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11 de fevereiro de 2018

A bomba de oito mil milhões de dólares

Novos produtos da imaginação criativa do casino da finança em risco de explosão
"Agora, os novos investimentos ligados à volatilidade no mercado de acções - que até há alguns anos eram desconhecidos produtos de nicho - implodiram de forma espectacular. As ondas de choque estão apenas no começo.

A proliferação destes investimentos é uma história clássica sobre a arte da venda de Wall Street e a velha ganância. Em poucos anos, a engenharia financeira transformou as expectativas sobre as subidas e descidas do mercado de acções numa classe de activos que podia ser promovida e vendida - tão negociável quanto as acções, mas, como se vê, em alguns momentos muito mais arriscada.

Chama-se complexo da volatilidade financeira. No total, os actores financeiros criaram mais de oito mil milhões de dólares (6,5 mil milhões de euros) em produtos ligados a um único índice. Num mundo de juros baixos, os investidores desesperados por retornos abocanharam estes produtos e os bancos recolheram comissões pelo caminho.

Mas, assim como a história dos investimentos em hipotecas há uma década, a complacência - neste caso, durante um histórico e desafiador período de calmaria no mercado - mascarou os possíveis perigos.

Ninguém está a afirmar que as fortes oscilações recentes anunciam um grande colapso como o de 2008. Mas as consequências dão uma ideia da série de produtos, e da crescente complexidade, que impulsiona os mercados globais uma década após o último desastre.

O CEO do Barclays, pioneiro das notas ligadas à volatilidade do mercado norte-americano, alertou no mês passado para o facto de os investidores poderem estar a perder o juízo.

"Se esta situação se inverter, segurem os seus chapéus", disse Jes Staley em um painel do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça.

Agora os chapéus voaram com um redemoinho como Wall Street nunca viu. Para alguns, o complexo de volatilidade parece um monstro que rasteja pelas sombras. Até mesmo um dos inventores do VIX, Devesh Shah, mostra perplexidade pela mera existência desses produtos.

"Todos sabiam que isto era um grande problema", disse Shah, que tinha 20 e poucos anos quando ajudou a criar aquele que se tornou o barómetro do medo do mercado. "Todos sabem que o Inverse VIX chegará a zero em algum momento e todos esses produtos inversos e alavancados, não apenas no VIX mas também noutros índices e activos, no fim das contas custarão muito dinheiro às pessoas."

O que aumenta a angústia é que nem os estrategas do mercado, nem os gestores de recursos, nem os bancos que estruturaram estes produtos têm muita certeza sobre o tamanho e a penetração do mercado.

É demasiado cedo para saber a extensão dos danos.
A insistência do Credit Suisse de que o resgate das VelocityShares [títulos associados à volatilidade do mercado americano] não causará nenhum impacto torna difícil prever como se sairão os restantes bancos.

Os possíveis prejuízos provavelmente dependerão de como Wall Street tiver gerido a sua exposição aos produtos, para os quais normalmente fazem hedge no mercado de futuros.Uma coisa é certa: o mercado é grande. Os produtos directamente ligados ao VIX podem gerir até oito mil milhões de dólares, segundo estimativas do Société Générale."

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