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11 de abril de 2014

A teoria da relatividade… do empobrecimento

Dizia eu num recente texto no resistir.info que a econometria era a “ciência” da manipulação de dados estatísticos. Mas isto foi antes de ter ouvido o sr. Vítor Bento, apresentar na TVI-24 em “Olhos nos Olhos”, a sua admirável descoberta a todos os títulos digna de um (erradamente designado) Prémio Nobel de Economia. Aliás pelos grandes disparates e absurdos que nos conduziram à atual mega crise, vários o receberam.
Segundo o notável cientista que referimos, nós andamos enganados sobre as estatísticas da pobreza do INE. Tal como Einstein nos explicou a paralaxe cósmica o respeitável senhor explica tudo direitinho.
Assim, embora o empobrecimento real desde 2008 seja quase 7%, perdido pela queda do PIB, o empobrecimento percebido será até 15%, pois há que pagar os juros do “enriquecimento aparente” originado pelo endividamento. Portanto, na realidade os portugueses só estão 7% mais pobres, embora “pensam” que estão 15%, porque não têm possibilidade de se endividar. Acontece é que “os portugueses” tinham apenas riqueza “percebida”…
As crianças que aparecem nas escolas com fome, os que recorrem aos apoios alimentares, os sem abrigo, as centenas de milhares de desempregados sem subsídio, o milhão em situação de privatização material severa, os 2,6 milhões de pobres em relação à mediana de 2009, estão iludidos acerca da sua pobreza, não entendem que não estão “realmente” tão pobres como isso. Isto é, têm fome, não têm capacidade de pagar a sua subsistência, mas trata-se apenas de pobreza percebida, como uma ilusão de ótica.
Esta conversa aliás lembra a discussão escolástica – de séculos - na Idade Mádia acerca dos “reais” e dos “nomes”, o “realismo” e o “nominalismo”.
Mas a teoria vai mais longe, embora a sua profundidade seja mais difícil de entender que as teses de Einstein sobre os referenciais espaço-tempo. É que os pobres de hoje vivem melhor que os pobres de há 50 anos! É a questão da mediana. Espantoso, e eu, ignorante, a pensar que ter fome, não ter com que pagar medicamentos ou renda de casa, tanto fazia hoje como há 100 anos. Pelo contrário, qualquer pobre hoje deve até ser mais rico que os nossos reis medievais e os funcionários públicos são capazes de estar a ganhar mais que o rei D. Carlos que não tinha televisão. E ainda se queixam…
Eis o que acontece quando nos servimos de médias para tirar conclusões estruturais. A história da média dos frangos comidos é conhecida, assim vou contar outra.
Imaginemos uma zona em que a rede elétrica tem os seguintes escalões, 60, 30, 10, 0,4 kV. A mediana será 20 kV. Se esta rede fosse gerida com base neste valor era garantido termos uma catástrofe em termos humanos e materiais. É justamente o que está a acontecer ao país em termos económicos e sociais.
As comparações com base em médias servem apenas de indicador do andamento de dadas grandezas. Nunca critérios de gestão ou políticas podem ser deduzidas destes índices, dado que escondem a sua estrutura com realidades muito diferentes e (tal como na rede elétrica) têm de ser tratados de forma diferente. É o caso de se falar em “empresas” quando MPME são uma realidade muito diferente dos oligopólios. Ou de “portugueses” ignorando o record de desigualdades existente.
Ficamos com uma dúvida: como classificar então o “empobrecimento” dos 25 mais ricos do país cujo património representa 10,6% do PIB, ou dos três primeiros com 4,2% do PIB à sua conta. Ou dos multimilionários que em 2013 aumentaram a sua riqueza em 11,1%. Teremos de considerar talvez o “empobrecimento negativo”, algo tão que se sabe que existe (nos paraísos fiscais), mas tão indetetável como a “matéria negra” interestelar…
Resta a consolação aos 27,4% da população em risco de pobreza ou exclusão social, que são mais ricos…que o D. Afonso Henriques.
E que dizer dos sem abrigo de Paris ou NY? Gente rica. É a mediana, menino, como diria o Eça! Não percebem? Se calhar também lhes custa a perceber as teorias de Einstein ou das cordas quânticas, que são muito mais simples que as do sr. Vítor Bento. Prémio Nobel já!

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