Assertivo como qualquer fanático da religião neoliberal,
disparando falsidades, não se excedeu porque foi o que costuma ser. Para ele:
“o Syriza não quer pagar” (falso!). Tomou atitudes de “desrespeito aberto,
atrevido…não é maneira de negociar”. (falso e ridículo). Repare-se nos
qualificativos aplicados à defesa da vontade popular.
Para o sr. CN o problema da Grécia não é o euro, a troika,
os programas, são…gregos. Demita-se o povo, como dizia Brecht. Mas quais gregos?
Serão os que acreditaram nas tretas que o sr. CN e congéneres propalam?
Diz então que a Grécia recebeu imenso dinheiro e desapareceu, agora querem que
lhe deem mais … dinheiro dos outros.
Isto de falar em “gregos” e culpados, é coerente com uma
visão do mundo maniqueísta e racista, prevalecente na UE (os PIGS) e da conceção
de sociedades sem interesses de classe, em que oligarca e proletário têm o
mesmo poder e grau de liberdade, como se o sistema não trabalhasse para os primeiros à
custa dos segundos.
Para onde foi o dinheiro? Para a oligarquia europeia e seus
parceiros gregos. Entre 2008 e 2014, a Alemanha acumulou como diferença entre
RN e PIB 456,8 mil milhões de euros: a Grécia perdeu 21,6 mil milhões. A
pobreza e exclusão social na Grécia era em 2008, 28,1% da população, em 2013,
35,7%. O desemprego atingia em 2014 38% (oficial) entre os jovens atinge quase
60%.
Curioso foi o sr. CN acusar o governo grego de não aumentar
os impostos aos armadores gregos. Que ingenuidade! Esquece que segundo as
regras de “liberdade” que defende os armadores são livres de mudar de bandeira
praticamente de um dia para o outro.
O plano de resgate foi apresentado como benéfico para a Grécia, agora perante
o seu falhanço conta-se a história segundo a qual a população estava apagar os
seus pecados à doutrina neoliberal e a sua…desonestidade. Não a dos governos
neoliberais!
Na realidade, os fundos concedidos ao abrigo dos programas de resgate, lá
como cá, foram ditados estritamente pelos credores, geridos do exterior, impedindo
qualquer iniciativa em matéria orçamental. Verificou-se que menos de 10% do
montante dos fundos foram gastos nas despesas correntes do governo. O resto:
reciclagem de dívida, sempre a aumentar.
O relatório do Comité Internacional da Auditoria à dívida grega (pelo
CADTM, a pedido do Parlamento grego) chegou à conclusão que a Grécia não deve
pagar esta dívida porque é ilegal, ilegítima e odiosa. É importante ler o
relatório pelos ensinamentos para Portugal.
Cinco anos após o início dos programas de ajustamento, o país mergulhou numa
grave crise económica, social, democrática, ecológica. O aumento da dívida não
foi o resultado de gastos públicos excessivos, na verdade inferiores às de outros países da zona euro.
A maior parte da dívida vem do
pagamento aos credores a taxas de juros extremamente elevadas, despesas
militares excessivas e injustificadas, impostos não cobrados ao capital, custo
da recapitalização dos bancos privados, desequilíbrios internacionais inerentes
às regras da UE e do euro. E claro, a corrupção a favor da tão “eficiente”,
“iniciativa privada”… PPP, SWAP, o aventureirismo bancário, etc. Ver: http://cadtm.org/Synthese-du-rapport-de-la