Nota sobre a execução orçamental de Jan a Abril de 2015 (1º terço do ano)
1.
O que os dados da execução orçamental do 1º
quadrimestre do ano, hoje divulgados pela DGO mostram, é que apesar do enorme
aumento de impostos que perdura sobre as famílias e os trabalhadores, quer no
IRS, quer no IVA, a meta do saldo orçamental definida pelo Governo para 2015 é
já no final do 1º terço do ano uma miragem.
2.
O Governo estabeleceu como meta a redução do
défice orçamental de 4,5% em 2014 para 2,7% em 2015, o que representa uma
redução nesse défice de cerca de 2 mil milhões de euros e o melhor que
conseguiu foi uma redução de 226 mil milhões, isto apesar de continuar
indevidamente a atrasar a devolução do IVA às empresas. Se assim não fosse a
subida da receita do IVA não seria de 9,2% mas apenas de 3,6% e a redução do
défice seria nula neste período.
3.
Os dados da execução orçamental são marcados do
lado da receita, sem dúvida por uma evolução da receita fiscal inferior ao
previsto, com o IRS a caír 1,5%, apesar de não se ter verificado qualquer
desagravamento sobre os trabalhadores, o que poderá significar um abrandamento
da actividade económica, por uma evolução do IVA artificialmente empolada pelo
atraso nas devoluções do IVA (foram devolvidos menos 248 milhões de euros
comparativamente com igual período de 2014) e pelo facto de a entrega de
dividendos pelo Banco de Portugal este ano ter sido efectuada em Abril (+191
milhões de euros), quando o ano passado foi em Maio. Se não fosse assim a
receita fiscal teria tido um crescimento praticamente nulo e o saldo orçamental
em vez de ter tido uma ligeira melhoria ter-se-ia agravado.
4.
Do lado da despesa pública apesar dos cortes nas
prestações sociais registado neste período, quer no subsídio de desemprego,
quer nas pensões, quer no Complemento Solidário para Idosos, quer no Rendimento
Social de Inserção, verifica-se uma subida na despesa fundamentalmente devido
ao aumento dos juros da dívida pública paga neste período mais cerca de 500
milhões de euros.
5.
A execução orçamental desde 1º terço do ano é o
espelho do fracasso da política seguida por este Governo ao longo destes
últimos 4 anos, cortes salariais, cortes nas prestações sociais, enorme aumento
de impostos sobre os trabalhadores e suas famílias e apesar de tudo isto,
permanência dos défices da nossa economia (orçamental e outros). Prova de que é
necessário uma outra política que aposte no desenvolvimento da procura interna,
quer através do aumento dos salários e pensões, quer através do investimento,
na substituição de importações por produção nacional e no aumento das
exportações, em especial exportações com grande valor acrescentado. Esta
política decididamente está esgotada e conduzir-nos-á inevitavelmente ao nosso
crescente endividamento público e externo e consequentemente à perda crescente
da nossa soberania.
CAE, 25 de Maio de 2015
José Alberto Lourenço