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18 de janeiro de 2022

Rosa Luxemburgo e a dívida como instrumento do imperialismo

 

Eric Toussaint.

[ Há103 anos atrás, Rosa Luxemburgo foi morta a tiro e o seu corpo atirado  ao Canal Landwehr de Berlim. No entanto, ela não pôde ser apagada da história, pois a sua vida e obra são extremamente relevantes na nossa busca de um mundo melhor. Reimprimimos este artigo para prestar homenagem ao seu legado que continua a inspirar milhões ainda hoje - CADTM]

No seu livro A Acumulação do Capital [1], publicado em 1913, Rosa Luxemburgo [2] dedicou um capítulo inteiro à questão dos empréstimos internacionais [3] para mostrar como as grandes potências capitalistas da época utilizavam os créditos concedidos por seus banqueiros aos países da periferia para exercer o domínio econômico, militar e político. O seu foco principal foi analisar o endividamento dos novos Estados independentes da América Latina após as guerras de independência de 1820, bem como o endividamento do Egito e da Turquia durante o século XIX, sem esquecer a China.

Ela escreve seu trabalho durante um período de expansão internacional do sistema capitalista, tanto em termos de crescimento económico como de expansão geográfica. Nessa altura, na social-democracia de que fazia parte (o Partido Social Democrata Alemão e o Partido Social Democrata da Polônia e da Lituânia – territórios partilhados entre o Império Alemão e o Império Russo), um número significativo de líderes socialistas e teóricos apoiavam a expansão colonial. Este foi particularmente o caso na Alemanha, França, Grã-Bretanha e Bélgica. Todas estas potências tinham desenvolvido os seus impérios coloniais em África, principalmente no final do século XIX e início do século XX. Rosa Luxemburgo se opunha totalmente a esta orientação e denunciava a pilhagem e destruição colonial das estruturas tradicionais (muitas vezes comunitárias) das sociedades pré-capitalistas através da expansão do capitalismo.

Rosa Luxemburgo manifestava a sua oposição a estes mesmos líderes socialistas quando afirmavam que esta fase expansionista de forte crescimento do capitalismo demonstrava que o capitalismo tinha ultrapassado suas crises periódicas, a última das quais tinha ocorrido no início da década de 1890. Rosa Luxemburgo denunciava esta visão, que dava uma falsa interpretação do funcionamento do sistema capitalista. Rosa se opunha ainda mais veementemente porque esta visão de uma parte influente da liderança social-democrata serviu de base e justificação para uma atitude de crescente colaboração com os governos capitalistas da época [4].

Ao escrever A Acumulação do Capital, Rosa Luxemburgo pretendia construir uma argumentação substancial para se opor as orientações pró-colonialistas e colaboracionistas de classe dentro da social-democracia que ela vinha combatendo desde o final da década de 1890. Ela também perseguia outro objetivo, que teve origem em 1906-1907, quando lecionou um curso de economia marxista na escola de quadros do SPD, o Partido Social Democrata da Alemanha, em Berlim

https://www.cadtm.org/Rosa-Luxemburgo-e-a-divida-como-instrumento-do-imperialismo


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