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4 de abril de 2013

OS PAPAGAIOS TELEVISIVOS


Acerca do exemplo da Argentina
O papagaio fala mas é (neste aspeto apenas) um ignorante: repete o que ouve ou induzem a repetir. Curiosamente nas televisões pululam os papagaios televisivos.
Um destes papagaios, apresentado como sendo da espécie “politólogo”, repetia a versão do governo sobre as consequências da decisão de inconstitucionalidade do OE – ou parte – pelo TC, que levariam o país para o caos, agora que estamos no “bom caminho” das “reformas” e das boas avaliações da troika e da “confiança dos mercados”. Que iriam dizer os mercados?! Credo!
Para esta gente os “mercados” – punhados de multimilionários especuladores – estão acima dos países e dos povos. Ao que chegámos! Uma espécie de entidade sobrenatural, deus Baal que exige sacrifícios humanos.
Nesta arenga o papagaio “politólogo” ameaçou com o exemplo da Argentina e do caos com pessoas a assaltar lojas, sem comer, sem emprego, etc., se atuais políticas não prosseguirem. Contudo, aqui para o tal “caos” já só falta – e mesmo assim…- assaltar lojas.
Argumentar com a Argentina para defender esta política é mentir descaradamente: ignorância e/ou má-fé. A jornalista ouvia caladinha, com um leve sorriso, pois o dinheirinho é escasso e os empregos ninguém os vê. Mas se alguém falasse contra a troika não tinha grandes hipóteses de prosseguir.
Falar na Argentina, para defender esta política é pura imbecilidade. O que levou aquele país ao caos foi justamente a política neoliberal que culminou num mentiroso como Carlos Menem, que envolveu o país em sujas negociatas. Os ministros das finanças fantasiavam promessas iguais às de cá – eram fundamentalistas neoliberais apadrinhados pelo FMI, atrelaram o peso argentino ao dólar, a bem da finança, com altos juros, baixa fiscalidade e livre transferência de capitais. Consequência: a destruição da indústria, depois de toda a economia e o colapso económico e social. O que a Argentina comprova é o resultado das políticas em curso.
Os argentinos resolveram estes problemas forçando com os seus protestos a demissão de 3 presidentes da república até haver um governo que cessou os pagamentos aos credores e iniciou a renegociação da dívida.
A Argentina teve depois taxas de crescimento de 8%. Tudo ao contrário do que perorava o “papagaio” – com ofensa para as simpáticas aves que…não mentem.
O processo de renegociação não foi porém levado tão longe como podia e devia – sem auditoria cidadã – a partir do impulso popular, designadamente nos montantes. Assim, atualmente o peso dos juros está a constituir uma grave limitação ao desenvolvimento, representando o serviço de dívida em 2012, 12% do PIB (chiffresdeladette_2012 – www.cadtm)
Este recado serve também para o PS cujas anunciadas intenções de renegociação da dívida são incompletas. Sem rever montantes, no que constituem a chamada dívida ilegítima-odiosa, não se vai longe.
Esta a lição que devemos tirar da Argentina e compar com uma renegociação correta como a do Equador que também anulou montantes – e os credores aceitaram…e piaram baixinho.
O pior é que papagaios há muitos por essas televisões.

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