Acerca do
exemplo da Argentina
O papagaio fala mas é (neste aspeto apenas) um
ignorante: repete o que ouve ou induzem a repetir. Curiosamente nas televisões
pululam os papagaios televisivos.
Um destes papagaios, apresentado como sendo da espécie
“politólogo”, repetia a versão do governo sobre as consequências da decisão de
inconstitucionalidade do OE – ou parte – pelo TC, que levariam o país para o
caos, agora que estamos no “bom caminho” das “reformas” e das boas avaliações
da troika e da “confiança dos mercados”. Que iriam dizer os mercados?! Credo!
Para esta gente os “mercados” – punhados de
multimilionários especuladores – estão acima dos países e dos povos. Ao que
chegámos! Uma espécie de entidade sobrenatural, deus Baal que exige sacrifícios
humanos.
Nesta arenga o papagaio “politólogo” ameaçou com o
exemplo da Argentina e do caos com pessoas a assaltar lojas, sem comer, sem
emprego, etc., se atuais políticas não prosseguirem. Contudo, aqui para o tal “caos” já
só falta – e mesmo assim…- assaltar lojas.
Argumentar com a Argentina para defender esta política
é mentir descaradamente: ignorância e/ou má-fé. A jornalista ouvia caladinha, com
um leve sorriso, pois o dinheirinho é escasso e os empregos ninguém os vê. Mas
se alguém falasse contra a troika não tinha grandes hipóteses de prosseguir.
Falar na Argentina, para defender esta política é pura
imbecilidade. O que levou aquele país ao caos foi justamente a política
neoliberal que culminou num mentiroso como Carlos Menem, que envolveu o país em
sujas negociatas. Os ministros das finanças fantasiavam promessas iguais às de
cá – eram fundamentalistas neoliberais apadrinhados pelo FMI, atrelaram o peso
argentino ao dólar, a bem da finança, com
altos juros, baixa fiscalidade e livre transferência de capitais. Consequência:
a destruição da indústria, depois de toda a economia e o colapso económico e
social. O que a Argentina comprova é o resultado das políticas em curso.
Os argentinos resolveram estes problemas forçando com
os seus protestos a demissão de 3 presidentes da república até haver um governo
que cessou os pagamentos aos credores e iniciou a renegociação da dívida.
A Argentina teve depois taxas de crescimento de 8%.
Tudo ao contrário do que perorava o “papagaio” – com ofensa para as simpáticas
aves que…não mentem.
O processo de renegociação não foi porém levado tão
longe como podia e devia – sem auditoria cidadã – a partir do impulso popular,
designadamente nos montantes. Assim, atualmente o peso dos juros está a
constituir uma grave limitação ao desenvolvimento, representando o serviço de
dívida em 2012, 12% do PIB (chiffresdeladette_2012
– www.cadtm)
Este recado serve também para o PS cujas anunciadas
intenções de renegociação da dívida são incompletas. Sem rever montantes, no
que constituem a chamada dívida ilegítima-odiosa, não se vai longe.
Esta a lição que devemos tirar da Argentina e compar
com uma renegociação correta como a do Equador que também anulou montantes – e
os credores aceitaram…e piaram baixinho.
O pior é que papagaios há muitos por essas televisões.
Sem comentários:
Enviar um comentário