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16 de outubro de 2014

O BES e a legislação laboral

Ficámos a saber (1) que aos empregados do BES eram atribuídos objetivos de venda de produtos financeiros dos quais eles próprios desconheciam o conteúdo, os riscos, as garantias. Às explicações pedidas à hierarquia para esclarecimento dos clientes dizia-se -lhes que eram produtos com a garantia BES…o que só pode ser tomado como humor negro. Note-se que os trabalhadores não tinham prémios por cumprir os objetivos.
Os trabalhadores eram na realidade pressionados a vender lixo financeiro, como se veio a provar, involuntariamente colaborando na fraude, muitos sendo também dela vítimas. Nada que não tivesse já acontecido nos EUA e na UE ficando tudo na mesma depois das habituais declarações de falsa indignação e apelos à moralidade…dos agiotas.
Isto remete-nos para as alterações à legislação laboral que considera um dos critérios para despedimento o não cumprimento dos objetivos definidos pela entidade patronal. A perversidade desses critérios apregoados como fatores de eficiência (e que a UGT acordou) está à vista.
Com estas leis de “flexibilidade” que a CE (tão querida do PS – A. Costa) acha insuficientes, os trabalhadores são obrigados a adotar o que quer que a gestão tenha como bom, quer  motivada por implacável concorrência “livre e não falseada” ao sabor dos monopólios, quer por constrangimentos de orçamento para diminuir custos, quer para colmatar os seus erros, quer por se envolver em esquemas fraudulentos.
Há cada vez mais – trabalhadores a ser sujeitos a ritmos de trabalho desumanos, a stress pela instabilidade dos seus postos de trabalho, pela concorrência que é desencadeada entre os próprios trabalhadores, na luta pela sobrevivência a que estão sujeitos. É pior que o trabalho à peça, abandonado já antes do 25 de ABRIL por ser fonte de acidentes no trabalho, má qualidade, acrescida ineficiência, desarticulação do espírito de equipa.
As políticas do PSD-CDS são atentados à dignidade da condição de trabalhador. Os propagandistas do sistema difundem a ideia de um patronato íntegro, honesto, que age racionalmente em função do mercado, tendo sempre em vista o interesse nacional. Pelo contrário os trabalhadores são uma camada perigosa, tendencialmente à esquerda, potencialmente prevaricadora, cujos direitos são injustificáveis privilégios que têm de acabar (FMI e CE dixit), que ganham de mais para o que produzem, responsáveis pelo atraso do país e seu endividamento, mimados por leis laborais “rígidas” que não permitem o patronato despedir como e quando bem lhe aprouver.
Para a direita/extrema-direita no governo o trabalhador ideal deve estar envolvido numa estratégia de sobrevivência no sentido que a entidade patronal desejar, sem capacidade de analisar ou reagir. São os “homens práticos” ao serviço da oligarquia que se afastam dos sindicatos e da “política”, sem perspectivas do social e do coletivo.
As semelhanças com o fascismo não são mera coincidência…
1 – Prós e Contras de 13 de outubro, declarações do representante da Comissão de Trabalhadores do BES.

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