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16 de agosto de 2020

O império

 

Há outra Hiroshima a caminho… a menos que a impeçamos agora.

A bomba atómica em Hiroshima foi um acto premeditado de assassinato em massa

Quando estive pela primeira vez em Hiroshima em 1967, a sombra na escada ainda estava lá. Era uma impressão quase perfeita de um ser humano bem à vontade: pernas abertas, costas flexionadas, uma mão ao lado do corpo, esperando que o banco abrisse.

Às oito e quinze da manhã de 06 de agosto de 1945, ele e sua silhueta foram gravadas a fogo no granito.(...)

O jornal The New York Times estampou a seguinte manchete em 13 de setembro de 1945:

Não há radioatividade nas ruínas de Hiroshima”, um exemplo clássico de desinformação. William H. Lawrence relatou que “o General Farrel negou categoricamente que [a bomba atómica] produzira radioatividade duradoura.

Apenas um repórter australiano, Wilfred Burchett, teve a coragem de fazer a perigosa viagem para Hiroshima logo após a explosão da bomba, desafiando as autoridades que ocupavam o Japão e controlavam os “dossiês da imprensa”

“Escrevi para alertar o mundo”, relatou Burchett no jornal londrino Daily Express em 05 de setembro de 1945. Sentado nas ruínas com sua pequena máquina de escrever, descreveu as enfermarias cheias de pessoas sem feridas aparentes que morriam do que ele apelidou de “praga atômica”.

Isso motivou a perda de sua credencial de imprensa, ele foi ridicularizado e difamado. Porém seu testemunho da verdade jamais foi esquecido(---)

Quando estive pela primeira vez em Hiroshima em 1967, a sombra na escada ainda estava lá. Era uma impressão quase perfeita de um ser humano bem à vontade: pernas abertas, costas flexionadas, uma mão ao lado do corpo, esperando que o banco abrisse.

Às oito e quinze da manhã de 06 de agosto de 1945, ele e sua silhueta foram gravadas a fogo no granito.

Fiquei olhando para a sombra por uma hora, pouco mais, depois fui para a beira do rio, onde os sobreviventes ainda vivem em barracos.

Conheci um homem chamado Yukio, que teve gravado no peito o padrão da camiseta que vestia quando a bomba atômica explodiu.

Ele descreveu o brilho intenso sobre a cidade “uma luz azulada, parecida com um curto circuito” em seguida um vento violento como um tornado e uma chuva negra.

“Fui atirado contra o chão e percebi que só restaram os talos de minhas plantas. Tudo estava silencioso e quando me levantei, havia pessoas nuas, ninguém dizia nada. Alguns deles não tinham pele ou cabelo. Tive a certeza de ter morrido”.

Tentei encontrá-lo ao retornar nove anos depois, mas ele tinha morrido de leucemia.

O jornal The New York Times estampou a seguinte manchete em 13 de setembro de 1945:

“Não há radioatividade nas ruínas de Hiroshima”, um exemplo clássico de desinformação. William H. Lawrence relatou que “o General Farrel negou categoricamente que [a bomba atômica] produzira radioatividade duradoura.”

Apenas um repórter australiano, Wilfred Burchett, teve a coragem de fazer a perigosa viagem para Hiroshima logo após a explosão da bomba, desafiando as autoridades que ocupavam o Japão e controlavam os “dossiês da imprensa”

“Escrevi para alertar o mundo”, relatou Burchett no jornal londrino Daily Express em 05 de setembro de 1945. Sentado nas ruínas com sua pequena máquina de escrever, descreveu as enfermarias cheias de pessoas sem feridas aparentes que morriam do que ele apelidou de “praga atômica”.

Isso motivou a perda de sua credencial de imprensa, ele foi ridicularizado e difamado. Porém seu testemunho da verdade jamais foi esquecido.

O bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki foi um ato premeditado de assassinato em massa, desencadeado por uma arma de criminalidade intrínseca. Tentou-se justificar a ação através de mentiras que formam a base da propaganda de guerra no século 21, mas desta vez visando um novo inimigo e alvo – a China.

Nestes 75 anos desde Hiroshima, a mentira mais resiliente é que a bomba atômica foi lançada para acabar com a Guerra no Pacífico e para salvar vidas.

A Investigação dos Bombardeios Estratégicos pelos Estados Unidos de 1946 concluiu que “mesmo sem os ataques nucleares, a supremacia aérea sobre o Japão poderia ter exercido pressão suficiente para levar a uma rendição incondicional e evitar a necessidade de invasão. Baseado em uma investigação detalhada de todos os fatos e com o apoio do testemunho de líderes japoneses sobreviventes envolvidos na questão, é opinião desta investigação que … o Japão teria oferecido rendição mesmo se as bombas atômicas não fossem lançadas, mesmo se a Rússia não tivesse entrado na guerra [contra o Japão] e mesmo se não houvesse invasão planejada ou prevista.”

O Arquivo Nacional em Washington contém documentos que atestam as tentativas de paz pelo Japão desde 1943. Não foram levadas em conta. Um telegrama enviado em 05 de maio de 1945 pelo embaixador da Alemanha em Tóquio e interceptado pelos Estados Unidos torna claro que os japoneses estavam desesperados pela paz, aceitando até a “capitulação, mesmo que os termos sejam duros”. Nada foi feito.

O Secretário de Guerra, Henry Stimson, disse ao presidente Truman que temia que a Força Aérea dos EUA tivesse bombardeado tanto o Japão que a nova arma não conseguiria “mostrar sua força”. Mais tarde, admitiu que “nenhum esforço foi feito e nada foi seriamente considerado nem levado em conta em relação à eventual rendição, apenas para poder usar a bomba [atômica].”

Os pares de Stimson na política externa – mirando na era pós guerra que estavam moldando “à nossa imagem”, como o planejador da Guerra Fria George Kennan disse em frase famosa – tornaram claro que estavam ansiosos para “atemorizar a Rússia com a bomba [atômica], feita exclusivamente às nossas custas”. O general Leslie Groves, diretor do Projeto Manhattan, que fez a bomba atômica, testemunhou: “da minha parte nunca houve ilusão de que não fosse a Rússia nosso inimigo. O projeto foi conduzido nessa premissa.”

No dia após a obliteração de Hiroshima, o presidente Harry Trumam vocalizou sua satisfação com o “sucesso total” do “experimento”.

O “experimento” continuou por muito tempo depois da guerra. Entre 1946 e 1958, os Estados Unidos explodiram 67 bombas nucleares nas ilhas Marshall no Pacífico: o equivalente a mais que uma Hiroshima por dia durante 12 anos.

As consequências para seres humanos e meio ambiente foram catastróficas. Durante a filmagem de meu documentário A Guerra Iminente Contra a China aluguei uma pequena aeronave e voei para o Atol de Bikini nas Marshall. Foi nesse local que os EUA explodiram a primeira Bomba de Hidrogênio. Ainda é uma terra envenenada. Meus sapatos atingiram o nível “inseguro” pelo contador Geiger. As palmeiras ostentam formas bizarras. Não há pássaros.

Caminhei através da floresta até o bunker de concreto onde o botão foi apertado às 06h45 de primeiro de março de 1954. O Sol, que havia nascido, nasceu novamente e vaporizou toda uma ilha na lagoa, deixando um enorme buraco preto, que visto do ar mostra um espetáculo aterrorizante: um vazio mortal rodeado pela beleza.

A precipitação radioativa caiu rápida e “inesperadamente”. A história oficial afirma que “o vento mudou subitamente”. Foi a primeira de uma série de mentiras, como mostram os testemunhos das vítimas e os documentos confidenciais agora revelados.

Designado para monitorar o local do teste, o meteorologista Gene Curbow disse:

“eles sabiam que a precipitação radioativa ocorreria. Mesmo no dia do teste, eles ainda tinham a oportunidade de evacuar a população, mas isso não aconteceu; o povo não foi evacuado… Os Estados Unidos precisavam de alguns porquinhos da índia para estudar os efeitos que a radiação causaria.”

Exatamente como em Hiroshima, o segredo das Ilhas Marshall é que era um experimento calculado sobre as vidas de grande número de pessoas. Foi chamado de projeto 4.1, que começou com um estudo científico de ratos e se tornou uma experiência com “seres humanos expostos à radiação de uma arma nuclear”.

Os habitantes das Ilhas Marshall que conheci em 2015 – exatamente como os sobreviventes de Hiroshima que entrevistei nos anos 60 e 70 – sofreram muito com o câncer, comumente câncer da tireoide. Milhares já morreram. Os abortos espontâneos e os natimortos abundavam; os bebês que nasciam vivos frequentemente sofriam deformações horríveis.

Ao contrário de Bikini, o atol vizinho de Rongelap não tinha sido evacuado durante o teste com a bomba H. Localizado na direção do vento a partir de Bikini, os céus de Rongelap escureceram e choveu o que no início pareciam flocos de neve. Comida e água ficaram contaminados e a população adoeceu com câncer. A doença ataca até hoje.

A nuvem Wilson do teste Baker, situada próximo à costa da Ilha Bikini, no topo da foto. (Fonte: US Army Photographic Signal Corps / Public Domain)

Conheci Nerje Joseph, que me mostrou uma foto ainda criança em Rongelap. Tinha queimaduras faciais terríveis e grande parte de sua cabeça não tinha cabelo.

“Nós estávamos tomando banho nos poços no dia em que a bomba explodiu. Poeira branca começou a cair do céu. Peguei um pouco do pó. Usamos como sabonete para lavar a cabeça. Dias depois, meu cabelo começou a cair.”

Lemoyo Abon relatou: “alguns de nós caíram em agonia. Outros tinham diarreia. Estávamos apavorados. Pensei que era o fim do mundo”.

Um filme de arquivo oficial dos EUA que coloquei em meu documentário chama os ilhéus de “selvagens dóceis”. Na sequência da explosão, um agente da Agência de Energia Atômica dos Estados Unidos foi visto se vangloriando que Rongelap “é de longe o local mais contaminado do Planeta Terra”, acrescentando que “será bem interessante ter uma medida da capacidade de absorção de radiação pelos seres humanos que vivem em meio ambiente tão contaminado”.

Cientistas (norte)americanos, entre eles médicos, construíram carreiras brilhantes estudando a “capacidade de absorção humana”. Eles foram vistos em filmes bruxuleantes, com seus jalecos brancos, atentos com suas pranchetas. Quando um ilhéu adolescente morria, sua família recebia um cartão de pêsames dos cientistas que o estudavam.

Fiz relatos sobre cinco “zonas de impacto” nucleares através do mundo – no Japão, nas Ilhas Marshall, em Nevada, Polinésia e Maralinga, na Austrália. Ainda mais que com minha experiência de correspondente de guerra, o que isso me ensinou foi a crueldade e imoralidade das grandes potências: isto é, o poder Imperial, cujo cinismo é o grande e real inimigo da humanidade.

Fiquei muito impressionado quando filmei a zona de impacto de Taranaki em Maralinga, no deserto australiano. Numa cratera achatada havia um obelisco onde estava escrito: “uma bomba atômica britânica foi testada em uma explosão aqui, em 09 de outubro de 1957”. Na beira da cratera havia uma placa:

CUIDADO: PERIGO DE RADIAÇÃO

O nível de radiação por centenas de metros

A partir deste ponto pode estar acima do considerado

Seguro para ocupação permanente

Até onde a vista alcançava o terreno estava irradiado. Pó de plutônio bruto jazia no chão como talco: o plutônio é tão perigoso para o ser humano que um terço de miligrama traz 50% de possibilidade de resultar em câncer.

Os únicos que poderiam ver o cartaz seriam os indígenas australianos, mas para estes não havia avisos. De acordo com um relatório oficial, quando tinham sorte, eram “enxotados como coelhos”.

Hoje, uma campanha de propaganda sem precedentes está nos enxotando como coelhos. Sequer nos questionamos sobre a torrente diária de retórica contra a China, que está rapidamente ultrapassando a retórica contra a Rússia. Qualquer coisa chinesa é má, anátema, uma ameaça: Wuhan… Huawei. É ainda mais confuso quando tudo isso é dito pelos nossos líderes sabidamente vis.

Foi Barack Obama e não Trump quem começou a fase atual dessa campanha em 2011 quando voou para a Austrália para deslanchar o maior crescimento das forças navais dos Estados Unidos na região da Ásia/Pacífico desde a segunda guerra mundial. De repente, a China virou “ameaça”. Não tem sentido, é claro. O que estava ameaçada era na realidade a visão indiscuvelmente psicopata dos EUA que se veem como os mais ricos, os mais bem sucedidos, a nação mais “indispensável”.

O que nunca foi colocado em questão foram suas proezas como arruaceiro – com mais de trinta países membros da ONU sofrendo sanções de algum tipo dos EUA e uma trilha de sangue que corre de países indefesos bombardeados, que viram seus governos derrubados, sofreram interferências em suas eleições e tiveram seus recursos saqueados.

A declaração de Obama tornou-se conhecida como “o pivô para a Ásia”. Um dos advogados mais ferrenhos desse movimento foi a então Secretária de Estado Hillary Clinton, que, como mais tarde revelado pelo WikiLeaks, queria mudar o nome do Oceano Pacífico para “Mar Americano”.

Na medida em que Clinton nunca escondeu seu belicismo, Obama foi um mestre do marketing. “Declaro com convicção e clareza” afirmou o novo presidente em 2009, “que o compromisso dos Estados Unidos é buscar um mundo de paz e segurança, sem armas nucleares”.

Obama elevou os gastos com armas nucleares mais rapidamente que qualquer outro presidente desde o fim da Guerra Fria. Desenvolveu-se uma arma nuclear “utilizável” conhecida como B61 Modelo 12 o que significa, de acordo com o General James Cartwright, antigo vice presidente do Estado Maior das Forças Armadas que, tornando-se menor [faz seu uso] mais “pensável”.

O alvo, claro, é a China. Hoje, mais de 400 bases militares dos EUA cercam quase totalmente a China com mísseis, bombardeiros, navios de guerra e armas nucleares, do norte da Austrália através do Pacífico até o sudoeste da Ásia, Japão e Coreia e através da Eurásia até o Afeganistão e Índia, as bases formam, como me disse um estrategista, “um cerco perfeito”.

Um estudo da Corporação RAND – a qual, desde o Vietnã, planeja as guerras dos Estados Unidos – intitula-se Guerra com a China: Pensando no Impensável. Contratados pelo exército dos Estados Unidos, os autores evocam o infame grito de guerra de seu principal estrategista na Guerra Fria, Herman Kahn – “pensando o impensável”. O livro de Kahn, Sobre a Guerra Termonuclear, construía um plano para uma guerra nuclear “vencível”.

A visão apocalíptica de Kahn é compartilhada pelo Secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, um evangélico fanático que acredita no “arrebatamento final”. Trata-se provavelmente do homem vivo mais perigoso da Terra. “Fui diretor da CIA” gaba-se ele. “Nós mentimos, nós enganamos, nós roubamos. Era se como isso viesse de cursos completos de formação”. Pompeo é obcecado pela China.

O objetivo final do extremismo de Pompeo raramente é mencionado pela mídia, que é onde os mitos e invencionices sobre a China tornam-se norma padrão, assim como as mentiras sobre o Iraque. Um racismo virulento é o texto nas entrelinhas dessa propaganda. Chamados de “amarelos” embora sejam brancos, os chineses são o único grupo étnico que foi banido por uma “lei de exclusão” de entrar nos Estados Unidos, porque são chineses, A cultura popular os descreve como sinistros, não confiáveis, “traiçoeiros”, depravados, doentes e imorais.

Existe uma revista australiana, The Bulletin, que se dedica a espalhar o medo do “perigo amarelo”, como se toda a Ásia fosse desabar pela força da gravidade sobre a colônia só de brancos.

Como escreve o historiador Martin Powers, reconhecer o modernismo da China, sua moralidade secular e “contribuições para o pensamento liberal enfraquece a narrativa europeia. Assim, tornou-se necessário retirar o papel chinês no debate sobre o iluminismo … por séculos a ameaça da China ao mito da superioridade ocidental faz dela um alvo fácil para a provocação”.

No jornal Sydnei Marning Herald, o incansável contestador da China Peter Hartcher descreve aqueles que espalham a influência chinesa na Austrália como “ratos, moscas, mosquitos e pardais”. Hartcher, que cita favoravelmente o demagogo (norte)americano Steve Bannon, gosta de interpretar os “sonhos” da atual elite chinesa, como se privasse da intimidade dela. Seriam inspirados por ilusões do “Mandato dos Céus”, de 2000 atrás. Ad nauseam.

Para combater o tal “mandato”, o governo australiano de Scott Morrison comprometeu um dos países mais seguros do mundo, cujo maior parceiro comercial é a China, com centenas de bilhões de dólares em mísseis dos EUA que podem ser lançados contra a China.

A tendência já é evidente. Num país marcado historicamente pelo racismo violento contra asiáticos, australianos de origem chinesa formaram um grupo de vigilantes para proteger entregadores. Vídeos mostram um entregador atingido na face e um casal chinês abusado racialmente dentro do supermercado. Entre abril e junho, houve quase 400 ataques racistas contra australianos de descendência asiática.

“Nós não somos seus inimigos” disse-me um estrategista de alto nível na China, “mas se vocês [ocidentais] decidirem que somos, temos que nos preparar sem mais delongas”.

O arsenal chinês é pequeno quando comparado com o dos EUA, mas cresce com rapidez, especialmente o desenvolvimento de mísseis marítimos destinados a destruir frotas de navios.

“Pela primeira vez” conforme escreveu Gregory Kulacki, da União dos Cientistas Engajados, “a China está discutindo colocar seus mísseis nucleares em alerta vermelho, que assim poderiam ser lançados rapidamente em caso de alerta de ataque.” Pode ser uma mudança perigosa na política chinesa…”

Falei com Amitai Etzioni em Washington, um ilustre professor de questões internacionais na Universidade George Washington, que escreveu que “um ataque às cegas contra a China” foi planejado “com impactos que poderiam ser percebidos equivocadamente [pelos chineses] como uma tentativa preemptiva de anular suas armas nucleares, encurralando o país no terrível dilema de ou usar ou perder [que poderia] levar à guerra nuclear”.

Em 2019 os Estados Unidos realizaram seu maior exercício militar desde a Guerra Fria, grande parte realizado em segredo férreo. Uma armada de navios com bombardeiros de longo alcance ensaiou conceitos de “Guerra aérea e marítima contra a China” – ASB (Air-Sea Battle, em inglês) – bloqueando linhas marítimas no Estreito de Malaca, cortando em consequência o acesso chinês a petróleo e gás, além de outras matérias primas do Oriente Médio e da África.

É por temer esse tipo de bloqueio que a China desenvolveu seu projeto Iniciativa Cinturão e Estrada ao longo da antiga Rota da Seda para a Europa e construiu em regime de urgência pistas de pouso em recifes e ilhotas nas águas disputadas das Ilhas Spratly.

Conversei em Xangai com Lijia Zhang, uma jornalista e novelista de Pequim, representante típico de uma nova classe de rebeldes sinceros. Seu best seller tem o título irônico de “Socialism Is Great!” Tendo crescido em plena Revolução Cultural, caótica e brutal, ela viajou e viveu nos Estados Unidos e na Europa.

“Muitos (norte)americanos pensam” disse ela, “que o povo chinês vive uma vida miserável e reprimida sem qualquer tipo de liberdade. O [pensamento sobre] perigo amarelo nunca os abandonou… eles sequer têm ideia de que há 500 milhões de pessoas que foram retiradas da pobreza, e há quem calcule que seriam na realidade 600 milhões.”

As conquistas épicas da China moderna, que derrotou a pobreza em massa, o orgulho e alegria de seu povo [medidas com perícia por pesquisadores (norte)americanos como a Pew] são totalmente desconhecidas ou mal interpretadas no ocidente. Isso basta para lamentar o estado e o abandono de reportagens honestas pelo jornalismo ocidental.

Só nos permitem ver exclusivamente a fachada de um suposto lado sombrio de China, que gostamos de chamar de “autoritarismo”. É como se estivéssemos mergulhados eternamente em contos do super vilão Dr. Fu Manchu. Agora, é tempo de se perguntar a razão disso, antes que seja muito tarde para impedir a próxima Hiroshima.


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