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16 de julho de 2015

O paraíso perdido


O paraíso perdido
 13/7/2015 
Há diferenças nos “egoísmos nacionais”? Há, hoje são assumidos às claras, pela Alemanha e Directório.
Nos dias alucinantes do corajoso NÃO do povo grego às imposições das troikas e de muitos sacripantas europeus, houve uma epidemia de alucinações. Como a de Correia de Campos, que convicto do SIM, esqueceu o bom senso de que prognósticos só no fim do jogo…
Mas sobretudo, há que registar a nova onda alucinatória do paraíso perdido da UE, que foi mas já não é! Só no Expresso de véspera do Referendo podemos contabilizar 6 alucinações 6 deste (velho) “mito urbano”, mais uma no Correio dos Leitores! De Nicolau Santos: “Esta não é a Europa que Jean Monnet e Robert Schuman idealizaram” até M. Sousa Tavares: ”A Europa que eu vi formar-se e abrir as portas a Portugal era dirigida por gente como Willy Brandt, (…) etc., etc.” passando por P. Adão e Silva, Almeida Sampaio, Daniel Oliveira, Luís Marques. Uns do sim outros do não mas todos comungando do mito, e alguns, com o conveniente “lapso de memória” da guerra da Jugoslávia.
 Para todos, houve o tempo, o dos pais fundadores, da CECA/CEE/União Europeia e dos líderes inspirados que se lhes seguiram. O tempo do paraíso comunitário, em que o feroz lobo convivia com o manso cordeiro (seria vegetariano o lobo?) onde não havia “egoísmos nacionais”! Os “grandes e desinteressados” líderes, que guiados pelo ideal de uma Europa unida e solidária, criaram uma união monetária de rígida gestão orçamental, sem reforçarem as transferências financeiras entre Estados, via Orçamento Comunitário, sem criar algum fundo que acudisse a choques assimétricos (como o PCP propôs!). E conseguiram mais que duplicar o número de Estados-Membros no alargamento a Leste, reduzindo o Orçamento Comunitário!!!
Esta onda alucinatória, este mito, que reaparece sempre que a crise bate à porta da UE, tem três objectivos simples.
(Auto)Justificar as decisões (ou as simples posições) políticas dos seus autores, sempre favoráveis ao aprofundamento e alargamento da integração. “Explicar” as dificuldades do presente, sacudindo a água do capote das suas responsabilidades políticas. A questão não seria esta integração capitalista. É serem os actuais líderes, fracos, sem perspectivas e os “egoísmos nacionais”! Explorar os impasses e becos sem saída a que conduziram as opções e decisões que apoiaram, para abrir portas a novos saltos no processo de integração federalista, neoliberal e militarista, a caminho do “Superestado europeu”!
Políticos e ideólogos, da social-democracia aos conservadores – gente do PS, PSD e CDS mas não só, que a lista é longa! – são confrontados com a brutal realidade da crise da integração europeia e do euro. Euro, a pedra sobre a qual Guterres ia construir a sua Europa. De facto, já em 1996, o insuspeito Profº W. Hankel, da Universidade de Frankfurt avisava: “Mas não, o “euro” não é o cimento da Europa moderna, mas a dinamite que a fará explodir.”! Confronto, que põe a nu/desmascara toda a propaganda, todas as fraudes e mentiras que ao longo de 30 anos foram impingidas sobre uma União Europeia de “coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os Estados-Membros” (ainda hoje inscrita nos tratados).
É assim necessário ensaiar velhas e novas explicações e justificações e inventar soluções miraculosas para a situação da Grécia, Portugal e outros. O mito do paraíso perdido é uma tese central.
Como se a CECA, CEE, UE e todos os seus desenvolvimentos qualitativos – Euro, Alargamento a Leste, Tratado de Lisboa, Tratado Orçamental - não partilhassem de um fio condutor inequívoco e sem descontinuidades.
Processo que na crise aberta da UE e da Zona Euro, subsequente ao subprime nos EUA e à crise dita das “dívidas soberanas”, desembocou no Tratado Orçamental, na União Bancária e no Governo Económico e Semestre Europeu. A que se quer dar como corolário, um dito Relatório dos Cinco Presidentes “Concluir a União Económica e Monetária Europeia.
Há diferenças nos “egoísmos nacionais”? Há, hoje são assumidos às claras, pela Alemanha e Directório, que fazem e desfazem conforme os seus estritos interesses! Os “líderes” não são do mesmo calibre! Não, mas fundamentalmente, talvez fosse de olhar para as circunstâncias históricas e o mapa geopolítico da Europa e mundo, e tirar algumas conclusões…  
A perplexidade de alguns pelo NÃO grego, talvez seja desfeita pelo comentário de Juncker aos “nãos” dos referendos de 2006, sobre uma dita Constituição Europeia: “Não são os dirigentes da Europa que estão avariados, são os povos”!
Agostinho Lopes

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