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28 de agosto de 2015

A"santa ignorância" de um comentador económico

António Costa é jornalista, ex-director do Diário Económico e comentador de assuntos económicos nas rádios e na televisão.

Nesta condição e perante um tema da máxima actualidade política e económica como é o nível insuportável atingido pela nossa dívida pública e a defesa que cada vez mais portugueses de vários quadrantes políticos (já não são só os comunistas) fazem da necessidade da sua renegociação, espera-se que um jornalista que trata assuntos económicos, conheça não só a dimensão da nossa dívida pública, como a sua distribuição por tipo de dívida (empréstimos e títulos de dívida) e por detentores (residentes, não residentes, particulares, empresas, sector financeiro e troika).

Surpreendentemente assistimos ontem na TVI24 ao lamentável espectáculo de vermos este jornalista questionar o Secretário-Geral do PCP sobre a forma como iria o PCP implementar uma das principais propostas do seu programa eleitoral – a renegociação da dívida pública – já que dizia ele, 60% da nossa dívida pública são aplicações de pequenas poupanças das famílias portuguesas.

O Secretário-Geral do PCP surpreendido com a afirmação, repetida mais do que uma vez, respondeu, vamos ver, vamos ver e avançou na discussão explicando que a dívida pública atingiu um nível insuportável e que é do interesse dos próprios credores proceder a essa renegociação para que o país possa crescer e a partir daí libertar recursos para pagamento da dívida pública.

Ora o jornalista António Costa com aquela sua afirmação deu mostras de uma ignorância na matéria que não é aceitável e que é bem demonstrativa da forma ligeira e mentirosa como ele faz comentário económico.

Basta-lhe a consulta do capítulo K do Boletim Estatístico do Banco de Portugal do presente mês de Agosto, para verificar a dimensão do disparate que disse.

A dívida pública detida por particulares no passado mês de Junho (última informação disponível), dívida constituída por certificados de aforro e do tesouro na posse das famílias, empresários em nome individual e instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias representava 7,1% do total da dívida da Administração Pública consolidada, montante que está a anos luz dos 60% de que fala este jornalista.

Mas os dados do Banco de Portugal dizem-nos mais, dizem-nos por exemplo que a divida pública na posse de nacionais representa 32,4% do total e que a dívida pública na posse do estrangeiro representa 67,6% do total. Ou seja exactamente o contrário daquilo que insinuou o senhor jornalista.


Se fossemos ingénuos diríamos, santa ignorância, mas como não somos dizemos, quando faltam os argumentos avança a mentira. E como as eleições se aproximam a todo o gás cada vez mais vamos ser confrontados com estratégias deste tipo. 

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