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28 de junho de 2015

O sr. César das Neves e…os gregos

Num daqueles debates em que a TV tem sido fértil sobre a Grécia, com o objetivo de deixar tudo mais confuso e mostrar que com as alternativas “vocês lixam-se”, o sr. César das Neves (CN) não podia faltar. Note-se que no “carrocel dos comentadores” o PCP não tem entrada…Com o dizia Pacheco Pereira, “é invisível para a comunicação social”.
Assertivo como qualquer fanático da religião neoliberal, disparando falsidades, não se excedeu porque foi o que costuma ser. Para ele: “o Syriza não quer pagar” (falso!). Tomou atitudes de “desrespeito aberto, atrevido…não é maneira de negociar”. (falso e ridículo). Repare-se nos qualificativos aplicados à defesa da vontade popular.
Para o sr. CN o problema da Grécia não é o euro, a troika, os programas, são…gregos. Demita-se o povo, como dizia Brecht. Mas quais gregos? Serão os que acreditaram nas tretas que o sr. CN e congéneres propalam? Diz então que a Grécia recebeu imenso dinheiro e desapareceu, agora querem que lhe deem mais … dinheiro dos outros.
Isto de falar em “gregos” e culpados, é coerente com uma visão do mundo maniqueísta e racista, prevalecente na UE (os PIGS) e da conceção de sociedades sem interesses de classe, em que oligarca e proletário têm o mesmo poder e grau de liberdade, como se o sistema não trabalhasse para os primeiros à custa dos segundos.
Para onde foi o dinheiro? Para a oligarquia europeia e seus parceiros gregos. Entre 2008 e 2014, a Alemanha acumulou como diferença entre RN e PIB 456,8 mil milhões de euros: a Grécia perdeu 21,6 mil milhões. A pobreza e exclusão social na Grécia era em 2008, 28,1% da população, em 2013, 35,7%. O desemprego atingia em 2014 38% (oficial) entre os jovens atinge quase 60%.
Curioso foi o sr. CN acusar o governo grego de não aumentar os impostos aos armadores gregos. Que ingenuidade! Esquece que segundo as regras de “liberdade” que defende os armadores são livres de mudar de bandeira praticamente de um dia para o outro.
O plano de resgate foi apresentado como benéfico para a Grécia, agora perante o seu falhanço conta-se a história segundo a qual a população estava apagar os seus pecados à doutrina neoliberal e a sua…desonestidade. Não a dos governos neoliberais!
Na realidade, os fundos concedidos ao abrigo dos programas de resgate, lá como cá, foram ditados estritamente pelos credores, geridos do exterior, impedindo qualquer iniciativa em matéria orçamental. Verificou-se que menos de 10% do montante dos fundos foram gastos nas despesas correntes do governo. O resto: reciclagem de dívida, sempre a aumentar.
O relatório do Comité Internacional da Auditoria à dívida grega (pelo CADTM, a pedido do Parlamento grego) chegou à conclusão que a Grécia não deve pagar esta dívida porque é ilegal, ilegítima e odiosa. É importante ler o relatório pelos ensinamentos para Portugal.
Cinco anos após o início dos programas de ajustamento, o país mergulhou numa grave crise económica, social, democrática, ecológica. O aumento da dívida não foi o resultado de gastos públicos excessivos, na verdade inferiores às de outros países da zona euro.
A maior parte da dívida vem do pagamento aos credores a taxas de juros extremamente elevadas, despesas militares excessivas e injustificadas, impostos não cobrados ao capital, custo da recapitalização dos bancos privados, desequilíbrios internacionais inerentes às regras da UE e do euro. E claro, a corrupção a favor da tão “eficiente”, “iniciativa privada”… PPP, SWAP, o aventureirismo bancário, etc. Ver: http://cadtm.org/Synthese-du-rapport-de-la

18 de junho de 2015

A boa gestão…”bidelbergiana”

No Eixo do Mal (SIC Not.14-06-2015) a “bidelbergiana” Sra. D. Clara Ferreira Alves, afirmou que os casos da TAP, PT, BES, ANA, etc. mostram a incapacidade dos portugueses serem bons gestores. Por ex. a ANA tinha num ano após a privatização aumentado os lucros em 50%!
Diga-se que a ANA desde a privatização aumentou 5 (cinco!) vezes as tarifas aeroportuárias. Como dizia o outro: assim também eu… A frase não passa de uma aleivosia. A ANA dava lucro ao Estado e portanto ao país, antes de ser privatizada para franceses que aumentaram tarifas e tratam de levar os lucros para o exterior, o que não incomoda nada o ministro cervejeiro das taxinhas. Bons gestores, pudera!
À falta de melhor, arranja-se agora uma teoria racista dos portugueses “maus gestores”. Entregue-se tudo a estrangeiros que tão bem sabem destruir empresas como a Sorefame, a Sepsa, a Cimpor, etc., etc.. E, talvez, para demonstrar “cientificamente” a teoria dos “maus gestores” se regresse às teses do sr. Gobineau, ou mesmo do sr. Rosenberg, e se vá medir os crânios dos portuguese e ver se são braqui ou dolicocéfalos, como são configuradas as meninges e, já agora, o prognatismo…
A TAP, as empresas de transportes não dão prejuízos de exploração, mas sim financeiros e no caso da TAP do ruinoso negócio do Brasil. Tudo isto se sabe e se mente para uma opinião pública mantida desinformada e sob o stress do “não há dinheiro”, enquanto a riqueza criada no país vai para as mãos de uns poucos, que têm acrescidos benefícios fiscais e é transferida para o estrangeiro.
Não, o problema não são os portugueses, maus gestores. O problema são os governos do PS, PSD, mais o apêndice do CDS, promoveram a degradação de tudo o que era público, para venderam ao desbarato, criando um sistema parasitário, rentista.
A banca nacionalizada teve um papel importante na dinamização económica e apoio às PME, isto apesar da sabotagem que se começou a fazer sentir com a política de direita. Na indústria, a nacionalizações proporcionaram profundos processos de reorganização e investimento. As empresas públicas industriais e energéticas ao serem privatizadas eram empresas muito diferentes das que tinham sido nacionalizadas, muito mais valorizadas.
Quando á frente das empresas nacionalizadas e serviços públicos estive gente progressista, seriamente empenhada no projeto constitucional, expandiram-se, deram lucro. Nem um caso a reação pode apontar de incompetência ou corrupção. A política de direita sim, mostrou ser lesiva do interesse público, incompetente ou corrupta (as PPP e concessões, os SWAP!).
Enfim, a frase citada é mais uma das pretensas facécias de uma pequena ou média burguesia, alienada no seu labirinto de contradições, para defender a sua querida oligarquia, que lhe “dá o pão”, na expressão estúpida do “competente” administrador da Lusoponte e então ministro (do contrato ruinoso com a Lusoponte!) Ferreira do Amaral.
Ver: A nacionalização da Banca em Portugal, Carlos Gomes, Ed. UNICEP, 2011
 Desde a nacionalização da indústria e energia em 1975 até aos dias de hoje, Fernando Sequeira Avante, 26 de abril 2015

17 de junho de 2015


Nota sobre a população residente em Portugal em 2014


O INE divulgou no dia 16 de Junho a estimativa da população residente em Portugal em 2014. Em termos líquidos Portugal continua a perder População. A população residente em Portugal em 2014 foi estimada em 10 374 822, menos 52 479 habitantes do que em 2013.
Para além destes dados referentes à população residente, em que se verifica desde 2009 uma quebra contínua (residem em Portugal em 2014 cerca de menos 200 000 portugueses do que em 2009), o mais relevante é sem dúvida a evolução da emigração permanente e temporária.
Os dados agora divulgados permitem-nos afirmar que nos últimos 4 anos abandonaram o país cerca de meio milhão de portugueses. Dirá certamente o Governo que grande parte destes emigrantes são temporários e que os emigrantes permanentes são muito menos. Ora a definição de emigrante temporário é a de uma pessoa que sai do país com a intenção de permanecer noutro país por um período inferior a um ano e é exactamente nestas condições que centenas de milhares de portugueses têm ultimamente emigrado para outros países da União Europeia, tanto mais que para estes países a circulação e permanência se faz sem qualquer obstáculo e por esta mesma razão a esmagadora maioria daqueles que hoje emigram fá-lo para países da União Europeia e partem sem qualquer contrato de trabalho já assinado.
Os dados da emigração em 2014, os maiores de sempre, mesmo comparando com os nºs dos anos 60, justificam também em parte a aparente redução do desemprego neste ano. Ou será que alguém duvida que a esmagadora maioria dos cerca de 135 mil portugueses que o INE estima terem emigrado neste ano, eram trabalhadores desempregados ou jovens que há muito procuravam um emprego digno e não o encontravam?
Nesta como noutras matérias a verdade vem sempre ao de cima e aí estão estes dados a desmentir aqueles que veem nos ténues resultados económicos actuais, a retoma económica que salvará o país.
O que estes dados provam indiscutivelmente é que milhares e milhares de portugueses em quem o país investiu milhares de milhões de euros ao longo das últimas décadas, partem hoje em especial para outros países da União Europeia e vão ser estes países que a prazo vão beneficiar do investimento feito no nosso país, ao mesmo tempo que Portugal é cada vez um país mais pobre e desertificado.
CAE, 17 de Junho de 2015
José Alberto Lourenço  

  

16 de junho de 2015

A propósito da «venda» da TAP


... E a pensar em alguns comentários encontrados no Facebook

Ponto 1. Não há como separar a Política da Economia. Ou seja, não há problemas económicos separados (distintos, alheios a...) problemas políticos. Aliás a disciplina que estudava isso tudo começou por se chamar Economia Política... Era isso que estudavam Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill e tantos, tantos outros. Até que inventaram uma coisa chamada «Economics»...
Ponto 2. Importa separar o nível analítico da «gestão empresarial» dos níveis analíticos (ou perspectivas) da «gestão financeira», da «contabilidade de custos»...
Ponto 3. Importa também distinguir a questão da «gestão empresarial» da questão da «propriedade do capital».
Ponto 4. As pessoas que defendem a ideia de que o «Estado» (a colectividade politicamente organizada e soberana) tem que ser menos bom gestor do que o «Privado», são as pessoas que devem demonstrar tal facto, quer em termos de «dedução teórica» (recorrendo aos saberes das disciplinas da Psicologia Social e das Técnicas de Gestão, por exemplo...), quer em termos de evidência empírica (dando exemplos históricos suficientes...).
Ponto 5. Pela minha parte estou disponível para dar exemplos do contrário. Ou seja, que foi a iniciativa pública (decisão do poder soberano de alguns Estados) que esteve na origem de algumas das maiores e melhor sucedidas empresas do mundo.
Ponto 6. Tal como a Estatística, sendo uma disciplina rigorosa, pode ser manipulada e/ou instrumental na defesa de interesses escondidos, também a Contabilidade («arte dos registos económicos»...) pode ser (e tem sido muitas vezes...) utilizada para esconder realidades económicas objectivas. Os exemplos recentes são mais que muitos... Todos se lembrarão ainda do escândalo da ENRON e do conluio com uma das (então) mais prestigiadas firmas de contabilidade. Não é por acaso que o povo diz algo como isto, «com a verdade me enganas».
Ponto 7. Tudo isto - todos estes processos de privatizações «a mata cavalos» - deve ser visto de uma perspectiva histórica de médio/longo prazo. Tal como explico em alguns dos meus livros, estamos perante um processo em que os donos do Capital (na sua expressão financeira...) perante uma situação histórica de «esgotamento progressivo (e matematicamente relativo - sublinho o relativo) das oportunidades de investimento reprodutivo de bens e serviços (há dinheiro a mais e «casas», «roupas» e «automóveis» também a mais para o poder de compra disponível), pois esses donos do Capital (na sua expressão financeira...), viram-se para outras aplicações: comprar o que já existe (e que até estava no domínio público - as estradas... - e, significativamente, a dívida pública.
Ponto 8. É desta perspectiva que eu analiso (e critico...) a privatização da TAP. O resto, com todo o respeito e simpatia pelos alguns leitores de diversas «cores políticas», são detalhes de «lana caprina»...

15 de junho de 2015

A UE, a TAP, a Grécia e…José Vilhena

Dizia o humorista José Vilhena que tudo o que sabia bem ou era pecado ou fazia mal ao fígado. Assim estamos com a UE: tudo o que seria necessário para o desenvolvimento económico e social do país e a sua autodeterminação a sua soberania (sim, é isto que está em causa!), não pode ser feito…porque vai contra as regras da UE.
Mas então para que raio serve a UE e o seu euro?! Para tramar a vida dos portugueses e desmantelar o país? Pelo menos é o que acontece.
É ver os “comentadores/propagandistas” justificarem o escândalo da alienação da TAP - mais um destes governos do “arco da ruína do país”. Sem argumentos perante a evidência das trapalhices, inverdades, incúrias, provocações, satisfazem-se a dizer face à evidência de tudo o que podia e devia ser e ter sido feito para salvar a TAP, “não pode porque as regras da UE não permitem."
Mas então, qual é o conceito de país que esta gente tem? E de interesse nacional? O que se percebe é que os interesses da “UE" – isto é da oligarquia dominante e defensores fundamentalistas dos tais “mercados” - estão acima do país e do povo.
Eis, pois, a UE da pobreza, do desemprego, da estagnação e retrocesso democrático…com as suas sacrossantas regras.
Ao povo grego, sacrificado ao limite, dizem: “as regras da UE são para cumprir, têm de fazer mais “reformas”
Sabemos bem o que esta linguagem hipócrita quer dizer. Os funcionários da troika que nos visitam, não escondem ao que vêm e o que querem, o que tem sido convictamente feito por este governo da extrema-direita do PSD e CDS.
Desde janeiro saíram da Grécia 30 mil milhões de euros. Eis uma das “vantagens” apregoadas pelos “europeístas” que nos diziam que com o euro e a livre transferência de capitais os países não mais teriam problemas de financiamento! Viu-se. Mas são os mesmos que continuam a perorar defendendo na TV e jornais o inacreditável e inaceitável. Para isso são pagos.
Sabe-se que o cenário de saída da Grécia do euro já está estudado, talvez mesmo decidido. Segundo Jacques Sapir no seu blog (Greece : default ahead ? 12-06-2015) a saída da Grécia seria mais prejudicial à UE que à Grécia.
A pressão sobre o euro, a subida dos juros para países como Portugal, Espanha, Itália  - o que já se verifica - poderia conduzir a um efeito em cadeia. Para a Grécia uma desvalorização de 30% conduziria a uma inflação de 6 a 8% no primeiro ano. A Grécia teria possibilidades de fazer entrar parte dos capitais saídos do país através de medidas legais e fiscais.
De qualquer forma estas conversações seriam o cenário para a decisão já tomada, de forma a “salvar a face” de qualquer das partes.
Enfim, os países europeus mais frágeis têm de curar-se desta chamada União Monetária e UE: faz mal á saúde social e fisica das pessoas e se não é um pecado é um atentado à soberania e à democracia tão duramente conquistada na Europa contra o fascismo. 

 

8 de junho de 2015

As pescas do Portas Cavaco e Cristas...

Saíram novos dados do INE arrasadores para a política deste governo . Ficaram todos calados...até o Cavaco que serôdiamente descobriu a economia do mar primou pelo silêncio . Terá feito bem pois as suas afirmações em matéria económica têm tanta credibilidade como as que fez sobre o BES...


O DESASTRE DO GOVERNO PSD/CDS NAS PESCAS, CONFIRMADO PELO INE
1.Segundo o Governo PSD/CDS e a Ministra da Agricultura e Mar, Assunção Cristas, as pescas portuguesas navegam num mar de rosas. Mas ontem o INE tornou públicos dados que submergem toda a propaganda governamental para o sector. Um verdadeiro tsunami estatístico, reduziu os “êxitos” nas pescas, invocados pela Ministra, nomeadamente na União Europeia, a zero!
O que informou o INE:
-Que a quantidade de peixe capturado pela frota nacional – 119 890 toneladas – foi a menor de sempre, desde que existem registos estatísticos, 1969! Que houve uma redução de 17,1% face a 2013! Que a redução de capturas foi significativa na sardinha (42,8), no atum (menos 21,2%) e na cavala (menos 20,8%). É fraca consolação a subida do preço em lota de 19,1%, face à continuação de preços no consumidor muito distante da 1ª venda em lota!
-Que o défice da balança comercial dos produtos de pesca agravou-se em 44 milhões de euros (acréscimo de 7,1% face a 2013), atingindo o valor de 662,5 milhões de euros!
-Que a execução do PROMAR (Programa Comunitário 2017/2013), no fim de 2014, apesar de todas as mentiras do Ministério, estava em 69,4%, havendo portanto o risco real de perda de fundos comunitários! Mas mais grave, é que mesmo esses 69,4% de execução, resultavam no fundamental de pagamentos de imobilização temporária e de abate definitivo de embarcações, e não de mais investimento no sector (novos barcos, portos de pesca, locais de desembarque e de abrigo, assistência técnica, etc)! Um escândalo!
-vQue a frota licenciada em 2014 atingiu o nº de 4 316 embarcações, o valor mais baixo desde 2006, diminuindo assim a frota de pesca licenciada, pelo nono ano consecutivo!
Palavras para quê! A realidade veio acima, e a propaganda afogou-se!