Linha de separação


8 de janeiro de 2022

O Cazaquistão e as tentativas de "revoluções coloridas"

 Os acontecimentos no Cazaquistão inserem-se nas tentativas das designadas "revoluções coloridas". Antes de ser abordado este tema segundo a perspetiva de alguns dos seus agentes dos EUA, convém fazer o ponto da situação naquele país.

A "ordem constitucional" no Cazaquistão foi restaurada após o governo tomar medidas firmes para lidar com a agitação, que envolveu metade do país por alguns dias, e a chegada de militares da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). Os media ocidentais falaram então em repressão contra manifestantes pró-democracia e a "ameaça da Rússia" na Ásia Central.

Na realidade, tratou-se de deter extremistas envolvidos numa "revolução colorida", pretendendo repetir o cenário da praça Maidan (Kiev) que levou nazifascistas ao poder. Pode dizer-se que depois de falhada em Hong-Kong e na Bielorrússia, o que se passou no Cazaquistão mostra o fim das "revoluções coloridas".

A Rússia no seu documento para os EUA/NATO já tinha considerado que não seriam permitidas interferências ou tentativas de expansão da NATO designadamente na Ásia Central, considerado um espaço de segurança da Rússia. Significativamente, a tentativa de desestabilização do país encontrou também de imediato a oposição da China, opondo-se a qualquer força que destrua a estabilidade e a segurança do Cazaquistão e às forças externas que incitam a distúrbios.

A implantação militar do OTSC foi considerada legítima ao abrigo do Tratado e necessária para deter as forças terroristas e extremistas e as forças externas que procuravam vantagens com a agitação e "mudança de regime", antes da reunião EUA/NATO-Rússia. Note-se que a decisão enviar forças militares ao abrigo do Tratado não é tomada por um país, mas pelos Estados membros como um todo.

A agitação começou como um protesto contra o aumento do preço dos combustíveis na região de Mangystau em 2 de janeiro, antes de se espalhar para outras regiões do país nos dias seguintes. Os protestos inicialmente pacíficos rapidamente se tornaram radicais, especialmente em Almaty, com manifestantes atacando instituições administrativas, incendiando edifícios e veículos, confrontando a polícia, saqueando lojas e bancos.

Vídeos mostram soldados espancados que foram deixados para trás e algumas pessoas dirigindo carros contra agentes da polícia. Vídeos online mostram o perigo existente com armas sendo entregues a manifestantes e confrontos aparentemente organizados contra a polícia, criando como na Síria condições para a entrada de bando terroristas.

Segundo o Ministério do Interior, da operação de contraterrorismo resultaram mais de 3 000 pessoas (ou quase 4 000) detidas em ligação com os distúrbios, 26 manifestantes armados foram mortos e 18 membros da força de segurança terão morrido nos confrontos. Na madrugada de sexta-feira, apesar de tiros ouvidos em Almaty, a maior cidade do Cazaquistão, nenhum policial ou manifestante foi visto nas ruas.

Note-se que depois das reivindicações iniciais serem satisfeitas - tal como ocorrera em Hong-Kong, Ucrânia, Síria - os desenvolvimentos tornaram-se violentos exigindo a "mudança de regime" e fim dos "Tratados com a Rússia".

Informações detalhadas sobre as forças por trás do caos criado no Cazaquistão não foram divulgadas, mas forças que promovem o separatismo, terrorismo e extremismo podem estar envolvidas.

Embora atualmente a ordem constitucional no Cazaquistão tenha sido restaurada, a agitação terá mais impactos: destruiu a imagem do Cazaquistão como um país estável e provou ao Cazaquistão e aos países regionais que a estabilidade e a segurança na região ainda são frágeis. Por preocupação com a segurança e as necessidades políticas, os países da Ásia Central consideram agora dever trabalhar mais no sentido de estreitar as relações com a Rússia e estar mais alertas para a interferência dos EUA e do Ocidente, dado que estes países despejam dinheiro e fazem esforços nessas áreas para enfraquecer a Rússia e conter a China.

O presidente do Cazaquistão, Tokayev, afirmou que cerca de 20 000 "gangsters e terroristas" estiveram envolvidos na violência, com a maior cidade do país, Almaty, sofrendo "pelo menos seis ondas de ataques de terroristas". Os manifestantes foram "muito bem treinados, organizados e comandados pelo centro especial", sendo que alguns eram estrangeiros. Tokayev reiterou sua decisão de que nenhum diálogo será possível com aqueles que se recusarem a depor as armas, autorizando a polícia a abrir fogo contra estes manifestantes sem aviso prévio. Entretanto o antigo chefe da comissão de segurança nacional (KNB) foi preso juntamente com outros suspeitos de "alta traição".

Ver:  Kazakhstan restoring order with help of CSTO’s deployment amid China’s firm support - Global Times e Kazakhstan in unrest following violent protests - Global Times

Sem comentários: