Previsão de Outono da
Comissão Europeia para a Economia Portuguesa
A Comissão Europeia (CE) divulgou
hoje as suas previsões de Outono para a União Europeia no seu conjunto e para
cada um dos países que a integram.
No caso português a Comissão reviu em
ligeira alta a previsão de crescimento do PIB para 2015 de 1,6% para 1,7%, ao
mesmo tempo que para 2016 a revisão foi em ligeira baixa de 1,8% para 1,7%.
Em relação à anterior previsão da
Primavera passada , a alteração mais significativa nas previsões agora
apresentadas prende-se com os diferentes contributos dados pelas várias
componentes do PIB na óptica da despesa.
Enquanto nas suas previsões da
Primavera a Comissão Europeia previa um crescimento do PIB nacional de 1,6%,
com o consumo privado a crescer 2,0%, o consumo público a cair 0,3%, o
investimento a crescer 3,5%, as exportações a crescerem 5,3% e as importações a
crescerem 4,7%. O que em termos agregado conduzia a um contributo da procura
interna para o crescimento do PIB de 1,4%, enquanto a procura externa líquida
(exportações-importações) contribuía com 0,2%.
Nas previsões agora apresentadas o
crescimento previsto para o PIB em 2015 assenta exclusivamente na procura
interna que cresce 2,3%, enquanto a procura externa líquida caia 0,5%.
De uma perspectiva de crescimento
económico em que a procura externa líquida daria um contributo positivo para
esse crescimento, as exportações seriam neste caso e como este governo defende
um dos motores do nosso crescimento, passou-se para um modelo de crescimento em
que é a procura interna e em especial o consumo e o investimento, os motores do
crescimento que se perspectiva para o nosso país em 2015 e também em 2016 e
2017.
Nestas suas previsões a Comissão
Europeia reconhece que o forte conteúdo importado das nossas exportações
dificulta o ajustamento externo da nossa economia, particularmente num contexto
em que também a procura interna cresce a um ritmo elevado. Dito de outra forma
a Comissão Europeia reconhece que dada a fragilidade do nosso aparelho
produtivo, incapaz de responder às nossas necessidades internas de consumo e
investimento e à aposta nas exportações, qualquer crescimento mais elevado
destas variáveis induz directamente um crescimento das importações e
consequentemente um aprofundamento do desequilíbrio externo.
Em termos orçamentais a CE estima que
o défice orçamental em Portugal atinja em 2015 os 3% do PIB. A ligeira melhoria
registada em comparação com as anteriores previsões da Primavera que apontavam
para um défice de 3,1%, resultam segundo a CE das melhorias registadas na
evolução da receita fiscal e do mercado de trabalho. No caso da receita fiscal
essa melhoria deve-se à aceleração do crescimento do consumo privado, enquanto
o melhor funcionamento do mercado de trabalho segundo a CE levou a que a
despesa com o subsídio de desemprego tenha sido inferior ao esperado.
Para a dívida pública a CE estima que
após ter atingido as 130,2% do PIB em 2014, esta possa baixar para 128,2% no
final de 2015, para 124,7% no final de 2016 e para 121,3% no final de 2017.
A CE nesta sua breve previsão para a
economia chama a atenção para os riscos resultantes de um agravamento do
cenário macroeconómico internacional e refere ainda que um prolongado período
de incerteza política pode afectar a confiança das empresas e dos consumidores.
Algumas notas em torno destas
previsões da CE:
1. Embora a CE reconheça nestas suas
previsões um abrandamento da nossa economia no 3º trimestre do ano, depois de
ter crescido no 1º semestre a um ritmo anual em torno dos 1,5%, a verdade é que
a sua previsão para 2015 é agora de um crescimento do PIB de 1,7%, ligeiramente
superior ao estimado antes.
2. A CE nas suas previsões para o défice
orçamental em 2015 não parece levar em conta alguns alertas provenientes da
execução orçamental até Setembro, que apontam para um abrandamento no
crescimento das receitas fiscais, nem considera a possível necessidade de
reforço de capital para o Novo Banco resultante dos testes de stress que estão
a decorrer. Normalmente um fim de ciclo político traz à tona despesa pública
até aí escondida.
3. A CE ignora literalmente o impacto
que a situação da VW possa ter sobre os resultados das exportações alemãs e até
mesmo portuguesas. Sobre esta matéria há um silêncio de chumbo, embora todos
saibamos o peso que essas mesmas exportações têm na balança comercial alemã e
portuguesa.
CAE, 05 de Novembro de 2015
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