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30 de setembro de 2013

Contas Nacionais


Notas sobre “ As Contas Nacionais Trimestrais por Sector Institucional do 2º Trimestre de 2013 e o Procedimento dos Défices Excessivos “


Os dados agora divulgados pelo INE referentes às Contas Nacionais Trimestrais por Sector Institucional do 2º Trimestre de 2013 confirmam a informação anteriormente divulgada pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) da Assembleia da República e indicam que o défice das Administrações Públicas na óptica da Contabilidade Nacional se situou no final do 1º semestre nos -5 700,2 milhões de euros, o que corresponde a um défice orçamental de 7,1% do PIB no final do 1º semestre do ano.
Com estes resultados para que o Governo consiga atingir o seu objectivo do défice para 2013 de 5,5% do PIB, o défice orçamental não poderá ultrapassar no 2º semestre do corrente ano os -3 383,7 milhões de euros, o que equivale a 4,0% do PIB na 2ª metade do ano.
Na prática isto significa uma redução do défice orçamental no 2º semestre do ano comparativamente com o 1º semestre de 2 316,5 milhões de euros, ou seja uma redução de 56% no défice comparativamente com a 1ª metade do ano.
Tendo em conta a evolução registada no défice orçamental em Contabilidade Pública nos meses de Julho e Agosto com a receita fiscal a dar sinais de algum abrandamento e a despesa pública a crescer em termos homólogos acumulados e, considerando a inevitável subida das despesas com pessoal e das despesas com o pagamento de juros da dívida no último terço do ano, dificilmente o objectivo do défice orçamental para 2013 será atingido.
Na informação agora divulgada pelo INE referente ao Procedimento dos Défices Excessivos (2º notificação de 2013) e que será hoje enviada para o Eurostat, o INE tendo por base informação fornecida pelo Ministério das Finanças reviu em alta a previsão para 2013 da Dívida Bruta Consolidada das Administrações Públicas e manteve a previsão do Défice Orçamental para este ano.
De acordo com as suas actuais previsões o nosso país terminará o ano de 2013 com uma dívida bruta consolidada das administrações públicas de 211,4 mil milhões de euros, o que representará 127,8% do PIB. No passado mês de Março essa estimativa era de 201,1 mil milhões de euros, o que correspondia a 122,4% do PIB. Em seis meses esta previsão da autoria do próprio Ministério das Finanças agravou-se em cerca de 10 mil milhões de euros.  
CAE, 30 de Setembro de 2013
José Alberto Lourenço

26 de setembro de 2013



República das bananas

Ao mesmo tempo que há pessoas desesperadas, com fome, sem emprego, ajudando filhos e netos, ficamos a saber que «Rui Machete tinha cargos sociais em cinco bancos concorrentes em 2008»!!!
 A resposta do Banco de Portugal confrontado com esta questão é simplesmente espantosa!
Segundo esta  majestática e cinzenta instituição: o exercício de funções em órgãos «de administração e fiscalização» de bancos  é  legítima desde que a idoneidade e a disponibilidade garantam «uma gestão sã e prudente» !!!
«Gestão sã e prudente»!
Foi, aliás, com a gestão "sã e prudente"  vista pela lupa do Banco de Portugal que tivemos o BPN, o BPP, as «vigarices» do BES, BCP e BANIF.
A santa Banca manda e comanda nesta República das Bananas! O resto é paisagem....


O que eles dizem!

Procurando dar oxigénio ao primeiro-ministro, as figuras gradas da direita e dos grandes negócios vão repetindo e gabando a «coragem», a «determinação», a «persistência», a «resiliência» do primeiro-ministro!!!
E o primeiro-ministro parece que se convence com estes falsos elogios!
No fundo, o que eles querem dizer é isto: o primeiro-ministro  é mal amado no país, é apupado, mas não se deve deixar desmoralizar pois «está a fazer o que deve ser feito».
Isto é, a governar para servir o sector financeiro e os grandes senhores do dinheiro!!!
Veja-se a declaração de vários banqueiros, comentadores, políticos (Nogueira Leite,  etc.). 

25 de setembro de 2013

O ULTIMATO DO SR. DRAGHI

No passado dia 23 o sr. Draghi, declarou em Bruxelas que se “os mercados” tiverem dúvidas sobre o prosseguimento da austeridade em Portugal “as reacções podem ser brutais”. À austeridade a novilíngua chama “esforços de consolidação orçamental” que como se sabe resulta no seu contrário.
Segundo os jornais declarou este ex - dirigente da megafruadulenta Goldman Sachs: “A história recente mostra que mesmo o menor sinal de que os progressos na consolidação orçamental podem ser postos em causa leva os mercados a reagir de forma brutal. Viu-se com os juros da dívida: os juros saltaram ao menor sinal de que algo poderia correr mal e depois recuaram tão depressa quanto subiram.” Perguntamos: correr mal para quem?
O sr. Draghi também está contra o “alivio” da meta do défice. Compreende-se. O Portas, Pires de Lima e cia. podem meter a viola no saco, que com a finança cantar  o resto da música cala-se.
Em período eleitoral e de negociações com a troika, “os mercados” sobem os juros para mais de 7%. É o equivalente a um ultimato, a mover tropas ou navios com ameaça de ataque e invasão para obrigar o país a submeter-se. Foi o que aconteceu no ultimato inglês em 1890. Mas Portugal já está sob agressão e ocupação, desde os tratados de UE e sua consequência directa o “memorando da troika”. Agora trata-se de ameaçar o país com o ultimato dos juros, para se submeter pela pobreza, como num cerco.
Desde a antiguidade, que o cerco às cidades era a forma de obter a sua rendição pela fome e pela sede. O actual cerco da finança em que o sr. Draghi, faz o papel de marechal de campo, procura reduzir os povos à pobreza e exclusão social, absorvendo o máximo de riqueza possível. É um aspecto da "filosofia personalista da direita em que os pobres e desempregados são reduzidos à condição de parias e tratados como tal. Já falta pouco para serem criminalizados e há mesmo aspectos da sua condição que conduzem a isto: fiscalizações, obrigações, apresentação nos centros de emprego, etc.
A finança, com o BCE e CE ao seu serviço, assume o parasitismo em alternativa à agressão militar para garantir a tributação como aos povos dependentes: extracção de rendas financeiras e a submissão dos povos cada vez com menos direitos, em função dos seus exclusivos interesses, para garantir o cumprimento dos novos tratados de Versailles, aos derrotados pelo neoliberalismo.
Não faltam comentadores e professores universitários, para justificarem tudo isto, falseando números, escamoteando outros, sobretudo negando a realidade tanto passada como actual  Defendem o indesmentível fracasso económico, social, cultural, político do neoliberalismo.
Perante isto que faz o PS? Nem sequer altera os elogios que proporcionou ao sr. Draghi por ter garantido que a especulação com as “dívidas soberanas” seria sem riscos e ter institucionalizado a “economia de casino” sem perdas para os batoteiros.
O PS cala-se. É a “regra de ouro” (para quem?). Critica o PSD, da mesma forma que o PSD criticava o PS, sem mesmo mostrar querer mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma.

O bem escolhido líder parlamentar do PS, o gongórico, sr. Zorrinho, disse querer “Portugal numa Europa viável”. O que quer isto dizer? Está à espera que algum Messias Salvador, desça à UE e diga aos “pobrezinhos” como no “Suave Milagre” de Eça de Queiroz: “Aqui estou…” Mas afinal para quê? 

20 de setembro de 2013

A LIBERDADE DE ESCOLHA E A DESTRUIÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA

Mais um alibi da direita na sua senda de destruir tudo o que tenha a ver com responsabilidades sociais.
A liberdade de escolha é a versão neoliberal  do “livre arbítrio” da teologia escolástica.
O “livre arbítrio” com aspetos teológicos é algo que não discutimos. Porém, pelo menos desde Espinosa que nos aspetos sociais e políticos tal foi posto no caixote do lixo do pensamento. É lá que o neoliberalismo vai buscar as suas ideias ultrarreacionárias.
A oligarquia necessita de elites estruturadas no dinheiro para gerir trabalhadores especializados quanto baste, precários (como defende a UGT, por ser melhor que nada…) sem perspectivas de cultura integral. Era o que o fascismo salazarista defendia, pela voz do seu chefe, com as diferenças de requisitos técnicos de há 80 anos: "Considero até mais urgente a constituição de vastas elites do que ensinar toda a gente a ler. É que os grandes problemas nacionais têm de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites enquadrando as massas".
Trata-se, pois, de mais uma machadada na escola pública, logo da democracia como entendida desde o século XIX.
Por um lado pretende-se fornecer aos privados professores baratos, sem direitos, coagidos a não se sindicalizarem, (para que mais serve o exército de reserva de professores desempregados). A liberdade de escolha é apenas a do dono da escola privada. Escolherá professores, alunos e também por último mas não menos importante, os critérios de pedagógicos, isto é, a ideologia da classe dominante, subjacente em matérias como a História, Filosofia, Economia, Português (na literatura), entre outras, não esquecendo que tão ou mais importante é o que se comunica nas aulas e se promove como critério de avaliação para o êxito.
Claro que o grande capital se prepara para deitar a mão a mais este filão de rendas. Tudo isto, pago com dinheiros públicos, previsto para dar lucro, pois só o lucro é respeitável nesta sociedade, nada importando como é obtido.
Liberdade de escolha e os nossos impostos vão subsidiar a escola privada. Porém o governo quer cortar nas despesas e amanhã irá impor “taxas moderadoras” ou outros mecanismos para reduzir a comparticipação e os privados na “sã concorrência” subirão as propinas. Nessa altura a escola pública já terá sido reduzida ao mínimo, em quantidade e qualidade, desqualificada e desorçamentada e as famílias acabarão por preferir que os jovens vão para o privado, sacrificando-se para isso.
Nos EUA parte importante da dívida das famílias são empréstimos para pagar estudos dos filhos dado que a escola pública atingiu níveis de desqualificação que não permitem a ascensão social.
Recordemos o que se passa na saúde, custos e degradação do SNS empurraram cada vez mais pessoas para os seguros de saúde.
Na educação, na saúde, nos transportes, dos CTT à ANA, das telecomunicações à energia, tudo tem de se transformar negócio para obter rendas à custa do Estado e dos cidadãos.
A degradação do nível de ensino nos países que seguiram esta via é evidente nos resultados obtidos em comparações internacionais.
Que importa isso à direita. Salazar dá o mote a esta ideologia da “liberdade de escolha”

12 de setembro de 2013

Memorando de Veteranos para Obama acerca da Síria

Veteranos profissionais dos serviços de informações dos EUA, da CIA e militares, enviaram um memorando a Obama sobre a Síria. Eis alguns trechos:
“Lamentamos informar-vos que alguns de nossos colegas dizem-nos, categoricamente que contrariamente às afirmações da vossa administração, as informações mais fiáveis, mostram que Bachar-al-Assad não foi responsável pelo incidente químico que matou e feriu civis sírios em 21 de agosto, e que os serviços de informações britânicos também o sabem.”
O “memorando” refere também que após o discurso de Colin Powell em 2003 na ONU, os veteranos tinham informado G.W.Bush, da natureza fraudulenta da informação.
“Escolhemos dar ao presidente Bush o benefício da dúvida, pensando que tinha sido induzido em erro ou, pelo menos, mal aconselhado”. “A natureza fraudulenta do discurso de Powell era uma evidência (…) exortámos vivamente o vosso predecessor a alargar o debate para além do circulo de conselheiros claramente voltados para uma guerra para a qual não víamos nenhuma razão imperiosa (…) oferecemos-vos o mesmo conselho hoje.”
“As nossas fontes (…) insistem que o incidente não resultou de um ataque levado a cabo pelo exército sírio empregando armas químicas do seu arsenal. É este o facto mais saliente segundo agentes da CIA trabalhando na questão síria. Eles dizem-nos que o diretor da CIA John Brennan está a cometer uma fraude do tipo que precedeu a guerra no Iraque, sobre os membros do Congresso, os medias, o público, e mesmo sobre vós.
“Há um grande número de provas provenientes de numerosas fontes no Médio Oriente – principalmente ligadas à oposição síria e seus partidários – oferecendo uma forte prova circunstancial que o incidente químico de 21 de agosto foi uma provocação planeada antecipadamente pela oposição síria e seus apoios turcos e sauditas.O objetivo era criar um género de incidente que fizesse os EUA entrarem na guerra.
O “memorando” refere relatos sobre caixas contendo agentes químicos introduzidos nos arredores de Damasco onde foram abertas, não existindo nenhuma prova fiável que qualquer unidade especializada em armas químicas do exército sírio tenha operado na região ou que tenha sido disparado um míssil portador dessas armas. 
É ainda relatado que se realizaram reuniões em que os comandantes da oposição informaram de “uma escalada iminente nos combates graças a um incidente que mudaria a guerra e que por sua vez levaria a bombardeamentos americanos na Síria que começariam dentro de alguns dias. Neste sentido foi feita ampla distribuição de armas sendo ordenado aos chefes militares para rapidamente explorarem os bombardeamentos americanos, marchar sobre Damasco e derrubar o governo.
Assinam a carta 11 membros em representação do “Steering Group, Veteran Intelligence Professionals for Sanity”
 
Esta carta – e o seu silenciamento – mostra a que ponto a “desinformação social” dominada pela oligarquia, desceu quanto a critérios jornalísticos.

9 de setembro de 2013

O MAU CHEIRO DESTA POLÍTICA

Nas comissões parlamentares sobre as PPP, o BPN, ou os SWAP, tem sido recorrente os inquiridos com funções técnicas justificarem-se com as decisões políticas, e os inquiridos com funções políticas justificarem-se com os pareceres técnicos. Espantoso! Como se aqueles técnicos não fossem escolhidos pelos políticos, como se uns e outros não trocassem frequentemente de lugar, mas sempre defendendo critérios que permitiram as empresas maximizarem os seus lucros com o mínimo de risco, à conta do Estado.
Assim, com tão competentes gestores a negociarem contratos é o cidadão comum quem paga os desmandos das PPP, BPN, BANIF, SWAP, etc., etc.
Dizem aquelas sumidades que no governo, como gestores públicos ou consultores, deram origem a tanto prejuízo para o Estado e cidadãos – e lucro para os oligopólios da construção civil ou para a especulação e fraude de certa banca – que ninguém tinha previsto a crise, que se limitaram a seguir o que reputados professores de economia defendiam e recomendavam, e – espante-se – tiveram sempre em vista a defesa do interesse público!
É caso para relembrar Marx que referia a “estupidez bovina da economia vulgar, que mistura certas espécies de lucro” (a obtida com a mais-valia e a baseada na especulação) “com razões para os capitalistas explorarem os trabalhadores” (em Teorias da Mais-Valia).
De facto, se lessem Marx não teriam cometido tantos erros, mas ao menos ouvissem os que não esqueceram as suas lições, pois em 2008 quando a seita neoliberal garantia que a crise estava ultrapassada, tinha sido um problema dos EUA, não atingiria a Europa e Portugal estava a salvo, justamente marxistas alertavam que a crise capitalista estava apenas no início e iria agravar-se.
Aliás, como seria possível defender o interesse público, como declaram, baseando-se na “ciência económica atual”, uma teoria elaborada para defender os interesses privados, configurados nos monopólios e na especulação, vulgo “os mercados”, que não as MPME. O resultado das suas ações está na degradação da situação económica e social do país, quaisquer que sejam pseudo justificações e hipotéticas recuperações.
Como disse Eça de Queiroz (não recordo onde): "um rato morto é um rato morto, não interessa vir dizer: morreu por isto ou por aquilo, está morto, pronto. Cheira mal!"
Tal como este governo e este sistema económico, conduzido por “esses asnos que misturam os itens das contas com razões para explorarem os trabalhadores”. Assim disse Marx.

6 de setembro de 2013

O recurso dos vencidos

Pela sua extrema actualidade e oportunidade reproduzo a seguir o texto de Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política do PCP, divulgado no Publico on-line, no seguimento da decisão ontem conhecida do Tribunal Constitucional sobre a limitação dos mandatos autárquicos.
" Seja qual for a posição que cada um assuma perante o princípio da limitação de mandatos – e a do PCP é de há muito conhecida pelas razões e fundamentos que nos dispensamos de reapresentar – já tem outro significado, bem mais grave e inquietante, pretender que essa limitação ultrapasse as fronteiras de um impedimento a uma recandidatura numa determinada autarquia para ganhar a dimensão de expropriação do direito político de um qualquer cidadão se poder candidatar.
1. Merece contestação e repúdio, embora não se estranhe, que organizações fascizantes e de extrema-direita como a da Revolução Branca inconformada com o regime democrático, as liberdades e direitos fundamentais se assuma enquanto aríete da cruzada antidemocrática que a propósito da limitação de mandatos se empreendeu no país. Mais perplexidade causa ter visto o Bloco de Esquerda, não só acompanhar e animar essa campanha, como tomar nas suas mãos esse papel na fase do processo eleitoral.  
E por antecipação às vozes indignadas que venham a surgir acusando-nos de estar a comparar o incomparável em termos de doutrina e objectivos das organizações acima citadas, aqui se esclarece que não estamos. Apenas e tão só a constatar o que objectivamente não pode ser negado: o facto de que à vez, primeiro aquela agremiação por via de providências cautelares que, embora inúteis e sem sustentação jurídico-constitucional, algumas surpreendentes decisões judiciais animaram politicamente, e depois o Bloco de Esquerda por via de uma insensata fúria impugnadora (com a hipócrita companhia do PS, diga-se),  deram corpo à operação a que acabámos de assistir.  
E se a decisão agora conhecida do Tribunal Constitucional, esperada e óbvia, pôs termo a este processo bem se pode dizer que quem as animou contribuiu, e não pouco, para alimentar o populismo mais doentio e a demagogia mais rasteira, e para minar a credibilidade da política e dos direitos democráticos.  
Merece anotação que tudo o que o BE tenha para apresentar ao país nestas eleições autárquicas se confine à perseguição de candidaturas. Como não deixará de ser objecto de registo por todos os que vêem nestas eleições mais do que a pequenez dessa dimensão, que este tenha feito desta decisão o elemento central das conclusões da sua convenção autárquica e o eixo essencial da sua campanha eleitoral.
Um “projecto” autárquico que se esgota no anúncio de impedimento de elegibilidade de outros poderá ter como objectivo procurar ganhar na secretaria o que no terreno do debate eleitoral não obtém vencimento, mas será sem dúvida curto demais para o que está em discussão e decisão em eleições locais. O caminho da limitação de direitos fundamentais, e mais ainda da sua liquidação, é um caminho perigoso que todos quantos se identificam com o regime democrático deveriam conhecer e prevenir pela simples razão de que hoje são estes os invocados para serem cerceados e amanhã serão outros mais profundos e não menos inquietantes. Que forças e organizações fascizantes o queiram percorrer pelas razões que se antevêem percebe-se, embora se repudie. Que outros sem esse posicionamento e objectivos os acompanhem na ilusória ânsia de uns quantos votos fáceis é bem mais grave.
2. Dir-se-á com verdade que esta azáfama impugnadora poderá ficar para a história conhecida como a do recurso dos vencidos. Assim é. Deitando mão ao recurso julgado mais útil – o dos recursos judiciais de impugnação – o BE expôs à evidência um conjunto de concepções, posicionamentos e argumentos reveladores da inconsistência política que o caracteriza. 
No arsenal de argumentos e pretextos sempre apresentados como os mais moralizadores e válidos, o BE não olhou a meios e bem menos ao rigor. Para o Bloco princípios constitucionais como o direito fundamental de acesso a cargos públicos em condições de igualdade e liberdade, o princípio da elegibilidade enquanto regra e o da inelegibilidade como excepção, o juízo da proporcionalidade entre o direito fundamental em causa e os interesses com ele concorrentes, são chão que deu uvas. 
Umas quantas, datadas e descontextualizadas citações de Rousseau no século XIX são bastantes para, transformando o iluminismo deste com o obscurantismo teórico de quem o invoca, fazer tábua rasa do comando constitucional sobre direitos e garantias políticas fundamentais; a inflamada invocação da proposta do Governo de Cavaco Silva de 1991 sobre a limitação de mandatos, com recurso à citação do então ministro Valente de Oliveira no debate parlamentar de então, chega para atestar o conceito de moralização de vida política que o BE parece partilhar; a deliberada mistificação sobre o chamado princípio da renovação de mandatos, insinuando em sua contraposição um quadro de perpetuação de poder, para iludir que essa renovação está sempre garantida pelo voto soberano das populações; o trocadilho sobre o alcance de  uma preposição e a sua contracção com um artigo definido (sobre a dimensão jurídica do de e do da) para “na dúvida” optar pela restrição em detrimento do direito. Ao que se deve juntar a intolerável e insultuosa tentativa de transformar cada um dos milhares de eleitos locais em potenciais réplicas de Alberto João Jardim.
No vale tudo argumentativo, o Bloco recorreu sempre pelo lado dos vencidos: assumiu objectivamente o que de mais reaccionário a Revolução Branca propagandeou e promoveu, até esta ser desautorizada e vencida, quer por acórdão do Tribunal Constitucional sobre as providências cautelares, quer pela ilegitimidade superveniente para lhe dar seguimento no processo eleitoral; citou abundante e copiosamente em seu favor o voto vencido do presidente da Comissão Nacional de Eleições ignorando a deliberação largamente maioritária adoptada pela entidade sobre a matéria; invocou entusiasticamente em seu socorro o processo legislativo de 1991 sobre a limitação de mandatos fingindo desconhecer que a lei então aprovada foi declarada inconstitucional por acórdão do Tribunal Constitucional; sustentou repetida e falsamente a tese da inelegibilidade (absoluta e inibidora de direitos políticos apenas permitida em circunstâncias especial e obrigatoriamente previstas na Lei) em contraponto à da limitação que em concreto se encontra em vigor, escamoteando o facto de tendo o BE apresentado em 2005 um projecto-lei que explicitamente visava aquele objectivo esse diploma ter sido rejeitado pela esmagadora maioria do parlamento. 
3. Não deixa de ser significativo que alguns dos que fazem desta questão o centro de tudo e que associam o número de mandatos a alegados vícios do sistema político e as teias de interesses económicos percam, porque o não têm ou ignoram, o sentido de classe que por detrás destes fenómenos se escondem e em muito os ultrapassam.
O que determina aquelas situações é a natureza de classe e os interesses económicos que lhe estão associados independentemente do papel dos indivíduos. É uma pura ilusão admitir que a teia de interesses e dependências políticas, económicas e sociais não sobreviverá pela mão dos partidos que lhes dão expressão apenas pela mera mudança do eleito dessa mesma força política. Bastaria olhar para as remodelações governamentais para se perceber que vão as pessoas mas as políticas ficam. Só por imaturidade política se pode privilegiar a natureza pessoal no exercício dos cargos, ignorando a própria seriedade de cada um, para ocultar os interesses que estão presentes para lá dos indivíduos em si considerados. Alguns dos que fingem compromisso com a isenção ou transparência fazem-no para esconder agendas obscuras, ambições de poder, projectos de amputação e cerceamento democrático. 
E só por imprevidência política se pode prosseguir um caminho de criminalização da política e dos políticos, explorando profusamente concepções populistas e alimentando suspeições sobre o exercício de cargos públicos na base da generalização de práticas  e comportamentos. A campanha a que se assistiu deixou marcas bem mais profundas na democracia, é preciso que todos tenham disso consciência, do que aquelas que os que viram na coisa um filão rico de apoio eleitoral imaginam.
O recurso a expedientes, o exercício de surfar a onda da demagogia e do populismo, a busca de apoio fácil à corrente das ideias dominantes, mesmo que com a expectativa de algum proveito de curto prazo, acabará por ser paga com preço elevado. Seja o recurso à limitação de direitos seja a de animar e promover listas de cidadãos - quer por falta de apoio e projecto próprio, pretendida dissimulação ou porque é moda ser contra os partidos, a política e os políticos em abstracto - em contraponto às dos partidos, identificando nuns um paraíso de costumes e noutros um inferno de pecados.   " 
Jorge Cordeiro é membro da Comissão Política do PCP

1 de setembro de 2013

MAIS UM GURU EM PRAÇA…

Basta dizer o que a oligarquia quer ouvir, para terem as antenas abertas, sem o mínimo contraditório. Fazendo companhia ao sr. Gonçalo Lourenço, que continua a a dar lições de como ser pobre mas estar contente (pobrete, mas alegrete, como no fascismo…e ai daqueles que…) o sr. J. Gomes Ferreira até tem “programa de governo” posto em livro e tudo.
Vejamos o que considera a medida prioritária: ver os impostos que cobramos e limitar a despesa ao que existe. O Estado limitado “à educação” (qual e como?) “saúde” (qual e como?) e “segurança nas ruas” (a repressão escondida no lema securitário, em lugar de se cuidar das causas). Quanto ao resto, cortar no Estado, “fechar departamentos que não servem para nada.” Tal como explicou no canal ETV. Como se percebe, é fácil, é barato e dá milhões…Tão simples e evidente, como o Sol girar à volta da Terra.
Mas a despesa pública são só salários e pensões? E os juros, que atingem 100% do défice? E os benefícios e “incentivos” ao grande capital? E as perdas da banca? E as PPP, e os SWAP, e o BPN, e o BANIF? Nisto não se toca. Então o que sobrar lá vai a educação, para a saúde, que cada qual terá conforme poder pagar. E não há investimento público? nem para conservação das estradas? Privatisa-se tudo? Então quem paga aos privados?
Tudo isto está mal explicado, pois com juros ao nível do que o BCE faz à banca privada, sem benefícios e isenções ao grande capital, tributando (nem que fosse como “contribuição especial”) os lucros acima de determinado valor, como proposto pela CGTP e também pelo PCP, as contas públicas seriam largamente excedentárias.
Quer dizer, o povo sacrifica-se, o país regride, para 0,1% encherem os bolsos.
Está mais que provado (até pela presente crise capitalista) que quando o Estado abandona as suas funções de regulação e controlo democrático (não burocrático, frise-se bem), se o Estado abandona ao mercado as suas funções a corrupção instala-se, os povos vivem sob a lei do mais forte, isto é, dos que têm mais dinheiro.
Mas o que faria o “governo” do sr. JGF aos departamentos que fecham? Há departamentos que funcionam mal os não funcionam de todo, mas o que se quer fazer não é reorganizar, coordenar e dinamizar as funções económicas e sociais do Estado, é fecha-los, como se fossem caixas vazias ou repletas de lixo, neste caso pessoas tratadas como tal. Mas as pessoas não contam, pois como disse P. Coelho “o país não precisa de gente que quer que os países do norte paguem as nossas dívidas”, isto é, "gente" que não quer submeter-se à especulação. Gente que comete o "crime" de pôr os minteresses nacionais acima dos da finança..
Então e os negócios estrangeiros, as finanças, e a segurança social, as funções económicas e sociais do Estado? Não importa, se não houver dinheiro, fecham, passam para o sector privado, é o que for. Primeiro a banca, o capitalismo rentista da usura e dos monopólios. Poderá isto provocar contestação social? Não há que ter medo, diz o sr., é fazer o que é preciso. Mas preciso o quê e para quem?
Para a direita, Portugal já deixou de ser um Estado soberano. É uma mera colónia cujo objetivo é satisfazer as exigências tributárias a prestar à finança internacional.
Por último, o sr. JGF e demais gurus da treta neoliberal, omitem que Portugal tem das mais baixas percentagens  de funcionários públicos no emprego total da UE, mesmo da OCDE, e que os países mais ricos são os que têm maior percentagem.