa de falar:
6.1. As receitas da Segurança Social
provenientes das contribuições e quotizações de trabalhadores e entidades
patronais tiveram uma variação de apenas 1,9% neste período, apesar do
acréscimo de receita obtida com a contribuição extraordinária de solidariedade
e com o aumento da contribuição das entidades empregadoras públicas para a
Caixa Geral de Aposentações (CGA) de 20% para 23,75%. Assim sendo onde está
reflectido o efeito do aumento do emprego de que o Governo fala, já que as
contribuições e quotizações têm apenas uma pequena variação e o IRS retirado o
efeito base, parece estar a desacelerar fortemente?
6.2. Numa altura em que o Governo se vangloria dos enormes cortes
que tem feito nos chamados consumos intermédios esquecendo-se do efeito
submarinos, as aquisições de bens e serviços cresceram neste período 0,2% e os
juros com encargos da Dívida cresceram 15,5%, atingindo os 2 557,3 milhões de
euros.
6.3. Entretanto apesar do preocupante nível atingido pela taxa de
pobreza em Portugal (24,7% em 2012 com cerca de 2,6 milhões de pobres) e da
percentagem cada vez maior de trabalhadores desempregados pobres (10,5% em
2012), a despesa do Estado com prestações sociais caiu neste período 1,5%
(menos 128,7 milhões de euros). Com quedas acentuadas no subsídio familiar a
crianças e jovens (-5,0%), no subsídio de desemprego (-13,5%), no complemento
solidário para idosos (-14,2%) e no rendimento social de inserção (-9,9%). O
Governo insiste nas políticas de empobrecimento dos portugueses.
7. Em conclusão a leitura dos resultados
da execução orçamental dos primeiros cinco meses do ano ao contrário do que o
Governo pretende fazer crer, não reflectem de forma clara uma melhoria do
mercado de trabalho e uma retoma da actividade económica. Os resultados do 1º
trimestre em que o PIB caiu em cadeia (-0,6%) e desacelerou em termos homólogos
(1,3%) são a prova clara de que o prosseguimento das actuais políticas de
empobrecimento do povo e dos trabalhadores, com o aumento da carga fiscal sobre
as famílias (IVA) e os trabalhadores (TSU), pode levar a que apesar da queda
acumulada do PIB nos últimos 3 anos a nossa economia permaneça estagnada ou em
recessão por mais algum tempo, forçando o governo a rever em baixa as suas
actuais previsões de crescimento do PIB para 2014 de 1,2%. Os resultados da evolução
do PIB no 2º trimestre do ano, cujas primeiras estimativas serão conhecidas no
início de Agosto, serão decisivos.
CAE, 24 de Junho de 2014
José Alberto Lourenço
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