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5 de novembro de 2014

Que taxa de desemprego ?


Nota sobre Inquérito ao Emprego do 3º trimestre de 2014

Os dados hoje divulgados pelo INE não permitem a leitura optimista que Governo e partidos da maioria têm vindo a fazer, sobre a evolução do emprego e do desemprego nos últimos trimestres. Bom seria que assim fosse!
Continua a não se verificar consonância entre a redução do desemprego e a evolução do emprego. Os inquéritos trimestrais ao emprego realizados pelo INE, mostram o desemprego a baixar, o emprego a crescer a um ritmo bem inferior e a emigração a ser a principal válvula de escape do mercado de trabalho. A verdade nua e crua é que o emprego não só não cresce por forma a conseguir absorver a redução do desemprego, como o crescimento do emprego resulta na sua quase totalidade da colocação de trabalhadores desempregados em estágios e cursos de formação pagos pelo Estado, através das chamadas políticas activas de emprego, onde o Governo enterra centenas e centenas de milhões de euros. A economia e em particular os seus sectores produtivos continuam a não criar ou a criar muito poucos empregos.
Algumas notas sobre os resultados hoje divulgados pelo INE:
1. Não há correspondência entre a redução do número de desempregados e o número de empregos criados entre os terceiros trimestres de 2013 e 2014. Enquanto o desemprego se reduziu em 130 100, a criação líquida de emprego foi de 95 700, ou seja, 34 400 trabalhadores portugueses deixaram de ser considerados desempregados, mas nem por isso encontraram emprego. Como neste período, também de acordo com o INE, a população residente com idade entre os 25 e os 44 anos baixou em 61 800, não é difícil perceber que a esmagadora maioria destes trabalhadores terá emigrado. Se assim não fosse, eles manter-se-iam desempregados e o desemprego subiria para pelo menos 13,8%.
2. Por outro lado a taxa de desemprego calculada pelo INE não é imune aos chamados ocupados do IEFP (trabalhadores desempregados em estágios e cursos de formação), a que este Governo tem recorrido como nenhum antes. Só no 3º trimestre deste ano eram 155 429 os trabalhadores nesta situação,
mais 43.509 trabalhadores que há um ano. Se não se subtraíssem das estatísticas do desemprego estes e aqueles que deixaram de ser desempregados mas que não encontraram emprego, isso bastaria para que a taxa de desemprego fosse já de 16,7%.
3. O que estes dados não deixam de demonstrar é que a taxa de desemprego jovem é de 32,2%, que o trabalho precário representa 29,3% do trabalho por conta de outrem, que há 302 300 inactivos disponíveis para trabalhar mas que não estão no mercado de trabalho, que há 232 100 trabalhadores que não conseguem um trabalho a tempo completo e são obrigados a trabalhar a tempo parcial, que há 624 100 trabalhadores isolados a trabalhar a recibo verde e que a esmagadora maioria do emprego criado é precário (+ 17% em termos homólogos) e de salários muito baixos. Por todas estas razões a taxa de desemprego real é ainda muito superior aos 13,1% agora apresentados e atinge de acordo com estes dados os 22,0%. Ou seja, cerca de 1 223 300 trabalhadores estavam efectivamente desempregados no 3º trimestre de 2014, o que constitui um autêntico flagelo nacional, que a manipulação e propaganda deste Governo não consegue apagar.
4. Um desenvolvimento económico sustentado capaz de dinamizar um mercado interno e de criar emprego qualificado e com direitos é, do nosso ponto de vista, incompatível com a nefasta acção deste Governo e com uma política subordinada aos critérios da troika e da actual união europeia.
CAE, 5 de Novembro de 2014
José Alberto Lourenço

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