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4 de junho de 2022

A "ilegal, criminosa e cruel invasão militar do regime oligárquico, reacionário e neoczarista de Moscovo"

Embora se possa ter as opiniões que se entender, com os devidos limites legais, deve-se procurar fundamenta-las. Peço escusa por não revelar o nome da prosa em epígrafe.

Lá que foi uma invasão não se nega. A Rússia considera tratar-se de uma "operação militar especial" para proteção das populações russófonas do Donbass, há 14 anos sujeitas a ataques. Sabe-se do número de mortes e da tragédia na Casa dos Sindicatos de Odessa. Bem, foi uma invasão.

Ilegal? É discutível. O ocidente e o secretário-geral da ONU considera que foi violado o artigo 1º da Carta da ONU. A Rússia argumenta que a "operação militar especial" foi realizada ao abrigo do artigo 51ª da Carta, que referente "ao direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações Unidas". Pode-se discutir a parte final do texto, mas existiram ataques armados, preparavam-se outros e cidadãos de um Estado membro (Rússia) já tinham sido mortos. A ação preventiva da Rússia pode enquadrar-se no conceito de autodefesa dado que a NATO treinara e armara (é preciso repetir?) desde 2014 tropas da Ucrânia, estando uns 200 000 no Donbass (números variam).

Criminosa? Refiro o testemunho do coronel dos EUA Richard Black disponível em Resistir.info, diz ele (33' do vídeo): que Putin fez tudo para evitar a guerra. Chegou a apresentar propostas à NATO para garantir um sistema de segurança na Europa. A NATO descartou-as. Tropas da Ucrânia acumulavam-se literalmente nas suas fronteiras (250 000) preparando-se para atacar o Donbass russófono e com muitos habitantes russos. (35') Foram forçados a prevenir o ataque à Rússia, como se depreendia da recusa da NATO em discutir a proposta de Tratado. O simulacro de resposta era insultuoso, com exigências como desmobilizar e retirar tropas das fronteiras, etc., enquanto a NATO se expandia para as suas fronteiras, aplicava sanções, era considerada inimigo, o presidente da Rússia era insultado pelo presidente e representantes dos EUA, etc.

O major-general Raul Cunha, já tinha afirmado que era criminoso e condenado pela Convenção de Genebra colocar armamento pesado dentro de cidades, tornando os seus habitantes escudos humanos. Quem o fez foi a Ucrânia - nem falando no papel repressivo dos grupos nazis sobre as populações. Quanto ao "massacre" de Bucha está mais que desmascarado,  tal como outras alegações.

Cruel? Nenhuma guerra é bondosa. Mas a Rússia nunca utilizou as suas armas mais poderosas. Os seus ataques a cidades visaram exclusivamente concentrações militares onde as forças ucranianas batidas apesar da superioridade numérica (segundo R. Blake 250 000 para 160 000), armadas e treinadas pela NATO durante oito anos, eram incapazes de resistir em campo. Richard Blake, afirma (36') que os russos tiveram regras de combate muito cautelosas para não causar baixas indevidas.

A Rússia só começou a bombardear infraestruturas como pontes, rede ferroviária, etc., para impedir o abastecimento de armas da NATO. Quanto a crueldade R. Blake denuncia a crueldade do lado dos nazis ucranianos, como torturar matar prisioneiros. Citamos este coronel, mas intervenções de Scott Ritter e outras disponíveis em The Saker vão no mesmo sentido. Tudo fontes dos EUA. Os crimes do regime de Kiev, podem ser conhecidos aqui e aqui, embora não seja disto que se trate agora.

Regime oligárquico, reacionário e neoczarista? A Rússia é um regime capitalista, a oligarquia existente foi criada com o fim da URSS. No entanto, se houve alguém que lutou contra o poder oligárquico na Rússia foi Putin, tendo o Estado assumido - dentro do sistema capitalista vigente - o controlo de indústrias estratégicas nas mãos de oligarcas. Cedeu demasiado à oligarquia? Sim. O que é incongruente é considerar-se simultaneamente oligárquico e neoczarista, pois envolvem conceitos contraditórios. O termo neoczarista necessitaria de uma definição que não o aproveitamento histórico para diabolizar o presidente da Rússia, como se usa para os que não obedecem a Washington, o que não tem nada que ver com análise objetiva.

Se neoczarismo se refere a uma política interna reacionária, como também é afirmado, de facto o governo de Moscovo não é revolucionário, mas manda a verdade que se diga que os comunistas russos (deixo a pureza ideológica para o puritanismo esquerdista), não são perseguidos, são o segundo maior partido e foi com a nova política iniciada pelo diabolizado Putin, que a população russa saiu da miséria horrorosa em que se encontrava, reconquistou direitos laborais e sociais e novamente orgulho no ressurgimento do seu país. O passado soviético retomou os seus direitos, as bandeiras com vermelhas do Exército Vermelho são exibidas, o desfile do Dia da Vitória faz-se sob símbolos soviéticos. Relembro que Estaline tinha em 2021, 70% de aprovação entre a população.

Será neoczarista na política externa? Deixo ao critério de JG a avaliação. Será por ter interferido na Síria? Será por ter interferido na Bielorrússia e impedido que os neonazis à conta de uma "revolução colorida" fizessem o mesmo que na Ucrânia? Idem no Cazaquistão? Por ter impedido que os sucedâneos da Al Qaeda tomassem conta da Chechénia? Por apoiar economicamente a Venezuela, Cuba, Nicarágua? Será neoczarismo as populações do Donbass içarem bandeiras vermelhas e reporem estátuas de Lenine, derrubadas pelo regime de Kiev?

Como já foi dito, a Rússia é culpada por ter colocado o seu país junto de bases da NATO, e não se ter deixado desmembrar como era (é) objetivo da NATO, tal como foi da Alemanha nazi.


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