Não há muitos
pontos de contacto entre o sr.M. Rebelo de Sousa e o sr. que usa o pseudónimo
de V. Polido Valente, ambos se rendem no entanto às intocáveis
“inevitabilidades” neoliberais. O sr. RS, usa os seus hiperbólicos raciocínios
para concluir que no essencial é assim que tem de ser, com uma técnica que
segue a das partituras musicais: exposição do tema, variações, de novo o tema
mas alterado e coda final ao estilo do voltairiano Pangloss, para quem apesar
do terramoto em Lisboa, tudo ia pelo melhor dos mundos. O objetivo é as pessoas
perderem-se nas variações para não perceberem o essencial do tema. Como dizia
Lopes Graça de certos compositores: “notas a mais, para ideias a menos”.
Já o sr. PV é
assertivo, porém mais que uma reflexão ideológica deveria fazer-se uma análise
psicanalítica acerca das frustrações e do niilismo da classe média, que tal
como a rã da fábula que queria ser boi, entregou a condução dos seus interesses
à finança especuladora e ao grande capital predador e foi no conto do vigário
de achar que a banca nacionalizada lhe ia ficar com as poupanças…Se as suas
cabecinhas não estivessem cheias de preconceitos perceberiam o que Marx queria
dizer com: expropriar os expropriadores.
O sr. PV é, pois,
um exemplo da classe média que detesta a esquerda cujas
verdades abalam as suas convicções e a confronta com as suas opções, despreza a
social democracia do PS e se incompatibiliza com a direita que o proletariza. O
seu negativismo é um recurso da sua raiva, da sua ausência de
esperança e de crença no futuro, o refúgio onde curtem desenganos.
O sr. PV não parece entender as suas generalizações apressadas a partir
de verdades parciais (ai a lógica, e o bom senso…) argumentando a mais das
vezes com exceções, deslumbrado com os seus raciocínios, parecendo não se
aperceber que não são sérios.
A propósito da
recente decisão sobre a inconstitucionalidade do corte do 13º e 14º mês (Público – 08.julho) afirma que o Estado
é irresponsável. Lugares comuns da
ignorância são tomados como elevadas lucubrações. Deveria dizer que os governos
com as suas políticas de direita têm-se mostrado irresponsáveis na defesa dos
interesses nacionais, protegendo monopólios e especuladores, promovendo o
capitalismo rentista e iníquos tratados da UE.
Dizer que nenhum particular “normalmente”
se permite ser irresponsável, é brincar com palavras. Misturar o BNP, e outros,
com o pequeno empresário ou o endividado cidadão que cedeu à chantagem
neoliberal da sociedade de consumo a crédito, enquanto os lucros do
desenvolvimento tecnológico e aumento da exploração eram arrecadados e postos
fora do país pelos grandes capitalistas e especuladores, para intocáveis “off-shores”.
Acerca da equidade,
é curioso considerar que um funcionário público e um trabalhador de
“instituição privada” não são realidades comparáveis. Sem nos alongarmos a
explicar em que consiste o conceito de proletariado e de exploração, algo que o
neoliberalismo não reconhece – há apenas mercado onde o sr. Belmiro ou o sr. A.
Santos, estão nas mesmas condições que os precários com ordenado mínimo. Em
termos da globalização, também a família Wallton que dispõe 90 mil milhões de
dólares está nesta teoria nas mesmas condições que os pequenos produtores ou
seus empregados sujeitos à vigilância de equipas especializadas no combate ao
sindicalismo. E é este o ideal que o capitalismo atual tem para oferecer às
novas gerações.
Voltando aos 13º e
14º meses suprimidos. Argumenta-se quanto à falsa equidade entre público e
privado, pois os trabalhadores do público têm privilégios que os demais não
têm. Portanto, toca de nivelar por baixo. Privilégios só para banqueiros e
administradores dedicados a bens “não transacionáveis”.
O funcionário público
não pode ser despedido – falso. Há imensos precários, recorre-se por sistema à
prestação de serviços externos e aos admitidos depois de 2009 aplica-se o
(infame e prófascista) código laboral.
“As pessoas são
promovidas independente do mérito” – seria bom que o demonstrasse. Será que
todos os promovidos são incompetentes? É isso que afirma? Poderá provar ou é
mera calúnia, tal como alguém dizer que todos os banqueiros e administradores
são como alguns do BPP e do BPN?
“Têm sistema de
saúde especial.” E depois? Corta-se no salário, para castigo?
“Acumulam vários
empregos” Quem? Quantos? Cortam-se os subsídios a esses? E aos outros e aos
reformados?
“Têm empregos por
pressão pessoal e partidária.” Sem comentários. Além de ser um insulto para
talvez 90 % ou mais dos casos, seria bom que olhasse para quem ocupa as
administrações das grandes empresas desta terra. Pode consultar o livro do F.
Louçã e outros “Quem são os donos de Portugal”.
É este o nível de
argumentação das direitas que se consideram eruditas: a teatralidade do
intriguismo político panglossiano do sr. MRS e o niilismo atrabiliário do sr
VPV.
Em termos de
profundidade o pensamento político-social da direita, tal como as medidas
deste governo, resume-se numa palavra: mesquinhez.
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