António Costa é
jornalista, ex-director do Diário Económico e comentador de assuntos económicos
nas rádios e na televisão.
Nesta condição e
perante um tema da máxima actualidade política e económica como é o nível
insuportável atingido pela nossa dívida pública e a defesa que cada vez mais
portugueses de vários quadrantes políticos (já não são só os comunistas) fazem
da necessidade da sua renegociação, espera-se que um jornalista que trata assuntos
económicos, conheça não só a dimensão da nossa dívida pública, como a sua
distribuição por tipo de dívida (empréstimos e títulos de dívida) e por
detentores (residentes, não residentes, particulares, empresas, sector
financeiro e troika).
Surpreendentemente
assistimos ontem na TVI24 ao lamentável espectáculo de vermos este jornalista
questionar o Secretário-Geral do PCP sobre a forma como iria o PCP implementar
uma das principais propostas do seu programa eleitoral – a renegociação da dívida
pública – já que dizia ele, 60% da nossa dívida pública são aplicações de pequenas
poupanças das famílias portuguesas.
O Secretário-Geral
do PCP surpreendido com a afirmação, repetida mais do que uma vez, respondeu, vamos
ver, vamos ver e avançou na discussão explicando que a dívida pública atingiu
um nível insuportável e que é do interesse dos próprios credores proceder a
essa renegociação para que o país possa crescer e a partir daí libertar
recursos para pagamento da dívida pública.
Ora o jornalista
António Costa com aquela sua afirmação deu mostras de uma ignorância na matéria
que não é aceitável e que é bem demonstrativa da forma ligeira e mentirosa como
ele faz comentário económico.
Basta-lhe a
consulta do capítulo K do Boletim Estatístico do Banco de Portugal do presente mês
de Agosto, para verificar a dimensão do disparate que disse.
A dívida pública
detida por particulares no passado mês de Junho (última informação disponível),
dívida constituída por certificados de aforro e do tesouro na posse das famílias,
empresários em nome individual e instituições sem fins lucrativos ao serviço
das famílias representava 7,1% do total da dívida da Administração Pública
consolidada, montante que está a anos luz dos 60% de que fala este jornalista.
Mas os dados do
Banco de Portugal dizem-nos mais, dizem-nos por exemplo que a divida pública na
posse de nacionais representa 32,4% do total e que a dívida pública na posse do
estrangeiro representa 67,6% do total. Ou seja exactamente o contrário daquilo
que insinuou o senhor jornalista.
Se fossemos
ingénuos diríamos, santa ignorância, mas como não somos dizemos, quando faltam
os argumentos avança a mentira. E como as eleições se aproximam a todo o gás cada
vez mais vamos ser confrontados com estratégias deste tipo.
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